domingo, 29 de setembro de 2013

Os Pedreiros


 
Loja Maçônica Calixto Nóbrega nº 15 Sousa(PB) - ano 2012


OS PEDREIROS - PARTE II
Catolicismo e Maçonaria


Papa Leão XIII, foi um adversário ferrenho da maçonaria


A Igreja Católica historicamente já se opôs radicalmente à maçonaria, devido aos princípios supostamente anti-cristãos, libertários e humanistas maçônicos. O primeiro documento católico que condenava a maçonaria data de 28 de abril de 1738. Trata-se da bula do Papa Clemente XII, denominada In Eminenti Apostolatus Specula.

Após essa primeira condenação, surgiram mais de 20 outras, sendo que o papa Leão XIII foi um dos mais ferrenhos opositores dessa sociedade secreta e sua última condenação data de 1902, na encíclica Annum Ingressi, endereçada a todos os bispos do mundo em que alarmava da necessidade urgente de combater a maçonaria, opondo radicalmente esta sociedade secreta ao catolicismo.

Apesar disso, há acusações sobre Paulo VI e alguns cardeais da Igreja relacionarem-se a uma loja. Entretanto, todas as acusações carecem de provas. A condenação da Igreja é forte e não muda ainda que membros do clero tenham de alguma forma se associado à sociedade secreta.

No Brasil Império, havia clérigos maçons e a tentativa de alguns bispos ultramonta nos de adverti-los causou um importante conflito conhecido como Questão Religiosa. O principal dos bispos anti-maçônicos desta época foi Dom Vital, bispo de Olinda. Recebeu forte apoio popular, mas foi preso pelas autoridades imperiais, notadamente favoráveis à maçonaria. Após ser liberto, foi chamado a Roma onde foi congratulado pelo papa, SS Pio IX, por sua brava resistência, e foi recebido paternalmente e com alegria (o Papa, comovido, só o chamava de "Mio Caro Olinda", "Mio Caro Olinda").

Até 1983, a pena para católicos que se associassem a essa sociedade era de excomunhão. Com a formulação do novo Código de Direito Canônico que não mais condenava a Maçonaria explicitamente, muitos pensaram que a Igreja havia aceitado a mesma, no entanto a Congregação para Doutrina da Fé tratou de esclarecer o mau entendido e afirmar que permanece a pena de excomunhão para quem se associa a maçonaria.



A perseguição à maçonaria pela Igreja Católica se dá, segundo alguns autores, pela existência do segredo maçônico, o que demonstrava não existir, por parte do clero, controle sobre o que acontecia nas lojas, e pelo fato da maçonaria defender a liberdade religiosa, aceitando o ingresso de pessoas de qualquer religião.

O condenado era muitas vezes responsabilizado por uma "crise da fé", pestes, terremotos, doenças e miséria social, sendo entregue às autoridades do Estado, para que fosse punido. As penas variavam desde confisco de bens e perda de liberdade, até a pena de morte, muitas vezes na fogueira, método que se tornou famoso, embora existissem outras formas de aplicar a pena. Os tribunais da Inquisição não eram permanentes, sendo instalados quando surgia algum caso de heresia e eram depois desfeitos. Posteriormente tribunais religiosos e outros métodos judiciários de combate à heresia seriam utilizados pelas igrejas protestantes (como por exemplo, na Alemanha e Inglaterra). Embora nos países de maioria protestante também tenha havido perseguições - neste caso contra católicos, contra reformadores radicais, como os anabatistas, e contra supostos praticantes de bruxaria, os tribunais se constituíam no marco do poder real ou local, geralmente ad-hoc , e não como uma instituição específica.

Em muitos casos também queimavam-se em praça pública os livros avaliados pelos inquisidores como símbolos do pecado: " No fim do auto se lê o da sentença dos livros proibidos e se mandarão queimar três canastras delles. Maio de 1624".

Neste momento, estamos diante da "apropriação penal" dos discursos, ato que justificou por muito tempo a destruição de livros e a condenação dos seus autores, editores ou leitores. Como lembrou Chartier: " A cultura escrita é inseparável dos gestos violentos que a reprimem". Ao enfatizar o conceito de perseguição enquanto o reverso das proteções, privilégios, recompensas e pensões concedidas pelos poderes eclesiásticos e pelos príncipes, este autor retoma os cenários da queima dos livros que, enquanto espetáculo público do castigo, inverte a cena da dedicatória.



Protestantismo e Maçonaria
Massacre de São Bartolomeu.

Catedral luterana em Helsinque, Finlândia. Traços evidentes da arquitetura maçônica.

A Maçonaria Especulativa surgiu durante o período da reforma protestante. Notadamente, James Anderson, o autor da Constituição de Anderson, era um pastor presbiteriano.

Martinho Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Báltico e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como contra-reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento.

Imediatamente após o início da Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana decidiu tomar medidas para frear o avanço da Reforma. Realizou-se, então, o Concílio de Trento (1545-1563), que resultou no início da contra-reforma ou Reforma Católica, na qual os Jesuítas tiveram um papel importante. A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Católica foram igualmente determinantes para evitar que as idéias reformadoras encontrassem divulgação em Portugal, Espanha ou Itália, países católicos.

O principal acontecimento da contra-reforma foi a Massacre da noite de São Bartolomeu. As matanças, organizadas pela casa real francesa, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70.000 e 100.000 protestantes franceses (chamados huguenotes).



Um dos pontos de destaque da reforma é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores (entre eles o próprio Lutero) a partir do latim para as línguas nacionais. Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações. Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo e as Igrejas Reformadas ou calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações reformadas, com destaque para os Batistas e os Metodistas.

