sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Os tormentos voluntários

Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, malgrado às vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! O homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar.

Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados”, visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as compensações merecidas.

Que de tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é. Esse é sempre rico, porquanto, se olha para baixo de si e não para cima, vê sempre criaturas que têm menos do que ele. É calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas. E não será uma felicidade a calma, em meio das tempestades da vida? –

Fénelon

quinta-feira, 29 de setembro de 2016


Os Oito Princípios Fundamentais da Regularidade
Maçónica
(Definidos Pela Grande Loja Unida de Inglaterra)
 
A 4 de Setembro de 1929, a Grande Loja Unida de Inglaterra definiu as oito "condições" nos termos das quais podia reconhecer a regularidade de uma Grande Loja estrangeira, no que foi seguida por inúmeras Grandes Lojas, estabelecendo assim um padrão universal para a atribuição da qualidade de Regularidade Maçónica.
 
1. A regularidade de origem, isto é, que cada Grande Loja tenha sido criada regularmente por uma Grande Loja devidamente reconhecida, ou por três Lojas ou mais regularmente constituídas.
 
2. A crença no Grande Arquitecto do Universo e na sua vontade revelada como condição essencial para a admissão de membros.
 
3. Que todos os Juramentos sejam prestados sobre o Livro da Lei Sagrada, como forma de ligar irrevogavelmente a consciência do iniciado à transcendência da Revelação Divina.
 
4. Que a composição da Grande Loja e das Lojas particulares seja exclusivamente de homens, e que cada Grande Loja não tenha qualquer ligação maçónica, de qualquer natureza, com Lojas mistas ou com organizações que, reclamando–se da Maçonaria, admitam mulheres como membros.
 
5. Que a Grande Loja exerça uma jurisdição soberana sobre as Lojas submetidas ao seu controlo, quer dizer, que seja um organismo responsável, independente e inteiramente autónomo, possuindo uma autoridade única e incontestada sobre o trabalho e os Graus simbólicos – Aprendiz, Companheiro e Mestre – colocados sob a sua administração. Que não seja de alguma maneira subordinada a um Supremo Conselho ou a outra potência que reivindique um controlo ou vigilância sobre esses Graus, nem partilhe a sua autoridade com outras quaisquer
potências.
 
6. Que as Três Grandes Luzes da Maçonaria – o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso – estejam sempre expostos durante o trabalho da Grande Loja ou das Lojas sob o seu controlo, sendo que a principal dessas Luzes é o Livro da Lei Sagrada.
 
7. Que a discussão de natureza política ou religiosa seja interdita em Loja.
 
8. Que os princípios dos Antigos Landmarks, Costumes e Usos de Ofício, sejam estritamente observados.
GLLP / GLRP RLMestre Afonso Domingues

quarta-feira, 28 de setembro de 2016


TRÊS OBJETIVOS ESSENCIAIS DA MAÇONARIA

 

A Maçonaria tem três objetivos essenciais: a instrução moral, física e intelectual; a moral abrange a espiritualidade; a física o conhecimento e a intelectual a mística. Os ensinamentos maçônicos buscam sempre nos lembrar os três deveres fundamentais do ser humano, ou sejam, os deveres para conosco, com a humanidade e para com Deus. Para com Deus reconhecendo sua presença em tudo e sua fabulosa obra, o universo.

Para com a humanidade, consistindo em nossas famílias, a pátria e o universo, tendo como tarefa levar o conhecimento, a solidariedade, enfim, os nossos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Para conosco consistindo em nosso aperfeiçoamento, o desbastar da pedra bruta, a busca do equilíbrio entre a mente e o corpo. Sendo esta a tarefa mais difícil de todas, a de olhar para dentro de nós mesmos, reconhecendo nossos defeitos, nossas limitações e ainda em certos momentos encontrar em nós sentimentos e atitudes as quais combatemos por princípio. Termos em certos momentos a consciência de nossa ignorância.



