terça-feira, 3 de setembro de 2013

CADA ROSTO


 
CADA ROSTO


 

Cada rosto é um mistério a ser desvendado.

Ao recordar os dias de sua infância, suspirando, ela ponderou: “Esta vida é um dia, um instante, um sopro.”

 

Ontem, brincávamos; amanhã, onde estaremos?

 

O tempo se encarrega de levar embora o que o destino nos emprestou: a força, a agilidade, a saúde.

 

Com sorte, nos permite manter algo da poesia que na alma levamos.

 

E acerca da poesia, o que sabemos?

 

Uma das maneiras de se compreender o poético é defini-lo como uma quebra da experiência habitual, automatizada, da realidade.

 

Há beleza em tudo. Mas nem todos são capazes de ver.

 

O suave sol da manhã, e todas as possibilidades que cada novo amanhecer descortina.

 

O novo dia que nos convoca a sempre seguirmos adiante, rumo ao melhor de nós mesmos. Acordar antes do Sol, ouvir o silêncio do dia nascendo.

 

E naquela manhã, ao dirigir um olhar amoroso em direção à sua tataraneta, como somente as tataravós sabem cultivar, ela refletiu: “Este mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de um dia ter que partir...” “Por mais que me digam das delícias do céu, se tivesse escolha, aqui ficaria. Contento-me com as delícias da terra...”

 

“Velar o sono da minha tataraneta tão querida, cantar-lhe aos ouvidos canções de ninar. Quão breve, quão bela a vida.”

 

O insondável mistério da fugacidade, da brevidade, da finitude da existência terrena. Breves décadas que num sopro se desmancham, desaparecem. Por sorte, dizem que algo do olhar das gerações que passam no olhar das gerações que sucedem, permanece.

 

Um amor assim tão pungente não há de ser inutilmente. “Recria tua vida sempre, sempre! Remove pedras e planta roseiras. E faz doces.”

Cora Coralina

 

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