Bibliografia extraida da enciclopédia livre Wikipédia

terça-feira, 24 de setembro de 2013

ALTOS GRAUS


templo_maconicoA formação de um maçom está formalmente concluída logo que concluída a cerimónia pela qual ele é elevado ao 3.º grau e assume a qualidade de Mestre Maçom. Todos os "segredos" lhe estão transmitidos, todas as "lições" lhe estão dadas, o método maçónico de evolução é-lhe conhecido. A partir desse momento, o Mestre Maçom é um Aprendiz que aprende o que tem de aprender, como pretende, segundo as suas prioridades e preferências. Acabou a sua aprendizagem e tem a sua "carta de condução". Mas aprender o quê? Tudo o que lhe foi exposto, apresentado, mostrado. Todos os símbolos, rituais, ornamentos, textos, que lhe foram fornecidos ao longo da sua formação. Não que tenha de saber esses textos de cor. Mas porque todos esses elementos são pistas, sinais, caminhos abertos à sua individual exploração.
Onde conduzem esses caminhos? Ao interior de si próprio! À interiorização das virtudes e normas de comportamento e princípios que devem reger a conduta de um homem bom e justo e que procura aproximar-se o mais possível do conceito de homem perfeito. Porquê? Porque crê que é esse trabalho, esse esforço, esse objetivo, o verdadeiro significado da vida, a razão de ser da nossa existência, porque o nosso caráter, o nosso espírito, a nossa alma (chame-se-lhe o que se quiser) necessita desse esforço, desse reforço, desse aperfeiçoamento, para evoluir e passar adiante (chame-se-lhe Ressurreição, ou Glória, ou Paraíso, ou Nirvana, ou o que se quiser). Complementarmente à sua crença religiosa e em reforço e desenvolvimento desta, o maçom procura assim descortinar o inescrutável, entrever o sentido da vida e o Plano do Criador, cumprir a sua vocação.
Em bom rigor, para o fazer segundo o método maçónico não necessita de mais ferramentas do que as que lhe foram dadas ao longo da sua instrução como Aprendiz e Companheiro e na sua exaltação a Mestre. Elas chegam, está lá tudo o que é necessário para que o homem bom que um dia bateu à porta do Templo se torne um homem melhor, um pouco melhor em cada dia que passa, um tudo nada melhor do que no dia anterior e um não sei quê pior do que no dia seguinte.
Para esse trabalho fazer, basta-lhe atentar e meditar e trabalhar nos conceitos e lições que recebeu, explorar a miríade de símbolos e chamadas de atenção com que se deparou. E tirar de cada meditação, de cada exploração, de cada esclarecimento, a respetiva lição e - mais e sobretudo - aplicá-la na sua conduta de vida. O Mestre Maçom tem tudo o que necessita para o seu trabalho e a obrigação de ensinar os que se lhe seguem - cedo descobrindo que será também ensinando que ele próprio aprende...
Mas alguns Mestres Maçons sentiam-se insatisfeitos, desconfortáveis. Até à sua exaltação, tinham tido um guião, uma cartilha, mentores, que auxiliavam o seu percurso. E, de repente, ainda inseguros, ainda tateando o seu caminho, os seus Irmãos largavam-nos ao caminho e diziam-lhes: "aí tens tudo o que precisas de ter para fazer o teu caminho! Procura, lê , estuda, medita, tenta, acerta, erra, quando errares volta atrás e tenta de novo até acertares." Não haveria maneira de guiar ainda o seu trabalho? Não de os conduzir, mas de fornecer como que um mapa, um guia, que facilitasse a sua tarefa? Tudo bem que tudo o que havia a explorar e aprender já lá estava no que lhe fora ensinado. Mas as alegorias têm de ser decifradas, os significados encontrados... É certo que o trabalho tem de ser individual mas... precisa absolutamente de ser tão solitário? Está certo que cada Mestre Maçom deve procurar a sua Luz e, para o fazer, tem de se abalançar ele próprio a atravessar a escuridão mas... não se pode dar-lhe nem uns fosforozitos, nem uma velinhas, para ajudar a alumiar o caminho?
Cedo se chegou à conclusão que sim, que se podia. Que, embora cada um tivesse os meios de explorar o seu caminho, não havia mal nenhum em proporcionar a quem o quisesse um mapa, um guia, um roteiro, que desenvolvesse, paulatinamente, patamar a patamar, as noções que já estavam disponíveis para serem desenvolvidas, mas que não havia mal nenhum se o fossem através de um roteiro bem organizado.
E assim se desenvolveu aquilo a que hoje se chama Altos Graus. Nas derivas do Romantismo, muitos sistemas de altos Graus foram desenvolvidos. De alguns deles ainda restam resquícios, tentativas de manutenção. Outros entretanto desapareceram. No mundo maçónico, nos dias de hoje, predominam dois sistemas de Altos Graus, do Rito Escocês Antigo e Aceite e do Rito de York. Outros são também praticados: do Rito Escocês Retificado, por exemplo.
Mas não se engane ninguém: ao percorrer qualquer desses sistemas (ou mais do que um), não se sobe, não se fica mais alto, mais poderoso, superior. Ao percorrer cada um dos sistemas de Altos Graus está-se a utilizar um guia de auxílio no nosso caminho individual. Cada grau não é um patamar. É uma viagem de descoberta e estudo. E o grau seguinte não é um patamar superior. É apenas outra viagem de descoberta e estudo. De que se volta para de novo partir, seja para reestudar a mesma lição, para reestudar lição anterior, ou para explorar nova lição. E, a todo o momento, o Mestre Maçom pode decidir fazer nova viagem segundo o seu roteiro (e tomar novo grau) ou explorar por sua conta própria. Ou fazer ambas as coisas...
A Maçonaria é um caminho de conhecimento, iluminação e aperfeiçoamento. Que cada um percorre como quer. Às vezes com roteiro. Às vezes sem guia. Uns de uma maneira. Outros de outra. Nem sequer, bem vistas as coisas, o mais importante é o destino. Importante, importante mesmo, é afinal a viagem e o que se retém dela!
In Blog "A Partir Pedra" - Texto de Rui Bandeira (15.09.2010)

domingo, 15 de setembro de 2013

TESOURO HISTÓRICO PERTENCENTE A MACONARIA PARAIBANA



 

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO PARAIBANO/IHGP
Fundado em 7 de setembro de 1905
Declarado de Utilidade Pública pela Lei no 317, de 1909
CGC 09.249.830/0001-21 - Fone: 0xx83 3222-0513
CEP 58.013-080 - Rua Barão do Abiaí, 64 - João Pessoa-Paraíba
 
|15º Tema
A Maçonaria na Paraíba
Expositor: Hélio Nóbrega Zenaide
 
Debatedor: Edgar Bartolini Filho
 

A fala do Presidente:
 
Vamos dar continuidade ao nosso já importante Ciclo de Debates sobre a participação da Paraíba nos 500 anos de Brasil com a programação de hoje abordando A MAÇONARIA NA PARAÍBA.
Componho a mesa com nosso sócio Hélio Zenaide, que será o expositor; com Edgard Bartolini Filho, Grão Mestre da Grande Loja do Estado da Paraíba; Joacil de Britto Pereira, presidente da Academia Paraibana de Letras.
Chamo a atenção dos presentes sobre a organização do programa deste Ciclo de Debates. Primeiro, falamos sobre A IGREJA NA PARAÍBA, depois sobre A INQUISIÇÃO NA PARAÍBA e agora sobre A MAÇONARIA NA PARAÍBA. Há, portanto, um elo de ligação entre essas grandes instituições que comportam episódios transcendentais na nossa História.
Hélio Nóbrega Zenaide foi indicado unanimemente pela Comissão Organizadora do certame para ser o responsável por esse tema. Hélio é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Possui vários cursos. Tem um sobre Desenvolvimento do Brasil, que cursou no Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB – e nem sei como não foi preso em 64; tem curso sobre Desenvolvimento, feito na SUDENE; freqüentou a ADESG, naqueles cursos que davam garantia de sobrevivência durante a ditadura de 64; foi Secretário de Comunicação e de Educação do Estado, e é um grande jornalista, tendo participado do quadro redacional de todos os jornais da capital, inclusive do JORNAL DE AGÁ,  do qual fui o editor, onde ele mantinha uma seção sob o título de RONDA DOS ARQUIVOS. Hoje é um historiador consagrado, pelos trabalhos que tem editado.
Sendo um maçom da velha guarda, foi convidado para fazer a palestra de hoje.
Passo a palavra do confrade Hélio Nóbrega Zenaide.
 
Expositor: Hélio Nóbrega Zenaide (Sócio do Instituto Histórico, pesquisador, jornalista):
  INTRODUÇÃO
        
A Maçonaria é uma instituição que procura contribuir para o aperfeiçoamento moral, intelectual, social, cultural e material do homem, buscando cultivar, sob a égide de Deus – o Grande Arquiteto do Universo – a  prática da fraternidade humana universal, sem distinção de raça, cor, nacionalidade, pensamento filosófico, ideal político ou religião.
Ela tem por divisa Liberdade, Igualdade e Fraternidade e por lema Justiça, Verdade e Trabalho.
Prega o amor da pátria e a paz entre todos os povos.
Não é uma instituição política, mas, historicamente, tem contribuído para os grandes ideais políticos da Humanidade.
A história da Maçonaria na Paraíba deve ser uma expressão  de luta pela implantação desses valores no nosso processo evolutivo.
É sua obrigação fazer-se presente com esses valores em todos os campos da atividade humana em nosso Estado, no Poder Executivo, no Poder Legislativo, no Poder Judiciário, na vida intelectual, na vida econômica,  na indústria, na agricultura, no comércio, nos serviços, na vida religiosa, na vida educacional, nas profissões liberais.
Seu objetivo é praticar esses valores na ordem social.
Por tudo isso, a sua bandeira é uma bandeira de esperança de melhores dias para a Grande Família Humana Universal.
 
1 .  A MAÇONARIA NO BRASIL
 
Em sua HISTÓRIA GERAL DA MAÇONARIA,  Editora Aurora, 1979, assinala Nicola Aslan que a Maçonaria veio para as Américas com a luta contra o colonialismo e os ideais de independência e república, aqui se infiltrando através das chamadas sociedades secretas.
Ele diz textualmente (pg. 35):
 
“No Brasil, o movimento pela independência teve início no seio das sociedades secretas, que tanto tinham de literárias como de políticas, e das quais algumas podem ser aqui citadas:
 
      1752 – Associação Literária dos Seletos, no Rio.
      1759 – Academia dos Renascidos, na Bahia.
      1772 – A Científica, no Rio.
      1786 – Academia Ultramontana, no Rio.
      1796 – Areópago de Itambé, em Pernambuco.
 
Mas, de todas essas sociedades secretas, a que maior importância e celebridade alcançou foi, sem dúvida, esta última. Vários autores ligam o Areópago à Maçonaria, afirmando-se mesmo que ele estava organizado nos moldes das Lojas Maçônicas. O seu fundador, Dr. Manoel de Arruda Câmara, formara-se em Montpellier, na França, cuja universidade, fundada em 1289, celebrizara-se, principalmente, pelo ensino da medicina. E Montpellier foi um importante centro maçônico, onde, por volta de 1778, o famoso beneditino Antônio José Pernety formara o  Rito da Academia dos Verdadeiros Maçons, inteiramente dedicado ao ensino das ciências herméticas.”
 
