quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Mestre e Aprendiz




Mestre e Aprendiz

Costumo invocar com frequência a noção de que o Mestre maçom deve considerar-se um eterno Aprendiz, se quer ser digno de ser considerado Mestre.

Também me relembro com frequência que ser maçom é um percurso de auto-aperfeiçoamento, sempre dinâmico, sempre inacabado, sempre em execução. Um dos marcos desse caminho é o maçom, o homem livre e de bons costumes, poder convictamente considerar-se Mestre de si mesmo, capaz de dominar suas paixões, seus vícios, domar seu temperamento, desbastar sua personalidade, no sentido do equilíbrio, da justeza. Enfim, conseguir EFECTIVAMENTE nortear sua vida e suas ações e realizações dentro do espaço delimitado por três características indispensáveis para que cada obra humana tenha valia digna desse nome: a Sabedoria, a Força e a Beleza. Que cada nossa decisão, cada realização nossa, consiga simultaneamente ser sabedora, porque justa e certa e equilibrada e prudente, forte, porque durável e susceptível de naturalmente se impor e prosseguir seus objetivos e bela, porque agradável aos demais, não é empresa fácil, se a queremos realizar bem, mas é extremamente gratificante, quando se alcança.

Ser maçom é, portanto, ser sempre Aprendiz, porque em cada momento devemos melhorar, mais bem compreender e fazer, sempre devemos estudar e especular e experimentar, para em cada dia sermos um pouco, um grão que seja, melhores do que o anterior. Mas é também ser Mestre, porque a aprendizagem não é um mero exercício intelectual, é um meio para utilizarmos e dominarmos e integrarmos o que aprendemos, com valia para nós próprios e para os demais, que podem beneficiar do que aprendemos e da transmissão do nosso conhecimento.

Esta dualidade Aprendiz - Mestre é, por natureza, dinâmica. Aprendemos e do que aprendemos somos Mestres e, sendo-o, verificamos que mais temos a aprender, e vemos como, e de novo mais aprendemos, e de mais somos Mestres e assim sucessivamente, numa eterna sucessão do ciclo tese-antítese-síntese que é nova tese. Esta relação entre aprendizagem e utilização do que se aprendeu necessita, porém, de ser equilibrada - de pouco vale aprender, aprender e aprender, se nada se utiliza, se aplica, se usa; não muito vale fazer e refazer e repetir o que um dia se aprendeu,em eterna e rotineira execução, sem perspectivas nem evolução. Por isso, em Maçonaria se preza o equilíbrio e se atende ao valor da dualidade, como fator de progresso, de evolução.

Em bom rigor, o maçom não É aprendiz, não É Mestre. O maçom FAZ-SE Aprendiz e, com isso, TORNA-SE Mestre. Não se compreende efetivamente a natureza da Maçonaria se dela apenas se retém uma imagem estática. A Maçonaria e os seus ensinamentos são essencialmente dinâmicos e é esse dinamismo, essa perpétua evolução, esse incessante movimento intelectual que é indispensável entender, se se quer perceber o que é a Maçonaria. Cada ponto de chegada é um novo ponto de partida. Sempre. Com a especificidade de que cada maçom não tem necessariamente de partir dos SEUS pontos de chegada. Pode beneficiar dos que seus Irmãos obtiveram para, a partir deles, integrar os seus próprios conhecimentos e de tudo beneficiar para prosseguir sua demanda.

É também por isso que a maçonaria orgulhosamente se reclama da Tradição. Da Tradição de seus ancestrais, dos Mestres que antes de nós fizeram suas demandas e chegaram a suas conclusões. Que abriram e aplainaram os caminhos que hoje confortavelmente percorremos sem dificuldade, permitindo que nos aventuremos no desbaste de novos percursos que, se bem trabalharmos, um dia serão rápidas estradas, facilmente atravessadas pelos vindouros até às fronteiras de seus desconhecidos novos percursos. Por isso, para um maçom é natural ir ao passado rever o que aí se descobriu, para integrar com o que hoje está à nossa disposição e poder construir o que amanhã se descobrirá. Por isso, o Passado, o Presente e o Futuro se unem e tocam e associam para mais um pouco se avançar. Por isso, nós, maçons, valorizamos o Passado, a Tradição, os Ritos e os Conhecimentos que herdamos de nossos antecessores, tanto como valorizamos o nosso esforço de Hoje e como aspiramos a que seja valorizado o que procuramos construir para o Futuro. Que um dia será Presente e logo Passado... Dinâmica, não estática...

Os Aprendizes de antanho são para nós Mestres que nos ajudam a aprender e a sermos, por nosso turno, Mestres. Mas também os Mestres Aprendizes de agora mutuamente se influenciam. Por isso, mais do que dizer-se apenas que cada Mestre maçom, sendo-o, é simultaneamente um Aprendiz, pode e deve dizer-se ainda que cada maçom é também e sempre um Aprendiz de alguém e Mestre de algum outro Aprendiz.

Portanto, e resumindo: cada Mestre maçom é simultaneamente Mestre de si próprio e eterno Aprendiz, Aprendiz dos ensinamentos dos seus antecessores e Mestre dos vindouros e ainda Aprendiz de alguém e Mestre de algum outro Aprendiz - porventura também Mestre e, portanto, com as mesmas características...

Uma das coisas que eu gosto na Maçonaria é esta sua simplicidade!

Rui Bandeira

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ações cruéis


Ações cruéis

Em se observando a enorme diversidade dos animais, descobre-se como o Pai Criador foi pródigo em tudo providenciar ao homem.

Os animais o vestem com suas peles, o alimentam com seus ovos, seu leite, sua carne. Aquecem-no com suas penas e lã.

Com alegria, lhe deliciam os ouvidos tecendo sinfonias nos ramos das árvores ou aprisionados em gaiolas douradas.

Retribuem as carícias com fidelidade extremada, até o sacrifício da própria vida.

Em uma palavra, servem a Humanidade. E o que tem feito o homem pelos animais?

Basta se viaje e nas rodovias se encontram à venda várias aves, especialmente periquitos e papagaios, recém retirados do seu habitat.

Repousam ali, sobre varas improvisadas, de asas cortadas para não alçarem vôo.

