domingo, 21 de junho de 2015

A maçonaria e a revolução russa
 
Familia Imperial Russa
Família Imperial Russa
No processo da revolução russa, a judaico-maçonaria teve um papel fundamental no assassinato coletivo da família imperial. Num dos compartimentos da casa onde a família do czar da Rússia foi assassinada, foi deixado um símbolo cabalístico ― ver na imagem abaixo ― numa das paredes, repetido 3 vezes em 3 línguas diferentes. Se consultarem um livro com algumas noções básicas sobre a Cabala, poderão verificar que o primeiro dos três símbolos do conjunto corresponde ao “Lamed” (L) do “alfabeto sagrado” da Cabala que, por sua vez, corresponde ao número 30 ― que reduzido ao “número fundamental” cabalístico (3 + 0 = 3) resulta no número 3. O segundo símbolo é a mesma letra (Lamed) escrita em aramaico. O terceiro símbolo é a mesma letra (Lamed) escrita em grego, que corresponde ao Lambda grego.

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Fotografia da época
Segundo a Cabala, o número 30 corresponde ao “Caminho” da “Árvore da Vida” que une Yesod a Hod e que é chamado de “Caminho da Inteligência Colectiva”, em que Yesod fornece as imagens da realidade colectiva, e Hod procede ao julgamento (juízo) dessa realidade colectiva. O “Caminho da Inteligência Colectiva”, a que corresponde o número 30, significa, em termos da Cabala Vulgata, ao julgamento de um determinado colectivo em relação às individualidades que “desafiaram” esse colectivo.

Segundo a Cabala popular e os textos rabínicos ensinados na judaico-maçonaria (Talmude), o L (“Lamed”) simboliza o “coração” que comanda o corpo, e com a morte do coração, o corpo morre. O “coração do corpo russo”, o Czar, foi morto para que todo o corpo (a Rússia cristã) pudesse morrer com ele.

A linha que foi traçada por debaixo dos três símbolos significa o “Princípio Passivo”, isto é, que aqueles homens que executaram a família imperial russa fizeram-no a ordens de alguém que lhes é superior. A linha traçada por baixo de qualquer simbologia cabalística e maçónica significa exactamente esse “princípio passivo” de alguém que obedece ou executa ordens recebidas.
A Cabala judaica em si mesma, não é positiva nem negativa; o que é negativo é o uso que a judaico-maçonaria sempre fez (e faz) dela como um instrumento de guerra aberta ao Cristianismo.
A judaico-maçonaria foi a primeira responsável pelo assassinato cruel de toda a família imperial russa, preferindo o assassinato sem julgamento da czarina e das crianças, ao exílio das mesmas. Os métodos utilizados pela maçonaria, ao longo da História, são obscenamente desumanos e inúteis: as crianças poderiam ter sido poupadas, mas a esquizofrenia maçónica e o medo do julgamento da História assombram a mente maçónica.


Se, como cristão, defendo o direito dos judeus a ter o seu país e a sua religião, também defendo o meu direito a ser cristão sem ser perseguido por um Estado que adopta o naturalismo e o relativismo ético da judaico-maçonaria como doutrina oficial.
Gostaria que este texto não fosse conotado com uma manifestação de anti-semitismo primário. Uma coisa é o ódio à nação judaica, que este sim, é anti-semitismo, e outra coisa é a oposição filosófica e ideológica ao naturalismo da judaico-maçonaria. Confundir estes dois conceitos é pura má-fé.
Em 1884, no seu livro “Freemasonry” (Maçonaria) publicado em Edimburgo (Escócia), o Reverendo George Dillon escrevia:
A ligação judia à maçonaria moderna é um facto estabelecido e manifestado em toda a sua história. As fórmulas judias empregadas pela maçonaria, as tradições judias que são utilizadas no seu cerimonial, apontam para uma origem judaica da maçonaria, ou para o trabalho de apologistas do judaísmo… Quem sabe se por detrás do ateísmo e do desejo do lucro que os impele a perseguir os cristãos e a destruir a Igreja, não existe uma esperança secreta em reconstruir o seu templo, e na maior escuridão abissal da sociedade secreta, não existe uma mais ainda profunda sociedade secreta que procura o retorno à terra de Judá e a reconstrução do templo de Jerusalém?

Acerca da influência do judaísmo na maçonaria, o insuspeito judeu e mação Daniel Béresniak escreve: “(…) é um facto de que as lendas maçónicas tradicionais se inspiram, em grande parte, nos comentários rabínicos da bíblia.” A franco-maçonaria especulativa foi erguida, a partir do fim do século XIV, por sobre os escombros do templarismo que, nos séculos XII e XIII, assumiu um poderio político e económico trans-europeu só visto nas actuais empresas multinacionais. E tal como os imigrantes judeus na Europa foram essenciais para a estruturação do poder económico e político dos templários, a franco-maçonaria especulativa nasceu da reestruturação dos princípios adoptados e impostos pelos templários nas lojas maçónicas operativas construtoras de catedrais, onde proliferavam os imigrantes judeus.
Sobre o tema da conotação anti-semítica que a judaico-maçonaria atribui ― de uma forma despropositada e atrabiliária ― aos cristãos, falarei noutra ocasião. Se, como cristão, defendo o direito dos judeus a ter o seu país e a sua religião, também defendo o meu direito a ser cristão sem ser perseguido por um Estado que adopta o naturalismo e o relativismo ético da judaico-maçonaria como doutrina oficial.
A verdade é que a revolução russa foi claramente coadjuvada pela judaico-maçonaria. Vários testemunhos de gente ilustre corroboram esta ideia; sabemos até que Estaline era filho de pai judeu-russo, e uma grande percentagem dos membros da nomenclatura soviética ― e dos países satélites do leste da Europa ― era de ascendência judia.
O argumento recorrente de que “não existiam muitos judeus na maçonaria dos séculos 19 e princípios do século 20”, é um argumento falacioso. Sendo que as comunidades judaicas na Europa do princípio do século XX detinham um considerável poderio económico e actuavam em bloco, porém os membros dessas comunidades não usufruíam ― por motivos culturais e religiosos inerentes à maioria da população ― de uma grande notoriedade social, isto é, por mais ricos que fossem os judeus da Europa, eles não pertenciam à elite política. As lojas maçónicas funcionavam, assim, como uma alavanca política que permitia que as comunidades judaicas endinheiradas pudessem manipular na sombra a política da Rússia czarista ― e de outros países ―, utilizando para o efeito uma sociedade secreta composta, na sua maioria, por europeus oportunistas políticos e radicais “putschistas” de circunstância.
O facto de a Cabala ― de origem judaica ― ter sido (e ainda é, em algumas lojas maçónicas) a “bíblia” da maçonaria, demonstra sem dúvidas nenhumas a estreita ligação entre o judaísmo e a maçonaria especulativa, essencialmente a partir do século 16.