Todas as vezes que nos vemos irritados, insatisfeitos, atribuindo nosso insucesso a causas externas, como: pessoas, trabalho, dificuldade financeira, devemos neste momento olhar para dentro de nós mesmos, pois o bem estar, a felicidade, o equilíbrio como queira se chamar está dentro de nós, pois o mundo não muda, mas a nossa visão do mundo sim, esta pode ser modificada e só depende de nós. Busque através de Deus, do conhecimento, do auto controle, de qualquer forma, mas busque sempre.

Todos nós passamos por momentos muito bons e também revezes e em vários destes estavam vocês, meus queridos irmãos, nos bons e nos difíceis.



É comum após alguns anos de maçonaria, alguns se interrogarem, o que estou fazendo aqui? Será que estou sendo útil ou será que a Maçonaria me é útil? Frequentemente encontro irmãos adormecidos, por este ou aquele por aquele motivo, muitos dizem “a maçonaria não é mais a mesma”, “ maçonaria virou copo d’água”. Muitos acham que a maçonaria deve mudar o mundo, a política, a sociedade toda, mas sequer consegue mudar a si mesmo, nem sequer reconhecer seus defeitos.

Hoje vivemos em imensos conglomerados urbanos, com família desfeitas, drogas, falta de Deus, com pessoas com problemas psíquicos graves, não mais em pequenas cidades, onde a influência dos justos e de boa formação era a regra, por isto temos tanta dificuldade em influenciar em massa, mas podemos e devemos continuar o trabalho pequeno em extensão, mas de enorme valor.



Não fossem as leis, mesmo com graves distorções viveríamos em condições piores do que animais, pois o ser humano é destrutivo em sua essência, e isto fica evidente quando suas necessidades não são satisfeitas.


Meus queridos irmãos, a maçonaria não é um reduto de homens perfeitos, mas sim um seleto grupo que busca a superação humana, a sabedoria e o conhecimento que não vem do dia para a noite e sim de forma gradual, se nós o permitirmos e trabalharmos. Cada reunião em Loja é rica do inicio ao fim, basta enxergar, algumas melhores que outras, mas sempre muito produtivas.



A presença de cada irmão traz Luz a Loja, esta Luz é conhecimento, é riqueza é espiritualidade, cada um com seu espírito formando uma egrégora positiva e construtiva.

Por tudo isto e resumidamente venho a esta Loja para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. Para glorificar a verdade e a justiça, certo que de tudo isto ainda que dentro de mim.



Que Deus permita que eu nunca desista.




Wellington Oliveira - M.'.M.'.


A.'.R.'.L.'.S.'. Igualdade, São Paulo - Brasil

terça-feira, 27 de setembro de 2016



 

Charles Evaldo Boller

 

Sinopse: Repudiar a vingança e estabelecer o amor fraterno com educação como solução para os problemas da concorrência por recursos enfrentada pela humanidade.

 

A sociedade não deve punir para vingar, sua obrigação é a de ensinar o homem a melhorar cada vez mais. "Educai as crianças e não será necessário castigar os homens" (Pitágoras de Samos). O que se deduz da vida em sociedade real de hoje é que ela não ama seus componentes, embrutecida e insensibilizada pela ganância e o poder tornou-se subserviente a economia e espreme a todos até sobrar apenas bagaço.

 

É evidente que o homem é naturalmente bruto, fera sanguinária cuja única força limitadora atenuante de sua natural violência provém da lei e da intimidação que ela exerce. Lei escraviza. Lei é artifício para selar uma espécie de acordo entre os cidadãos de uma determinada sociedade. Concebida com o propósito dos cidadãos de determinadas sociedades não sucumbirem devido aos exageros dos mais fortes e bem dotados. Surgiu da necessidade de estabelecer regras de convivência que determinam, a priori, o que não é aceito em nome da convivência pacífica por uma sociedade específica, bem como as penalidades impostas àqueles que as desrespeitam. Cada sociedade estabelece suas próprias leis. O que é aceito em uma pode ser condenada em outra; não existe uniformidade universal; tentam, mas não conseguem devido à diversificação moral que é característica de cada grupo social. As leis vão crescendo em graus de complexidade até que se tornam uma carga muito pesada para ser suportada pelo cidadão comum, a exemplo do que aconteceu com a antiga lei mosaica que, na visão ocidental, o Cristo veio cumprir e que com sua morte foi totalmente eliminada, remanescendo apenas a lei do amor fraterno. As leis transformaram-se numa espécie de escravidão a que todo homem, que se diz civilizado, é submetido compulsoriamente.