Naquela época, nada menos de cinco Lojas Maçônicas estavam localizadas em Montpellier, de onde o paraibano Manoel de Arruda Câmara trouxe os ideais maçônicos  de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, da Revolução Francesa.
Em seu livro O CLERO E A INDEPENDÊNCIA, Dom Duarte Leopoldo, Arcebispo de São Paulo, escreve a respeito:
 
“Quase na mesma época, florescia em Itambé o Areópago do dr. Manoel de Arruda Câmara, centro de estudos, onde se discutiam as idéias mais avançadas do liberalismo. Chegou-se mesmo a suspeitar que essa sentinela do nativismo brasileiro, perdida entre os sertões de Pernambuco e Paraíba, contava com o apoio de homens poderosos, dentro e fora do país, decididamente protegidos por Napoleão Bonaparte.” ( Conf. Rocha Pombo, HISTÓRIA. DO BRASIL, vol. VII, pg. 340 ).
 
Gustavo Barroso, em sua HISTÓRIA SECRETA DO BRASIL, escreve:
 
“Um dos Arruda Câmara, o botânico, médico, formado em Montpellier, partidário exaltado das idéias francesas, fundara o Areópago, sociedade secreta, intencionalmente posto nos limites de Pernambuco e  Paraíba, que doutrinava para a democracia e a revolução maçônica, sementeira de onde brotaram os grandes movimentos revolucionários do Brasil, no século XX. Do Areópago provêm a Academia dos Suassuna, a Academia do Paraíso, a Universidade Secreta, de Vicente Ferreira dos Guimarães, a Oficina de Iguaraçu.”( vol. I, pg. 205 ).
 
Na REVISTA DO INSTITUTO ARQUEOLÓGICO PERNAMBUCANO, XIX, 1917, pgs. 171-172, num trabalho sobre As Sociedades Secretas de Pernambuco, lê-se a transcrição da seguinte  nota de Oliveira Lima: 
 
“A primeira loja maçônica fundada em Pernambuco foi o Areópago de Itambé. Foi seu fundador Manuel de Arruda Câmara. Faziam parte desta loja desde 1798 entre outros, o irmão de Arruda Câmara, que era médico, como ele, os três irmãos Francisco, Luís Francisco e José Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque, o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, discípulo de Arruda Câmara, o capitão André Dias Figueiredo, os padres Antônio e Félix Velho Cardoso, José Pereira Tinoco, Antonio de Albuquerque Montenegro. Em 1801, com a denúncia de conspiração levantada contra os irmãos Cavalcante, o Areópago foi dissolvido.” – LIMA, Manoel de Oliveira, nota nº XXIII. In. TAVARES, Muniz, História da Revolução de  Pernambuco.
 
Esse Antonio de Albuquerque Montenegro, citado por Oliveira Lima, era filho do meu tetravô Francisco Dias de Melo Montenegro, que era primo do padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, braço direito de Manoel de Arruda Câmara na fundação do Areópago de Itambé.
Meu tetravô morava no Engenho Oratório, na fronteira de Pernambuco e Paraíba, e o  padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro deve ter escolhido  o Engenho Oratório para instalar o Areópago de Itambé porque ali contaria com a hospitalidade de Francisco Dias de Melo Montenegro. Ele e Arruda Câmara se hospedavam realmente naquele engenho. Francisco Dias de Melo Montenegro, teve 12 filhos, um deles, meu bisavô Capitão Antero Francisco de Paula Cavalcante Montenegro, pai do meu avô paterno, senador Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque. 
Dois filhos dele  eram membros ativos do Areópago de Itambé: Antonio de Albuquerque Montenegro e André.  Quando foi esmagada a Revolução de 1817, e o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro suicidou-se no Engenho Paulista, para não ser preso e trucidado pelas tropas legais, os filhos de Francisco Dias de Melo Montenegro, com medo da perseguição e de prisão, fugiram do Engenho Oratório. Meu bisavô, Capitão Antero Peregrino de Paula Cavalcante Montenegro, embora nascido  depois da Revolução,  foi morar  em Patos, ali comprando  a fazenda  Cacimba dos Bois, onde nasceu meu avô.
Vários paraibanos maçons freqüentavam o Areópago de Itambé, como registra Irineu Ferreira Pinto,  e, assim, podemos considerá-lo também paraibano. Até gente de Itabaiana e de Pilar ia  para as reuniões do Areópago de Itambé.  Uma dessas pessoas era o padre Antônio Pereira de Albuquerque, do Pilar, que foi preso e condenado à morte. Ele era da família de Francisco Dias de Melo Montenegro e do padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro.  Outra, era o padre Antonio Félix Velho Cardoso, de Itabaiana. Estas  informações estão em Irineu Ferreira Pinto, no seu livro DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAIBA, 1º volume.
Eu chamo a atenção para esses detalhes porque alguns historiadores chegam até a negar a existência do Areópago de Itambé.
O nosso confrade José Octávio de Arruda Mello, por exemplo, inclina-se também por essa opinião na sua HISTÓRIA DA PARAÍBA; ele chega a dizer que o Areópago não deve ter existido porque Manoel Arruda Câmara nunca morou em Itambé. Mas isso não é um argumento que me impressione. André Vidal de Negreiros nunca morou no Morro dos Guararapes, mas se tornou herói do Morro dos Guararapes.
A Maçonaria foi iniciada, assim, em Pernambuco e Paraíba, através do paraibano Manoel de Arruda Câmara e lutando por um ideário político de independência e república.
 
2 – A MAÇONARIA FOI INICIADA  EM PERNAMBUCO E PARAIBA  ATRAVÉS DO PARAIBANO MANOEL DE ARRUDA CÂMARA E LUTANDO POR UM IDEÁRIO POLÍTICO DE INDEPENDÊNCIA E REPÚBLICA.
 
Com efeito, a Revolução de 1817, em Pernambuco e na Paraíba, coincidiu com um período de expansão do liberalismo no mundo ocidental. No Brasil, as idéias liberais vinham sendo propagadas desde os fins do século XVIII, notadamente através das sociedades  secretas.
Em Pernambuco, o Areópago de Itambé e várias academias e Lojas Maçônicas foram ponto de reunião para discussão desse ideário político.
A influência da Maçonaria na propaganda revolucionária foi reconhecida e destacada pelo desembargador do Tribunal de Alçada, criado para julgar os presos pronunciados na devassa aberta em 1817. João Osório de Castro Falcão escreveu a Tomás Antonio Vila Nova Portugal, dizendo que as idéias revolucionárias propagadas desde 1801, cresceram e se expandiram através das Lojas Maçônicas

Chegou outro missionário à cidade, o Frei Herculano e, ao realizar uma Santa Missão, arrastou o povo às ruas, instigou,  invadiu e destruiu a LOJA MAÇÔNICA RENASCENÇA! Isto no centro da cidade de Campina Grande.
Em 12 de fevereiro de 1877 – ano da mais terrível seca      que o Nordeste conheceu até então – foi fundada, nesta capital, ali no Varadouro, a LOJA MAÇÔNICA CONSTÂNCIA E LEALDADE, e em 1882, a LOJA MAÇÔNICA LEALDADE E PERSEVERANÇA.
Todas essas Lojas Maçônicas, porém, cerraram suas portas e os seus arquivos se perderam no tempo.
 
5.   5.     A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
 
Alguns maçons paraibanos se projetaram no movimento da Proclamação da República. Foi o caso do maçom Aristides Lobo, grande propagandista dos ideais republicanos, e do maçom senador Coelho Lisboa.
A projeção desses dois propagandistas da República deveu-se, porém, à sua atuação no plano nacional. No plano estadual, não há notícia de atuação expressiva da Maçonaria em favor da Proclamação da República.
Vale observar que o marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República, era Grão Mestre da Maçonaria, como era também maçom Floriano Peixoto, que o sucedeu na presidência da República.
 