Durante o processo da revolução russa que culminou com o comunismo soviético, a maçonaria desempenhou um papel que ― metaforicamente ― podemos chamar de “catalizador”. Quando os bolcheviques controlaram o poder, uma grande parte dos maçãos compreenderam que, em última análise, tinham sido os “idiotas úteis” em todo o processo.
A história do papel da maçonaria na revolução russa “repetiu-se” em muitas outras ocasiões durante o século XIX e XX. Por exemplo, a Grande Loja de Itália apoiou aberta e fervorosamente a consolidação do poder de Benito Mussolini, mesmo sabendo da posição política de Mussolini contrária à existência da maçonaria desde o princípio da segunda década do século XX, quando o ditador foi um militante activo e proeminente do partido socialista italiano.
Como membro do partido socialista italiano, Mussolini sempre foi contra a maçonaria. Contudo, a Grande Loja de Itália conseguiu que o governo fascista de Mussolini fosse reconhecido a nível internacional, e depois disso, Mussolini decretou o fim da maçonaria italiana a partir de Maio de 1925.
O mesmo aconteceu com Hitler: é bastamente sabido que os herdeiros dos Illuminati alemães apoiaram o partido nazi nos primeiros anos de existência para depois acabarem por serem perseguidos pelo regime nazi. A 7 de Abril de 1933, o mação Bordès que era o Grão-mestre da maior obediência maçónica alemã ― a “Grande Loja Aos Três Globos”, criada pelo imperador Frederico II em 1740, e que à data tinha 182 lojas e 22 mil membros ―, escreveu uma carta a Hermann Goering em que prestava vassalagem ao ideário nazi de supremacia alemã na Europa.
Outro Grão-mestre de uma obediência maçónica alemã, Feistkorn, que superintendia à “Grande Loja Real York” ― criada em 1798, com 107 lojas e 11 mil membros ―, escreveu ao ministro do Interior nazi uma carta na qual propunha a supressão do nome “mação”, o corte das relações com as obediências estrangeiras, a eliminação do ritual de toda a referência hebraica, e a sua total remodelação inspirada unicamente na mitologia nórdica. O mesmo Feistkorn dirige-se a Goebbels, na sua qualidade de ministro da propaganda do regime nazi, propondo-lhe os seus serviços.
De nada valeu o tradicional oportunismo político ― que privilegia o tráfico de influências ― da judaico-maçonaria; as lojas maçónicas prussianas foram fechadas em 1935 pelos nazis.



A maçonaria introduziu-se profundamente entre os mencheviques, mas conseguiu também alguma penetração entre os bolcheviques. Entre os maçãos bolcheviques, destacam-se os nomes do advogado N. D. Solokov, e de Stépanov-Skvortsov que foi um grande amigo de Lenine. O próprio Lenine, quando se encontrava no exílio em França e na Suíça, frequentou as lojas maçónicas desses países ― isto é um facto historicamente comprovado exarado nos chamados “processos-verbais” de algumas lojas maçónicas de Paris e da Suíça.

Poderia citar aqui uma lista extensa de nomes de políticos russos intimamente associados à maçonaria que influenciaram a revolução russa, mas seria despiciendo num postal como este. Porém, o primeiro presidente do Conselho do Governo Provisório russo, o príncipe Lvov, pertencia à maçonaria, assim como Kérenski que o substituiu nas funções. O presidente da Duma, Goutchkov, que foi ministro da Guerra, pertencia à maçonaria. Por entre empresários, polícias, deputados, ministros, diplomatas e políticos em geral, o número de membros da maçonaria entre os mencheviques e bolcheviques, em termos de proporção razoável, era anormalmente enorme.

O que sempre moveu a judaico-maçonaria no processo da revolução russa ― como desde sempre e em toda a Europa ― foi o seu anti-cristianismo, que muitas vezes é confundido com um simples anti-clericalismo. O anti-clericalismo e o laicismo maçónicos são simples capas que escondem uma realidade mais profunda: a intenção maçónica de destruir a cristandade. Por isso, embora Lenine, Hitler e Mussolini não simpatizassem com a maçonaria, partiram do princípio de Realpolitik de que “os inimigos dos meus inimigos, meus amigos são”, e apoiaram a maçonaria enquanto esta lhes foi útil. Com a instauração do regime comunista soviético, a maçonaria conseguiu parcialmente o que queria: a perseguição do Cristianismo na ex-URSS, mesmo que sacrificando a liberdade na Rússia, e à custa da própria perseguição à maçonaria por parte dos comunistas.
Bibliografia: colectânea de Daniel Béresniak. Hilaire Belloc. “La Dictature des Puissances occultes” ― Comte de Poncins. “ Maçonaria” ― George Dillon. “A maçonaria universal” ― Miguel Martín-Albo. “The Lost Word” ― Ricardo De la Cierva. Colectânea de F. Bernard-
 

30 INFORMAÇÕES E CURIOSIDADES SOBRE A RÚSSIA


 

A Rússia é o maior país do mundo, ocupando 1/9 da área terrestre. Sua área é de 17.075.400, o dobro da brasileira. Ela domina metade da Europa e 1/3 do continente asiático.