 

As decisões que cada um tomava de sua própria iniciativa no Direito Natural passou a ser arriscado no jogo de azar da interpretação de um terceiro, um juiz, nem sempre competente e com frequência suscetível às influências dos donos do poder ou das amizades. Um avilte ao direito natural intuitivo. Com isto a sociedade tomou para si o direito de vingar do indivíduo e criou o que se denomina justiça - com letra minúscula. Em todos os tempos, em todas as sociedades, a Justiça foi usada pelos poderosos para oprimir os mais fracos e sem recursos. Mesmo que sua definição seja a busca do equilíbrio entre as partes, independente de condição social dar a cada indivíduo o que lhe pertence, em tempo algum ela ocupou esta posição, salvo nas ideologias e utopias teóricas, ou na concepção de uns poucos otimistas.

 

Existem os que ainda acreditam que a Justiça da sociedade está a seu dispor, isto é falácia! Na realidade a Justiça dos homens está a favor do dinheiro, do poder, da influência e da amizade. O engodo atravessa eras, em todas as sociedades a Justiça não só é usada por vingança, mas também para usurpar a liberdade do homem de ir e vir, tomando para si um direito de judiar e matar, usurpando o direito natural do individuo. "Platão disse: meu caro amigo Antíoco, pode-se perdoar de bom grado a confissão de qualquer homem amar-se excessivamente, mas, dentre os vários vícios que nascem desse amor próprio, um dos mais perigosos é aquele que impede um julgamento equilibrado e imparcial de si mesmo; pois a amizade deixa-nos facilmente cegos a respeito do que amamos, a menos que uma educação sábia tenha-nos acostumado a preferir o que é belo e honesto em si mesmo ao que nos interessa pessoalmente" (Plutarco o Biógrafo Grego).

 

Pena de Prisão

 

Uma das grandes judiações é a pena de prisão. É hipócrita, sórdida, desumana porque exclui o condenado da sociedade por muitos anos e até o resto da vida do infeliz. Por vingança a Justiça prende os que pecam contra a sociedade em lugares horrendos, afastando-os da sociedade. Hipocritamente a isto denominam ressocialização, tentativa de recuperar o homem para a sociedade. Entretanto, além de tomar um dos bens inalienáveis do homem, sua liberdade, esta ação cria uma sociedade de reclusos que, apartados da sociedade, concentram o mal em pequenos espaços; onde aumenta a concorrência, a disputa para definir qual é o mais malvado e cruel. As mazelas surgem exatamente porque a sociedade, desde tempos imemoriais se amontoa, e devido a isso disputa, guerreia e luta pelo espaço físico. Colocam-se homens uns ao lado de outros em prisões, propiciando condições muito piores para restaurar um desvio de conduta em sua maioria diminuto e que pela convivência piora; prolifera o contágio do mal. Muitos condenados são resultados da falta de educação, de cultura, de oportunidades, ou da melhor distribuição dos recursos. Ao amontoar o lixo social humano só se propicia a fermentação dos piores desvios de conduta. "O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele" (Immanuel Kant).

 

Prostituição Histórica da Justiça

 

Quantas mentes brilhantes foram caladas pelo despotismo de governantes e quantos santos foram queimados por praticarem o bem em desacordo com a vontade do grupamento humano em que viviam. Os assassinatos foram cometidos ao longo do tempo com todos os poderes de comum acordo: Religião, Legislativo, Executivo e Justiça. Uma prostituição continua ao longo das eras que em nome de um deus, do rei ou da pátria matou milhões de inocentes. A promiscuidade é perceptível ao se permitir a formação de grupos de meliantes que desafiam qualquer governo, que debocham daquelas instituições que alienaram o direito natural do homem e o transformaram em instrumento de vingança.