Se a necessidade ou a ignorância de quem as retira da mata pode ser entendida, como se desculpar o homem que passa no seu carro, a negócios ou a passeio, que pára e adquire o espécime?

Para quê? Para servir de brinquedo ao filho? Por quanto tempo? Para servir de adorno?

Logo, o bichinho está relegado a um canto, triste. Morre cedo, na maioria das vezes, porque longe da liberdade da sua mata, quando não por doenças que contrai pela alimentação inadequada que recebe.

De outras vezes, descobre-se nos centros urbanos, junto a piscinas improvisadas ou nos jardins, tartarugas e cágados.

Também retirados pequenos do seu local de origem, fazem a alegria da criançada... Por algum tempo.

Até crescerem tanto que deixam de ser engraçadinhos. Alimentados de forma incorreta, têm os seus cascos amolecidos e acabam sendo entregues, quando o são, a zoológicos da cidade.

Para que tirá-los da condição de liberdade?

Tudo isso demonstra a crueldade do ser humano. Crueldade que é fruto do seu egoísmo e do pouco valor que dá à vida.

Já se viu, muitas vezes, burros e mulas com os ossos à mostra, carregando fardos pesadíssimos. E ainda recebendo chicotadas. Fome, trabalho excessivo, maus tratos.

Patos e suínos confinados em espaços mínimos, em especial regime de engorda. Prisioneiros, para acelerar a hora de serem levados ao mercado consumidor ou produzirem a melhor iguaria para sofisticados pratos.

Onde o respeito à vida, à natureza, ao ser inferior?

Conscientizemo-nos de que somente alcançaremos a felicidade, quando não venhamos a distribuir o mal, seja para a Terra que nos agasalha, seja para os seres que a habitam.

Porque em síntese, toda agressão à natureza redunda em prejuízo para quem a pratica.

* * *

Carl Sagan, astrônomo americano, disse que se fôssemos visitados por um viajante espacial que examinasse nosso planeta, ele possivelmente concluiria que não há vida inteligente na Terra.

É que o hipotético viajante iria logo descobrir que os organismos dominantes da Terra estão destruindo suas fontes de vida.

A camada de ozônio, as florestas tropicais, o solo fértil, tudo sofrendo constantes ataques.

Redação do Momento Espírita, com base em artigo publicado na Revista Veja de 27.03.1996.
Em 06.02.2009

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Maçonaria

Investidura no grau 33 de maçons da Calixto Nóbrega e Vale do Piranhas. 

Maçonaria

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



Maçonaria/Francomaçonaria

Lema "Igualdade, Liberdade, Fraternidade"
Fundação 24 de julho 1717
Membros 6 milhões (aproximadamente)


Maçonaria (forma reduzida e usual de francomaçonaria[1]) é uma sociedade discreta e por discreta, entende-se que se trata de ação reservada e que interessa exclusivamente àqueles que dela participam.[2][3][4] de carácter universal, cujos membros cultivam o aclassismo, humanidade, os princípios da liberdade, democracia, igualdade, fraternidade[5][6] e aperfeiçoamento intelectual, sendo assim uma associação iniciática e filosófica.

Portanto a maçonaria é uma sociedade fraternal.[7] que admite todo homem livre e de bons costumes, sem distinção de raça, religião,[7] ideário político ou posição social. Suas principais exigências são que o candidato acredite em um princípio criador, tenha boa índole, respeite a família, possua um espírito filantrópico e o firme propósito de tratar sempre de ir em busca da perfeição.[7], aniquilando seus vícios e trabalhando para a constante evolução de suas virtudes.

Os maçons estruturam-se e reúnem-se em células autônomas, designadas por oficinas, ateliers ou (como são mais conhecidas e correctamente designadas) lojas, "todas iguais em direitos e honras, e independentes entre si."

Existem, no mundo, aproximadamente 6 milhões[8] de integrantes espalhados pelos 5 continentes. Destes 3,2 - (58%)- nos Estados Unidos - USA, 1,2 -(22%) - no Reino Unido e 1,0(20%) no resto do mundo. No Brasil são aproximadamente 150 mil maçons regulares (2,7 %) e 4.700 Lojas. [carece de fontes?]



domingo, 27 de novembro de 2011

ANTIGOS DEVERES




ANTIGOS DEVERES:

Da conduta

O sexto e último tema dos Antigos Deveres respeita à conduta que os Maçons devem ter, em todos os aspectos da sua vida:

1. NA LOJA, ENQUANTO CONSTITUÍDA

Não organizareis comissões privadas nem conversações separadas sem permissão do mestre, nem falareis de coisas impertinentes nem indecorosas, nem interrompereis o mestre nem os vigilantes nem qualquer irmão que fale com o mestre; nem vos comportarei jocosamente nem apalhaçadamente enquanto a loja estiver ocupada com assuntos sérios e solenes; nem usareis de linguagem indecente sob qualquer pretexto que seja; mas antes manifestareis o respeito devido aos vossos mestre, vigilantes e companheiros e venerá-los-eis.
Se surgir alguma queixa, o irmão reconhecido culpado ficará sujeito ao juízo e à decisão da loja, a qual constitui o juiz próprio e competente para todas as controvérsias desse tipo (salvo se seguir apelo para a Grande Loja) e à qual elas devem ser referidas, a menos que o trabalho do Senhor seja no entretanto prejudicado, motivo pelo qual poderá usar-se de processo particular; mas nunca deveis recorrer à lei naquilo que respeite à Maçonaria sem absoluta necessidade, reconhecida pela loja.

2. CONDUTA DEPOIS DE A LOJA TER ENCERRADO E ANTES DOS IRMÃOS TEREM PARTIDO


Podeis divertir-vos com alegria inocente, convivendo uns com os outros segundo as vossas possibilidades. Evitai porém todos os excessos, sem forçar um irmão a comer ou a beber para além dos seus desejos, sem o impedir de partir quando o chamarem os seus assuntos e sem dizer ou fazer qualquer coisa ofensiva ou que possa tolher uma conversação afável e livre. Porque isso destruiria a nossa harmonia e anularia os nossos louváveis propósitos. Portanto, não se tragam para dentro da porta da loja rancores nem questões e, menos ainda, disputas sobre religião, nações ou política do Estado. Somos apenas maçons, da religião universal atrás mencionada. Somos também de todas as nações, línguas, raças e estilos e somos resolutamente contra toda a política, como algo que até hoje e de hoje em diante jamais conduziu ao bem-estar da loja. Esta obrigação sempre tem sido prescrita e observada e, mais especialmente, desde a Reforma na Grã-Bretanha, ou a dissenção e secessão destas nações da comunhão de Roma.

