quinta-feira, 26 de maio de 2011

O KARMA E A CALMA




O KARMA E A CALMA

José Maurício Guimarães

Por definição, ELEIÇÃO é aquele procedimento pelo qual um grupo de pessoas escolhe um de seus membros para TRABALHAR num determinado cargo. Portanto, a pessoa eleita torna-se compromissada com os ideais daqueles que lhe concederam o cargo, assim como obrigada a governar para o bem de todos, partidários e adversários. Isso é chamado democracia representativa. Se o candidato eleito, ao receber o cargo, cuida apenas de seus compadres (companheiros), ele é um ditadorzinho como qualquer outro. Governar para uns poucos, para a própria família ou para os militantes de um partido é traição ao voto e à consciência coletiva. As ditaduras, o populismo cínico e o despotismo devem ser repudiados e, de modo pacífico, apeados do trono. Assim nos ensinaram filósofos de todas as épocas; assim nos ensina a Maçonaria.

Mas, quando o candidato eleito coloca o interesse da coletividade acima das personalidades, ele é um líder, um estadista. Exercer o poder soberano é assumir, na íntegra, o papel de representante legítimo da nação, dos estados, dos municípios, das empresas e instituições, não apenas do partido ou dos “cabos” eleitorais interessados em favores.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Aprendemos dos portugueses que, mal pisavam a nova terra, logo realizavam votações para eleger os que iriam governar as vilas e cidades que fundavam e gozar largamente das regalias do cargo. Os bandeirantes, quando chegavam ao local em que deveriam se estabelecer, seu primeiro ato era realizar a eleição do guarda-mor regente.

Em 1821, foram realizadas eleições gerais para escolher os deputados que iriam representar o Brasil nas cortes de Lisboa.

O poder da Igreja Católica, até fins do Império, era tão avassalador que algumas eleições foram realizadas dentro das igrejas, com velas, incenso e "laudamus te". E, imaginem! uma das condição para ser eleito deputado era a profissão da fé católica. Hoje é diferente. No entanto, muita gente, para ser eleita, tem que ser “isso ou aquilo”, “curvar-se diante desses ou daqueles”. Por isso vemos tantas pessoas com dor “nas colunas”.

FATOS INTERESSANTES

Houve época em que os votos eram depositados com esferas de cera ou de madeira numa sacola; brancas ou pretas conforme o partido. Dependendo do resultado, as coisas podiam ficar pretas. Mais tarde, vieram as esferas de ferro e as de lona (informação histórica fornecida pelo Tribunal Superior Eleitoral em seus estudos: tse.gov.br). Fico pensando se essas esferas de lona beneficiavam apenas os políticos que “estavam na lona” ou se as outras resultavam em “ferro” para quem perdesse o pleito ou votasse errado. Tudo é possível.

Dizem que o voto sempre foi livre. “Todos” votavam, desde que tivessem alma (*), poder aquisitivo, mais de 25 anos, não fossem escravos, nem mulheres, nem índios, nem assalariados (fonte tse.gov.br). Noutras palavras: só votavam os preguiçosos, os exploradores e desocupados; só eram eleitos os  madraços, os biltres e os pelintras.

(*)Não se espantem! Aristóteles (383-322 a.C.), dizia esse absurdo: "a mulher é um homem incompleto." O douto Saulo de Tarso (São Paulo) na Epístola aos Efésios recomendava às mulheres: "serem submissas aos maridos em tudo como a Igreja é submissa a Cristo." Na Epístola a Timóteo o santo esbravejava: "Não permito à mulher ensinar nem dominar o homem, mas que esteja silenciosa." E Martinho Lutero (1483-1546) sentenciou: "Quem há por aí, homem ou Deus, capaz de sustentar que a mulher pertence ao gênero humano?" (Fonte: Viviana Isabel Vladimirsky, Advogada Pós-Graduada em Direito de Família, Editora Magister). Acho que Aristóteles, Saulo de Tarso e Lutero foram muito mal sucedidos com as mulheres que escolheram por companheiras.

ELEIÇÕES DIRETAS

“Em 1881, a Lei Saraiva estabeleceu, pela primeira vez, eleições diretas”. Ruy Barbosa, aquele maçom que de tanto ver triunfar as nulidades chegou “a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”, redigiu o projeto dessa lei. Mas, ainda predominava a ação dos velhos coronéis, que controlavam o eleitorado regional, fiscalizavam o voto e a apuração sob os olhos atentos dos “cabos eleitorais”.

ELEIÇÕES PRÁ VALER

A Independência do Brasil obrigou o país a buscar o aperfeiçoamento da legislação eleitoral. As normas para as eleições foram copiadas do modelo francês. Bom começo. O Príncipe Regente assinou a primeira lei eleitoral em 3 de janeiro de 1822. Convocou eleições para a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa.

Quando se deseja mudar alguma coisa, nada melhor que uma Assembléia Geral Constituinte (minha opinião pessoal).

Informam-nos os estudos do Tribunal Superior Eleitoral que em 25 de março de 1824, o maçom D. Pedro I “outorgou a primeira Constituição brasileira, que estabeleceu que o Poder Legislativo seria exercido pela Assembléia Geral, formada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, determinou eleições indiretas e em dois graus e estabeleceu o voto censitário e a verificação dos poderes”.

UM PULO ATRAVÉS DOS TEMPOS

O ano era 1932. Na cidade de Mossoró, uma indígena do tronco linguístico tupi, Celina Guimarães Vianna, foi a primeira mulher a depositar o voto nas urnas do Brasil. Aristóteles, Saulo de Tarso e Lutero devem ter se revirado em seus túmulos! Vejam como nosso país é lento: estendeu a cidadania eleitoral às mulheres há 77 anos atrás. Millicent Fawcett (1847-1929), educadora britânica, contradisse São Paulo fundando, em 1897, a União Nacional pelo Sufrágio Feminino. O primeiro país a contrariar Aristóteles e garantir o voto feminino foi a Nova Zelândia em 1893. Em 1911, Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a votar em Portugal, demonstrando que a mulher pertence ao gênero humano, ao contrário do que pensava Lutero.

Mais tarde a Emenda Constitucional nº 25/85 deu aos analfabetos o direito de votar. O direito de o analfabeto ser votado parece ter existido sempre.

“KARMA” ELEITORAL

Eleitores se decepcionam com os candidatos nos quais votaram, da mesma forma que os eleitos se decepcionam com seus eleitores.

Faz parte da História e do karma; “cada povo tem o governo que merece” e o tirano de hoje, foi carregado ontem nos ombros.

Cada governante tem o povo que merece, pode até desprezar a opinião pública que lhe conseguiu o emprego.

Fonte: e-mail do autor Ir.: José Maurício Guimarães



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