quarta-feira, 30 de janeiro de 2019


REFLEXÕES SOBRE A MORTE

                                              Ir Ademar Valsechi


“Como a morte é o verdadeiro objetivo da existência, travei durante estes poucos últimos anos, relações tão íntimas com esta melhor e mais fiel das amigas da humanidade, que sua imagem não me parece terrível, mas sim, suave e consoladora." (Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791 - Carta ao seu pai Leopold, no seu leito de morte em 1787.

Diz-se que um ser é racional, quando a sua inteligência é desenvolvida a tal ponto, que permite conceber a idéia de existência, com um início e fim, isto é, raciocinar que existe morte. Todos os seres vivos convivem naturalmente com o seu ciclo vital: Nascimento, Reprodução e Morte, mas apenas os seres humanos, pelo enorme número de neurônios que possuem (aproximadamente 10 bilhões), apresentam a capacidade cognitiva de finitude, que um dia vai morrer. E com isso convive com o medo da morte.

O medo sempre foi o grande companheiro do instinto de sobrevivência. Inibidor da audácia, nos salvando de muitas ciladas, nos mantendo nos limites seguros. Todos nós temos medo, variando desde leve stress ao terror paralisante. A única arma eficaz contra o medo chama-se coragem. Para grandes medos, grandes coragens.

Como disse o professor J.M. Queiroz de Abreu, no seu discurso aos formandos de medicina em agosto de 2005, Campinas – S.P. :
A morte e o medo são duas faces de uma moeda. A morte é a culminação do medo, sua máxima representação, é a progressão geométrica do medo quando ela encontra o infinito... A epítome do medo é a morte. Enfrentar o medo é enfrentar a face escura de nossa personalidade, a face oculta do destino".

Devemos aceitar nossos temores para conhecê-los melhor, para não perdermos as rédeas, sem deixar que eles nos controlem. O tempero entre medo e coragem deve ser equilibrado. Muita coragem com pouco medo será um ousado inconsequente de vida curta, um kamicase, um homem bomba. Pouca coragem e muito medo teremos um indivíduo enclausurado, covarde, que até poderá ter vida longa, mas sem deleite. Um medo moderado, ao nível da prudência, é saudável, é esperto. Um medo muito intenso ao nível do pânico e da covardia é burrice.

Todos nós vivemos com nossos medos. Só os perdemos quando morremos. A pessoa que tem um câncer passa pela angústia de saber se vai ou não sobreviver. Os doentes pulmonares conhecem bem o que é falta de ar e convivem com o temor de uma morte asfixiante. Os cardíacos temem uma morte súbita e quem sabe, dolorosa. Tememos os acidentes de trânsito, os assaltos e toda ordem de violência.

Apesar de fazer parte de um processo natural, a morte é odiada. Excluída de nossos bons sentimentos, estamos sempre tentando enganá-la, desviando-nos dela, nos disfarçando para que ela não nos reconheça, pois o nosso medo não nos permite encará-la.

O melhor método para vencer nossos medos é tomar alguma dose de coragem. Quanto maior o medo, maior deverá ser a dosagem. Como não existe um “medômetro”, não temos como quantificá-lo. É algo individual, privativo de cada pessoa. Devemos aceitar e enfrentar os nossos temores e principalmente, não acreditar neles, pois quanto mais nos deixamos envolver, mais reais eles se tornam, a ponto de nos escravizar.

Com o medo controlado, a morte não mais vai nos parecer tão asquerosa. Será vista tal como ela é: A bela e afetuosa amiga da vida, permitindo que o ciclo vital continue com o nascimento de novos seres, abrindo caminho para a evolução das espécies. Sem a morte não haveria renovação. A vida se tornaria enfadonha, desprovida de graça, de sentido, extremamente tediosa.

Pelo fato de ser limitada, mais nos sentimos atraídos pela vida, a viver cada minuto e transformar cada momento em momentos felizes. Cada dia, pelo simples fato que pode ser o último, deve ser saboreado com prazer. Cultivar a boa saúde, os bons relacionamentos, curtir os amigos, a felicidade de ver os filhos e netos crescendo, física, intelectual, moral e espiritualmente, aceitar com naturalidade a inexorável vinda da senilidade. E feliz de quem envelhece. Sempre digo aos meus idosos e queixosos pacientes que reclamam da velhice: “É ruim ficar velho, mas pior é não ficar”.

Cabe a nós a responsabilidade de cumprir o melhor possível nossa missão. Deixar bons exemplos. Impregnar os jovens com nossa conduta. Dentro das limitações de cada um, registrar a nossa passagem pelo nosso período vital, para que as gerações futuras tenham em quem se espelhar.

Ao chegar nosso momento, vamos nos retirar discretamente de cena desse maravilhoso “Drama da Vida”, deixando que nova safra de atores e atrizes assuma nossos papéis, desempenhando tão bem ou quem sabe, melhor que nós, nesse belíssimo Teatro que é a natureza.

Conscientes de que nos esforçamos para bem cumprir nossa tarefa, vamos abraçar carinhosamente nossa delicada, suave e querida amiga morte e com ela seguir, confiantes, caminhos desconhecidos.

Encerro minhas reflexões com o ensaio de William Shakespeare (1564 -1616) em Tragedies: De todas as coisas que conheço, aquela que mais estranha me parece é que o homem sendo um ser mortal tenha medo da morte. O covarde morre mil vezes, enquanto que o homem corajoso só sente o sabor da morte uma única vez”.

Ademar Valsechi.
MI da Loja “Templários da Nova Era” nr. 21 e Grande Mestre de Harmonia da GLSC. O presente artigo foi destaque em 2007 no Concurso “Pitágoras de Peças de Arquitetura” na categoria de Mestre-Maçom.

Fonte: JBNews - Informativo nº 0089

domingo, 20 de janeiro de 2019


NÃO JULGUES

Irene Ferreira de Souza Pinto*

Não julgues o companheiro
Por desumano e insensato
Porque te não busque o trato,
Nas rosas de teu jardim.
Entende, ampara primeiro...
Não digas, em contra-senso:
– “Decerto, isso é como eu penca,
Deve aquilo ser assim...”.