3. CONDUTA QUANDO IRMÃOS SE ENCONTRAM SEM TERCEIROS MAS NÃO EM LOJA FORMADA


Deveis cumprimentar-vos uns aos outros de maneira cortês, como vos ensinarão, chamando-vos uns aos outros irmãos, dando-vos livremente instrução mútua quando tal parecer conveniente, sem serdes vistos nem ouvidos e sem vos ofenderdes uns aos outros nem vos afastardes do respeito que é devido a qualquer irmão, mesmo que não fosse maçon. Porque embora todos os maçons sejam como irmãos, ao mesmo nível, a Maçonaria não retira ao homem a honra que ele antes tinha; pelo contrário, acrescenta-lhe honra, principalmente se ele bem mereceu da Fraternidade, a qual deve conceder honra a quem for devida e evitar as más maneiras.

4. CONDUTA NA PRESENÇA DE TERCEIROS NÃO MAÇONS


Sereis prudentes nas vossas palavras e atitudes, a fim de que o mais penetrante dos terceiros não seja capaz de descobrir ou achar o que não convém sugerir; por vezes desviareis a conversa e conduzi-la-eis com prudência, para honra da augusta Fraternidade.


5. CONDUTA EM CASA E PARA COM OS VIZINHOS


Deveis proceder como convém a um homem moral e avisado; em especial, não deixeis família, amigos e vizinhos conhecer o que respeita à loja, etc. mas consultai prudentemente a vossa própria honra e a da antiga Fraternidade por razões que não têm aqui de ser mencionadas. Deveis também ter em conta a vossa saúde, não vos conservando fora de casa, depois de terem passado as horas de loja; evitai os excessos de comida e de bebida, para que as vossas famílias não sejam negligenciadas nem prejudicadas e vós próprios incapazes de trabalhar.

6. CONDUTA PARA COM UM IRMÃO DESCONHECIDO


Deveis examiná-lo com cuidado, da maneira que a prudência vos dirigir de forma que não vos deixeis enganar por um ignorante e falso pretendente, a quem rejeitareis com desprezo e escárnio, evitando dar-lhe quaisquer sinais de reconhecimento.
Contudo, se descobrirdes nele um irmão verdadeiro e genuíno, então deveis respeitá-lo; e, se ele tiver qualquer necessidade, deveis ajudá-lo se puderdes ou então dirigi-lo para quem o possa ajudar. Deveis empregá-lo durante alguns dias, ou recomendá-lo para que seja empregado. Mas não sois obrigado a ir além das vossas possibilidades, somente a preferir um irmão pobre, que seja homem bom e sincero, a quaisquer outros pobres em idênticas circunstâncias.



Finalmente, todas estas obrigações são para observardes, e assim também as que vos serão comunicadas por outra via; cultivando o amor fraternal, fundamento e remate, cimento e glória desta antiga Fraternidade, evitando toda a disputa e querela, toda a calúnia e maledicência, não permitindo a outros caluniar um irmão honesto, mas defendendo o seu carácter e prestando-lhe todos os bons ofícios compatíveis com a vossa honra e segurança e não mais. E se algum deles vos fizer mal, dirigi-vos à vossa própria loja ou à dele; e daí, podeis apelar para a Grande Loja, aquando da Comunicação Trimestral, e daí para a Grande Loja anual, como tem sido a antiga e louvável conduta dos nossos antepassados em todas as nações; nunca recorrendo à justiça a não ser quando o caso não se possa decidir de outra maneira, e escutando pacientemente o conselho honesto e amigo de mestre e companheiros quando vos queiram impedir de recorrerdes à justiça com estranhos ou vos incitar a pordes rapidamente termo a todo o processo, a fim de que vos possais ocupar dos assuntos da Maçonaria com mais alacridade e sucesso; mas com respeito aos irmãos ou companheiros em juízo, o mestre e os irmãos devem com caridade oferecer a sua mediação, a qual deve ser aceite com agradecimento pelos irmãos contendores; e se essa submissão for impraticável, devem então continuar o seu processo ou pleito sem ira nem rancor (não na maneira usual), nada dizendo ou fazendo que possa prejudicar o amor fraternal, e renovando e continuando os bons ofícios; para que todos possam ver a influência benigna da Maçonaria e como todos os verdadeiros maçons têm feito desde os começos do mundo e assim farão até ao final dos tempos.

Amen, assim seja.

Como se vê, este acervo de regras prima, antes de tudo, pelo bom senso e pela aplicação dos ditames da Moral e da Boa Educação. Para além disso, frisa os específicos deveres de preservação da identidade dos Irmãos, da não discussão de Política e Religião em Loja, da Solidariedade entre Irmãos, da Tolerância, da Discrição e da Vida Saudável e Regrada. Em suma, uma cartilha de comportamento de... homens livres e de bons costumes!

Rui Bandeira

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Deus e o Mal


Deus e o Mal

Uma das definições de Maçonaria que ouvi é que a Maçonaria é um sistema de moralidade, velado por alegorias e desvendado por símbolos.

Não é apenas isso, mas também é isso.

O texto que vou seguidamente publicar é uma adaptação minha baseada numa daquelas apresentações de diapositivos que, meio lamechas, circulam pela Rede, envoltas em música suave e com fundos de paisagem aprazíveis. Mas esta, em particular, é mais do que isso, é uma forma de mostrar que Razão e Fé não são incompatíveis. São alegorias como esta que os maçons utilizam para reflectir. A Alegoria vela a moralidade, que é desvendada pelos símbolos. Isto também é Maçonaria.


Deus e o Mal

Um professor universitário desafiou os seus alunos com esta pergunta:

- Deus criou tudo o que existe?

Um aluno respondeu, afoitamente:

- Sim, Ele tudo criou.

- Tem a certeza que Deus criou tudo? - insistiu o professor.

- Sim senhor! - respondeu o jovem.