5. A MAIS ANTIGA LOJA MAÇÔNICA PARAIBANA EM FUNCIONAMENTO
 
Em 1898,  era a Paraíba governada pelo  presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo, quando foi fundada a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, que é a mais antiga Loja Maçônica da Paraíba em funcionamento.
Ela foi fundada no dia 16 de outubro de 1898 e no ano passado comemorou o seu primeiro Centenário de existência ininterrupta.
Era um ano terrível de seca, que José Américo de Almeida  assim descreveu em A Bagaceira:
 
 
criado para julgar os presos pronunciados na devassa aberta em 1817. João Osório de Castro Falcão escreveu a Tomás Antonio Vila Nova Portugal, dizendo que as idéias revolucionárias propagadas desde 1801, cresceram e se expandiram através das Lojas Maçônicas
E  o maçom Domingos José Martins, depois da morte de Manoel de Arruda Câmara,  deu novo impulso à conspiração, com o padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, que integrou o  Governo Provisório da Revolução.
Eles lutavam pela independência, contra o sistema colonial e contra o regime monárquico, que desejavam ver substituído por uma forma republicana de governo, como acontecera nos Estados Unidos.
      Sobre o Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, é importante esta confirmação de uma historiadora pernambucana, citando  Tollenare:
 
“Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro. Nasceu em Tracunhaém, não longe do Recife. Discípulo de Arruda Câmara, freqüentava o Areópago de Itambé, onde se iniciou nas “novas idéias”. Professor de desenho e segundo Tollenare homem instruído e sem fortuna, filósofo e estudioso de ciências, leitor dos antigos e novos filósofos, aspirava a liberdade por amor e não por ambição.
 
3. DEPOIS DO AREÓPAGO DE ITAMBÉ
 
Há notícia de que em 1822 foi fundada na capital paraibana uma Loja Maçônica, a LOJA MAÇÔNICA PELICANO, que teria sido a primeira instalada propriamente na Paraíba. Não temos, entretanto, maiores informações acerca da LOJA MAÇÔNICA PELICANO, organizada, certamente, ao calor do movimento da nossa Independência.
Tudo indica que a  cruel perseguição movida contra os revolucionários de 1817 esfriou,  por algum tempo, a expansão do movimento maçônico  na Paraíba, porque  outras Lojas Maçônicas só vieram a surgir 69 anos depois da fundação do Areópago de Itambé, que se deu em 1796.
Nem mesmo a fundação do GRANDE ORIENTE DO BRASIL, em 17 de junho de 1822, no Rio de Janeiro, às vésperas da Independência, e do ingresso de D. Pedro I em seus quadros, foi capaz de imprimir  maior impulso à Maçonaria na  província.
Embora o  papel da Maçonaria na Independência tivesse sido decisivo e ela saísse  fortalecida  do acontecimento, somente 43 anos depois do Grito do Ipiranga os paraibanos  se animariam a organizar as   primeiras Lojas Maçônicas no seu território.
 
4. AS PRIMEIRAS LOJAS MAÇÔNICAS NA PARAIBA DEPOIS DA LOJA MAÇÔNICA PELICANO
 
Temos notícia de que a primeira Loja Maçônica efetivamente instalada na Paraíba depois da Independência, foi fundada em 1865, com o nome de LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO BRASÍLICA.
Ela foi instalada nesta capital, quando a Paraíba era governada pelo presidente Sinval Odorico de Moura e, no mesmo ano, foi fundada ainda a LOJA MAÇÔNICA UNIÃO E BENEFICÊNCIA, na cidade de Mamanguape.
Em 1873 existiu uma  terceira Loja Maçônica – a SEGREDO E LEALDADE – na cidade de Campina Grande.
Essas Lojas Maçônicas surgem numa época em que, na Paraíba, voltavam as idéias republicanas e se esboçava o movimento da abolição da escravatura, movimento que, no Rio de Janeiro, capital do Império, era em grande parte encabeçado pela Maçonaria.
A Lei do Ventre Livre, por exemplo, foi de autoria do Visconde do Rio Branco, Grão Mestre da Maçonaria.
Foi do maçom Joaquim Nabuco a iniciativa da criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão.
Foi o Ministério Liberal presidido pelo maçom José Antônio Saraiva que conseguiu a aprovação da Lei dos Sexagenários.
Grande defensor da abolição da escravatura, Rui Barbosa era maçom; como era maçom José do Patrocínio.
Por sinal, naquele tempo, o maçom e grande tribuno abolicionista  José do Patrocínio, cognominado o tigre da abolição, veio à Paraíba, em campanha pela abolição, sendo aqui festivamente  recepcionado pela Maçonaria e pelos adeptos em geral  da causa de libertação dos escravos.
O tigre da abolição foi entusiasticamente aplaudido pelos abolicionistas paraibanos  em 1883, ano em que o vice-presidente Antônio Alfredo da Gama e Melo, que era um abolicionista sincero, assumiu o governo da província.
Era maçom também o poeta dos escravos, Castro Alves, que  pertencia à mesma Loja Maçônica de Rui Barbosa, a Loja América.
E foi do maçom Rui Barbosa a iniciativa do decreto que obrigou todos os maçons brasileiros que porventura tivessem escravos a libertá-los imediatamente. Isso, três anos antes da lei que libertou os nascituros.
A LOJA MAÇÔNICA SEGREDO E LEALDADE, criada em 1873, em Campina Grande, marcou o primeiro grande conflito da Igreja Católica com a Maçonaria na  Paraíba.
Em virtude da chamada Questão Religiosa e da prisão de D. Vital, bispo de Olinda,  o vigário de Campina Grande, padre Calixto da Nóbrega declarou guerra à Maçonaria na Serra da Borborema.
Para reforçar ainda mais o combate, chamou em seu auxílio o padre Ibiapina, missionário de grande força no seio do povo nordestino..
Eles instigaram, de tal forma, o povo de Campina Grande, contra a Maçonaria, que os maçons esperavam, de uma hora para outra, uma explosão de fanatismo exacerbado.
E isso não demorou.
J. Leite Sobrinho, pesquisador da história maçônica paraibana, escreveu uma página relatando o desfecho dessa luta.
Em 1875 surgiu uma nova Loja Maçônica em Campina Grande, a LOJA MAÇÔNICA VIGILÂNCIA E SEGREDO, e, logo em seguida, uma outra, a LOJA MAÇÔNICA RENASCENÇA.
Era um desafio: mais duas Lojas Maçônicas em Campina Grande?
 
“Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das coisas podres. Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam.”
 
A capital paraibana encheu-se de retirantes e flagelados.
Os maçons se reuniram, fundaram a LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE e realizaram uma campanha angariando recursos – roupas usadas e gêneros alimentícios – para assistirem as  vítimas do flagelo.
Muitos desses retirantes ficaram na capital, mesmo quando a seca terminou. Viam-se pelas ruas velhos flagelados  que não tinham mais força para voltar para o sertão e retomar a luta do campo.


Rebentou novo ciclo de seca em 1912 e o Venerável Mestre da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, Joaquim Manoel Carneiro da Cunha, decidiu fundar e fundou um Asilo para Velhos, o Asilo de Mendicidade que depois tomou o seu nome, Asilo de Mendicidade Carneiro da Cunha, instituição que ainda hoje resiste ao tempo e é um patrimônio da Paraíba, agora com o nome da Lar da Providência.

Em 1900 surgiu a Loja Maçônica CARIDADE E SEGREDO, em Itabaiana.

Em 1903, a LOJA MAÇÔNICA UNIÃO CATOLEENSE, em Catolé do Rocha.

Em 1911, na capital, foi criada a LOJA MAÇÔNICA SETE DE SETEMBRO.

A LOJA MAÇÔNICA BRANCA DIAS veio em 1918. E a REGENERAÇÃO CAMPINENSE, em 1923. Em 1927, a PADRE AZEVEDO.

 

6. SEPARAÇÃO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL E FUNDAÇÃO DA GRANDE LOJA DO ESTADO DA PARAÍBA.

 

Até então as Lojas Maçônicas da Paraíba eram vinculadas ao GRANDE ORIENTE DO BRASIL,  fundado no Rio de Janeiro em 17 de junho de 1822.

Mas, em 24 de agosto de 1927, juntaram-se as Lojas Maçônicas BRANCA DIAS, fundada em 10 de janeiro de 1918, PADRE AZEVEDO, fundada em 24 de julho de 1927, e a REGENERAÇÃO CAMPINENSE, fundada em 19 de agosto de 1924, e decidiram separar-se daquela Potência Maçônica, fundando uma outra potência, a GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA, que hoje conta com quase 40  Lojas Maçônicas espalhadas pelo território paraibano.

Seu atual dirigente é o Sereníssimo Grão Mestre  Edgard Bartolini, convidado para ser o nosso debatedor de hoje.

Temos hoje na Paraíba três Potências Maçônicas: o GRANDE ORIENTE ESTADUAL DA PARAIBA, a GRANDE LOJA  DO ESTADO DA PARAIBA e o GRANDE ORIENTE DA PARAIBA, às quais estão jurisdicionadas as dezenas e dezenas de Lojas Maçônicas dos municípios paraibanos.

