domingo, 9 de fevereiro de 2014

Maçonaria e dinâmica do aprendizado

 
 
 
 

José Maurício Guimarães

 
 
 
 
José Maurício Guimarães
 
Maçonaria e dinâmica do aprendizado

 

A dinâmica do aprendizado está em toda parte, em todos os tempos. Mataram Hipácia de Alexandria, envenenaram Sócrates, queimaram Giordano Bruno e tentaram atirar todos os professores do mundo no mais profundo abismo do mar. Inútil - as forças evolutivas permanecem sob quaisquer condições ou governos. Independente de raça, sexo, cor ou idade, a tal dinâmica se faz sentir como um movimento interno responsável pelo estímulo do aprendizado. Por se tratar de um princípio natural e evolutivo, todos anseiam pelas mesmas conquistas que passam necessariamente pelos portais da educação. O direito à educação, à vida, à liberdade, igualdade, segurança e propriedade são equivalentes e não podem subsistir uns sem os outros: não há liberdade sem boa educação, assim como não há direito à vida sem um sistema eficaz de segurança.

Parece que já evoluímos um bocado: na Idade Média prevalecia o "droit du seigneur" (direito do senhor) que ia desde o confinamento dos trabalhadores nos limites geográficos do feudo até o "jus primae noctis" (direito da primeira noite) que permitia ao senhor feudal "prerrogativas" sobre a primeira noite de núpcias das noivas da redondeza. Uma única corporação se manteve livre desses jugos - a dos pedreiros. Beneficiados pelos ambicionados segredos de ofício (como a chave-de-abóbada e os cânones da arquitetura) eles se deslocavam livremente de um feudo para outro atendendo à suntuosidade das catedrais e vaidade dos palacianos.

Assim surgiram os pedreiros-livres, freemasons ou francmaçons. Entre os anos 1100 e 1200 as oficinas de pedreiros foram objeto de interesse dos que participavam das Cruzadas, especialmente os ricos e poderosos Cavaleiros Templários e a Ordem de São João de Jerusalém. Sempre que novos conhecimentos chegavam do Oriente, eram camuflados na complexidade das fórmulas e materiais dos pedreiros-livres assim como na alegórica decoração das catedrais. Essa primeira aproximação - entre pedreiros e a cavalaria - durou mais de quinhentos anos e rendeu muita dor de cabeça para os reis e o clero.

Mais tarde os canteiros de obras (alojamentos) foram transformados em LOJAS onde se congregavam operativos e especulativos: filósofos não dogmáticos, rosacruzes, membros do "Invisible College for Improving Natural Knowledge" (a Royal Society de Londres) e toda sorte de pensadores perseguidos e disfarçados em pedreiros. (Embora alguns Maçons de hoje insistam em dizer-se "operativos" isto não passe de uma incongruência histórica e filosófica. Hoje somos todos especulativos, uma vez que operativos são os pedreiros de profissão.)

- Resumidamente, estes foram os fundamentos históricos da palestra que proferi no último dia 23 de agosto na Loja Maçônica Salgado Filho nº2.346 do Grande Oriente do Brasil (GOB-MG) a convite de seu Venerável Mestre Irmão Donizetti Cândido Pereira.

Falar para Maçons sobre essa história e os princípios morais que ela encerra não é muito difícil. Nossa Ordem nasceu devido à inquietação humana e tem sobrevivido apesar dos desafios da "coluna partida" ou perda daquele estado natural que levou Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) a dizer: "o homem nasce bom e livre, mas a sociedade o corrompe, colocando-o a ferros". Como qualquer outra instituição, a Maçonaria atravessa constantes controvérsias, problemas e constrangimentos - afinal de contas somos humanos. Mas sobrevivemos a todas as dificuldades interpostas em nosso caminho. Quanto mais aprendemos, mais certeza temos de que o soerguimento da Grande Obra depende dessa dinâmica: só sabemos o que retemos na memória:

"Scire est reminisci", saber é recordar. A magnificência da  Ordem Maçônica está, desde seus primórdios, assentada em mitos e na mística compreendida como aquilo que é "perfeito e acordado", segundo Houaiss. A dinâmica do aprendizado vem dos elementos simbólicos associados à ciência. Do antigo Egito à Idade Média, passando pelo "nosce te ipsum" (conhece-te a ti mesmo) grego e romano até o surgimento da maçonaria especulativa, o construtor social contempla a si mesmo, explora suas  possibilidades e aprende pela observação do mundo que o cerca. Sempre que a sociedade necessita da convergência de inteligências, a Maçonaria se faz presente procedendo pelo bem da humanidade. Entretanto, muito ainda há para ser definitivamente conquistado se guardarmos, como preconizam nossas leis, uma boa distância da pequenez e estreiteza das políticas profanas. No século atual, a defesa irrestrita dos direitos humanos, constantemente ameaçados por uma crescente inversão dos valores sociais, constitui a nova "revolução" progressiva e pacífica da Ordem. E mais humana quando cientes de que o "dever-de-casa" bem feito é o parâmetro de nossa atuação no mundo.

José Maurício Guimarães

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