O professor, então, concluiu:

- Se Deus criou tudo, então Deus criou também o Mal, pois o Mal existe. E, assumindo que nós nos revelamos em nossas obras, então Deus é mau...

O jovem ficou calado em face de tal resposta e o professor gozava mais um triunfo da sua Lógica, que demonstrava mais uma vez que a Fé era um mito.

Então, outro estudante levantou a mão e perguntou:

- Posso fazer uma pergunta, professor?

- Claro que sim! - respondeu este.

Então o segundo jovem perguntou:

- Professor, existe o frio?

- Que pergunta é essa? Claro que sim! Ou, por acaso, nunca sentiu frio?

O jovem respondeu:
 - Na realidade, professor, o frio não existe! Segundo as leis da Física, o que consideramos frio, na realidade é a ausência de calor. Todo o corpo ou objecto é susceptível de estudo, quando possui ou transmite energia. O calor é que faz com que este corpo tenha ou transmita energia. O zero absoluto é a ausência total e absoluta de calor, todos os corpos ficam inertes, incapazes de reagir, mas o frio não existe realmente. Nós criámos essa definição para descrever o que sentimos quando nos falta o calor.

E o jovem prosseguiu:
- Mas permita-me ainda uma outra pergunta. E a escuridão, existe?

O professor, intrigado, respondeu:
- Existe, claro que existe.

O aluno retorquiu:
Está de novo errado, professor, a escuridão também não existe. A escuridão, na realidade, é apenas a ausência de luz. A luz pode ser estudada, a escuridão, não. Até existe o prisma de Nichols, para decompor a luz branca nas várias cores de que a mesma é composta, com os seus diferentes comprimentos de onda. A escuridão, não. Um simples raio de luz atravessa as trevas e ilumina a superfície onde termina. Como se pode saber quão escuro está um espaço determinado? Com base na quantidade de luz presente nesse espaço, não é assim? Escuridão é, pois, apenas uma definição que o Homem desenvolveu para descrever o que acontece quando não há luz!

Finalmente, o jovem perguntou. - Diga-me então agora , professor, ainda pensa que o Mal existe?

O professor respondeu, ainda insistindo:
- Claro que sim, claro que existe, bem vemos os crimes e a violência em todo o Mundo, tudo isso é o Mal!

Retorquiu então o estudante:
O Mal não existe, senhor. Pelo menos, não existe por si mesmo. O Mal é simplesmente a ausência de Deus, tal como o frio é a ausência de calor e a escuridão a ausência de luz. O Mal é uma definição que o Homem criou para descrever essa ausência de Deus! Deus não criou o Mal. O Mal não é como a Fé, ou como o Amor, que existem, como existem o calor e a luz. O Mal é o resultado de a Humanidade não ter Deus presente em seus corações. É dessa ausência que surge o Mal, como o frio surge da ausência de calor e a escuridão da falta de luz.

Pela primeira vez, o professor compreendeu que a Razão e a Lógica não são antagônicas da Fé e que aquelas, sabiamente aplicadas, afinal justificam esta.

E assim se provou que Deus não criou o Mal e também que a existência do Bem prova a existência de Deus, como o Calor prova haver energia e a Luz prova existir a cor.

Que o Grande Arquiteto do Universo permaneça em nossos corações!

Rui Bandeira

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Essência do Fanatismo


Bertrand Russell





A Essência do Fanatismo

A essência do fanatismo consiste em considerar determinado problema como tão importante que ultrapasse qualquer outro. Os bizantinos, nos dias que precederam a conquista turca, entendiam ser mais importante evitar o uso do pão ázimo na comunhão do que salvar Constantinopla para a cristandade. Muitos habitantes da península indiana estão dispostos a precipitar o seu país na ruína por divergirem numa questão importante: saber se o pecado mais detestável consiste em comer carne de porco ou de vaca. Os reaccionários amercianos prefiririam perder a próxima guerra do que empregar nas investigações atómicas qualquer indivíduo cujo primo em segundo grau tivesse encontrado um comunista nalguma região. Durante a Primeira Guerra Mundial, os escoceses sabatários, a despeito da escassez de víveres provocada pela atividade dos submarinos alemães, protestavam contra a plantação de batatas ao domingo e diziam que a cólera divina, devido a esse pecado, explicava os nossos malogros militares. Os que opõem objeções teológicas à limitação dos nascimentos, consentem que a fome, a miséria e a guerra persistam até ao fim dos tempos porque não podem esquecer um texto, mal interpretado, do Gênese. Os partidários entusiastas do comunismo, tal como os seus maiores inimigos, preferem ver a raça humana exterminada pela radiatividade do que chegar a um compromisso com o mal - capitalismo ou comunismo segundo o caso. Tudo isto são exemplos de fanatismo.

Em cada comunidade há um certo número de fanáticos por temperamento. Alguns desses fanáticos são essencialmente inofensivos e os outros não fazem mal enquanto os seus partidários forem pouco numerosos ou estiverem afastados do poder. Os «amish» na Pensilvânia pensam que é mau usar botões; isto é completamente inofensivo, salvo na medida em que revela um estado de espírito absurdo. Alguns protestantes extremistas gostariam de ressuscitar a perseguição aos católicos; essas pessoas só serão inofensivas enquanto forem em pequeno número. Para que o fanatismo se torne uma ameaça séria é preciso que possua bastantes partidários para pôr a paz em perigo, internamente por meio de uma guerra civil ou externamente por uma cruzada; ou quando, sem guerra civil, estabeleça uma Lei dos Santos que implique a perseguição e a estagnação mental. No passado, o melhor exemplo da história é o reinado da Igreja desde o século IV ao século XVI.

(...) Para curar o fanatismo - salvo nas aberrações raras dos indivíduos excêntricos - são necessárias três condições: segurança, prosperidade e educação liberal.

Bertrand Russell, in "A Última Oportunidade do Homem"

Bertrand Russell
1872 // 1970
Filósofo, Matemático, Crítico social, Escritor

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Utilidade Pública


AVC - Acidente vascular cerebral

 

Acidente vascular cerebral (AVC) é uma interrupção do fornecimento de sangue a qualquer parte do cérebro. Um AVC também é chamado deataque cerebral, vamos falar de: - Causas - Fatores de risco - Sintomas e prevenção.