 

7. ACADEMIA PARAIBANA MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E CIÊNCIAS

 

No dia 2 de maio de 1998 foi instalada a ACADEMIA PARAIBANA MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E CIÊNCIAS, sob a direção do Mestre Maçom João Ribeiro Damasceno  e como secretário o orador que vos fala.

A solenidade foi prestigiada pela presença de delegações da ACADEMIA PARANAENSE MAÇÔNICA DE LETRAS, ARTES E CIÊNCIAS e da ACADEMIA MAÇÔNICA DE LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES DO NORDESTE DO BRASIL bem como de delegações de Maçons de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

 

 

8. A MAÇONARIA DA PARAIBA NOS TEMPOS ATUAIS

 

Com esse passado de preocupação com o aperfeiçoamento do processo político-social  brasileiro, a Maçonaria, certamente, teria de procurar contribuir para a volta do País ao estado de direito, depois da Revolução de 1964.

Neste ponto, a Maçonaria da Paraíba contou com uma voz de expressão no Congresso Nacional, a do nosso irmão maçom senador Humberto Lucena, membro da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, jurisdicionada à GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA.

Esse ilustre Maçom paraibano colocou-se, desde a primeira hora, contra os atos discricionários da Revolução de 1964. Batalhou, sem desfalecimento, pelo processo de abertura política e participou, na linha de frente, ao lado de Ulysses Guimarães, da Campanha das Diretas-Já, que teve à sua frente o PMDB, partido a que pertencia, do mesmo modo que foi também um soldado da linha de frente na eleição do presidente Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, última eleição indireta que, em verdade, marcaria o fim do regime militar.

Outra grande preocupação da Maçonaria da Paraíba na atualidade  é com relação à generalizada corrupção na política e na administração do País. Inúmeros Manifestos têm sido dirigidos ao Presidente da República pela Maçonaria da Paraíba neste sentido.

Nesses documentos, a Maçonaria da Paraíba insiste para que o Presidente da República exerça a plenitude da sua autoridade e da sua força para dar um basta a essa vergonha nacional.

A Maçonaria da Paraíba vem condenando igualmente o abuso do poder econômico no processo político-eleitoral.

Isso tudo, naturalmente, em função da conjuntura em que vivemos, porquanto o seu escopo maior é o aprimoramento de todas as potencialidades da Família Humana Universal.

 

9. OUTROS MAÇONS PARAIBANOS DE PROJEÇÃO EM NOSSA

VIDA PÚBLICA

 

Daremos apenas alguns exemplos, a vôo de pássaro:

 

O maçom JOÃO RODRIGUES CORIOLANO DE MEDEIROS foi um dos fundadores deste Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, em 7 de setembro de 1905, e é, ainda hoje, sem dúvida, uma legenda de glória da Paraíba, como educador e como historiador. É um dos grandes Beneméritos da Maçonaria da Paraíba. Pertencia ele à LOJA MAÇÔNICA PADRE AZEVEDO, da qual foi Venerável Mestre em 1935.

O maçom CLAUDIO OSCAR SOARES foi o fundador,  em 7 de maio de 1908, do jornal O NORTE, ainda hoje baluarte da imprensa da Paraíba.

OSCAR SOARES era membro da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, da qual foi Venerável Mestre e grande benfeitor. Esses dois últimos também pertencentes ao Instituto Histórico.

O maçom GUILHERME GOMES DA SILVEIRA, que também pertencia à LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, da qual foi Venerável Mestre, foi um dos mais brilhantes advogados da Paraíba e do Estado do Pará.

Outro notável paraibano foi o maçom MANOEL VELOSO BORGES, que pertencia à LOJA MAÇÔNICA BRANCA DIAS, da qual foi Venerável Mestre de 1923 a 1924, tendo sido também Sereníssimo Grão Mestre da GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA de 1922 a 1928.

Formado pela famosa Escola de Medicina da Bahia, depois de exercer a medicina em vários Estados, na Bahia, no Acre, no Amazonas, no Pará, voltou para sua terra natal e fundou aqui a SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA DA PARAIBA, em 3 de maio de 1924, sendo o seu primeiro presidente.

      Em sociedade com seu irmão, VIRGÍNIO VELOSO BORGES, foi um dos fundadores da Fábrica de Tecidos Tibirí, em Santa Rita.

Foi Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador pela Paraíba. Seu irmão VIRGÍNIO VELOSO BORGES também foi Senador pela Paraíba.

Ainda com aquele seu irmão, comprou a Fábrica de Tecidos Deodoro, do Rio de Janeiro e chegou a dirigir o Sindicato das Indústrias de Tecelagem do  Estado do Rio.

Ele e o dr. VIRGÍNIO VELOSO BORGES construíram uma ala do Hospital Santa Isabel. Foi um dos fundadores da Casa da Paraíba, no Rio de Janeiro, e membro do Conselho do Comércio e Indústria do Brasil no Exterior, indicado pela Confederação Nacional das Indústrias.

Foi maçom o Senador Coelho Lisboa; foi maçom o Senador José Gaudêncio de Queiroz; foi maçom o Senador Humberto Lucena. A Maçonaria da Paraíba sempre figurou nas duas Casas do Congresso Nacional, e ainda agora, até bem poucos dias, lá estava o nosso Irmão maçom JOSÉ LUIZ CLEROT, da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE, como um dos mais atuantes deputados federais do nosso Estado.

A Maçonaria da Paraíba tem oferecido numerosos valores à Magistratura Paraibana. Juizes, Promotores, Procuradores, Desembargadores, Advogados e  Presidentes da Ordem dos Advogados, Professores de Direito, seria extensa a relação para citá-los um a um.

O nosso Irmão maçom  MAURÍCIO FURTADO, pai do grande paraibano e brasileiro CELSO FURTADO, foi Procurador Geral do Estado, Desembargador, Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, membro da Academia Paraibana de Letras e Venerável Mestre da LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DO NORTE.

Outro grande maçom paraibano, JOSÉ AUGUSTO ROMERO, foi, ao mesmo tempo, Dirigente da Augusta Ordem no Estado, como Grão Mestre da GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DA PARAIBA, e dirigente do Movimento Espírita no Estado, como Presidente da FEDERAÇÃO ESPÍRITA PARAIBANA.

 

11 – O VELHO CONFLITO IGREJA CATÓLICA-MAÇONARIA

 

Chegam ao fim, neste fim de milênio, os entrechoques entre a Igreja Católica e a Maçonaria.

O I CONGRESSO MAÇÔNICO DO ESTADO DA PARAIBA, realizado nesta capital em  1993, incluiu, no temário de suas preocupações, o restabelecimento das boas relações com a Igreja Católica.

Neste sentido, um dos seus convidados de honra, foi o Padre Valério Alberton.

D. José Maria Pires, nosso Arcebispo, foi também convidado para o Congresso. O Arcebispo  da Paraíba não foi, mas autorizou a ida do Padre Valério Alberton.

O Padre Valério Alberton  vem defendendo em todo o Brasil o restabelecimento das boas relações entre a Igreja Católica e a Maçonaria, já tendo publicado livros na defesa de suas idéias.

Neste resumo dou uma idéia do que tem sido a Ordem Maçônica no Estado da Paraíba.

Muito obrigado.

     

 

Bibliografia consultada:

 

ASLAN, Nicola. HISTÓRIA GERAL DA MAÇONARIA, Editora Aurora, 1979.

ALBUQUERQUE, A. Tenório d’ – A MAÇONARIA E A LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS , Editora Aurora, 1970.

LEAL, José – INTINERÁRIO DA HISTÓRIA, Gráfica Comercial Ltda, 1965.

OCTÁVIO, José – HISTÓRIA DA PARAIBA, Ed. Universitária, UFPB, 1997.

PINTO, Irineu Ferreira – DATAS  E NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PARAIBA,

                Ed.  Universitária, UFPB, 1977.

NÓBREGA, Trajano Pires – A FAMÍLIA NÓBREGA, Instituto Genealógico     

                Brasileiro, 1956.

ARAUJO, Fátima – PARAIBA: IMPRENSA E VIDA, Grafset, 1986.

GRANDE LOJA DA PARAIBA – RESENHA HISTÓRICA, 1938.

FEITOSA, Lavoisier – MANOEL VELOSO BORGES, A UNIÃO EDITORA, 1982.

LEITÃO, Deusdedit – HISTÓRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAIBA, A UNIÃO EDITORA, 1988.