As distâncias Leste-Oeste e Norte-Sul da Rússia são realmente grandes e significantes. Leste e Oeste são separados por mais de 9.000 Km de terra. A distância mínima entre Norte e Sul é de 2.500 Km e a máxima, de 4.000 Km.

Existem por volta de 120 mil rios no país. A maioria permanece congelada durante o inverno.

A Rússia é subdividida em 89 regiões (Oblasts), entre os quais 21 repúblicas, 9 territórios, 4 territórios autônomos, 2 cidades federais (Moscou e São Petersburgo) e uma província autônoma judaica.

O Império Russo foi o terceiro maior império da história, abrangendo terras que iam da Polônia ao Alasca. Detalhe: as terras do Alasca foram vendidas aos Estados Unidos.

A Rússia foi o maior Estado da antiga União Soviética. Após a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, passou a ser oficialmente chamada de Federação Russa.

A Rússia é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e membro da CEI – Comunidade de Estados Independentes, formada por ex-Estados da União Soviética.

A Rússia é um dos cinco Estados com armas nucleares do mundo. Ela possui, ao lado dos Estados Unidos, um gigantesco arsenal nuclear.

A capital e cidade mais populosa da Federação Russa é Moscou (também conhecida como Moscovo), com 10,5 milhões de habitantes.

A Rússia é um dos muitos países do mundo cuja população vem diminuindo ano a ano. Tanto é que, a estimativa populacional de 2002 era de 150 milhões de habitantes. Em 2010, era de 141 milhões de russos.

Localizada no Hemisfério Norte, a Rússia é um país de clima ártico, temperado e subtropical. As temperaturas máximas dificilmente passam dos 25º C no verão. As mínimas variam entre -40º C ao Norte e -8º C no Sul durante o inverno.

O inverno russo é realmente “de matar” (pelo menos para um brasileiro acostumado ao clima tropical). As mínimas podem variar entre -20º C e -40ºC no inverno siberiano (já foram registrados -60º C). Aliás, a cidade mais fria do mundo é Yakutsk, na região da siberiana da Yakutia, onde as temperaturas podem bater na casa dos inacreditáveis -50ºC.

A maior parte da população da Federação Russa é formada pela etnia eslava russa (80%), mas há minorias expressivas como os tártaros, ucranianos e bashkires. A religião predominante é o cristianismo ortodoxo.

Tudo bem que os russos representam 80% da população e que a língua russa é a mais falada. Na verdade, porém, existem mais de 160 grupos étnicos (de alemães protestantes e a chechenos muçulmanos) no país que falam cerca de 100 idiomas

As cidades mais populosas da Rússia são, pela ordem: Moscou, São Petersburgo, Novosibirsk, Ecaterimburgo, Novgorod e Samara.

Você sabia que a maior floresta do mundo não é a amazônica, mas a taiga russa? Formada por coníferas (pinheiros), a taiga ocupa boa parte do território da Rússia (43%), Escandinávia, Alasca e Canadá.

Localizada ao Norte da taiga, próximo ao Círculo Polar Ártico, a tundra suporta temperaturas extremamente frias. Por falar nisso, você sabia que o inverno na região de tundra duram de oito a nove meses?

A maior parte dos russos é formada por teístas, mas os ateus representam 48% do total da população.

As missas nas igrejas ortodoxas são acompanhadas de pé e as mulheres costumam usar véus nas igrejas.

O Natal é comemorado pelos russos em 7 de janeiro.

Os russos não usam o alfabeto latino e, sim, o alfabeto cirílico.

A Rússia é o maior produtor mundial de cevada, trigo sarraceno, aveia, semente de girasol e centeio.

O pão típico da Rússia é o pão de centeio.

Os russos mantém o hábito de receber as visitas com pão enfeitado e sal.

O custo de vida é altíssimo em Moscou. Acredite, um simples cafezinho, por exemplo, não sai por menos de R$ 10,00.

Moscou é uma das cidades com maior número de bilionários do mundo.

Os russos utilizam o nome do pai como um nome médio e adicionam o vich (filho de) para meninos, ovna ou evna (filha de) para meninas.

Você acha os russos sisudos? Acha o atual presidente Dmitri Medvedv com cara de poucos amigos? Pois a explicação é cultural. Os russos não costumam sorrir para quem não é amigo - e muito menos em ocasiões formais.

Os russos são extremamente formais (pelo menos para nós, latinos). São pontuais em seus encontros, mantém uma proximidade física maior do que os norte-americanos, formam filas ordenadas (furar uma fila é o cúmulo da falta de educação), não interrompem os interlocutores e são diretos em suas opiniões e solicitações. Se o seu chefe quiser demiti-lo, ele será direto. Ao invés de dizer “infelizmente, a empresa está dispensando os seus serviços a partír de hoje”, ele dirá: “Você está demitido”. E ponto final.