Muita vez, quem vai ausente,
Do conforto que te afaga,
Mostra o peito aberto em chaga,
A golpes de provação.
E enquanto o céu te consente
A paz das horas seguras,
O pobre irmão que censuras
Traz fogo no coração.

De outras vezes, quem se isola,
Longe de falas e festas,
Não tem o mal que lhe emprestas,
Nem delibera fugir.
Apenas vive na escola
Do dever e da constância,
E se respira, a distância,
É para melhor servir.

Não vasculhes lodo e jaça,
Mirando a alheia conduta.
Quase sempre há dor e luta
Onde vês passo infiel.
Frequentemente, na taça
Que aparenta vinho oculto,
O pranto cresce de vulto,
Tisnado de angústia e fel.

Se ensinas a caridade,
Ouve Jesus que nos chama!
Não guardes vinagre e lama
Sob a fé que te conduz.
Acende a luz da bondade,
Porquanto também um dia
Mendigarás simpatia
Nas sombras da própria cruz!

(*) Poetisa de fino talento e bela inspiração. A seu respeito, diz Enéas de moura (cole. Poetas Paul, pág.97):” Começou seus estudos no Colégio Florense, de Jundiaí, e os terminou no Sion, de São Paulo. Colaborou na Revista Feminina; foi a criadora das crônicas sociais do Correio Paulistano.” Contista, escreveu na Feira Literária, e em 1921 estreava como romancista, publicando Rosa Maria. No Cemitério da consolação, de S. Paulo, os filhos da poetisa erigiram-lhe um túmulo, onde gravaram o belíssimo soneto “Último desejo”, de autoria dela. (amparo, Estado de São Paulo, 8 de Abril de 1887 – Rio de Janeiro, GB, 21 de Maio de 1944.) BIBLIOGRAFIA: Primeiro Vôo; Gorjeios; O Tutor de Célia, contos; etc.

Fonte: ANTOLOGIA DOS IMMORTAIS
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Ditados por Espíritos Diversos

sábado, 19 de janeiro de 2019

A LOJA DE KILWINNING ENTRE A LENDA E A VERDADE


Por Ir.'.  Anestor Porfírio da Silva
As ruínas da abadia de Kilwinning
Num ponto afastado no tempo e num lugar distante, acha-se sepultado um acontecimento que o passar dos séculos, lentamente e de forma implacável, cuidou de encobrir deixando para os nossos dias apenas incertezas quanto à data em que efetivamente teria ocorrido o nascimento da maçonaria.
O ponto no tempo é o ano de 1.140; a região, a da antiga Caledônia (hoje Escócia); e o lugar, a Abadia de Kilwinning onde se supõe ter surgido a primeira célula da Ordem Maçônica, aquela que ainda poderia estar sendo reconhecida como a Loja Mãe da maçonaria universal o que se deu por longos anos, mas que hoje não mais se confirma unicamente pela ausência de provas materiais. Sua existência não teria sido efêmera, mas pelo período de alguns séculos, o bastante para servir de marco inicial de uma nova tomada de consciência entre os homens de bons costumes.


Aquela Oficina, cuja existência encontra-se mergulhada entre a dúvida e a certeza, teria saído de cena e adormecido em completo esquecimento não fosse uma possibilidade remota que se apresenta como via capaz de eliminar as inconsequências geradas em torno de si no transcurso dos anos, por isso, não descartada, dada a sua persistência em não se esvair como desafio irremovível à própria história da Ordem Maçônica. Diante de hipóteses que podem retratar o fato, e se isto estiver mesmo dando conta da verdade, teria sido ela uma similitude da árvore do bem, que nasceu, cresceu, floresceu, deu bons frutos e que, antes de morrer, teria deixado as sementes que haveriam de garantir a continuidade e a proliferação de sua própria espécie como adiante se verá.

Entretanto, a condição que vinha sendo mantida de Loja mais antiga da maçonaria ficou insustentável a partir do momento em que a história da mencionada instituição passou a ser construída baseando-se em novos critérios dentre eles o de reconhecer como verdadeiros apenas os fatos cujas proposições se fundamentassem na existência de algo corpóreo, físico, de caráter probante que não deixasse dúvidas sobre a veracidade das respectivas ilações e não mais nas versões dúbias em relação à verdade, como as presunções, as suposições, as lendas etc...

Segundo afirmam os historiadores, a Escócia teria surgido no século I com a ocupação do antigo território da Caledônia situado ao norte da maior ilha britânica e que, ao ser invadido pelos romanos, passou a denominar-se Britânia. Esse fato, porém, da maneira como é narrado, contradiz a tradição local que afirma ter a Escócia nascido no ano de 843 quando Kenneth McAlpin tornou-se rei das duas únicas tribos, lá, até então existentes: a dos pictos e a dos escotos.

O feudalismo era o sistema social adotado na região e durou até por volta do ano de1789. Há indícios de que aquela extensão insular tenha sido habitada há mais de dez mil anos.

No início, quando os pesquisadores começaram a montar o quebra-cabeça para se descobrir onde a maçonaria teria surgido, acreditou-se que tal fato se relacionasse diretamente com a criação da Loja de Kilwinning no já mencionado ano, o que a levou a ser considerada por longo tempo como Loja Mãe. Seu funcionamento teria ocorrido com anuência de alguns monges em instalações precárias contíguas às dependências (ou mesmo, nessas ditas dependências) do mosteiro da aldeia de Kilwinning, construído por uma ordem religiosa cuja sede era na província de Tyronesian (Escócia). Séculos mais tarde, dúvidas foram sendo alimentadas em torno dessa questão e não demorou muito para que os historiadores se convencessem de que o caso não passava de lenda. Daí em diante, sua condição de Loja Mãe foi desconsiderada. Também a sua existência deixou de ser levada em conta ante a obscuridade que envolve todo o período em que, supostamente, a dita loja pudesse ter funcionado em local onde só restaram escombros de uma edificação muito antiga, sem evidências concretas de quem foram, por acaso, seus fundadores, sem nenhum registro, sem atas, sem carta de fundação, sem constituição, enfim, sem qualquer elemento de valor probante quanto ao marco inicial de suas atividades, bem como quanto à data do abatimento de suas colunas.