SOBRINHO, J. Leite – PRIMÓRDIOS DA MAÇONARIA PARAIBANA, Revista BRANCA DIAS MAGAZINE, janeiro de 1989.

Revista do Instituto Arqueológico Pernambucano, XIX, 1917.

TOLLENARE, L.F., NOTES DONINICALES PRISES PENDANT UN VOYAGE EN PORTUGAL ET AU BRÉSIL EN 1816, 1817 ET 1818.

 

 

A fala do Presidente:

 

Tivemos uma visão global da Maçonaria na Paraíba e no Brasil, mostrando a influência da instituição e dos seus membros na História da Paraíba. O levantamento feito pelo nosso consócio Hélio Zenaide nos traz muita luz. Estou certo de que a metade dos presentes não tinha a menor idéia da influência do movimento maçônico na Paraíba. Eu mesmo era um deles, sem razão porque meu pai era maçom, pertencente à Loja Branca Dias.

A importância da instituição pode-se medir até pela participação de figuras ilustres da nossa vida política, intelectual e social, como se depreende da breve listagem apresentada pelo expositor.

Como debatedor, teremos o Grão Mestre Edgard Bartolini Filho, que por sinal é neto do primeiro Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba e ele próprio é seu atual Grão Mestre. Bartolini é formado em Ciências Jurídicas e Sociais, com grande atuação na nossa Universidade Federal, onde ocupou vários cargos de relevo. É atuante dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção da Paraíba.

Passaremos, a seguir, a palavra ao nosso debatedor, professor Edgard Bartolini Filho.

 

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Debatedor: Edgard Bartolini Filho: (Professor universitário, Secretário da Ordem dos Advogados do Brasil/Paraíba e Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba)

 

Quero inicialmente parabenizar a iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano promovendo este Ciclo de Debates alusivo aos 500 anos do descobrimento da nossa pátria.

Essa série de debates é bastante importante, principalmente para o país e numa região que não é muita afeita à memória do seu povo e das suas instituições. É lugar comum se dizer neste país que o Brasil é um país sem memória, e, até certo ponto, o é.

Recentemente estive no Rio de Janeiro participando da Conferência Nacional dos Advogados e tivemos uma solenidade no Museu Histórico, onde houve coquetel com a presença de autoridades, e começamos a discutir sobre alguns quadros ali expostos, inclusive alguns de Pedro Américo, e conversa vai, conversa vem, falou-se sobre João Pessoa. A grande maioria dos nossos colegas advogados, alguns juristas renomados, pouco ou quase nada sabiam sobre a nossa história. Um deles ficou até admirado quando eu disse que João Pessoa já nasceu cidade. E ele não imaginava que nossa Felipéia de Nossa Senhora das Neves já nascera cidade. Quando a gente leva algumas pessoas para conhecerem a cidade elas ficam admiradas quando descobrem que Felipéia de Nossa Senhora das Neves foi fundada em 1585. Acham que nós somos muito mais novos. Nem conhecem nem se preocupam em conhecer a nossa história. Aliás, tirando as diferenças regionais, eles se preocupam, sim, mas em denegrir.

Com relação ao meu papel de debatedor vou declinar, porque a palestra do nosso Irmão Hélio Zenaide, historiador, jornalista, e hoje o principal historiador da Maçonaria paraibana, é irretocável. Caberá aqui apenas uma ou outra complementação ou um enfoque um pouco mais longe sobre o que seja esta instituição maçônica num passado mais longe, num passado mais recente e na modernidade.

Felizmente a Maçonaria não é mais uma instituição secreta naquele aspecto que muitos pensam que ela ainda o é. A Maçonaria era tão secreta há pouco tempo atrás que o maçom entrava na Ordem e muitas vezes a sua família não sabia que ele a vida inteira pertenceu e trabalhou pela Maçonaria, justamente evitando essas perseguições. Perseguições religiosas, intolerância religiosa, perseguições políticas e até perseguições familiares. Porque se às vezes um rapaz gostava de uma moça da sociedade altamente fechada e se o pai da moça, descobrisse que ele era maçom, era um Deus nos acuda. Essa condição era para ele quase que uma defesa, o que fazia da Maçonaria uma sociedade não secreta como para aqueles que a desconheciam como uma instituição que fosse ligada ao banditismo, a esses grandes movimentos de criminalidade, como a máfia, cosa nostra, e por aí vai.

Muita gente estranha porque existe uma diferença, na Maçonaria, de pensamentos, mas essa diferença é fácil de explicar.

Nós somos herdeiros daquilo que chamamos a Ordem dos Templários, não diretamente da Ordem dos Templários em si, mas do pensamento filosófico e científico que ficou dela, dos construtores das catedrais. Daí também sermos conhecidos por “pedreiros livres”, que é o que significa a palavra maçon, em francês, idioma corrente à época. Terminada esta fase, apareceu na nobreza européia uma divisão que até hoje ainda existe. Não pense que está adormecido. É justamente a guerra das Duas Rosas., que dividiu a Inglaterra da França. Depois disso tivemos aquele movimento belíssimo chamado de Renascimento, onde as ciências, as artes tiveram mais liberdade. Para chegar aí precisou de um grupo de pessoas de influência para que esses movimentos pudessem alcançar o êxito que todos nós conhecemos, e que inegavelmente mudou a história da humanidade.

Depois desse movimento renascentista vieram os movimentos da Reforma, onde o homem pôde agir com mais liberdade seus ideais religiosos e seus ideais científico-tecnológicos. A partir da Reforma o mundo não foi mais o mesmo, também como conseqüência da Revolução Francesa. Antes da Revolução Francesa temos, no início do século XVII, os primeiros movimentos responsáveis pela independência dos Estados Unidos.

Pois bem, por conta da guerra das Duas Rosas a filosofia inglesa, centralizada na nobreza, era uma filosofia mais presa, enquanto que a sociedade americana foi se libertando e criando uma nova maneira de pensar, influindo na França, resultando na sua grande revolução.

A partir daí tivemos, também, uma divisão na ordem maçônica, que já estava em plena efervescência. Nossa primeira Constituição era conhecida como Constituição de Anderson, que foi promulgada nos Estados Unidos, no ano de 1718, quase 70 anos antes da Revolução Francesa. A sociedade colonialista da época estava tão ávida por liberdade que se apegou a esse ideário, aliando-se ao pensamento da Maçonaria que surgiu nos Estados Unidos. Esse país conseguiu incutir na cabeça de brasileiros esse ideário.

A vinda de D. João VI para o Brasil facilitou a propagação da maçonaria em nosso país, porque ele trouxe em sua comitiva mações portugueses que tinham esse idealismo de verdade, igualdade e fraternidade.

Assim foi criada, no Rio de Janeiro, a Loja Comércio e Artes, que foi oficialmente a primeira loja maçônica brasileira. Oficialmente, é preciso repetir, a Maçonaria brasileira começou aí. Daí muitos não reconhecerem o Areópago de Itambé como loja maçônica. E por que não se reconhece? Quem é que iria imaginar, naquele tempo, uma loja maçônica que ficava no interior de Pernambuco, no sítio Oratório, a 80 quilômetros do Recife. Lógico, que nunca. Hoje nós temos esse ranço sobre nossa própria história, quanto mais naquele tempo.

Por outro lado, por mais paradoxal que seja, vocês percebem pela exposição do nosso palestrante, que aqui e acolá ele fala padre tal era maçom, padre qual era maçom. E vai aqui um registro: todos os padres que tiveram influência na história do Brasil, no governo, direta ou indiretamente, todos eles eram maçons. Não teve um que deixasse de ser maçom.

Aí surge a pergunta: e a questão religiosa? É outra história, porque eles eram maçons, mas naquela condição que existia anteriormente, que ninguém sabia que ela existia.

Depois da Revolução de 1817, onde Frei Caneca pregou a Confederação do Equador, e foi punido por isso, foi aí que começou de forma mais latente a efervescência da Maçonaria na nossa região. Surgiram então as lojas mencionadas pelo expositor Hélio Zenaide, as quais tiveram vida efêmera pela perseguição decorrente da questão religiosa (1971, se não me engano). Pode-se ver que na realidade ninguém sabia onde funcionavam essas lojas; sabia-se a sua existência, não sua localização.