Russos famosos: Alexander Pushkin, Alexander Borodin, Nikolai Gogol, Ivan Turgueniev, Anton Tchekov, Maxim Gorky, Leon Tolstoi, Sergei Rachmaninov, Fiodor Dostoievsky, Mikail Baryshnikov, Vaslav Nijinsky, Rudolf Nureyev, Piotr Tchaikovsky, Yuri Gagarin, Dmitri Mendeleev, Nikolai Rinsky-Korsakov, Igor Stravinsky, entre outros.
 

sábado, 20 de junho de 2015


Educação Natural na Maçonaria


 

Charles Evaldo Boller

 

Sinopse: Conceito de educação natural; escalada da violência; possibilidade de corrigir direções erradas da civilização.

 

A escola pública na maioria dos países não contempla a educação natural, aquela que organiza os valores e princípios internos, preconizada pelo Movimento Iluminista, cujas bases foram lançadas por Rousseau (1712-1778) e complementadas por Kant (1724-1804). A educação que humaniza o homem não existe na escola pública moderna, em todos os países. A escola pública gratuita está voltada mais para a transmissão de conhecimento que para a formação do homem integral. Inclusive é negligente com a formação humana nos aspectos de incutir valores e princípios. O homem não é treinado para: pensar; meditar; desenvolver virtudes; emoções; e espiritualidade, mas para ser escravo do próprio homem. Com raríssimas exceções, escolas particulares educam de fato, incutem valores e espiritualidade junto com a formação para o mercado de trabalho. Mas estas escolas normalmente estão fora da realidade econômica da maioria da população.

 

A transmissão de conhecimentos está voltada para o Comércio e a Indústria, requisitos do Capitalismo, que exerce domínio absoluto em todos os níveis, em todas as escolas públicas ou privadas. Ganho financeiro é um poder ao qual o homem se submete. Negligencia-se o homem em sua trajetória pela vida e se favorece o aparecimento de criaturas com graves crises existenciais, frustradas de tal forma que chegam a não dar mais o devido valor à própria vida. Vive-se o momento e apenas para si mesmo. Os próprios filósofos alardeiam que a vida humana não tem finalidade alguma, que em sua jornada pela biosfera o homem é apenas objeto de eventos aleatórios. Sem a educação natural o homem está condicionado para apenas gozar da vida e fugir das vicissitudes ao invés de enfrentá-las. A única perspectiva futura daquele que não obteve este tipo de educação é de sumir no nevoeiro do tempo de onde lhe foi dito que foi gerado a partir da evolução de bactérias, algas, fermentos, fungos, esponjas, águas-vivas e vermes, para uma não existência, um esquecimento eterno.

 

Abrir escolas incentiva a ciência, mas não intensifica a consciência; sentimento ou conhecimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo interior. Na existência de mais consciência, o número de vagas ocupadas nas cadeias diminuiria. Mesmo toda a informação e ciência produzidas pelas escolas podem fechar uma prisão sequer se a sociedade não se conscientizar da necessidade do desenvolvimento da consciência, da moralidade e do bem.

 

O que antigamente era desenvolvido no seio da família deveria ser ministrado na escola pública, já que pai e mãe, quais escravos, são obrigados a trabalhar debaixo do sistema. Entretanto, a escola pública limita-se em transmitir conhecimento voltado para mercado de trabalho que escraviza, enquanto o treinamento das emoções, sentimentos, sentidos e instintos são negligenciados. Ações que o bom senso recomenda como fundamentais para diminuir o número de presidiários e gerar cidadãos felizes, equilibrados e socialmente integrados. A educação dos potenciais latentes em cada um aproxima o homem de sua condição humana. Educação é consciência, instrução é ciência; ambas sustentam o corpo; a mais importante é a invisível consciência.

 

Nem religiões, e muito menos governos tratam a educação com a seriedade que deveriam. Governos querem transmitir instrução, religiões restringem-se a moral e assim o homem fica incompleto. Descartes (1596-1650) disse: "Toda a filosofia é como uma árvore: as raízes são a metafísica, o tronco é a física e os ramos são todas as outras ciências". Usando deste pensamento, o homem moderno está incompleto na raiz. Não existe alicerce. Aquilo que não se vê. Sabe-se que existe, mas fica enterrado dentro da pessoa. A escola constrói o homem material, apenas o que da árvore aparece acima do solo; preocupa-se apenas com tronco e folhas. As raízes são complexas necessidades que dão razão para viver e não se restringem apenas à moralidade.

 

A religião deveria preocupar-se com o alicerce e completar o que está invisível, mas isto não acontece! Centenas as religiões apenas exploram as pessoas em seus metais e as enganam com fantasias. Durante um curto espaço de tempo até é possível enganar alguns, mas é difícil manter mentiras por muito tempo. Acrescente-se que todas as religiões fundamentam seu poder no medo de muitos e na inteligência de um grupo reduzido que lhes definem os descaminhos, sempre voltados ao domínio e opressão pelo medo. Todos os esforços, da absoluta maioria das religiões, estão voltados para um aviltante senhor e único amo: o valor financeiro. A religião coloca de um lado um diabo e de outro um salvador. Enquanto um leva o homem à perdição o outro supostamente o resgataria. Em grosso modo, as maquinações teologais buscam fora do homem a solução de suas incertezas e angústias existenciais; e só se manifestam se sua ação for possível de converter em ganho de qualquer natureza; principalmente financeira e política. Diante desta realidade, que é constante em todas as civilizações, não se constrói ou se fortalece a raiz, o alicerce invisível que mantém o homem de pé frente às tempestades e incertezas da vida. Fica o homem jogado de um lado ao outro ao sabor de tentações e redenções.