A Abadia de Kilwinning está situada no reduto de Cuninngham e, quando do término de sua construção, os já referidos monges ocuparam-na e lá permaneceram até a sua desativação, o que deve ter ocorrido após o século XVIII, possivelmente, por força de revoluções políticas, perseguições religiosas, ou mesmo por reformas naturais decorrentes das transformações sociais que se tornaram inevitáveis ante a evolução e o progresso da região. Ao seu lado, permaneceu abandonada por muito tempo uma área vazia coberta por escombros e, a poucos metros dessa área, foi edificada uma obra onde até hoje funciona a Kilwinning Lodge. Há séculos atrás, esta loja reivindicou para si o reconhecimento de Loja Mãe de todas as outras sob a alegação de ser ela a mesma que em época anterior teria funcionado ali bem próximo, a trinta metros de distância e cujas instalações acabaram em ruínas. Todavia, a perda dos registros (atas) que poderiam comprovar sua existência entre os anos de 1.140 e 1.642, documentos que mostrariam muito bem ser ela a loja maçônica mais antiga do mundo, foi algo muito lastimável em relação à verdade. Desta feita, o reconhecimento de loja mais velha do mundo é atribuído à Lodge of Edinburgh, também na Escócia por ser, até aqui, a detentora do documento mais antigo, datado de 31/07/1599, sobre a existência da maçonaria.  Entretanto, um fato é inegável, ou seja, o da existência já no ano de 1.140, na Escócia, das categorias profissionais que deram origem às associações corporativas surgidas na antiguidade, segundo se supõe, entre os mercadores e construtores das cidades com mais de dez mil habitantes, na Grécia, em Paris, em Roma, no Egito, entre os povos da bacia do mar Mediterrâneo etc..

Mais tarde, no transcorrer dos séculos XIII e XIV, tais categorias profissionais teriam se fortalecido no território escocês com inúmeros membros de uma organização secreta que para lá imigraram tangidos pelo receio de serem capturados e julgados pelo temível tribunal da Inquisição, do qual já tinham sido vítimas quatro de seus mais importantes líderes executados no ano de 1.314, em Paris, após condenação injusta. Dentre esses executados estava Jacques de Molay, o último Grão Mestre da referida organização que era conhecida, além de outras denominações, como Ordem dos Cavaleiros Templários. Essa organização adotava rituais (inclusive de iniciação) oriundos de crenças egípcias que foram levados para a região de Kilwinning pelos ditos imigrantes. Tempos depois, esse material, juntamente com os de outras organizações da época como ordens religiosas, ordens místicas, ordens cristãs, confrarias, associações de classes profissionais, seitas em geral, astronomia, ao que tudo indica, teria sido apreciado e servido de fonte inspiradora para o surgimento do ritual que deu origem ao Rito Escocês Antigo e Aceito, hoje, largamente difundido.

Como se observa, a imigração dos templários para a Escócia ocorreu antes de l.599, ano considerado como o do surgimento, de forma comprovada documentalmente, da primeira loja maçônica, em Edimburgo. Sobre essa afirmativa também pairam dúvidas ao se levar em conta, mais do que a imigração dos templários, uma idéia até certo ponto plausível, baseada em coincidências entre alguns fatos ocorridos em época anterior ao ano acima mencionado, o que contra-argumenta a conclusão histórica acima e coloca frente a frente lenda e verdade, aumentando, assim, as incertezas sobre o passado sombrio daquela área anexa à Abadia de Kilwinning, em cujo espaço, escombros de uma instalação antiga se transformaram em enigma indecifrável.

Na Escócia, até então, pouco se falava em construções de obras como as grandes catedrais e castelos, mas era uma região onde viviam mercadores, construtores, pedreiros, lapidadores, artesãos, artífices etc., que faziam dessas profissões o seu meio de vida, embora tivessem pouca força representativa. Além disso, outras evidências se direcionam no sentido de que aquela loja pudesse, de fato, ter existido e uma delas é a crença da maçonaria local que há séculos vem dando como procedente essa afirmativa, por cuja razão ainda há quem a considere na posição de mais antiga do mundo e admite que possa ter sido ela a primeira a iniciar, antes do ano de 1.717, candidatos não pertencentes à classe dos construtores e pedreiros livres, mas que se destacavam por suas posições na sociedade.

Enfim, é certo que a verdade só se torna indiscutível mediante prova, porém, a ausência deste requisito, ainda que absoluta não nega a ocorrência do fato. É, pois, justamente por este motivo, o de “a ausência da prova não negar o fato,” que crenças e indícios marcantes continuam apontando a aldeia de Kilwinning como o berço onde teria surgido, funcionado ainda na fase operativa e perecido alguns séculos depois, a loja mais antiga. Foi daí, da força dos suportes basilares de uma crença alimentada há séculos pela maçonaria do mencionado lugar, que surgiu a idéia de lhe atribuírem a distinção de Loja Mãe, com a qual foi reconhecida ao longo de boa parte da história da maçonaria na Escócia. Associa-se ainda a tais argumentos, o fato de, depois de vários séculos, não se ter encontrado melhor forma explicativa de como e quando a maçonaria teria surgido naquele local e, mais ainda, como conseguiu se expandir às povoações circunvizinhas entre os anos de 1.140 e 1.642.