Voltando à questão da separação da maçonaria francesa da maçonaria inglesa. Com o advento da República a Maçonaria pôde mostrar seu rosto, que era maçom, o que ela fazia, mas a intolerância religiosa continuou. Não obstante, houve uma ruptura mundial entre aquelas maçonarias. Daí, em 1927, alguns mações vinculados a essas lojas, como disse Hélio Zenaide, Branca Dias, Regeneração Campinense, Padre Azevedo, não satisfeitas com a orientação francesa (que eram monarquistas e não republicanas) preferiram dar ênfase a esta segunda e apoiar a política do Brasil, que era uma política de consolidação da República. É verdade que era uma democracia meio capenga, onde a mulher ainda não votava, o voto não era aberto e só quem votava eram certas classes sociais.

Dentro desse ideário, três lojas se reuniram na noite memorável de 24 de agosto de 1927 e resolveram fundar a Grande Loja, vinculada a essa nova ordem, essa nova política, esse novo ideário republicano. E essas lojas, a Branca Dias nº 1, a Regeneração Campinense, nº 2 e a Loja Padre Azevedo, nº 3. As demais continuaram no Grande Oriente, mas com o passar dos anos foram se chegando, de forma que, hoje, 40 pertencem à Grande Loja.

Naquela data participaram da reunião de fundação pela Loja Branca Dias Alfredo Augusto Ferreira da Silva, Carlos Werts, Sidrônio Mororó, Helmenegildo Di Lascio, José Francisco de Moura e Silva, José Teixeira Bastos, Maurício de Medeiros Furtado, Pedro Baptista Guedes e Roberto Volgrand Kelly; pela Loja Regeneração Campinense, compareceram Antiquilino Dantas, Antônio Farias Pimentel, Generino Maciel, José Jorinho Itamar, João Soares, José Pinto, Martiniano Lins, Severino Alves e Severino Cruz; pela Loja Padre Azevedo, compareceram Aristides de Azevedo Cunha, Gustavo Fernandes de Lima, Siqueira Costa, João Cândido Duarte, João Pinheiro de Carvalho, João Rodrigues Coriolano de Medeiros, José Calixto da Nóbrega, José Pereira da Silva, Virgílio de Barros Correia.

Na mesma noite foi eleita a primeira diretoria. Aí aconteceu um fato inusitado. Quem presidiu a sessão foi o maçom Augusto Simões, meu avô. Ele era o maçom mais graduado na Paraíba e era o único maçom grau 33, naquela época. Acho necessário dar uma explicação mais ritualística. Quando se é do Grande Oriente do Brasil  nossa ritualística leva do grau 1 ao 33 e na ritualística das Grandes Lojas há uma separação. As Grandes Lojas cuidam apenas do grau, 1, grau 2 e grau 3, que são os graus básicos da Maçonaria, e são os mais importantes. É como se fosse um curso de graduação. Os graus superiores, que começam pelos graus filosóficos, além de serem optativos dependem do irmão e do Supremo Conselho existente no Rio de Janeiro, que é quem dá a aprovação. As Grandes Lojas administram apenas os graus 1, 2 e 3.

Quando foram fundadas essas Grandes Lojas em 1927, elas não foram fundadas em todos os Estados; apenas cinco Estados se predispuseram a fazer as suas Grandes Lojas. Foram Paraíba, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. E o mapa do Brasil foi dividido de acordo com a fundação dessas Grandes Lojas. De modo, na realidade, a Grande Loja da Paraíba é a Grande Loja mãe da loja do Ceará (que veio logo depois, em 1928), de Pernambuco (1943) e Rio Grande do Norte (1974).

Foi eleito como Grão Mestre o irmão Augusto Simões. Mas como ele já exercia a representatividade do filosofismo, ele não quis ficar com as duas coisas e imediatamente propôs que fosse eleito como primeiro Grão Mestre o irmão Manoel Veloso Borges, o qual foi eleito por aclamação e para Grão Mestre Adjunto, o irmão João Arlindo Correia.

Com a renúncia de Augusto Simões, foi-lhe dado o título Grão Mestre ad vitam, motivo pelo qual toda vez que havia um interregno entre um Grão Mestre e outro, ou um atraso de eleição, ele sempre aparecia como Grão Mestre.

De 1927 para cá a Grande Loja teve os seguintes Grãos Mestres: 1927 – Augusto Simões; 1928 – Manoel Veloso Borges; de 28 a 1937 – João Arlindo Correia; de 37 a 1944 – Otávio Celso Novais; de 45 a 1948 – Abelardo de Oliveira Lobo; de 48 a 1954 – João Tavares de Mello Cavalcanti; de 54 a 1961 – João Arlindo Correia, novamente; de 61 a 1963; Abel Montenegro Rocha; de 63 a 1964 – Olegário Lins e Silva; em 64, José Lopes da Silva, foi interino; de 64 a 1970 – Pedro Aragão; de 70 a 79 – Francisco Edward Aguiar; de 79 a 81 – Francisco Mariano; de 81 a 1988 – Arlindo Bonifácio; de 88 a  1994 – Romildo Lins de Toledo; de 95 a 97 – Edilaudo Nunes de Carvalho; 1998 – Romildo Lins de Toledo, que faleceu após quatro meses de grão-mestrado; de 1998 até 31.12.2000, sou eu que estou exercendo o grão-mestrado.

Hoje não somos mais uma sociedade secreta, e não podemos ser porque respeitamos as leis do país e a elas estamos sujeitos. A sociedade hoje tem uma visão clara do que a Maçonaria faz, não nos seus templos, pois ainda é uma tradição.

Há uma pergunta que existe sempre entre os que não são mações. A pergunta é a seguinte: por que não tem mulher na maçonaria? Não tem por culpa nossa, porque sabemos que o mundo já mudou, e a mulher hoje desfruta um espaço que ocupa brilhantemente. A Maçonaria como um órgão universal tem um relacionamento exterior semelhante ao nosso relacionamento diplomático. Se colocarmos a mulher na Maçonaria, sem uma aprovação mundial, estaremos sujeitos a perder o nosso reconhecimento. Para sermos criados temos cartas constitutivas, que são dadas por entidades superiores. A nossa confederação tem sua carta constitutiva dada pela Confederação Interamericana, que por sua vez tem sua carta constitutiva dada pela Grande Loja da França, uma das mais tradicionais que existem. Se esses dogmas não forem modificados, nós não podemos modificá-los e ficarmos isolados e considerados uma potência espúria.

Gostarei de dar um depoimento pessoal sobre essa matéria, porque eu defendo a participação da mulher na Maçonaria.

Os ensinamentos maçônicos que tenho hoje devo à minha mãe Luzia Simões Bertoline, como devo também a parte dos ensinamentos musicais. E minha mãe foi a herdeira do pensamento de Augusto Simões, seu pai. Tinha quatro filhos mações e depois da morte de Augusto os filhos homens se separaram da Maçonaria; minha mãe, nunca. Ela continuou me passando todos os ensinamentos que ela conhecia. Conhecia pela vivência, não pelos livros, que eram altamente fechados, hoje são mais abertos. Inclusive ela foi perseguida pela Igreja pelo fato de ter sido filha do Grão Mestre. Porque a Loja Branca Dias teve a audácia de quando construiu aquele templo da avenida General Osório, o fez de maneira aberta e não mais escondida. Foi a primeira loja que trabalhou de porta aberta ao público. O público vendo quem entrava e quem saía, quem era e quem não era maçom. Foi esse o grande desafio que Augusto Simões e esses irmãos que mencionei tiveram. Imagine naquela época uma loja maçônica funcionando ma mesma rua da Catedral Metropolitana e do Convento de São Bento, de maneira aberta. Meu avô morreu em 1944 e no final do ano minha mãe foi casar-se e teve seu casamento negado pelo Bispo D. Adauto. Vejam só o paradoxo. Ela foi proibida de casar na igreja, mas era professora do Colégio Nossa Senhora das Neves e auxiliar do professor Gazzi de Sá no Seminário Diocesano da Paraíba. Não podia casar-se na igreja, mas podia ensinar dentro de colégios católicos. Ela só se casou na igreja em 1953, quando o Bispo era D. Moisés Coelho, que recebeu uma comitiva das freiras do Colégio Nossa Senhora das Neves que lhe foi fazer um apelo. E eu com cinco anos assisti ao casamento de minha mãe.

Com esse retrospecto penso ter complementado a brilhante exposição do irmão Hélio Zenaide.

 

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A fala do Presidente:

 

O Grão Mestre Edgard Bartoline Filho, nosso debatedor designado, complementou com brilhantismo a palestra do nosso consócio Hélio Zenaide. Seu pronunciamento dá uma visão global da história da Maçonaria no mundo e no Brasil, detalhando aspectos pouco conhecidos de nós não mações.