 

Na ausência de formação integral e do despertar da consciência o desenvolvimento do homem fenece e de sua essência apodrece-lhe a raiz nos porões da sociedade, raízes atadas por inquebrantáveis grilhões; indestrutíveis porque são usados voluntariamente, no exercício do livre arbítrio. A conseqüência do livre arbítrio é o homem ser o único ator da construção de sua vida e responsável tanto pelo mal como pelo bem que produz. Ele é responsável por todas as suas ações, independente de prêmio ou castigo, céu ou inferno, ser bom ou mau. Se o homem não gozasse de um projeto que o criou livre e independente, de nada serviria educação de qualquer tipo; bastaria seguir o que lhe fosse ditado pelos instintos. Mas não é assim. O homem é responsável por sua história porque foi dotado de livre arbítrio e nenhum intermediário, homem santo ou clérigo religioso o poderá salvar; nem mesmo Deus interferirá, porque o Grande Arquiteto do Universo criou o homem independente, livre, dotado de livre escolha. Se o Criador interferisse nas ações da criatura seria como admitir a existência de erros em seu projeto. É devido a isto que a Maçonaria ensina que liberdade vem sempre acompanhada de responsabilidade. Quem escraviza é o próprio homem. E o que é ilógico, o homem escraviza a si mesmo. Ao longo da história homem vem explorando homem em seu próprio prejuízo. É dominado à força ou se deixa dominar em virtude de suas limitações e vícios.

 

No convívio social eclodem choques de todos os tipos. A violência alcançou patamares insustentáveis. Se buscadas razões fora de si, a culpa pela violência é do meliante que pratica a violência. Mas ao lume da fria razão a culpa é partilhada com o omisso que se prende atrás das grades e muros de seu castelo, pensando que isolando a violência lá fora será poupado de sua ação. Diz o sábio que o silêncio dos bons é tão responsável pela maldade quanto o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. Felizmente os maus ainda constituem minoria. O problema é que a sociedade está cada vez mais tolerante e omissa no tratamento com o mau. O egocentrismo cria legiões de omissos e materialistas. Resguardam-se na ilusão de que o mal nunca cairá sobre eles e por covardia e omissão deixam o mal crescer. Mas como a realidade mostra, o mal sobrevirá para todos os que o provocam, seja por ação ou por omissão. O cidadão bom está por detrás das grades enquanto o meliante está do lado de fora tentando levar vantagem. A sociedade corre atrás de corrigir o mal depois de feito e pouco se faz de forma preventiva através da educação.

 

Se o homem fosse apenas produto do meio de nada adiantaria também qualquer tipo de educação. Seria simplíssimo! Para resolver os problemas de violência bastaria modificar as circunstâncias do meio em que o homem vive. Afastá-lo da sociedade que o perverte; como o Emílio descrito por Rousseau. Se apenas o meio modificasse o homem para o bem, então todo maçom seria só candura! Mas a realidade não é assim! Ser bom ou mau é questão de escolha, de exercer o poder do livre arbítrio para o bem ou para o mal, e isto é modificável pela educação. Incentivados pela Maçonaria, autoconhecimento e auto realização são caminhos para amenizar o mal porque usam do poder do livre arbítrio do próprio homem para o bem.

 

Na política, o nebuloso clima de corrupção e a sensação de impunidade deixam a todo bom cidadão desalentado. Isto porque o homem transfere poder aos maus ao vender seu voto. Desta forma os maus estão no poder criando leis cada vez mais complexas e intrincadas de modos que ao meliante fica fácil constituírem defensores matreiros que os defendam na Justiça. E para complicar ainda mais, a Justiça - brasileira - é tão lenta em responder aos anseios do bom que é como se ela sequer existisse. A sensação de impunidade é insuportável!

 

Se a escola pública realmente educasse o homem conforme preconizado pelos iluministas, e não apenas o instruísse para o trabalho assalariado, a forma de escravidão moderna, a realidade social seria muito diferente. A Maçonaria oferece a educação natural e basta ao maçom aproveitar da oportunidade oferecida e partir para se auto educar nos moldes ditados por homens como Rousseau e Kant. O ideário educacional iluminista traçou o caminho de uma época de escravidão ao absolutismo imperial e clerical e pavimentaram caminhos para a Democracia e o capitalismo, realidades que apresentam hoje outras nuanças e dificuldades. Os eventos que sucederam os ideários humanitários e pacifistas dos iluministas tornaram-se sucessões de impérios de terror e amarguras. Para os iluministas do século das luzes a violência desencadeada depois de sua atuação destruiu os resíduos de esperança que ainda lhes restavam. Foram revoluções e guerras globais revestidas de muita maldade, do jorrar de muito sangue inocente, de acendimento e manutenção de muito ressentimento. A paz só é mantida pela guerra; são guerras preventivas em todos os quadrantes do Orbe. A constante é sempre o homem explorando o próprio homem.

 

Quantos hoje são os que seguem a única lei, a do amor fraterno, ditada por grandes iniciados do passado? Ritualística, simbologia e alegorias são ferramentas pedagógicas da Maçonaria programadas como portadoras de mensagens de homens do passado para os homens ao futuro, que é o hoje. A educação natural preconizada por Rousseau e Kant ainda está em sintonia com a dinâmica social de nossos dias. Cabe ao maçom usar da oportunidade que a ordem maçônica oferece e desenvolver em si consciência e valores morais com vistas à sabedoria que conduz a felicidade da humanidade. É a razão de ser designado construtor social. O bom senso indica que a tarefa do malho e do cinzel ainda não terminou. Cabe ao maçom morrer e renascer diversas vezes e ressurgir sempre renovado de dentro da pedra bruta e disforme para servir de pedra angular na construção de templos vivos, purificados da maldade que o homem desenvolve quando se sociabiliza. Certamente o Grande Arquiteto do Universo, através daquilo que inspira o maçom a pensar com sabedoria, proverá as Luzes necessárias para iluminar os caminhos do futuro e usar da Sublime Instituição para a libertação do homem dominado pelo próprio homem.

