Rizzardo da Camino |
Preliminares do Segundo Grau
A Transição
O aprendiz esforça-se para alcançar o companheirismo e lá chegado, o seu objetivo, obviamente, será o mestrado.
Inicialmente, quando ainda não havia uma Maçonaria organizada, e as escalas diziam respeito, exclusivamente, ao preparo do artesão, o estágio no aprendizado era de três anos e o do companheirismo, de cinco anos.
Esse acréscimo de dois anos justificava-se, porque para atingir o mestrado, o artesão necessitava conhecer com perfeição o manuseio dos instrumentos que lhe foram entregues.
O interessante é que entre o mestrado e uma próxima etapa, deveria haver um período estabelecido; qual seria essa próxima etapa: a de arquiteto ou a de artífice?
Na História Sagrada, não vem esclarecida essa parte, quanto à construção do Grande Templo de Salomão.
Hiram Abif, o artífice de Tiro, enviado pelo Rei Hiram do Líbano, desempenhou um papel muito amplo, o de acabamento das partes interiores do Templo em suma, o seu “embelezamento”.
Esse personagem misterioso, filho de Ur, que era um fundidor de metais, entendida de “todas as artes” e a ele fora confiada a construção de todos os utensílios, como candelabros, Mar de Bronze, bacias, enfim, tudo o que era de ferro, bronze, ouro e prata; dos metais pesados e precisos, às ricas cortinas de seda, trabalho mais delicado de bordador.
Portanto, os “seguidores” desse Artífice passaram a dedicarem-se à parte “interior” do Templo Humano.
Para que o Grande Templo fosse concluído e consagrado numa festa inimitada até hoje, pela sua grandiosidade, houve um período de transição.
A “arte de construir” correspondia à parte de alvenaria; os maçons da Idade Média dedicaram-se a construir o que era de “pedra e cal”, deixando a parte interna de ornamentação para mãos mais delicadas.
Por que a História Sagrada não revela o fim do trabalho de Hiram Abif? Por que não destaca a sua obra?
Cremos que esse trabalho silencioso, minucioso significa mais a parte espiritual que a material.
O trabalho quase anônimo de Hiram Abif pode ser comparado ao trabalho dos companheiros.
O companheiro não pode andar só; caso contrário, não haveria razão para o seu nome.
Ele acompanha ou é acompanhado? Sua atuação dentro da Loja é de passividade ou de atividade?
Sabemos que os aprendizes “obedecem”, “escutam” e “aprendem”; ao passo que os companheiros, “executam tudo aquilo que foi obedecido, que escutaram e que aprenderam”.
Cabe ao companheiro “buscar” a companhia, assimilando-se aos aprendizes e chegando muito perto dos mestres.
Não podem distanciar-se dos aprendizes, porque eles já foram aprendizes; não podem infiltrar-se no mestrado porque eles ainda não chegaram lá.
Encontram-se numa posição de “transição”, que significa transpor alguma coisa.
O “poder” dos companheiros revela-se na formação da Cadeia de União; essa parte mística, sempre presente, recolhe no círculo que é compilado, todos os membros de uma Loja, sejam aprendizes, companheiros e mestres; porém os “privilegiados” são os companheiros, que se entrosam entre os aprendizes e os mestres.
Dentro do Templo, os companheiros, sentados na Coluna do Sul, ficam “separados” dos demais presentes. Enquanto os aprendizes têm os mestres à sua frente e o Oriente à sua esquerda, os companheiros, têm, também, os mestres à sua frente, mas o Oriente à sua direita.
As suas funções dentro da Loja estão limitadas, tanto como sucede com os aprendizes.
No entanto, na Cadeia de União, dão-se as mãos em perfeita união; os companheiros deslocam-se de sua Coluna e vão postar-se na Câmara do Meio, à esquerda do Oriente; contudo, o primeiro companheiro dará a sua mão esquerda ao mestre que lhe está à direita; o último companheiro, dará a mão direita ao mestre que está à sua esquerda, eis que considerasse que essas mãos provêm dos seus braços cruzados.