O AVC pode ter várias causas:

Malformação arteriovenosa ou aneurisma cerebral

Acidente vascular cerebral hemorrágico

Acidente vascular cerebral isquêmico e outros fatores secundários.

Fator de risco para AVC

A hipertensão arterial é o principal fator de risco para acidentes vascularescerebrais. Também podem aumentar o risco de AVC:
• Diabetes
• A história familiar de AVC
• A doença cardíaca
• O colesterol elevado
• O aumento da idade

SINTOMAS

• Mudança no estado de alerta (consciência) • Movimento de mudanças, geralmente em apenas um lado do corpo • Coma • Dificuldade de mover qualquer parte do corpo • Letargia • Perda de habilidades motoras finas • Sono • Náuseas ou vômitos • Estupor • Ansiedade extrema • Inconsciência • As alterações de sensação, geralmente em apenas um lado do corpo • Dificuldade para falar ou compreender os outros • Diminuição da sensação • Dificuldade de deglutição • Dormência ou formigamento • Dificuldade de leitura ou escrita • confusão súbita • Perda da coordenação • Fraqueza de qualquer parte do corpo • Perda de equilíbrio • alterações da visão • Perda da totalidade ou de parte da visão • Diminuição da visão.



Prevenção
Para ajudar a evitar um acidente vascular cerebral:

· Não beba mais de 1 a 2 doses de bebidas alcoólicas por dia.

· Exercite-se regularmente: 30 minutos por dia sevocê não estiver com sobrepeso, 60 – 90 minutos
por dia, se você está com sobrepeso.

· Tenha a sua pressão arterial verificada a cada 1– 2 anos, especialmente se a pressão arterial elevada é executado emsua família.


· Ter o seu colesterol controlado. Se vocêestá em alto risco de acidente vascular cerebral, o LDL colesterol “mau” deveser inferior a 100 mg / dL. Seu médico pode recomendar que você tentereduzir o colesterol LDL para 70 mg / dL.

· Siga as recomendações de tratamento o seu médico se você tem pressão alta, diabetes,colesterol elevado e doenças cardíacas.

· Pare de fumar.

Leia mais: http://longevidade-silvia.blogspot.com/2011/11/avc-acidente-vascular-cerebral.html#ixzz1eWuiD4mL
































terça-feira, 22 de novembro de 2011

Retorno ao Oriente Eterno

Betânia e Anchieta em foto recente.


Transcrevemos do Blog da Casa do Caminho a Nota de pesar pelo retorno ao Oreinte Eterno do maçom José de Anchieta Vieira.

Retorno ao Oriente Eterno 


A Comunhão Espírita Cristã A Casa do Caminho comunica o prematuro retorno à sua Casa espiritual, do irmão do caminho, José de Anchieta Vieira, Anchietão, ocorrido no dia 20.11.2011, às 12:15, em João Pessoa , em consequência de um acidente vascular cerebral.
Seu sepultamento ocorrerá no dia 21.11.2011, às 17:00, no cemitério São João Batista, da cidade de Sousa.
O irmão Anchieta era um trabalhador abnegado e assíduo na Casa do Caminho, sendo querido por todos os Idosos, funcionários e voluntários da Casa, sempre disposto, apto a ajudar, fazia com freqüência preces com todos os idosos, além de auxiliar pessoalmente em alimentar aos idosos com deficiência.

No trato com os Idosos ficou marcado pela sua simplicidade, respeito, alegria e o bom humor de que era portador.
Acima de tudo demonstrou pelo exemplo que era uma figura importante, além de um grande amigo.

O homem Anchieta aqui não mais está, mas Anchieta é imortal, foi criado por Deus para viver para sempre e a sua lembrança, os seus trabalhos, o seu Espírito, estarão sempre com aqueles que tiverem, firme e altamente, a bandeira da caridade que ele sempre soube respeitar.

Nossos sentimentos aos familiares e amigos.

Até breve, amigo Anchieta, até breve, saudades dos irmãos do Caminho e que DEUS o abençoe na sua nova tarefa.

P.S.:
Fica a registrada o sentimento de gratidão pelo excelente trabalho realizado em favor da Instituição de Idosos, na cidade de Sousa (PB).





Com gratidão: A Casa do Caminho de Sousa












sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dalai Lama


Alegria

· Dê mais às pessoas, MAIS do que elas esperam, e faça com alegria.

· Decore seu poema favorito.

· Não acredite em tudo que você ouve, gaste tudo o que você tem e durma tanto quanto você queira.

· Quando disser "Eu te amo" olhe as pessoas nos olhos.

· Fique noivo pelo menos seis meses antes de se casar.

· Acredite em amor à primeira vista.

· Nunca ria dos sonhos de outras pessoas.

· Ame profundamente e com paixão.

· Você pode se machucar, mas é a única forma de viver a vida completamente.

· Em desentendimento, brigue de forma justa, não use palavrões.

· Não julgue as pessoas pelo seus parentes.

· Fale devagar mas pense com rapidez.

· Quando alguém perguntar algo que você não quer responder, sorria e pergunte: "Porque você quer saber?".

· Lembre-se que grandes amores e grandes conquistas envolvem riscos.

· Ligue para sua mãe.

· Diga "saúde" quando alguém espirrar.

· Quando você se deu conta que cometeu um erro, tome as atitudes necessárias.

· Quando você perder, não perca a lição.

· Lembre-se dos três Rs: Respeito por si próprio, respeito ao próximo e responsabilidade pelas ações.

· Não deixe uma pequena disputa ferir uma grande amizade.

· Sorria ao atender o telefone, a pessoa que estiver chamando ouvirá isso em sua voz.

· Case com alguém que você goste de conversar. Ao envelhecerem suas aptidões de conversação serão tão importantes quanto qualquer outra.

· Passe mais tempo sozinho.

· Abra seus braços para as mudanças, mas não abra mão de seus valores.

· Lembre-se de que o silêncio, às vezes, é a melhor resposta.

· Leia mais livros e assista menos TV.

· Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais velho e olhar para trás, você poderá aproveitá-la mais uma vez.

· Confie em Deus, mas tranque o carro.

· Uma atmosfera de amor em sua casa é muito importante. Faça tudo que puder para criar um lar tranquilo e com harmonia.

· Em desentendimento com entes queridos, enfoque a situação atual.

· Não fale do passado.