 

Bibliografia:

 

1. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, História da Educação e da Pedagogia, Geral e Brasil, ISBN 85-16-05020-3, terceira edição, Editora Moderna Ltda., 384 páginas, São Paulo, 2006;

 

2. ROHDEN, Humberto, Educação do Homem Integral, primeira edição, Martin Claret, 140 páginas, São Paulo, 2007;

 

3. ROUSSEAU, Jean- Jacques, Emílio ou Da Educação, R. T. Bertrand Brasil, 1995.

 

Data do texto: 19/01/2010

 

Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.

 

Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná

 

Local: Curitiba

 

Grau do Texto: Aprendiz Maçom

 

Área de Estudo: Educação, Espiritualidade, Filosofia, Maçonaria, Pedagogia




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sexta-feira, 19 de junho de 2015


Pessoa Oculta em Pessoa

 

Por Paulo Urban
 
Quando morreu no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa, vitimado por cirrose hepática, em 30 de novembro de 1935, Fernando Antônio Nogueira Pessoa era um nome quase por todos desconhecido. "I know not what tomorrow will bring" (Eu não sei o que o amanhã irá trazer); foi a última frase do poeta, escrita num pedaço de papel abandonado à beira do leito em que sofreu sua derradeira noite. Não tendo alcançado o sucesso financeiro nem abraçado carreira alguma de destaque, o familiar que na véspera o entregara ao médico, a ele se referiu como "um inútil".
 
Pessoa editara até então apenas um livro em português, Mensagem (dezembro, 1934), que lhe rendera um modesto segundo prêmio do Secretariado de Propaganda Nacional. Em que pese a publicação de Antinous and 33 Sonnets (1918), reeditado às custas do autor em três fascículos, em 1921, sob o título English Poems I, II e III, e algumas centenas de poemas e ensaios que o poeta fez circular em diversos jornais e revistas literárias de sua época, o fato é que por ocasião de sua morte, a grande maior parte dos exatos 27.543 textos em prosa e verso, também as milhares de cartas que compõem sua Obra, estavam inéditos. O espólio, à moda dos grandes tesouros, permaneceu durante décadas numa arca de madeira, cuja guarda foi confiada à Fundação Gulbenkian, e hoje encontra-se todo catalogado em pastas na Biblioteca Nacional de Lisboa.
 
Nascido aos 13 de junho de 1888, num simples apartado de Lisboa (4º andar - esquerdo, no Largo de São Carlos, nº 4), aos 6 anos o menino perderia o pai, o crítico musical Joaquim Seabra Pessoa. Sua mãe, Mª Madalena N. Pessoa, contrairia novas núpcias com João Miguel Rosa, que, nomeado cônsul em Durban (África do Sul) mudar-se-ia em 1896 para lá com a família, onde Pessoa, dos 7 aos 16 anos receberia a mais britânica educação. Quando, em 1905, retornou sozinho à cidade natal para cursar Letras (curso que abandonaria dali a dois anos) o poeta já havia lido Shakespeare, Milton, Byron, Shelley, Keats, Carlyle e Poe. Em Lisboa dedica-se ao estudo da filosofia clássica e contemporânea, encanta-se com a torrente de poetas portugueses desde Camões até Antônio Nobre, e passa a escrever prosa e poesia em português, inglês e francês, inicialmente sob influência baudeleriana e de todo o movimento simbolista. Pessoa sobrevive fazendo traduções literárias e assume a correspondência comercial de várias firmas estrangeiras, a constituir o ganha pão ao longo de sua modesta existência.
 
Sabidamente imenso foi seu interesse pelo ocultismo que, a propósito, é uma das chaves mestras sem a qual mal podemos acercar-nos dos intrincados enigmas e paradoxos que se encerram por toda sua Obra. "Há três caminhos para o oculto, diz Pessoa, o caminho mágico (...), extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve a transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os demais caminhos não têm".
 
A cosmovisão esotérica está tão presentemente perpassada pela Obra pessoana, e (re)vela-se por quase todos seus heterônimos, 72 ao todo, que resta impossível interpretar o poeta sem levarmos em conta sua afinidade visceral e filosófica com as questões fulcrais do hermetismo, incluindo aqui sua atração pelo movimento rosa-cruz, pela maçonaria (pela qual não somente se interessou como a defendeu publicamente) pela teosofia, pela alquimia e, sobretudo, pela astrologia, arte na qual foi profundamente versado. Curiosidade, raros sabem que Pessoa foi o responsável pela introdução do planeta Plutão, descoberto em 1930, nas cartas astrológicas. Santa sincronicidade! Plutão, deus do mundo inferior, é astro regente do ocultismo e de tudo aquilo que é velado, incluindo os conteúdos inconscientes; e é dotado de um caráter revolucionário profundo; nada mais justo, portanto, que entrasse para os anais da astrologia pela pena de um gênio poético que, adepto do mais sábio conhecimento esotérico, cumpriu a sina de revolucionar mais que a literatura inteira, toda uma época.
 
Em 1916, Pessoa pensava seriamente em estabelecer-se como astrólogo em Lisboa. Embora desistisse da idéia, seus estudos permitiram-lhe fazer considerações messiânicas a respeito do futuro literário e político de sua pátria, e uma de suas notáveis proezas foi prever acertadamente a Revolução dos Cravos, que se deu 4 décadas após sua morte. Pessoa legou-nos ainda um Tratado de Astrologia, assinado pelo sub-heterônimo Raphael Baldaya, que durante anos repousou intocado no citado baú, aguardando pelo oportuno momento em que foi descoberto.
 