E a oportunidade de “embelezar” o Templo Interno de cada “elo” da corrente, dando a sua indispensável participação.
Nesse momento, não haverá transição, mas sim postura adequada emitindo toda energia acumulada durante longos períodos.
Transpondo o que, antes, constituía empecilho, surge a libertação total para o “burilamento” das pedras que encontra no seu caminho, não apenas a sua própria e antiga pedra bruta, mas a do seu próximo.
E preciso que os companheiros se conscientizem de seu papel muito importante dentro do “grupo”.
A passagem do aprendiz para mestre ocupa um período de grandes cuidados, abnegação e a paciência própria dos “artistas” que se empenham em apresentar a sua obra, com a máxima perfeição.
Esse período de “transição” envolve a função do “artífice” executando o trabalho dentro de si próprio, selecionando materiais, procedendo à limpeza, ordenando, colocando cada coisa no seu devido lugar, dando destino certo a tudo.
Obviamente, quando pensamos em Iniciação, em morte mística para alcançar uma “Nova Vida”, estamos dentro de um terreno puramente, simbólico. Na realidade física, ninguém morre e ninguém se despe de sua individualidade.
No entanto, como formulava o Divino Mestre, através de suas Parábolas, a verdade é outra.
A nossa vida material é que é ilusória!
O que precisamos é adentrar à Vida Verdadeira!
Muitos já experimentaram “materializar” a Iniciação, obtendo resultados positivos; porém... são poucos.
Sem pretender incursionar no terreno religioso do cristianismo, resguardando ao máximo a filosofia maçônica, de total separação religiosa nos conceitos da Sublime Ordem, Jesus — além de expor a sua Doutrina — a experimentou e realizou a “façanha” de morrer, para ressuscitar.
O companheiro não deve viver “apressado”; notamos a sua preocupação na apresentação de suas “lições”; trabalhos que demonstram o grau do seu aproveitamento e o tornam apto para a sua exaltação ao mestrado.
O companheiro lida com toda a arte e toda ciência; tem tudo nas mãos e é preciso que utilize essa oportunidade.
Depois que alcançar o mestrado, o que fará?
Curiosamente, o mestre é assim considerado, um dia após a sua exaltação, quando ainda está muito “verde” e inexperiente.
Todo o seu conhecimento para orientar os aprendizes e companheiros, é adquirido numa única cerimônia, a de sua exaltação; após, vem um curtíssimo período que recebe algumas lições e ei-lo apto a exercer o seu “poder”, daí em diante!
Realmente, o lapso de tempo despendido dentro do Segundo Grau, é um período de grande lucro e aproveitamento.
O próprio nome “companheiro”, significa “em companhia”, e essa companhia é distribuída entre os aprendizes e os mestres.
Na França, o “Companheirismo” transformou-se em uma instituição à parte, dada a sua importância no complexo ritualístico.
Os companheiros suportam o estigma do “assassinato” de Hiram Abif, pois, segundo a Lenda, Jubelas, Jubelos e Jubelum eram companheiros.
Com o objetivo de apressarem o seu ascenso ao mestrado, necessitavam conhecer a Palavra de Passe, única forma de poderem se apresentar como mestres.
A Lenda é por demais conhecida: um dos três companheiros aguardou dentro do Templo, após o término dos trabalhos, que Hiram Abif saísse por uma das três portas do Templo; ao encontrá-lo, interceptou-lhe o caminho e exigiu a revelação do segredo; como não o conseguisse, deu um golpe na cabeça de Hiram Abif com a Régua de Vinte e Quatro
Polegadas; porém o golpe apenas atordoou o Mestre, que fugiu em direção à segunda porta; lá o aguardava o segundo companheiro que procedeu de igual forma; sem nada conseguir, golpeou o Mestre, também, na cabeça, com um Esquadro; mas também esse golpe não foi
suficiente para abater o Mestre que reuniu forças para tentar fugir pela última porta; lá estava o terceiro companheiro; exigiu o segredo e, nada conseguindo, abateu o Mestre com violento golpe de um Maço.