· Leia o que está nas entrelinhas.

· Reparta o seu conhecimento. É uma forma de alcançar a imortalidade.

· Seja gentil com o planeta.

· Reze. Há um poder incomensurável nisso.

· Nunca interrompa enquanto estiver sendo elogiado.

· Cuide da sua própria vida.

· Não confie em alguém que não fecha os olhos enquanto beija.

· Uma vez por ano, vá a algum lugar onde nunca esteve antes.

· Se você ganhar muito dinheiro, coloque-o a serviço de ajudar os outros, enquanto você for vivo. Esta é a maior satisfação de riqueza.

· Lembre-se que o melhor relacionamento é aquele em que o amor de um pelo outro é maior do que a necessidade de um pelo outro.

· Julgue seu sucesso pelas coisas que você teve que renunciar para conseguir.

· Lembre-se de que seu caráter é seu destino.

· Usufrua o amor e a culinária com abandono total.



Dalai Lama

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

É proibido

Pablo Neruda










É proibido


"É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual"

Pablo Neruda




quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DESPERTAR É PRECISO


Vladimir Maiakóvski





DESPERTAR É PRECISO

Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.
Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada.

Vladimir Maiakóvski

Vladimir Mayakovsky nasceu na Geórgia, então Rússia, em 1893.






Eugen Berthold Friedrich Brecht



BERTOLD BRECHT DEPOIS DE MAIAKOVSKI

Primeiro levaram os negros,
Mas não me importei com isso,
Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas não me importei com isso,
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis,
Mas não me importei com isso,
Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados,
Mas como tenho meu emprego,
Também não me preocupei.

Agora estão me levando,
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.



Eugen Berthold Friedrich Brecht, nasceu em Augsburg, 10 de Fevereiro de 1898 Baviera Império Alemão.



terça-feira, 15 de novembro de 2011

Associação dos Pedreiros Livres


Associação dos Pedreiros Livres



“Irmãos! Em nome da fé que depositaste em nós, elegendo-nos para este supremo cargo, convido-vos a rejeitar as propostas de Inácio de Loiola, e a proclamar aqui, nesta nossa santa assembléia, que a ordem do Templo se transforma na sociedade secreta dos Pedreiros Livres!

— Viva a Maçonaria! — gritou o príncipe de Conde, saudando com este nome francês, tradução da denominação proposta por Burlamacchi, a origem de uma sociedade, que depois havia de ter tanta influência sobre os destinos do mundo.

Quase todos os presentes repetiram o grito de Conde e saudaram e aclamaram Burlamacchi.

Beaumanoir usou então da palavra.

— Não nos esqueçamos, irmãos, de que neste concilio todos somos livres. Ninguém é obrigado a aceitar qualquer mudança, que não seja aprovada pelo seu pensar e pela sua consciência. Que respondes a isto, irmão Inácio de Loiola?

— Respondo — disse com altivez o peregrino — que estas cisões não me dizem respeito.

Fui irmão da ordem do Templo, observei fielmente os seus estatutos: agora, que o Templo acabe retiro-me da instituição que lhe sucede, e em face da Maçonaria, que acabais de proclamar, declaro instituída a Companhia de Jesus!

Este nome, que mais tarde devia tornar-se tão terrível, repercutiu sonoramente sob aquelas abóbadas; tão forte e solene fora voz com que Loiola o pronunciara!

— Ninguém — disse Beaumanoir — ninguém quer acompanhar o nosso irmão no caminho a que ele quer aventurar-se sozinho?

Seis cavaleiros se levantaram, e foram colocar-se ao lado de Inácio de Loiola, que os olhou com um ar triunfante.

— Somos sete! — disse ele com um ar inspirado. — Pois bem, convosco, primeiros irmãos, que acreditastes em mim, reparto eu o império do mundo. Somos bastantes para vencer, e teríamos a certeza da vitória, se não tivéssemos de lutar contra os nossos antigos companheiros. Irmãos, o beijo de paz!

Entretanto, a voz de Beaumanoir pronunciava friamente os nomes dos que se tinham declarado prontos a aceitar a proposta de Loiola.

— Pedro Lefèvre, de Villaret, na Sabóia.

— Francisco Saverio, cavaleiro de Navarra.

— Jacopo Laynez, de Almazar.

— Afonso Salmeron, de Toledo.

— Nicolau Afonso, de Bobadila.

— Simão Rodrigues, de Avedo.

Na medida que iam sendo pronunciados os nomes daqueles poucos, Inácio ia-os inscrevendo num pequenino livro, que tinha na mão.

— E agora — disse Beaumanoir — agora, que os dissidentes nos abandonaram, repitamos, irmãos, o juramento de há pouco, e declaremos que a ordem do Templo se transformou na associação dos Pedreiros Livres.

Os cavaleiros presentes ergueram a mão.

— Adeus, irmãos; — disse Loiola, com uma voz a que não pôde, por mais que fizesse, tirar um certo tom de tristeza — por muito tempo estivemos unidos e concordes e agora estamos divididos em dois campos, que pugnarão com ferocidade sem par um contra o outro. Pois bem! eu ainda tenho esperança, e peço a Deus que reconheçais finalmente o vosso erro e vos acolhais todos sob a nossa bandeira, sob a bandeira de Jesus.

— Terás que esperar! — resmungou Burlamacchi, o mais indignado, ao que se via, pela traição de Loiola.

Inácio dispunha-se para partir com os seus companheiros, quando o presidente lhe fez sinal para que esperasse.

— Monge, — disse ele — deixaste de pertencer ao Templo, mas os juramentos que prestaste à nossa Ordem têm sempre vigor. Ai de ti, se o segredo que juraste guardar fosse violado.

Inácio voltou-se cheio de desdém, estremecendo como um cavalo, ao qual o chicote fustiga.

— Beaumanoir, — murmurou ele num tom de voz que a raiva fazia tremer, — em má hora me lembraste, a mim, que não pensava em violá-los, os juramentos que prestei à Ordem.

Esqueceste talvez de que para nós, filiados nos terceiros mistérios, para nós, que somos os Sete Senhores, não existe lei moral nem positiva? Esqueceste de que a nossa elevação ao supremo grau nos libertou de todos os deveres?