Tal era a fama do poeta nessa área, que o mago inglês Aleister Crowley, ao receber das mãos de um editor londrino certas correções feitas por Pessoa em seu mapa astral, que vinham acompanhadas de uma cópia dos English Poems, não hesitou em alardear ao mundo que iria a Lisboa visitar o "maior astrólogo do mundo". A entrevista, a causar visível desconforto no poeta, que sempre preferiu a misantropia aos encontros sociais, deu-se em 2 de setembro de 1930. Um denso nevoeiro, porém, havia retido a embarcação Alcântara, atrasando em mais de um dia o desembarque de Crowley, que, tão logo viu Pessoa em terra, exprimiu-se mesclando o humor inglês a um tom de respeito: "Mas que idéia foi essa a sua de me mandar um nevoeiro lá de cima?".
 
Desse contato surgiria a versão para o português do Hino a Pã, poema de Crowley, que seria publicado na revista Presença em 1931, texto que serviu de inspiração para O Último Sortilégio, poesia ortônima pertencente ao Cancioneiro, cuja estranha particularidade, despercebida pelos críticos, é a de ser expressão de uma voz feminina, a própria anima do poeta, uma alma bruxa iniciada, que se revela essencialmente mística, enquanto se lamenta de si mesma ao ver diminuído seu dom de fazer imprecações e exortar os elementais da natureza. Acompanhemos partes do texto:
 
 
 
"Já repeti o antigo encantamento,
 
E a grande Deusa aos olhos se negou.
 
Já repeti, nas pausas do amplo vento,
 
As orações cuja alma é um ser fecundo.
 
Nada me o abismo deu ou o céu mostrou.
 
Só o vento volta onde estou toda e só,
 
E tudo dorme no confuso mundo.
 
 
 
Outrora meu condão fadava as sarças
 
E a minha evocação do solo erguia
 
Presenças concentradas das que esparsas
 
Dormem nas formas naturais das coisas.
 
Outrora a minha voz acontecia.
 
Fadas e elfos, se eu chamasse, via,
 
E as folhas da floresta eram lustrosas".
 
 
 
A sacerdotisa desses versos, nas estrofes seguintes mostra-se perplexa, posto que sua varinha já não fala às existências essenciais, e queixa-se também de que uma vez traçado o círculo, nada acontece, em franca alusão às práticas de magia ritualística que o poeta bem devia conhecer e possivelmente praticar. Numa seqüência de imagens metafóricas, a protagonista ainda se assombra: "A música partiu-se de meu hino./Já meu furor não é divino/nem meu corpo pensado é já um deus". E mais adiante, admitindo sua impossibilidade de ora alcançar a transmutação que antes sabia operar, implora ao casal alquímico, ícones da transcendência que lhe escapa, a fim de que lhe dividam o corpo carnal, do qual seu ser essencial possa pleno libertar-se:
 
 
 
"Tu, porém, Sol, cujo ouro me foi presa,
 
Tu, Lua, cuja prata converti,
 
Se já não podeis dar-me essa beleza
 
Que tantas vezes tive por querer,
 
Ao menos meu ser findo dividi -
 
Meu ser essencial se perca em si,
 
Só meu corpo sem mim fique alma e ser!"
 
 
 
Também a disposição dos versos decassílabos heróicos, agrupados 7 a 7, a perfazer 70 sílabas poéticas por estrofe, permitem-nos suspeitar do não acaso desse requinte obsessivo de Pessoa, a insinuar aqui uma correspondência entre a seqüência de percepções que a bucólica feiticeira tem de seu tíbio estado anímico e os degraus da alquimia que devem ser galgados, passo a passo em direção à revelação que irá surgir, por meio de uma reviravolta de paradoxos (característica fundamental de toda a Obra pessoana) sobre vida e morte, ser e existência, que encerram com "nós de ouro" este poema:
 
 
 
"Converta-me a minha última magia
 
Numa estátua de mim em corpo vivo!
 
Morra quem sou, mas quem me fiz e havia,
 
Anônima presença que se beija,
 
Carne do meu abstrato amor cativo,
 
Seja a morte de mim em que revivo,
 
E tal qual fui, não sendo nada, eu seja!"
 
 
 
Estudos recentes têm se debruçado sobre questões que envolvem Pessoa, sua intrínseca relação com o ocultismo e suas possíveis aproximações com as chamadas Sociedades Secretas. "Não sou maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente"; escrevera o poeta em sua citada defesa da maçonaria, no Diário de Lisboa, de 4 de fevereiro de 1935. Ainda que a afirmação seja de todo verdadeira àquela altura, o fato é que Pessoa e Crowley haviam sido confrades da Golden Dawn, representante do rosacrucianismo britânico, "única filiação externa à qual Pessoa esteve ligado entre os anos 20 e 30, na qual conquistou todos os seus graus esotéricos, dela afastando-se em seguida por incompatibilidade mental e espírito de independência", segundo nos relata a historiadora Yvette Centeno, em seu Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética, ed. Presença, Lisboa, 1985.
 