Se essa probabilidade contiver a certeza do fato aqui exposto, em torno do qual se avolumaram tantas contradições é sabido que dele nada restou senão crenças, evidências e fragmentos que há séculos atrás poderiam ter servido de leme para se traçar segura rota em direção à verdade, mas, hoje em dia, há que se admitir terem tornado tais evidências e fragmentos quase inservíveis a esse fim, porém não descartados de uma vez por todas como se nada tivessem a ver com o problema em foco. O que ainda é possível observar nessas trilhas em relação à verdade é a coerência entre alguns fatos históricos ligando uma coisa à outra. Isso continua lhes preservando certa dose de credibilidade que pode ser aferida se comparado o que lhes restou de valor com a importância da claridade de uma tênue luz que tenta inutilmente afastar a escuridão no final do túnel. Essas evidências, nos tempos atuais, já se tornaram inexpressivas, quase apagadas, mas ainda não deram o último suspiro, pois continuam alimentando dúvidas sobre o que afirmam os registros históricos em relação às origens da maçonaria. Nesses registros a aldeia de Kilwinning não aparece mais como o local onde, por muito tempo se acreditou, ter surgido a primeira loja do mundo, isto porque, para a história da maçonaria, o fato só não se confirmou unicamente por falta de provas materiais, ou seja, por conta de uma possível verdade transformada em mistério desde o momento em que um elo foi rompido sem antes deixar claro que espécie de instalação e a que fim teria se destinado a obra desfeita pelo tempo, cujos vestígios permaneceram visíveis, não se sabe até quando, numa área ao lado do mosteiro da mencionada aldeia.

Diante dessas e outras dúvidas não se pode então afirmar, nem tão pouco descartar a possibilidade de tais escombros serem o que teria sobrado de uma loja maçônica, daí concluir-se que a já referida área guarda mesmo um inviolável segredo acerca dos desígnios para os quais a obra lá edificada teria se destinado, se ao funcionamento de uma loja ou se ao proveito de outra atividade qualquer.

O fato é que todo esse imbróglio que está a envolver a existência da Loja de Kilwinning coloca-a entre a lenda e a verdade, dificultando chegar-se à certeza do lugar onde efetivamente se deu a prática dos primeiros trabalhos ritualísticos com características Maçônicas. No caso da verdade, dir-se-ia que a loja em questão poderia estar ocupando o lugar número um na lista das lojas mais antigas e sendo reconhecida como a fonte primária de um legado que não ficou sepultado em meio àqueles escombros, mas que foi capaz de subsistir dando origem à maçonaria.

Mas, se o que envolveu a maçonaria e a aldeia de Kilwinning não passar de lenda como ficou patenteado pelos historiadores, o foco das atenções em torno do local onde teria surgido a mencionada instituição, sai então de Kilwinning e se volta para Edimburgo, também na Escócia, onde se constata de forma documentada, estar abrigada e já em funcionamento desde o ano de 1.599 a loja mais velha de toda a história da maçonaria.

Também foi a partir daquela época que a maçonaria passou a marcar presença na Inglaterra e a expandir-se pelos os demais países do norte oeste da Europa.

Algum tempo depois, inspirando-se no que, até então, vinha sendo praticado e aceito como preceitos basilares da Ordem Maçônica, e do que havia de textos escritos, foram traçados em definitivo, através de cartas, constituições e regulamentos, os rumos de uma nova ordem maçônica universal, com a redefinição de seus princípios e fundamentos, sua estrutura, seus objetivos e suas finalidades, concluindo-se assim um ciclo em que a busca incansável da verdade foi, sem dúvida, o mais exaustivo de todos os esforços.

Aquele acontecimento marcante na história da maçonaria se deu na Inglaterra, no ano de 1.717, a partir de quando tudo se consolidou e, de lá para cá, um acervo começou a se formar, hoje já bastante rico, como uma espécie de banco de dados que se constitui de farta documentação em poder das Lojas, obras escritas espalhadas por todos os continentes com inúmeros registros sobre sua trajetória e a descrição detalhada da vida dos mais ilustres maçons, assim reconhecidos e imortalizados, por seus relevantes serviços prestados a bem da Ordem e da humanidade.

*O Ir.’. Anestor Porfírio da Silva
M.I. e membro ativo da ARLS Adelino Ferreira Machado
Or.’. de HIDROLÂNDIA-GOIÁS
Conselheiro do Grande Oriente do Brasil/Goiás

FONTE: JB NEWS Nº 1590
Fonte: O MALHETE

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

A Flor e a Fonte    



"Deixa-me, fonte!", Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me, fonte!"
Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte...
"Não me leves para o mar".

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

"Ai, balanços do meu galho,
"Balanços do berço meu;
"Ai, claras gotas de orvalho
"Caídas do azul do céu!..."

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

"Adeus, sombra das ramadas,
"Cantigas do rouxinol;
"Ai, festa das madrugadas,
"Doçuras do pôr do sol;

"Carícia das brisas leves
"Que abrem rasgões de luar...
"Fonte, fonte, não me leves,
"Não me leves para o mar!..."

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...


Vicente de Carvalho     1923

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Nono Landmark


Os Maçons só devem admitir nas suas lojas homens maiores de idade, de perfeita reputação, gente de honra, leais e discretos, dignos em todos os níveis de serem bons irmãos e aptos a reconhecer os limites do domínio do homem e o infinito poder do Eterno.


Este nono Landmark define, com precisão evidente, as características de quem está em condições de ser admitido maçon.

Tal só pode ocorrer relativamente a homens - o que exclui a admissão, na Maçonaria Regular, de mulheres e a existência de Lojas mistas; conferir, a este respeito, o comentário que elaborei a propósito do terceiro Landmark.

Esses homens têm de ser maiores de idade, isto é, adultos. A maioridade afere-se, desde logo, pela lei civil que vigora no país onde funciona a Loja. Mas o preceito, correctamente interpretado, exige mais: exige a maioridade de pensamento, isto é, a maturidade necessária para compreender o que implica ser maçon e a capacidade e vontade de palmilhar o caminho do aperfeiçoamento.