 

Diante desta horrenda realidade a Maçonaria em sua filosofia busca conscientizar seus adeptos da necessidade de não tomar a Justiça em suas próprias mãos, o que tornaria a vida insustentável em meio aos extremos de concorrência por mais recursos. A própria natureza já começa a mostrar os efeitos da característica extrativista do homem que nada colabora com a sustentabilidade e a exaure ao limite. Para conter o desastre, algumas lojas da Maçonaria Universal promovem debates e estudos do que pode ser realizado para minorar o sofrimento humano, mas é insuficiente. Deve-se primar por ação e não por reação. Já é tardia a reação à violência que assalta diariamente o cidadão correto e honesto. As prisões estão tão cheias que tem ladrão saindo pelo ladrão!

 

Ficam os questionamentos: deve-se deixar o povo morrer de fome; um bilhão de seres humanos de hoje padecem fome crônica todos os dias? Estaria a solução em mais uma guerra global, como era realizado na antiguidade? Que fazer no Brasil do carnaval e futebol onde a miséria enfeita vergonhosamente os barrancos das metrópoles? Aumentar a altura do muro, grades e alarmes monitorados evitam a violência? Pena de prisão resolve?

 

Penas de prisão em nada contribuem, antes aumentam o inchaço do problema onde a Justiça não tem força e com isto tornou-se impotente, demorada, inexistente. Na eventualidade de surgimento de sistema ditatorial, a força sem a Justiça se reduz a tirania. Sobra para sociedade investir em educação. Não confundir educação com aquisição de conhecimento. Assim como dito já nos tempos de Pitágoras, a educação preconizada pela Maçonaria atua junto aos seus adeptos. Em seus templos são cultuados virtudes e valores que permitem ao homem edificar-se com ferramentas simbólicas que incentivam arrancar as nódoas do homem para com isto glorificar a criação efetuada pelo Grande Arquiteto do Universo.

 

Bibliografia:

 1. GAVAZZONI, Aluisio, História do Direito, Freitas Bastos Editora, 2005;

 2. OLIVEIRA FILHO, Denizart Silveira de, Comentários aos Graus Filosóficos do Rito Escocês Antigo e Aceito, 1997;

 3. REALE, Giovani e ANTISERI, Dario, História da Filosofia, Editora Paulus, 1990;

 4. ROUSSEAU, Jean-Jacques, A Origem da Desigualdade entre os Homens, Editora Escala, 2006;

 5. SACADURA ROCHA, José Manuel de, Fundamentos de Filosofia do Direito, Editora Atlas, 2006.

 

Biografia:

 1. Kant, conferencista, filósofo, maçom, professor e teólogo de nacionalidade alemã. Immanuel Kant nasceu em 22 de abril de 1724 em Königsberg. Faleceu em 12 de fevereiro de 1804 em Königsberg, com 79 anos de idade. O último grande filósofo dos princípios da era moderna, um dos pensadores mais influentes;

 2. Pitágoras, filósofo e matemático de nacionalidade grega. Pitágoras de Samos nasceu em 26 de novembro de 582 a. C. Em Ásia Menor. Faleceu em 500 a. C. Fundador da Escola de Crotona, responsável pela criação dos números irracionais e do Teorema de Pitágoras;

 3. Plutarco, biógrafo e ensaísta de nacionalidade grega. Plutarco o Biógrafo Grego nasceu em 46 em Queronéia, Beócia. Faleceu em 125, com 78 anos de idade. Tornou-se famoso pela sua obra Vidas paralelas dos gregos e romanos ilustres.

 

Data do texto: 02/03/2011.

 Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller, autor, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.

 Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná.

 Rito: Rito Escocês Antigo e Aceito

 Local: Curitiba.

 Grau do Texto: Aprendiz Maçom.

 Área de Estudo: Consciência, Educação, Filosofia, Justiça, Maçonaria.