Outro historiador português, Vítor Manuel Adrião, autor de História Oculta de Portugal, ed. Madras, 2000; num de seus capítulos dedicados a destrinçar aspectos ocultos do grande gênio literário, apresenta-nos uma prova cabal ainda pouco conhecida: trata-se do Bilhete de Identidade de Fernando Pessoa, escrito pelo próprio, de 30 de março de 1935, há poucos anos catalogado. Nessa espécie de currículo mínimo com o qual o poeta pretendia apresentar-se e dar a conhecer em curtas linhas seu posicionamento filosófico, político e esotérico, diz de si mesmo: "Posição Iniciática: Iniciado, por comunicação direta de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal". Pessoa termina assim o documento: "Resumo de Estas Últimas Considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos: a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania".
 
Outra raridade pessoana é sua tradução de A Voz do Silêncio, de Mme. Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, texto este de orientação budista, que a maga russa afirma ter recebido e decorado quando de sua peregrinação pelo Tibete, em cujos mistérios teria sido iniciada em 1870. Mas não pára aí a afinidade do poeta com o pensamento teosofista, visto que se preocupou em traduzir diversos volumes para a Coleção Teosófica e Esotérica, ed. Livraria Clássica, a partir de 1915. Compêndio de Teosofia, de C.W. Leadbeater e Annie Beasant, faz parte desta série.
 
A propósito, há quem veja em Iniciação, um dos mais conhecidos poemas do Cancioneiro, nítida alusão à concepção de Leadbeater de que o homem, antes de ser um corpo dotado de alma, é uma alma revestida por sete corpos, a saber: o físico, o emocional, o mental, o intuicional, o espiritual, o monádico e o divino. Complexidade da doutrina teosófica à parte, transcrevamos o hermético trabalho, escrito em redondilha maior:
 
 
 
Não dorme sob os ciprestes,
 
Pois não há sono no mundo.
 
..................................................
 
O corpo é sombra das vestes
 
Que encobrem teu ser profundo.
 
 
 
Vem a noite, que é a morte,
 
E a sombra acabou sem ser.
 
Vais na noite só recorte,
 
Igual a ti sem querer.
 
 
 
Mas na Estalagem do Assombro
 
Tiram-te os Anjos a capa:
 
Segues sem capa no ombro,
 
Com o pouco que te tapa.
 
 
 
Não tens vestes, não tens nada:
 
Tens só teu corpo, que és tu.
 
 
 
Por fim, na funda Caverna,
 
Os deuses despem-te mais,
 
Teu corpo cessa, alma externa,
 
Mas vês que são teus iguais.
 
..................................................
 
 
 
A sombra das tuas vestes
 
Ficou entre nós na Sorte.
 
Não 'stás morto, entre ciprestes.
 
....................................................
 
 
 
Neófito, não há morte.
 
Então Arcanjos da Estrada
 
Despem-te e deixam-te nu.
 
 
 
Segundo a teosofia, aos não iniciados, caberia no máximo atingir a consciência do 3º corpo, nada podendo ser-lhes revelado a respeito dos demais corpos que, embora igualmente nos revistam, somente seriam alcançados por uma consciência evoluída, capaz de experimentar estados de alma mais profundos.
 
Numa leitura esotérica, plenamente aceitável, a imagem poética parte do momento em que o neófito, aguardando entre ciprestes (alegoria da vida e de nossa natureza simples e terrena), é levado a sofrer gradativas mortes simbólicas, correspondentes ao sucessivo despojamento de suas vestes, até que, atingindo uma consciência mais profunda de si mesmo, possa reconhecer-se pleno entres seus pares iniciados.
 
Desde a morte física, anunciada nas estrofes de abertura, até a percepção última de que a morte é, sobretudo uma ilusão, passa o neófito pela Estalagem do Assombro, metáfora do transitório, onde os anjos retiram-lhe a capa emocional. Aprofundando-se, são os Arcanjos, superiores aos anjos na hierarquia celeste, que o deixam todo nu, isto é, despem-no do corpo mental, para que siga adiante, envolto pelo corpo intuicional, que será retirado na Caverna. Lá os deuses o obrigarão a despir-se mais, até ser-lhe possível, quando o corpo cessa, enxergar sua alma externa, de natureza espiritual ou monádica. O poema culmina quando o neófito se descobre iniciado, mesmo sem nunca ter deixado para trás o ponto de partida, entre ciprestes, do qual partiu. Dá-se conta então, porque já lhe caíram todas as vestes, de ser essencialmente divino, sem necessidade de temer a morte.
 
Particularmente, ao debruçar-me sobre o enigma da Obra pessoana, percebo que a leitura existencialista que os críticos reiteradamente insistem em fazer dos heterônimos todos, e particularmente do Cancioneiro, tal qual o gradativo despojar das vestes, fica muito aquém do que se pode vislumbrar por uma perspectiva esotérica, e não ultrapassa muitas vezes sequer a porta da Estalagem do Assombro. Esta, se nos assombra, cumpre fazê-lo porque a dimensão da poesia pessoana não cabe na palma da mão acadêmica. É preciso ter olhos iniciados para perscrutar o transcendente, elemento esse de verdades que Pessoa enuncia por seus paradoxos, e que intencionalmente deixa que escapem pelas frestas da imponderabilidade poética.
 
"Desejo ser um criador de mitos", exprimiu-se certa vez, "que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da humanidade". Pessoa o conseguiu; curvo-me, pois, diante da complexidade mitológica dos heterônimos, que têm realidade tanto quanto os deuses gregos. Neles se projeta a alma plural de Pessoa, a refratar sua identidade última, comum a todas as pessoas. "Porque há um mistério maior que Deus em tudo", e eu sou incapaz de compreendê-lo, embora os heterônimos nos falem sempre disso.
 
Ademais, nunca saberei outras coisas, nem mesmo sei o que o amanhã irá trazer...
 
Paulo Urban é médico psiquiatra e Psicoterapeuta do Encantamento
 
Publicado na Revista Planeta nº 381 / junho 2004