— Pois então — disse ameaçadoramente o ancião — lembra-te de que, se o juramento te não fizer calar, nós te faremos calar doutra maneira. Temos irmãos por toda a parte, Loiola.

Inácio sentiu um calafrio penetrá-lo até à medula dos ossos mas o rosto não manifestou senão um profundo desprezo. Um momento depois, pela escarpada encosta de Mont-Serrat caminhavam os sete homens que, conduzidos pelo gênio de Inácio de Loiola, viam constituir a famosa Companhia de Jesus, cujos atos e tenebrosas tiranias haviam de causar o assombro e o terror do mundo.

Copiado do livro O Papa Negro, de Ernesto Mezzabota.
(1848)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Fragmentos históricos da Companhia de Jesus



Papa Clement-XIV

Fragmentos históricos da Companhia de Jesus

— O padre Ricci que se apresente imediatamente!. . . — ordenou o sumo pontífice.

Clemente falava excitado, imperioso, como um homem que procede sob a influência de uma espécie de febre. A sua ordem foi imediatamente cumprida.

Entrou o padre Ricci, geral dos jesuítas.

Era um homem de estatura elevada, magro, seco, com a vasta fronte desguarnecida de cabelos. Aqueles olhos profundos, a ossatura do rosto, e especialmente do queixo, indicavam uma natureza cautelosa e regrada; verdadeiro chefe de uma tribo de privilegiados, que resistia ao assalto de todo o mundo.

— Padre Ricci — disse o Papa em voz sacudida — recebestes o resumo que vos mandei entregar das acusações que de toda a parte se levantam contra a Companhia?

O Papa Negro inclinou-se com um sinal afirmativo.

— Pois bem, eu impus à Companhia que obtemperasse aos abusos indicados nessas queixas. Que tem feito a Companhia para dar satisfação às legítimas exigências dos príncipes católicos, e às minhas ?

— Nada, beatíssimo padre — disse com imperturbável calma o geral.

— Nada! — exclamou Lourenço Ganganelli, cujo rosto purpureou-se de cólera. — Às minhas ordens, às recomendações feitas para bem da cristandade, responde-se dessa maneira?

— A Companhia dá a todo o mundo o exemplo do respeito e do acatamento à Santa Sé. Que o Sumo Pontífice faça um sinal, e todos os jesuítas, desde o geral até ao último noviço, afrontarão com prazer o martírio pela honra do Papado.

— E para o honrar — disse Clemente encolerizado — começais por desobedecer às suas ordens ?

— Nós cumprimo-las escrupulosamente, Beatíssimo Padre — afirmou com serenidade o jesuíta.

— Cuidado, padre!. . . Eu não estou disposto a tolerar as cavilações da vossa casuística!. . .

— Não há nisto cavilações, Santidade — disse o geral, a quem a chicotada daquela acusação fez purpurear as faces. — O Papa ordenava-nos que déssemos de mão às nossas miras ambiciosas, que expulsássemos dentre nós os irmãos corrompidos, simoníacos, concusores; que volvêssemos para as coisas do céu a nossa atividade que aplicávamos à satisfação das nossas ambições políticas. . .

— E então?

— Então, Santidade, não existem ambiciosos na Companhia Jesus; não existem entre nós Jesuítas manchados das graves culpas, que com toda a justiça o Sumo Pontífice quer reprimir. Por isso não tivemos ocasião de castigar, porque não existiam tais culpas.

Clemente ficou algum tempo confundido pela audácia desavergonhada daquele homem.

Negar as ambições políticas de uma companhia que, para conseguir os seus fins, não recuara diante assassínio de um rei como Henrique IV, e que ainda agora estava fundando na América, à custa das coroas de Portugal e de Espanha, o império do Paraguai, era uma audácia de que só seria capaz um homem como o padre Ricci.

Todavia, Clemente bem depressa readquiriu o seu terrível sangue frio:

— Está bem. Louvo a diligência do geral da ordem, e não duvido de que ela tenha sido grandíssima, apesar de não ter dado resultado algum. Mas as informações que eu tenho são diferentes, fundado nelas, tomei acerca da Companhia as decisões que ides rever. . .

— Mas Vossa Santidade. . .

— Eu julgo como soberano, e inapelavelmente — disse com altivez o Papa. — Desapareceu o momento de discutir, agora chegou o de obedecer.

O geral sentou-se, e o Papa ditou:

“São suprimidos os conventos dos jesuítas em todos os sítios onde o governo católico do país o exigir por justos motivos de interesse público;

“Nos outros países o número das casas professas e dos noviciados será reduzida à metade;

“Será vedado aos jesuítas receberem noviços de idade inferior a vinte anos, quando tenham o consentimento dos pais; e a vinte e cinco, se faltar esse consentimento;

“Os jesuítas estarão, em todas as dioceses, sujeitos à autoridade do bispo, e deixarão de ter efeito todas as dispensas e privilégios em contrário”.

“É concedido indulto pleno e inteiro aos governos que até hoje se têm apoderado dos bens dos jesuítas, contanto que o produto deles tenha sido aplicado a obras de caridade e de religião”.

Ricci escrevera este fulminante decreto, que num momento destruía a obra de dois séculos, sem que o seu rosto de mármore traísse a menor comoção. Mas quando o Papa lhe ordenou que assinasse, o geral ergueu-se.

— Vossa Santidade consinta que eu não assine — disse o geral, pálido e com os dentes cerrados.

—- Vós haveis de assinar, padre Ricci. O geral da Ordem deve-me obediência absoluta, segundo o seu juramento, e vós sabeis as penas que se aplicam aos perjuros.

— Eu já não sou geral da Ordem. Queira Vossa Santidade aceitar a minha demissão, e proceder à nomeação do meu sucessor.

— Tende cuidado, padre Ricci!. . . — disse ameaçadoramente Clemente XIV — lembrai-vos de que esta reforma, se for lealmente aceita, é a última esperança de salvação da Companhia.

— Os meus irmãos não aceitarão a salvação oferecida por tão alto preço. A Companhia de Jesus foi instituída por Inácio de Loiola, sobre as atuais bases, imutáveis; os jesuítas não podem alterá-las sem faltarem ao seu dever. Sint ut sunt, aut non sint — ficam como estão, ou deixam de existir.

— Pois bem! deixarão de existir! — exclamou Clemente XIV, no auge da indignação.