Têm ainda tais homens de ser de perfeita reputação. Não basta ser sério e honesto, impõe-se que seja tido e reputado como tal no seu ambiente social. O maçon, por o ser, deve impor-se à consideração geral. Dificilmente o consegue quem não tiver angariado por si e suas acções tal reputação. Não seria a aquisição da qualidade de maçon que melhoraria a sua reputação. Pelo contrário, seria a mácula na sua reputação que mancharia a Maçonaria.

Tem de ser gente de honra, ou seja, que dá valor à sua palavra e a cumpre, que sabe o valor, a importância e a responsabilidade da sua honra e age em conformidade.


Devem os maçons ser leais, condição essencial para integrarem uma Fraternidade em que todos em si vão confiar.

Devem ser discretos, porque o é a Maçonaria. Note-se: não secreta, mas discreta! No sentido em que preserva a intimidade e a identidade dos seus membros e da sua actividade. No sentido de que não alardeia nem publicita o que faz, a quem ajuda, o que contribui, seguindo o preceito de que, no vero homem de bem, nem sequer a mão esquerda tem de saber o que deu a mão direita.

Têm de ser dignos de serem bons irmãos, porque só assim podem integrar a Fraternidade Maçónica.

Têm de ter a capacidade de reconhecer os limites do homem, porque só assim podem reconhecer o seu papel no Universo e procurar aproximar-se o mais possível desses limites, sem a pretensão de serem mais do que são: humanos.

Finalmente, têm de ter a capacidade de reconhecer o infinito poder do Eterno, isto é, de serem crentes num Criador Todo Poderoso.

Quem acusa a Maçonaria de ser uma elite... tem razão! Poucos estão ainda em condições de ser admitidos maçons, efectivamente! Mas um dos objectivos do trabalho maçónico é a construção do Templo Colectivo, isto é, o aperfeiçoamento geral da sociedade, através da intervenção e do exemplo dos maçons. Esperamos que cada vez mais estejam em condições de vir a ser admitidos maçons!

Rui Bandeira

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019


SINÔNIMOS.

Berço – oportunidade.

Túmulo – revisão.

Família – vínculo.

Lar – refúgio.

Sociedade – escola.

Profissão – dever.

Instrução – cultura.

Educação – aperfeiçoamento.

Trabalho – renovação.

Serviço – bênção.

Experiência – presciência.

Cooperação – simpatia.

Dificuldade – ensinamento.

Perdão – libertação.

Dor – corrigenda.

Tempo – concessão.

Verdade – equidade.

Consciência – guia.

Caridade – salvação.

Amor – Deus.

ANDRÉ LUIZ.

domingo, 13 de janeiro de 2019


Eis agora

“Eis agora, vós que dizeis... amanhã...” – (Tiago, 4:13.)

Agora é o momento decisivo para fazer o bem.

Amanhã, provavelmente...

O amigo terá desaparecido.

A dificuldade estará maior.

A moléstia terá ficado mais grave.

A ferida, possivelmente, mostrar-se-á mais crescida de extensão.

O problema talvez surja mais complicado.

A oportunidade de ajudar não se fará repetida.

A boa semente plantada agora é uma garantia da produção valiosa no porvir.

A palavra útil, pronunciada sem detença, será sempre uma luz no quadro em que vives.

Se desejas ser desculpado de alguma falta, aproxima-te agora daqueles a quem feriste e revela o teu propósito de reajustamento.

Se te propões auxiliar o companheiro, ajuda-o sem demora para que a bênção de teu concurso fraterno responda às necessidades de teu irmão, com a desejável eficiência.

Não durmas sobre a possibilidade de fazer o melhor.

Não te mantenhas na expectativa inoperante, quando podes contribuir em favor da alegria e da paz.

A dádiva tardia tem gosto de fel.

“Eis agora” – diz-nos o Evangelho, na palavra apostólica.

Adiar o bem que podemos realizar é desaproveitar o tempo e furtar do Senhor.

Emmanuel

sábado, 12 de janeiro de 2019



 
                      O SIMBOLISMO DA ROMÃ

A romanzeira ou pé de romã, em hebraico Rimmôn, é uma pequena árvore, ou até um arbusto pertencente à família “Punica Granatum” – nome latino – e no vernáculo mais purista, diz-se Romãzeira.

No sul da Espanha existe uma linda cidade, que foi a capital dos reinos de Castela e Aragão, conquistada aos árabes em 1492 pelos reis católicos, chamada romã = Granada.

Cresce silvestre no Oriente Médio e principalmente na Palestina, onde existem três cidades com o nome desse fruto, Rimon, Gate Rimon e En-Rimon. Da Palestina, através da Diáspora, foi levada a todo o mundo, inclusive, depois dos descobrimentos, ao Novo Mundo e posteriormente à Austrália e à Nova Zelândia.



Considerando-se a origem da Romã como sendo hebraica, nada melhor, para uma compreensão inicial, que recorrermos às Sagradas Escrituras. O Velho Testamento refere a Romã, ONZE vezes, enquanto o Novo Testamento, a omite totalmente. Por ordem cronológica, transcrevemos as passagens alusivas a esse fruto:

“Farás também a sobrepeliz da estola sacerdotal toda de estofo azul. No meio dela haverá uma abertura para a cabeça; será debruada essa abertura, como a abertura de uma saia de malha, para que não se rompa. Em toda a orla da sobrepeliz farás romãs de estofo azul, púrpura e carmesim; e campainhas de ouro no meio delas. Haverá em toda a orla da sobrepeliz uma campainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouro e outra romã. Essa sobrepeliz estará sobre Aarão quando praticar o seu ministério, para que se ouça o seu sonido, quando entrar no santuário diante do Senhor, e quando sair, e isso para que não morra.” (Êxodo 28-31.35.)
“Depois vieram até o vale de Escol, por causa do cacho de uvas, o qual o trouxeram dois homens numa vara, como também romãs e figos.” (Números 13:23)
“E porque nos fizeste subir do Egito, para nos trazer a este mau lugar, que não é de cereais, nem de figos, nem de vides, nem de romãs, nem de água para beber?” (Números 20:5)
“Fez também romãs em duas fileiras por cima de uma das obras de rede para cobrir o capitel no alto da coluna; o mesmo fez com o outro capitel. Os capitéis que estavam no alto das colunas eram de obra de lírios, como na Sala do Trono, e de quatro côvados. Perto do bojo, próximo à obra de rede, os capitéis que estavam no alto das duas colunas tinham duzentas romãs, dispostas em fileiras em redor, sobre um e outro capitel.” (II Reis 7:18-20)
“Há quatrocentas romãs para as duas redes, isto é, duas fileiras de romãs para cada rede, para cobrirem os dois globos dos capitéis que estavam no alto da coluna.” (II Crônicas 4:13)
“Os teus lábios são como um fio de escarlate, e tua boca é formosa; as tuas faces, como romã partida, brilham através de véu.” (Cantares 4:3)
“Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes.” (Cantares 4:13)
“Desci ao jardim das nogueiras, para mirar as renovos do vale, para ver se brotavam as vides e se floresciam as romãzeiras.
” (Cantares 6:11)
“Levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; eu te daria a beber vinho aromático e mosto das minhas romãs.” (Cantares 8:2)
“Sobre ele havia um capitel de bronze; a altura de cada um era de cinco côvados; a obra de rede e as romãs sobre o capitel ao redor eram de bronze. Semelhante a esta era a outra coluna com as romãs. Havia noventa e seis romãs aos lados; as romãs todas, sobre a obra de rede ao redor, eram cem.” (Jeremias 52:22-23)
“Saul se encontrava na extremidade de Gibeá, debaixo da romãzeira em Migron; e o povo que estava com ele era de cerca de seiscentos homens.” (I Samuel 14:2)
No que diz respeito às cidades:

“Lebaote, Silim e Rimom; ao todo, vinte e nove cidades com suas aldeias.” (Josué 15:32)
“Então viraram e fugiram para o deserto, à penha Rimom.” (Juizes 20:45)
“A sétima sorte saiu à tribo dos filhos de Dã; Jeúde, Bene-Beráque, Gate-Rimom.” (Josué 19:45)
“Em En-Rimon, em Zorá, em Jarmute.” (Nemias 11:29)
Desconhece-se a origem das cidades acima referidas, mas tudo leva a crer, que os seus nomes derivaram do grande número de Romãzeiras existentes. Alguns autores dão a Romãzeira como originária do Egito onde era conhecida pelo nome de “Anhmen”; fazem, outrossim, certa ligação entre a “Romã” e o nome de “Amon Ra”. Prosseguem dizendo não caber dúvida que foi no Egito que o fruto constituía um símbolo sagrado, pois os Sacerdotes egípcios, usavam a romã nos atos litúrgicos iniciáticos. Para os romanos, a sua origem está no norte da África. O seu nome latino – Punica Granatum – sugere a sua origem na cidade de Cartago. Na realidade, esta cidade foi fundada pelos fenícios da cidade de Tiro, que foi fundada pelos sidônios, da cidade de Sidon. Estas cidades situam-se ao norte da Palestina, no atual Líbano.

Platão teria afirmado que dez mil anos antes de Menés já existia a cerimônia que incluía a Romã como fruto, com a sua rubra flor. Somente os sacerdotes de Amon Ra tinham o privilégio de cultivar a Romãzeira. As Romãs, consideradas como oferendas sagradas, eram colocadas sobre os túmulos dos Faraós.

Encontram-se referências a respeito com ao sacerdote Egípcio de Heliópolis, de nome Manthonm, em sua história dos reis, escrita em grego, 300 anos antes de Cristo. Sobre os Altares dos deuses Horus, Set, Isis e Osiris, este o deus supremo e juiz do além-vida, protetor da morte, eram colocadas as mais exuberantes Romãs, como símbolo dos iniciados nos supremos mistérios. Essas oferendas aumentavam de número consoante a categoria do iniciado ou a importância do cargo, como os grandes hierofantes de Amon Ra e de Osiris, que além dessas ofertas serem colocadas em seus túmulos, eram também plantadas nos parques funerários, um número determinado e simbólico de Romãzeiras.

O número variava entre três, cinco e sete, de conformidade com a hierarquia. O rei Thotmesis – Tutmós – da XVIII dinastia, morto no ano 59 a.C. teve plantadas em seu parque funerário, cinco Romãs. Um hábito curioso diz respeito às pessoas que tinham débitos com o falecido. Essas dívidas eram pagas com Romãs, depositadas sobre o seu túmulo. Esse fruto simbolizava a vida e a união geográfica do Egito, compreendido assim o Alto Egito, o Meio Egito e o Baixo Egito, que representavam os três “ninhos interiores” ou a câmara baixa; os cinco “ninhos superiores” ou câmara alta, dos deuses Osiris, o juiz supremo da outra vida, Set, deus das trevas, que matou a Osiris e Horus, que vingou a Osíris, casado com Isis, além da deusa Nefritis ou Isis, irmã de Osiris.

No antigo Egito, o mês tinha três semanas de dez dias cada uma, e o ano doze meses ou seja, 360 dias aos quais, para corrigir a anomalia astronômica, foram acrescentados cinco dias que eram os correspondentes aos aniversários dos deuses Osiris, Horus, Set, Isis e Nefritis. Esses cinco dias acrescidos eram considerados de maus augúrios, e para aplacar o azar, eram oferecidas Romãs colocadas nos altares. Paralelamente, semeavam no parque funerário três Romãs, simbolizando as três o Egito e mais cinco em honra aos cinco deuses patronos dos cinco últimos dias, e mais sete, em homenagem às sete trajetórias que as almas deviam percorrer para purificar-se. Essa origem da Romã no Egito conflita com as sagradas escrituras.