 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016


LIÇÃO EM VIAGEM
 
 
 
Um amigo sempre interessado de que maneira adquiriria humildade, guiava um automóvel em longa viagem à noite.
De certo modo, sentia-se cansado ao notar que os motoristas, em sentido contrario, não baixavam os faróis, dificultando-lhe a marcha.
De súbito, adotou uma atitude que ainda não lhe ocorrera.
Observando a aproximação de algum carro, de imediato, baixava o farol do auto, sob a sua direção.
Desde esse instante, viu que todos os motoristas igualmente lhe respondiam com atenção diminuindo a luz que comandavam.
Ele compreendeu, enfim, que o mesmo se verificava nos caminhos da vida.
Quem atenua a luz que lhe é própria, encontra sempre a luz de companheiros atentos que lhe facilitam a jornada no cotidiano.
 
Emmanuel

domingo, 25 de setembro de 2016


Perdoa, sim!?

 
15. Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio; perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era. Perdoai, pois, meus amigos, a fim de que Deus vos perdoe, porquanto, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se usardes de rigor até por uma ofensa leve, como querereis que Deus esqueça de que cada dia maior necessidade tendes de indulgência? Oh! ai daquele que diz: “Nunca perdoarei”, pois pronuncia a sua própria condenação. Quem sabe, aliás, se, descendo ao fundo de vós mesmos, não reconhecereis que fostes o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por uma alfinetada e acaba por uma ruptura, não fostes quem atirou o primeiro golpe, se vos não escapou alguma palavra injuriosa, se não procedestes com toda a moderação necessária? Sem dúvida, o vosso adversário andou mal em se mostrar excessivamente suscetível; razão de mais para serdes indulgentes e para não vos tornardes merecedores da invectiva que lhe lançastes. Admitamos que, em dada circunstância, fostes realmente ofendido: quem dirá que não envenenastes as coisas por meio de represálias e que não fizestes degenerasse em querela grave o que houvera podido cair facilmente no olvido? Se de vós dependia impedir as consequências do fato e não as impedistes, sois culpados. Admitamos, finalmente, que de nenhuma censura vos reconheceis merecedores: mostrai-vos clementes e com isso só fareis que o vosso mérito cresça.
Há, porém, duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem, com referência ao seu adversário: “Eu lhe perdoo”, mas, interiormente, alegram-se com o mal que lhe advém, comentando que ele tem o que merece. Quantos não dizem: “Perdoo” e acrescentam: “mas não me reconciliarei nunca; não quero tornar a vê-lo em toda a minha vida.” Será esse o perdão, segundo o Evangelho? Não; o perdão verdadeiro, o perdão cristão é aquele que lança um véu sobre o passado; esse o único que vos será levado em conta, visto que Deus não se satisfaz com as aparências. Ele sonda o recesso do coração e os mais secretos pensamentos. Ninguém se lhe impõe por meio de vãs palavras e de simulacros. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é peculiar às grandes almas; o rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade.
Não olvideis que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras. – Paulo, apóstolo. (Lyon,1861.)
 
 

Perdoa, sim!?

 
O desconhecido passou, de carro, enlameando-te a veste, como se toda a rua lhe pertencesse... Compadece-te dele. Corre, desabalado, à procura de alguém que lhe socorra o filhinho nos esgares da morte.
Linda mulher, que pérolas e brilhantes enfeitam, segue a teu lado, parecendo fingir que te não percebe a presença... Compadece-te! Ela tem os olhos embaciados de pranto e não chegou a ver-te.
Jovem, admiravelmente bem-posto, cruzou contigo, endereçando-te palavra de sarcasmo e de injúria... Compadece-te! Ele tem os passos no caminho do hospício e ainda não sabe.
O amigo que mais amas negou-te um favor... Compadece-te dele! Não lhe vês a dificuldade encravada no coração.
Companheiros do mundo!... Estarão contigo, notadamente no lar, onde guardam os nomes de pai e mãe, esposo e esposa, filhos e irmãos... Muita vez, levantam-se de manhã, chorosos e doloridos, aguardando um sorriso de entendimento, ou chegam do trabalho, fatigados e tristes, esmolando compreensão.
Todos trazem consigo aflições e problemas que desconheces.
Ergue a própria alma e auxilia sempre!... Indulgência para todos! Bondade para com todos!...
E, se algum deles te fere diretamente a carne ou a alma, não levantes o braço ou a voz para revidar.
Busca no silêncio a inspiração do Senhor, e o Mestre, como se estivesse descendo da cruz em que pediu perdão para os próprios verdugos, te dirá compassivo:
– Perdoa, sim! Perdoa sempre, porque, em verdade, aqueles que não perdoam também não sabem o que fazem...
 