Sua origem, sua implantação no Brasil, sua filosofia e forma de funcionamento ficaram à mostra para nosso conhecimento. As transformações, suas mudanças foram aqui dissecadas.

Detalhes da Maçonaria paraibana, com os vultos que a sustentaram e sustentam, foram registrados. Sem sua participação neste Ciclo de Debates esse tema ficaria menos enriquecido, não obstante a excelência da palestra do consócio Hélio Zenaide.

Agora passaremos ao debate com a participação do plenário, e eu passo a palavra ao primeiro debatedor inscrito, que o confrade Guilherme d’Avila Lins.

 

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1º participante:

 

Guilherme d’Avila Lins:

 

Tenho que elogiar a beleza de trabalhos apresentados pelo expositor e debatedor desse tema, mas farei a seguinte indagação: Qual a é verdadeira relação que existe, de afinidade ou de distanciamento, de diferenças ou de aproximação entre a Maçonaria e a antiga e mística Ordem Rosa Cruz?

Ouço dizer que existe uma relação apenas de certo nível, na parte esotérica, mas tudo isso é de ouvi dizer.

Outra pergunta quem faz é o meu eu pesquisador de história. Todos nós sabemos a importância, a influência que, ao longo do tempo, teve a Maçonaria no processo social, político e histórico do mundo inteiro, e deste país. Imagino, como pesquisador, que todo essa cadinho de discussão como lidar com o processo social de cada momento histórico, imagino que atas, registros, documentos devem ter sido feitos. Nesse sentido, imagino que o arquivo histórico da Maçonaria é um arquivo fabuloso.

Em 1932 o papa negro – o padre geral da Companhia de Jesus – abriu para os seus os arquivos secretos da Companhia de Jesus. O Vaticano está abrindo também seus documentos, gradativamente. O Mosteiro de São Bento de Olinda também está abrindo. O SNI abriu. Então, pergunto: seria possível, do ponto de vista histórico, abrir este acervo que imagino deva existir na Maçonaria, e que é de fundamental importância  para qualquer historiador?

 

Hélio Nóbrega Zenaide, respondendo:

 

Quanto aos arquivos, não sei dizer que orientação a Maçonaria poderá tomar. Mas, nos últimos meses do ano passado tive a oportunidade de compulsar todas as atas da minha Loja, que tem mais de cem anos. Li da primeira à última ata. Minha dificuldade foi identificar as palavras por causa da caligrafia da época. Mas na Loja Regeneração do Norte temos todas as atas com todos os pronunciamentos. Temos o discurso do nosso fundador Coriolano de Medeiros na Maçonaria. Não sei se esses livros vão ter acesso à pesquisa de modo geral. Temos o Livro de Ouro da fundação da Loja, com a assinatura de todos os membros presentes à fundação da Loja, há mais de cem anos. Acho que o Grão Mestre Edgard Bartoline poderá acrescentar alguma coisa.

 

Edgard Bartoline, complementando:

 

Está aqui a ata da fundação da Grande Loja, de 1927. Está aberta a quem quiser compulsá-la. Com relação aos demais, infelizmente não posso adiantar nada porque esse grande acervo histórico está de posse do Grande Oriente do Brasil, que na realidade foi a primeira instituição maçônica como potência que abrigou os nossos mações do nosso país. Todos esses irmãos que foram citados por Hélio Zenaide e outros que não foram citados, como Tamandaré, padre Feijó, José Bonifácio de Andrade e Silva, Gonçalves Ledo, José Patrocínio, etc., todos eles pertenceram ao Grande Oriente do Brasil, nessa época histórica. Não respondo pelo Grande Oriente do Brasil, que tem seu Grão Mestre próprio, para dizer se essa documentação está aberta aos historiadores não mações. Para os mações tenho certeza que está. E se não estiver, tem que estar porque fatos de 50, de 100 anos, têm que ser levados em consideração. Temos de convir que os direitos autorais terminam com 50 anos.

Com relação à vinculação da Ordem Rosa Cruz com a Ordem Maçônica, posso dizer que são duas coisas totalmente diferentes. A Ordem Rosa Cruz é uma ordem própria, à qual não pertenço, mas o que li sobre ela é que ela tem base na estrutura do Egito antigo; é uma ordem totalmente mística; é mista; é muito bem dirigida. Recentemente sua Grã Mestra era uma mulher, o que constitui um exemplo para a Maçonaria. Não existe essa história de que mulher não sabe guardar segredo, pois a mulher sabe guardar mais segredo do que o homem. Existe o grau 18, do rito escocês antigo, que se chama grau dos Cavaleiros Rosacruzes. Mas Rosacruzes, por que? Não porque tem vinculação com a Ordem Rosa Cruz, Rosacruzes porque tem vinculação com as Cruzadas e este grau tem como seu patrono nosso Mestre maior, que foi Jesus Cristo. Daí também nossa crítica aos evangélicos e católicos que não conhecem que temos graus dedicados a Jesus Cristo. Jesus Cristo se referiu à Maçonaria em duas ocasiões especiais. O grau 18 é dedicado a Jesus Cristo; também a ele é dedicado, como filósofo, um grau superior, que é o grau 32, onde o colocamos juntamente com seu pensamento filosófico Sidarta Gautama, com Hermes Termogisto, com Zeus, que foi o deus central dos gregos,  com Brama e outros pensadores. São esses grandes filósofos e pensadores da humanidade que fazem com que a gente reverencie porque colocaram, muito antes da Maçonaria, o pensamento que nós temos hoje, que é o pensamento voltado para a Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

 

2º participante:

 

Manoel Silveira:

 

Em primeiro lugar, meus cumprimentos para a mesa que dirige os trabalhos, ao expositor, ao debatedor, ao presidente da mesa. Como leigo, totalmente leigo no que diz respeito à Maçonaria, o que me chamou a atenção no momento foram as palavras do Dr. Joacil Pereira, quando ele se referia a uma documentação enorme para o ingresso na Maçonaria. Então, a minha pergunta é sobre os critérios para o ingresso dos leigos na Maçonaria.

 

Edgard Bartoline:

 

Os princípios básicos: Ser um homem de bem e crer num ser superior. Mas, somos humanos, somos falhos, e por mais pesquisas que façamos estamos sujeitos a passar por algumas decepções. São coisas com que a gente se ressente. Tenho tido gratas experiências, mas também tive experiências muito tristes. Pois não temos condições de fazer um levantamento sobre a vida pregressa de uma pessoa em todas as circunstâncias. Muitas vezes se vê que é um bom pai de família, bom filho, cumpridor dos seus deveres e ingressa na Ordem, mas depois tomamos conhecimento que ele tem um caso com uma segunda família que ninguém sabia. Isso pode acontecer.

 

· · ·

 

A fala do Presidente:

 

Sentimo-nos satisfeitos com os debates sobre nosso tema de hoje. Tivemos uma exposição excelente feita pelo nosso companheiro Hélio Zenaide, que foi complementado pela valiosa contribuição do debatedor Edgard Bertoline Filho.

E para abrilhantar o debate houve alguns impertinentes, que cobraram dos expositores esclarecimentos seguros.

Joacil Pereira indagou logo porque não há mulher na Maçonaria. Apenas perguntou, não reclamou.

Na realidade, como explicou o Grão Mestre Bartoline, essas instituições têm um esquema hierárquico, superior. Se a cúpula não concorda com as mudanças, as Lojas que são dependentes não podem inovar. Eu tenho essa experiência no Rotary International, do qual sou participante desde 1948. O Rotary International foi fundado em 1905 admitindo somente homens. O Rotary abriga líderes das mais diversas atividades, mas a mulher não entrava.

 

Aparte dum participante:

 

No Lions só depois de 1887.

 

O Presidente, continuando sua fala:

 

Foi a mesma situação do Rotary International, que são instituições similares. Foram precisos mais de 80 anos para se admitir o ingresso da mulher. E hoje nós já temos governadoras de Distrito, Diretoras e algumas exercendo importantes funções nas Comissões Internacionais. As mudanças, nas instituições desse tipo, são muito vagarosas.

É, portanto, uma questão de tempo. A Ordem Maçônica é rígida, mas cedo ou tarde essa mudança se efetuará.

Nosso expositor, companheiro Hélio Zenaide, distribuirá com os presentes uma cópia sintética de sua exposição.


 

Se você acha a educação cara,

experimente a ignorância.

 

Derek Bok, Presidente da Universidade de Harvard (1971-1991)