Na oportunidade em que Jacó saiu de Israel em direção ao Egito, para fugir da fome que assolava a sua região, levou consigo mudas de videira, de romãzeira, figueiras e demais árvores frutíferas, plantando-as e cultivando-as. Na volta para Canaã, quando os hebreus chefiados por Moisés foram inspecionar a terra prometida, trouxeram de lá, frutos excepcionais, descritos como gigantescos, eis que para carregar um cacho de uvas, foi preciso dois homens, pendurado o cacho numa vara; junto, trouxeram figos e romãs; podemos imaginar, se comparados com o enorme cacho de uvas, o tamanho dos figos e das romãs! Sem dúvida a origem da Romãzeira, é da Palestina.

Para os Assírios, a romã simbolizava a vida e os primeiros frutos da colheita eram entregues ao sacerdote que extraía o seu suco para que o Rei o oferecesse ao ídolo. Os frutos mais formosos que simbolizavam o prolongamento da vida eram preservados para o templo; a Romãzeira era considerada como o pai da vida; com a madeira da árvore, eram confeccionados amuletos. Os fenícios tinham a Romã, também, como frutos sagrados, bem como os Cartagineses e os Romanos, que os reproduziam nos capitéis de suas colunas e os colocavam nas tumbas dos sacerdotes e dos reis. Para os gregos, a Romã era sagrada e eles a denominavam de Roidion, e a Romãzeira de Roía; os frutos eram oferecidos à deusa da sabedoria, protetora da cidade de Atenas. Para os iniciados nos mistérios de Eleusis, Dodone, Delfos, Megara e outros, a Romã simbolizava a fecundidade e a vida.

Se a Romã era usada como símbolo de vida, a concepção hebraica a reforça, considerando a propagação da espécie como o elemento mais relevante da vida. A Romã é de difícil uso como alimento, porque a separação dos grãos, firmemente inseridos em sua polpa, exige certa habilidade; mas, o seu suco, obtido com o esmagamento das suas sementes, que na realidade se constituem cada uma em um fruto separado, é de fácil obtenção. Obtido o suco, de certa forma abundante, fermentado esse, produz-se um vinho de sabor suave e delicado que, talvez para o paladar do ocidental, possa parecer estranho.

Quando de nossa estada em Israel, justamente, em Canaã, adquiri no comércio, uma garrafa de vinho de romã; gelado, nos pareceu de agradável paladar. Retornados ao Brasil, procuramos obter certa quantidade de romãs retirando-lhes os grãos que esmagamos, coamos o suco, acrescentamos um pouco de açúcar e deixamos fermentar. O vinho obtido tinha o mesmo paladar daquele que adquirimos em Israel. Efetivamente, depois de degustá-lo em pequenas doses, decorrido algum tempo, notamos o seu efeito energético; preferimos denominá-lo assim, de afrodisíaco. O relato contém além das insinuações, simbolismos profundos relacionados com os costumes hebreus. A análise meticulosa desvenda preciosas lições.

Por que Salomão valorizava tanto a romã e o seu vinho? Além do atributo afrodisíaco que os comerciantes dão ao vinho da Romãzeira, o relato de Cantares é claro. O rei Salomão reinou sobre Israel durante quarenta anos, portanto, não se o pode julgar uma pessoa já idosa, mas no vigor da idade. O relato inserido em I Reis 11 nos dá:

“Ora além da filha do faraó, amou Salomão, muitas mulheres estrangeiras; moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, mulheres das nações de que havia o Senhor dito aos filhos de Israel: não caseis com elas, nem casem elas convosco, pois vos perverteriam o coração, para seguirdes os seus deuses. A estas se apegou Salomão pelo amor. Tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas. Sendo já velho, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai.”

Apesar do texto bíblico denominá-lo de “velho”, um homem para contentar a mil mulheres, mesmo com higidez excepcional, deveria valer-se de algum produto afrodisíaco, que não era outro senão o vinho da romã. Isto justifica o seu uso, a ponto de fazer da Romã um símbolo sexual conjugado com os lírios, símbolo da excelência feminina. Colocadas as Romãs e os Lírios, nos capitéis das Colunas do Templo, quis Salomão render destaque à sua condição de rei poderoso em todos os sentidos. Poder-se-ia, contudo, questionar sobre esse evento: mas quando Salomão tinha mil mulheres o Templo já estava construído como as duas respectivas colunas. No entanto, já naquele momento, Salomão possuía mulheres em grande número e é de se supor que a ingestão do vinho afrodisíaco já era um hábito e uma necessidade. Não se conhece a idade exata de Salomão.

No livro I Crônicas, 29:1 lemos: “Disse mais o rei Davi a toda a congregação; Salomão meu filho, o único a quem Deus escolheu, é ainda moço e inexperiente, e esta obra é grande; porque o palácio não é para homens, mas para o Senhor Deus.” E no livro I Reis, 3:7 lemos: “Agora, pois, ó Senhor meu Deus, tu fizestes reinar a teu servo em lugar de Davi meu pai; não passo de uma criança, não sei como conduzir-me”.

Quando Davi ordenou o censo, excluiu os que tinham a idade de menos de 20 anos. Poderíamos, calcular, a grosso modo, que Salomão sentira-se criança, talvez por não ter atingido a idade de vinte anos. Portanto, se Salomão reinara durante quarenta anos, e assumira o reinado aos vinte anos, ao morrer, teria sessenta anos, idade que não podemos aceitar como de pessoa já velha.. Porém, se Salomão se considerou criança, poderia, perfeitamente, ter apenas quatorze ou treze anos de idade, e então ao morrer teria de 53 a 54 anos! Mas, se com essa idade iniciou a construção do Templo, como justificar a presença das Romãs e dos Lírios? Talvez uma manifestação profética, uma vez que esses adornos foram determinados por Davi que os recebera do Senhor. Davi, por sua vez, tivera um grande número de mulheres e concubinas, e o uso do vinho afrodisíaco, poderia ter sido também um hábito seu. Em Jerusalém era muito usada a Alcaparra, denominada em hebraico de Abyynah, cujos brotos e flores excitavam os desejos sexuais; hoje as sementes conservadas em vinagre constituem um condimento muito apreciado em toda a parte.