Meimei, extraído do livro “O Espírito da Verdade”

sábado, 24 de setembro de 2016


CASTELO INTERIOR OU AS MORADAS

 

Teresa Ahumada Sanches y Cepedaou santa Teresa de Ávila

 

“Deus é como um Sol no centro de um diamante, e a alma uma pedra que precisa ser transpassada por Sua Luz. Assim, é através da oração silenciosa que a pedra se transforma em um diáfano cristal de diamante.”

 

Este texto nasceu de um estudo que fiz do livro “Castillo Interior o las Moradas” escrito por Teresa em 1577, para apresentar a saga dessa grande mística cristã aos meus alunos de meditação, pois sendo a meditação uma técnica para acessarmos os estados superiores de consciência, na busca de nossa essência espiritual, nada melhor que Ela para nos contar como fez e o que vivenciou nesses espaços conscienciais.

 

Nascida Teresa Ahumada Sanches y Cepeda aos 28 de Março de 1515 - em Gotarrendura na província de Ávila na Espanha -, ela faleceu em 4 de Outubro de 1585, após uma vida dedicada a busca de Deus. Sua saga é cheia de tropeços e dificuldades, alguns impostos pela sua cultura espiritual e outros pela inquisição espanhola (1478-1834), que não tolerava o viés místico na busca do sagrado. Entretanto, Teresa era uma mulher notável e incomum, uma religiosa acima do bem e do mal, que jamais alguém ousou tocar, ainda que a censura imposta a alguns de seus textos tenha levado-os à fogueira, obrigando-a mais tarde a reescrevê-los “de memória”.

 

 Meu texto é um resumo da descrição que ela fez das sete moradas, que no original contém vinte e sete capítulos. Quando julguei conveniente fazer um comentário, principalmente para explicar o assunto à luz do Vedânta e da pequena experiência que tive viajando por algumas dessas moradas, coloquei o comentário em itálico e entre colchetes, para diferenciação do leitor. Finalmente devo acrescentar que tenho muito a agradecer a Teresa, do fundo de meu coração, por tudo que ela me ensinou e pelo carinho com que me guiou por entre os meus entendimentos de suas inefáveis experiências.

Osvaldo Marmo, Março de 2005

https://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.pnghttps://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.pnghttps://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.pnghttps://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.png

 

Osvaldo Luiz Marmo

 

 

Primeira Aula

 

Escreve Teresa: Consideremos nossa alma como um castelo feito de um só diamante ou de um limpidíssimo cristal. Nesse castelo existem muitos aposentos, assim como no céu há muitas moradas. Este castelo tão resplandecente e formoso é uma pérola oriental, a árvore da vida que foi plantada nas águas vitais da própria vida, Deus.”

 

O castelo é uma metáfora para a alma, e neste momento do relato ela mostra a dificuldade que teve em compreender o que é alma e o que é espírito, bem como se existe alguma diferença entre os dois. Posteriormente ela mostra que seu entendimento se ampliou, e então ela percebe que o viajante é a consciência a que ela denomina espírito e a alma é outra coisa que ela denomina “o castelo.” 