Esses companheiros, que em certos rituais tomam outro nome, o de Sebal, Oterlut e Stokin; ou Abiram, Romvel e Gravelot; ou Giblom, Giblass e Giblos, ou ainda, Obbhen, Steké e Austerfluth, foram daquele momento em diante, considerados de “maus companheiros”.
Chamar a um companheiro maçom de Jubelas, Jubelos ou Jubelum, constitui a maior ofensa que se possa cometer.
O maçom que “cai”, assim procede porque mantém em si raízes que vêm dos Jubelos; desperta nele o desejo desonesto de “crescer”, para obter vantagens com a Maçonaria, mas explorando os seus próprios irmãos, sem ter os merecimentos para a sua evolução.
Esse estigma deve deixar alerta o companheiro; suas luvas e seu avental alvo, devem permanecer imaculados; sem sinais de sangue derramado no trucidamento do mestre Hiram Abif.
A Lenda de Hiram Abif deve ser muito bem “conhecida” pelos companheiros, porque é a eles que se exige a prova de sua inocência no assassinato do grande Artífice.
O simbolismo da Lenda é parte relevante na cerimônia de exaltação, quando o companheiro somente ingressará se provar ser limpo e puro; deve apresentar ambas as mãos com a palma voltada para cima para provar que estão imaculadas; da mesma forma o avental é inspecionado para que não possua nenhuma mácula.
A Lenda conduz à introspeção; o companheiro deve convencer-se de que não “tomou parte” no plano hediondo, que suprimiu alguém posicionado, hierarquicamente em posição elevada.
Deve provar a si mesmo que não teve qualquer responsabilidade no trágico evento.
A Lenda de Hiram Abif inicia, de modo superficial, no aprendizado; depois, amplia-se até complementar a escala, que se denomina de Ápice da Pirâmide.
O Rei Salomão estabeleceu a partir do assassínio de seu Artífice a organização administrativa de seu Reino.
O profundo simbolismo dessa Lenda serve de orientação permanente a todos os maçons e em especial aos companheiros.
Depois de passar pelo aprendizado, o maçom é considerado como uma “esperança”; enquanto aprendiz, nada há para preocupar a administração; porém, no companheirismo, surge a “desconfiança” sobre se esse aprendiz que venceu a “batalha”, resultou em companheiro
sincero, apto a penetrar nos segredos mais íntimos do mestrado.
Essa transição é delicada; o companheiro deve “provar” a sua “capacidade” global.
Para tanto, despende muito maior esforço que um aprendiz, e mais tarde, o mestre.
Em conseqüência, a posição do companheiro, como “fiel” de uma balança, ficando ao meio, ao meio-dia, ao equilíbrio da neutralidade, onde o sol não faz sombra sobre o que ilumina, é de expectativa, da qual participam todos os membros do Quadro.
Aquele maçom que julga ser o Segundo Grau mera posição intermediária, engana-se
— e muito!
Todo companheiro, ilustrado nas ponderações expendidas acima, deverá, para sua própria satisfação, antes de iniciar o seu “terceiro passo”, especular um pouco mais; incursionar um pouco mais; identificar-se um pouco mais com o conhecimento.
Oswaldo Wirth, esse insigne autor francês, assim resume o posicionamento dos maçons, no Simbolismo:
“En résumé, pour étre admis à l’Apprentissage, il suffit de montrer
des aptitudes; pour passer à Compagnon, il faut en plujs avoir fait
preuve d’application, de zêle et d’ardeur ao travail; le Maitre, enfin,
ne s’affirme que par le talent et par des capacités reconnues, par la
compréhension intégrale de l’Art”.
Rizzardo da Camino
Dados do Livro “O Companheirismo Maçônico”
O Ir.’.Rizzardo nasceu em 1918 na cidade gaúcha de Garibaldi. Formou-se em Jornalismo e Ciências Jurídicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se formou em 1945. Exerceu a advocacia e foi Juiz de Direito. Rizzardo Da Camino partiu para o Oriente Eterno no dia 14 de dezembro de 2007, com 89 anos de idade, dos quais quarenta e um foram dedicados à Maçonaria.
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