A Lenda do Tempo
Welington B. de Oliveira
"Um Conceito de Maçonaria"
Trolha - 1994
Um dia, um velho pedreiro, livre e de bons costumes, sentado em uma pedra bruta, pôs-se a pensar sobre sua vida e sobre seu trabalho de edificação numa bela cidade.
Como em um passe de mágica, o tempo começou a se mover, tudo a seu redor começou a girar, e o pedreiro se viu dentro de um grande vórtice, onde o tempo caminhava para trás. Logo, em seguida, percebeu que estava em sua consciência o poder que fazia mover o tempo. Foi quando, de repente, o tempo parou, tudo a seu redor eram trevas, havia silêncio, apenas uma voz inaudível falava em um diálogo mudo em sua consciência. A voz do silêncio era sua única companhia. Naquele momento o silêncio lhe falava de um caminho que devia seguir e, que nele faria muitas viagens.
Gira mais uma vez o tempo, agora começa a se movimentar para frente, um vórtice lento se forma, mas tudo era escuridão. De repente, uma voz poderosa rasga o silêncio em meio à escuridão, dizendo: "Faça-se a Luz", e um novo ritmo se estabeleceu. No meio de sons de batidas, a voz disse: "Sic transit gloria Mundi", e a luz rompeu as trevas de sua consciência.
Em meio a um cataclisma emocional, atordoado pelo barulho e ferido pela Luz, veio a surpresa.
Entre os raios de Luz que ofuscavam os seus olhos, reconhecia amigos e cada um lhe apontava uma aguçada espada. E a voz que habitava o Oriente bradou dizendo: "Não vos assusteis. Estas espadas a vós apontadas, significam que estão prontas a vos defender, mas também zelarão pela Lei, caso vos falteis para com ela".
Nesse momento, o tempo avança novamente e tudo a seu redor começa a girar, e ele viaja mais uma vez no tempo e, quando o tempo parou, lá estava ele se vendo como um Aprendiz nos mistérios da edificação. Tinha no peito um grande orgulho e, uma motivação que transparecia no seu semblante. Faceiro, orgulhoso e incansável de seu ofício, com braço firme, cheio de força, desferia o malho sobre o cinzel que apontava a pedra bruta.
Ao seu lado, incansável, estava o seu Mestre que lhe ensinava com satisfação todos os segredos do ofício, do empunhar do cinzel ao traçar da régua. Tudo tinha que ser justo e perfeito. O Mestre era rigoroso e tinha consciência da necessidade de agir como tal, porém era brando, paciente e muito tolerante. O Mestre ensinava seu oficio com habilidade e sabedoria, transmitindo confiança e motivação a seus Aprendizes. Ensinava que do conhecimento nasce a perfeição e, desta advém o equilíbrio. Ensinava, ainda, que a pedra teria que ser bem escolhida para poder ser bem trabalhada.
Suas dimensões bem definidas e suas arestas bem aparadas, pois, a beleza da construção do edifício dependia desse trabalho. Era preciso conhecer, muito bem cada detalhe, do empunhar do cinzel ao golpe do maço, pois um desvio do cinzel ou o uso errado da força, a pedra semi desbastada se tornaria bruta novamente. Na execução desse trabalho, ensinava que o corpo, a mente e a razão deveriam tornar-se uma só entidade. O Mestre ensinava, ainda, que a majestade e a resistência do edifício está na dependência das bases onde foi construído. Somente uma base sólida é capaz de subsistir à ação do tempo.
Assim, destacava que apenas um bom pedreiro constrói com perfeição e, que só um, Aprendiz chega a se tornar bom Mestre, porque só ensina aquele que, bem aprende, quer e tem competência.
Era uma grande escola, ali se ensinava verdadeiramente a Arte Real.
De repente, o tempo novamente começa a se mover, tudo começa a girar, até parar no futuro. O velho pedreiro agora vê além de seu tempo e, novamente, se encontra diante de sua escola. Nesse momento, é arrebatado por uma grande decepção. Tudo estava muito diferente e decadente. O tempo corroeu suas bases. O Mestre, então examina sua escola atentamente e, após alguma reflexão, percebe que em algum ponto do tempo houve uma grande falha. A essência da escola evaporou-se nos poluídos ares da ignorância. Os objetivos são os mais abjetos. Já não é mais sua escola. Os Aprendizes nada mais aprendem da Arte Real, já não têm mais o vigor daqueles tempos, falta-lhes a motivação. Seu braço já não é mais forte, seu cinzel não tem direção. Falta-lhes a competência. A escolha da pedra bruta não tem critério, não são bons os suficientes para serem polidas. Não dão brilho, não refletem a Luz.
E os Mestres... já não merecem assim ser chamados, perderam o amor pela escola, já não ensinam mais, pois, não sabem o que ensinar. Não transmitem confiança ou motivação, pois, a apatia tomou conta de seus ânimos. A troca de favores parece ser o objetivo. A avidez pelo poder de mando é visível nos seus semblantes. Não existe mais justiça, e a perfeição ninguém a conhece. O Aprendiz se torna Mestre sem ter nada aprendido. Entre o esquadro e o compasso só existe um monte de papel sem muita finalidade. A escola tem a porta aberta. Há um entra e sai constante. Muitos passam pela porta sem conseguir saber o porquê. A escola está dividida. A matéria cobriu o espírito, o cimento místico deteriorou. As colunas já não têm majestade. São fracas.
O vento profano escava suas bases, balança seus capitéis, e avilta seus valores mais sagrados. O velho pedreiro, triste, aborrecido com tal visão, decepcionado com seus Companheiros que já não dividem o mesmo pão, impelido pela curiosidade, pede ao tempo que lhe mostre muito mais, além de sua imaginação.
E o tempo começa a se mover, tudo começa a girar e, dentro desse vórtice, a visão lhe é mostrada. A escola da Arte Real não mais existe, tudo desmoronou. Só estava de pé uma velha coluna com a letra "B". A velha coluna cheia de Força, ainda resistia ao tempo, mas da coluna que dava apoio à viga mestra, só restava o pó.
Nesse momento o tempo volta ao normal e o velho pedreiro assustado, ainda, com o que viu, entendeu que acabar de receber sua última instrução: "não há força capaz de sustentar uma Instituição sem o apoio do conhecimento." Assim o velho pedreiro com sabedoria na cabeça e força no coração parte para uma nova missão.
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