De qualquer forma, é preciso encontrar-se uma justificativa muito mais coerente sobre a presença das Romãs, do que a simplista de que simbolizava a união fraterna, pela coesão de seus grãos. A necessidade dos excitantes sexuais vem justificada pelo costume que os poderosos tinham de manter junto a si, múltiplas esposas e concubinas; os excessos sexuais da época não constituíam pecado ou falha moral.

Completaremos o estudo sobre a Romã, examinando detalhadamente o seu aspecto interno e externo. O fruto é arredondado, assemelhando-se a um pequeno cântaro, ou a uma laranja de bom tamanho.. Sua casca é lisa e manchada na coloração mista do vermelho com o verde, com manchas amareladas.

Na parte oposta ao pedúnculo que se prende ao ramo, apresenta uma coroa formada de pequenos triângulos, e no seu centro restos de pistilos secos de sua flor. Essa flor é de cor escarlate e composta de três pétalas carnosas que após desabrochar completamente dão lugar a uma rosácea de cinco pétalas; curiosamente, ao formar-se o fruto, surgem mais duas pétalas que se mantêm envolvidas pela coroa, secando paulatinamente até o completo desenvolvimento do fruto.

A casca é grossa e robusta; quando bem maduro, o fruto rompe-se, pondo à mostra alguns grãos; quando colhida e deixada em lugar quente, a Romã seca lentamente; não apodrece; e mesmo seco, o fruto é utilizado, pois os seus grãos apresentam-se mais doces ainda. O interior apresenta duas câmaras: a alta que contém cinco celas onde se espremem dezenas de grãos, e a câmara baixa, que se apresenta da mesma forma; os grãos têm no centro, uma diminuta semente branca e ao redor uma grande parte carnosa e transparente, nas colorações que partem do rosa pálido ao vermelho rubi. Essa parte interna lembra os favos de mel; as celas são divididas por uma espécie de cortina branca e leve.

Essa película resistente é amarga, como o é toda a casca exterior, possuindo propriedades medicinais; pela grande quantidade de tanino que contém, é usada como adstringente para diarreia; a casca, em forma de chá é um excelente vermífugo. Os grãos são saborosos, podendo ser ingeridos agrupados; o gosto esquisito, é agridoce. No Oriente, como já referimos, esses grãos macerados produzem um líquido que fermentado resulta em vinho afrodisíaco. O simbolismo do fruto e de sua flor se adequa à filosofia maçônica. A planta, ou melhor, o arbusto, tem as folhas pequenas e perenes, de um verde escuro; a planta não atinge altura significativa e desde cedo, quando em desenvolvimento, tendo um metro e meio, já produz frutos. Os grãos simbolizam a união dos maçons em seus vários aspectos: o fisiológico, porque cada grão possui “carne”, “sangue” (o suco) e “ossos”, (as sementes). Os grãos crescem unidos de tal forma que perdem o formato natural, que seria redondo; espremidos uns aos outros, são semelhantes a polígonos geométricos, com várias facetas; são lustrosos e belos, lembrando os favos de uma colmeia de abelhas; as abelhas trabalham sem descanso e assim lutam os maçons.

Os frutos representam os maçons que estão no Oriente Eterno; são pedras totalmente polidas que abrilhantam o Reino Celestial. As câmaras simbolizam a vida externa e a interna, ou seja, a mente humana e o espírito. As cinco células da Câmara Alta representam as fases intelectuais onde se estuda a razão da verdade eterna;, o conhecimento, o impulso para o elevado, para a moral e para a perfeita harmonia.

Representam, ao mesmo tempo, as cinco raças humanas, perfeitamente unidas, sem preconceitos; também recordam as cinco idades do homem: a embrionária, a infância, a do aprendizado, a construtiva e a madura. As três células da Câmara Baixa correspondem ao aprendizado, ao companheirismo e ao mestrado. As três substâncias do homem: sangue, carne e ossos; ao homem Templo, ao homem Altar e ao homem Alma. As três luzes: Ven.’. e Vvig.’.. O formato externo representa a Terra, seja pela sua esfera, seja pela sua coloração e conteúdo.

O astronauta soviético Yuri Gagarin, quando pôde contemplar a Terra do Cosmos, exclamou: “Ela é azul!” Hoje, passada quase uma geração, o jornalista japonês Akiyama, a bordo da estação orbital russa Mir enviou a seguinte mensagem: “O ar e as águas estão visivelmente sujos. Estou muito ocupado aqui, em cima, para ser filosófico; mas sinto que realmente faço parte da mãe Terra, agora, e acredito que temos que realmente fazer alguma coisa para salvá-la” – acrescentou: “eu não estou falando dos desertos, mas em outras partes da África e da Ásia não há muitas árvores”. Que expressiva diferença após poucos anos! A Terra para Gagarin era azul; para Toyohiro Akiyama, a Terra perdeu a suavidade colorida!

A Romã expressa, na sua coloração, a realidade. A coroa de triângulos ou coroa da virtude, do sacrifício, da ciência, da fraternidade, do amor ao próximo, está colocada numa extremidade da esfera. Simboliza o coroamento da obra da Arte Real. A flor rubra representa a chama do entusiasmo que conduz o Neófito ao seu destino, iluminando a sua jornada. As cores da Romã simbolizam: o verde, o reino vegetal; a amarela, o reino mineral; e a vermelha, o reino animal. As membranas brancas, que não constituem cor, mas a mistura de todas as cores como as obtidas quando o raio transpassa o cristal formando o arco-íris, simboliza a paz e o amor fraterno.

Podemos acrescentar que o simbolismo da romã se equivale, na Arte Real, ao simbolismo da Cadeia de União, da Orla Dentada, da Corda de 81 Nós, e ao do Feixe de Esopo.

Em suma, a romã simboliza a própria Loja e a sua a Egrégora.