quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Livro do Aprendiz



“...A Franco-Maçonaria é

chamada a refazer o mundo.

A tarefa não está acima de suas

forças, desde que ela se torne

aquilo que deve ser.”



Oswald Wirth


“... A Franco-Maçonaria visa a

formar Iniciados, ou seja, homens

na mais alta concepção da

palavra.

O Maçom deve, pois, operar sobre

si mesmo uma transmutação

semelhante àquela dos

alquimistas...”


Oswald Wirth

É ainda em Londres que encontro Silbermann, preparador no Collège de France, mas cujas concepções, inteiramente especiais, são para mim o exemplo do pensamento independente, daquilo que eu chamaria mais tarde de “o despojamento dos metais”... Estamos então em 1879, e eu assisto aos começos da teosofia. Depois, volto à Paris, a fim de retomar o caminho da Suíça antes de meu serviço militar. Revejo Silbermann. Fico sabendo que ele é Maçom e, pela primeira vez, colocolhe uma dessas questões que, desde há muito tempo, — sem dúvida, inconscientemente, desde que ultrapassei a idade do pensamento independente, — comprimiam-se diante de meu espírito crítico: “A Franco-Maçonaria é política?” Jamais me esqueci da resposta que me deu Silbermann: “Não, a Franco-Maçonaria não é política. Mas, tente distinguir seus aspectos particulares, porque ela que ser adivinhada.

Pode existir uma Franco-Maçonaria azul, vermelha, negra ou branca, isso não muda em nada o negócio, porque, mesmo os fitas brancas, se eles não
viveram a Maçonaria, nada sabem de seus mistérios. Não existe para você, se está curioso de seus mistérios, senão uma única solução: peça sua admissão”.

Em 13 de novembro de 1882, em Châlons-sur-Marne, fiz minha entrada no 106º Regimento de Infantaria. Entediei-me. Entediei-me terrivelmente naquele meio de onde todo intelectualismo parecia banido.

Penso em Silbermann. Para fugir ao tédio, não tenho senão uma solução: tornar-me Franco-Maçom.

A Loja situa-se na Rua Grande-Étape. Ela funciona — dizem-me
— sob a direção de um Senhor Piet. Vou vê-lo, encho-o de perguntas...
“Redija seu pedido, — responde-me ele, — eu o transmitirei. Mas, se você vem a nós por espírito de curiosidade ou de informação, ou de alguma coisa que, de ordinário, varia, ficará decepcionado. Não existe lá nada de maldoso, e nós somos, essencialmente, uma associação filantrópica”.

Meu primeiro entrevistador é um honesto quitandeiro de Châlons-sur-Marne que me aconselha, primeiro, a ser paciente. O segundo, muito sério, é um oficial de meu regimento.

Sábado, 26 de janeiro de 1884, sou admitido no seio da fraternidade maçônica pela Loja “La Bienfaisance Châlonnaise”, devendo obediência ao Grande Oriente de França. Uma de minhas primeiras surpresas é a de ver nas Colunas meu próprio Capitão, do qual que eu ignorava esta qualidade, que deveria me torná-lo tão caro.

Por pobre que parecesse a Loja de Châlons, devo-lhe, todavia, grandes alegrias intelectuais. Como é freqüentemente o caso na província, os Irmãos, pouco numerosos, objetos de crítica, são quase constrangidos a se isolarem e encontrarem neles mesmos os princípios da verdadeira Maçonaria. Foi assim que pude instruir-me perto de um velho Maçom, antigo cozinheiro autodidata, em três quartos feiticeiro e enamorado do ocultismo, junto ao qual aprendi muitas coisas que jamais supusera até então.

Perto do final de 1884, a Loja dá-se um novo Venerável, Maurice Bloch, israelita comerciante de carvão, e que, por amor-próprio Maçônico, dedica-se a que sua Oficina retome um vigor que até então lhe faltara. Ele trunfa em todos os planos. Com ele, começo a visitar as Lojas da região, instruindo-me, assim, na diversidade de homens e de pensamentos no interior do meio Maçônico.

Em 1885, o Grande Oriente envia uma circular às Lojas, pedindo-lhes para estudar modificações que convinha aportar aos rituais, julgados muito antigos. Sou então Secretário da Loja e

encarregado do relatório, concluo, para espanto quase geral, pela manutenção dos velhos rituais, com apenas algumas raras modificações de detalhe exigidas pela diferença das épocas.
Em 1886, meu serviço militar concluído, vou a Paris, onde sou afiliado à Loja “Les Amis Triunfants”. Continuo minha propaganda pela manutenção dos antigos rituais, o que provoca o descontentamento dos “pontífices” da época. Sou bem advertido: “Você perde seu tempo. Terá todo mundo contra si, os clericais e os Franco-Maçons”.

Deixo, pois, “Les Amis Triunfants” e dirijo-me, então, à “Grande Loja Simbólica Escocesa”, onde, após uma curta passagem pela Loja “Les Philanthropes Reunis”, inscrevo-me na Loja “Travail et vrais amis fidèles”, obediente, mais tarde, à Grande Loja de França, e que deveria permanecer minha Oficina de Eleição.


É nesta época que se produz o evento que vai, tão profundamente influenciar a vida de Oswald Wirth, que com isso permanecerá marcada até o fim de seus dias. Ele encontra Stanislas de Guaita, o mestre inconteste da jovem escola ocultista do final do século XIX.
 
Extraído do livro
O Livro do Aprendiz
de Oswald Wirth
A Franco-Maçonaria Tornada Inteligível aos seus Adeptos



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