E correu para a mesa, onde estava já pronta a Bula para a supressão da Companhia de Jesus, maravilhoso documento de perspicácia, de lógica, de verdadeiro sentimento cristão, formidável libelo contra os jesuítas, dirigido por um Papa a todo o orbe católico.

Clemente assentou-se e assinou na parte em branco do pergaminho:

“Dada em Roma, sob o anel do Pescador. . .

Clemente, Papa XIV”.

— Padre Ricci, curvou-se, como se aquela declaração, que convertia num simples frade um homem até então mais poderoso do que todos os Reis da terra, não lhe causasse a mínima impressão.

— Vossa Santidade resolveu na sua alta sabedoria; — disse e1e com humildade — a nós só nos cumpre curvar a cabeça e obedecer. Não me resta senão perguntar a Vossa Santidade que convento me destina para refúgio da minha velhice.

Clemente tocou a campainha.

— O capitão das guardas suíças — ordenou ele ao criado. Quando entrou o capitão, um homenzarrão de aspecto marcial, o Papa disse-lhe, apontando para o frade:

— Capitão, tende o cuidado de conduzir o reverendo à fortaleza do Castelo de Santo Ângelo. Levai convosco os homens necessários para o cumprimento da vossa missão.

O capitão curvou-se.

— Entregai esta carta ao governador do castelo — acrescentou Clemente, que naquele meio tempo tinha escrito algumas linhas num papel. — Dizei-lhe que a cabeça dele me responde pela execução dessas ordens.

— Vossa Santidade será obedecida — disse o capitão, aproximando-se do frade, para, se fosse preciso, lhe deitar a mão.

Mas o geral dos jesuítas recuou, e com um olhar altivo deteve o capitão a distância; inclinou-se respeitosamente diante do Papa, depois cruzou os braços sobre o peito e saiu, acompanhado pelo suíço, como um embaixador que se faz reconduzir pelo seu capitão das guardas.

Mal o padre Ricci tinha desaparecido, o visconde de Savedra, embaixador de Portugal, que do lugar onde estivera escondido não perdera uma sílaba daquele colóquio, saiu do seu esconderijo e lançou-se aos pés do Papa.

— Vossa Santidade — disse o português — foi muito além das minhas esperanças. Nunca a autoridade e a majestade de um soberano e de um Pontífice encontraram expressões mais nobres. O mundo inteiro, Santo Padre, há de aplaudir a vossa magnânima resolução!

Clemente estava absorvido em profundos pensamentos.

— Vedes esta Bula, visconde?. . . — perguntou ele num tom de voz triste ao embaixador de Portugal.

— A Bula para a supressão dos jesuítas?... o monumento que há de eternizar o nome de Clemente XIV?

— Pode ser — disse Clemente, sorrindo com melancolia — mas no entanto lembrai-vos bem disto, visconde, e recordai-o quando chegar a ocasião. . . Assinando hoje este pergaminho, — e pôs a mão sobre a Bula — eu firmei a minha sentença de morte!

A Cúria e as ordens religiosas tinham prejudicado grandemente o prestígio da Igreja; Clemente XIV pensava em reformar a Cúria, em olhar com um cuidado severo pelas plantas parasitas das ordens religiosas, suprimindo sem o menor escrúpulo aquelas que não fossem compatíveis com as exigências do tempo.

A ordem mais temida e naturalmente mais odiada era a dos jesuítas.

Havia dois séculos que em todo o mundo católico a Ordem formava uma barreira insuperável contra qualquer reforma que implicasse progresso ou liberdade. Os reis que aceitavam o domínio jesuítico eram escravos da Ordem; os que repeliam esse domínio tinham a certeza de que, cedo ou tarde, haviam-se de acabar mal.

Desde que Henrique IV — o rei querido do seu povo como nenhum o fora até então, o chefe da Europa liberal cristã — desde que Henrique IV fora assassinado por um agente da Companhia de Jesus, Ravaillac, nenhum príncipe podia ter a certeza de que, em caso de resistência às vontades da Companhia, o não esperasse um pouco de veneno ou uma punhalada.

Apesar disso, durante muito tempo não explodiu a ira dos poderosos contra os Jesuítas.

Clemente XIV, que num ímpeto do seu coração generoso expusera a vida para libertar a humanidade de um vampiro insaciável, pagou aquele seu heróico cometimento.

Assaltou-o uma doença misteriosa. Em toda a Europa se faziam votos ardentes para cura do ilustre pontífice, do santo sucessor dos apóstolos, mas esses votos não foram ouvidos.

Afinal, o povo, com o seu instinto infalível, não se enganou. O povo sabia de que moléstia morria o infeliz Pontífice Clemente XIV morria envenenado.

Do fundo do seu cárcere, no castelo de Santo Ângelo, o padre Ricci dirigia a vingança. Não se contentaram com ver morto o vigário de Cristo, quiseram que a morte dele fosse acompanhada de horríveis sofrimentos, para que de futuro nenhum outro se arriscasse a tentar nada contra a Companhia.

Porque, apesar de suprimida e dispersa, a terrível sociedade existia sempre. Ela já não tinha nem existência oficial nem hábito particular, mas os seus filiados enchiam os salões do Vaticano, rodeavam o mártir moribundo, e misturavam-lhe o veneno na comida e na bebida.

Mas quando afinal Clemente foi morto, quando a implacável crueldade que o tinha ferido já não tinha diante de si senão um cadáver, então é que se manifestou o poder da Companhia de par com a sua ferocidade.

Os médicos tinham descoberto o veneno; terríveis ameaças obrigaram-nos a calarem-se, e o Papa foi enterrado sem pompa e sem que o vingassem.

E não foi só isso; apenas ele desceu à sepultura, a satânica alegria dos filiados venceu a cauta prudência habitual da Ordem.

Em breve saíram à luz folhetos e poesias, em que a horrível morte do mal aventurado Pontífice era apresentada como um justo castigo, que a Providência quisera aplicar ao destruidor dos jesuítas. A memória do Papa foi dilacerada por calúnias sem conto, e os jesuítas, livres do seu grande inimigo, trataram de recomeçar a interrompida obra da conquista do mundo.

Copiado do livro O Papa Negro, de Ernesto Mezzabota.

(1848)