 

Então, ela continua seu relato: Mas, por melhor que seja nossa inteligência não podemos compreender este castelo, assim como não compreendemos a Deus, que nos fez a sua imagem e semelhança. Entretanto, eu percebo que entre o castelo e Deus, existe a diferença que vai da criatura ao criador, mas basta sua Majestade afirmar que o fez à sua imagem para termos uma longínqua idéia da grande dignidade e beleza da alma ou seja o castelo. Infelizmente é uma lástima e uma grande confusão não nos entendermos a nós mesmos, e não sabermos quem somos, talvez porque concentramos por demais a nossa atenção sobre o nosso corpo e as coisas exteriores. Nós sabemos que a alma existe, por ouvir dizer, mas desconhecemos as riquezas que nela existem e seu grande valor, bem como Quem nela habita. A alma é o nosso maravilhoso castelo, e então vejamos como se há de fazer para penetrar em seu interior, embora a mim pareça um disparate falar assim, porque se a alma é o castelo, claro está que não se entra nele, sendo ambos uma só coisa. Com efeito, a primeira vista pode parecer um desatino dizer a alguém que entre onde já se encontra. Mas ficai sabendo que há uma grande diferença entre os modos de se estar num mesmo lugar.

Como mencionei anteriormente, neste momento de seu relato ela ainda não sabe quem entra em quem, ou no que. Mais tarde ao atingir a sétima morada ela sabe que ela é o espírito  – que eu prefiro denominar pelo termo consciência, viajando pelo castelo ou alma, que para mim são os estados não ordinários de consciência. Continuando seu relato, ela diz: Entretanto, muitas almas andam em torno desse castelo, onde as sentinelas montam guarda, e aparentemente elas não têm interesse em entrar nele, por estarem demasiadamente presos aos objetos dos sentidos do mundo exterior.

 

Mas os livros de oração aconselham a alma a entrar em si mesma! Esse também é meu pensamento, pois as almas sem oração são como corpos entrevados ou paralíticos, e incapazes de se moverem. Há almas tão enfermas e tão mergulhadas nas coisas externas, que dão a impressão de não haver remédio nem possibilidade de fazê-las entrar em si mesmas. Mas eu vos digo que a porta para entrar nesse castelo é a oração e a meditação, embora eu não chame de oração o mexer dos lábios, sem pensar no que dizemos, nem no que pedimos nem quem somos nós, nem quem é Aquele ao qual nos dirigimos. Assim, o costume de falar à majestade de Deus como se fala a um estranho, dizendo o que foi decorado, a isto não chamo de oração. Não permita Deus que cristão algum reze desse modo.

 

Neste parágrafo ela nos ensina seu método de oração, dizendo que orar não é repetir palavras memorizadas, mas falar com o coração, a emoção, namorar Deus sem linguagem verbal. Dirijo-me às almas que querem entrar no castelo, embora saiba que muitas estão metidas ou ligadas ao mundo, e embora tenham bons desejos e encomendam-se uma vez por outra ao nosso Senhor, em geral elas refletem pouco sobre si mesmas, nunca muito detidamente e, no espaço de um mês, dia ou outro rezam distraídas com mil negócios a lhes encherem o pensamento. Assim, estando elas apegadas aos pensamentos, o coração se lhes vai para onde eles fluem, perdendo o verdadeiro tesouro que é caminhar em direção a Deus. De tempo em tempo essas pessoas procuram libertarem-se, o que já é grande coisa, quando o próprio reconhecimento de que não caminham bem os faz procurarem se acercar da porta do Castelo. Por vezes elas acabam entrando nas primeiras salas de baixo, mas juntamente com elas entram tantas sevandijas, que estas não lhes deixam ver a beleza do castelo, nem lhes dão sossego. Entretanto, já foi muito bom elas terem entrado, mesmo que por pouco tempo.

 

Aqui ela relata que o Eu, como consciência pura, vivencia muitos espaços conscienciais ao penetrar no interior de si. As sevandijas a que ela se refere são todo tipo de distração e perturbação do estado meditativo, que deve ser controlado pelo esvaziamento da mente e seus agregados.

 

Contudo filhas tenham paciência, pois quando não se tem a experiência, isto tudo é um assunto difícil de entender, e eu agradeço a Deus por me ajudar em dar-vos alguma ideia do que quero vos explicar.

 

Osvaldo Marmo, Março de 2005

https://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.pnghttps://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.pnghttps://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.pnghttps://html2-f.scribdassets.com/88w0kczn7k9htje/images/1-1de82a7a8d.png

 

Osvaldo Luiz Marmo