Maçonaria e dinâmica
do aprendizado
A dinâmica do aprendizado está em
toda parte, em todos os tempos. Mataram Hipácia de Alexandria, envenenaram
Sócrates, queimaram Giordano Bruno e tentaram atirar todos os professores do
mundo no mais profundo abismo do mar. Inútil - as forças evolutivas permanecem
sob quaisquer condições ou governos. Independente de raça, sexo, cor ou idade,
a tal dinâmica se faz sentir como um movimento interno responsável pelo
estímulo do aprendizado. Por se tratar de um princípio natural e evolutivo,
todos anseiam pelas mesmas conquistas que passam necessariamente pelos portais
da educação. O direito à educação, à vida, à liberdade, igualdade, segurança e
propriedade são equivalentes e não podem subsistir uns sem os outros: não há
liberdade sem boa educação, assim como não há direito à vida sem um sistema
eficaz de segurança.
Parece que já evoluímos um
bocado: na Idade Média prevalecia o "droit du seigneur" (direito do
senhor) que ia desde o confinamento dos trabalhadores nos limites geográficos
do feudo até o "jus primae noctis" (direito da primeira noite) que
permitia ao senhor feudal "prerrogativas" sobre a primeira noite de
núpcias das noivas da redondeza. Uma única corporação se manteve livre desses
jugos - a dos pedreiros. Beneficiados pelos ambicionados segredos de ofício
(como a chave-de-abóbada e os cânones da arquitetura) eles se deslocavam
livremente de um feudo para outro atendendo à suntuosidade das catedrais e
vaidade dos palacianos.
Assim surgiram os
pedreiros-livres, freemasons ou francmaçons. Entre os anos 1100 e 1200 as
oficinas de pedreiros foram objeto de interesse dos que participavam das
Cruzadas, especialmente os ricos e poderosos Cavaleiros Templários e a Ordem de
São João de Jerusalém. Sempre que novos conhecimentos chegavam do Oriente, eram
camuflados na complexidade das fórmulas e materiais dos pedreiros-livres assim
como na alegórica decoração das catedrais. Essa primeira aproximação - entre
pedreiros e a cavalaria - durou mais de quinhentos anos e rendeu muita dor de
cabeça para os reis e o clero.
Mais tarde os canteiros de obras
(alojamentos) foram transformados em LOJAS onde se congregavam operativos e
especulativos: filósofos não dogmáticos, rosacruzes, membros do "Invisible
College for Improving Natural Knowledge" (a Royal Society de Londres) e toda
sorte de pensadores perseguidos e disfarçados em pedreiros. (Embora alguns
Maçons de hoje insistam em dizer-se "operativos" isto não passe de
uma incongruência histórica e filosófica. Hoje somos todos especulativos, uma
vez que operativos são os pedreiros de profissão.)
- Resumidamente, estes foram os
fundamentos históricos da palestra que proferi no último dia 23 de agosto na Loja
Maçônica Salgado Filho nº2.346 do Grande Oriente do Brasil (GOB-MG) a convite
de seu Venerável Mestre Irmão Donizetti Cândido Pereira.
Falar para Maçons sobre essa
história e os princípios morais que ela encerra não é muito difícil. Nossa
Ordem nasceu devido à inquietação humana e tem sobrevivido apesar dos desafios
da "coluna partida" ou perda daquele estado natural que levou Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778) a dizer: "o homem nasce bom e livre, mas a sociedade
o corrompe, colocando-o a ferros". Como qualquer outra instituição, a
Maçonaria atravessa constantes controvérsias, problemas e constrangimentos -
afinal de contas somos humanos. Mas sobrevivemos a todas as dificuldades
interpostas em nosso caminho. Quanto mais aprendemos, mais certeza temos de que
o soerguimento da Grande Obra depende dessa dinâmica: só sabemos o que retemos
na memória:
"Scire est reminisci", saber
é recordar. A magnificência da Ordem Maçônica está, desde seus
primórdios, assentada em mitos e na mística compreendida como aquilo que é
"perfeito e acordado", segundo Houaiss. A dinâmica do aprendizado vem
dos elementos simbólicos associados à ciência. Do antigo Egito à Idade Média,
passando pelo "nosce te ipsum" (conhece-te a ti mesmo) grego e romano
até o surgimento da maçonaria especulativa, o construtor social contempla a si
mesmo, explora suas possibilidades e aprende pela observação do mundo que
o cerca. Sempre que a sociedade necessita da convergência de inteligências, a
Maçonaria se faz presente procedendo pelo bem da humanidade. Entretanto, muito
ainda há para ser definitivamente conquistado se guardarmos, como preconizam
nossas leis, uma boa distância da pequenez e estreiteza das políticas profanas.
No século atual, a defesa irrestrita dos direitos humanos, constantemente ameaçados
por uma crescente inversão dos valores sociais, constitui a nova
"revolução" progressiva e pacífica da Ordem. E mais humana quando
cientes de que o "dever-de-casa" bem feito é o parâmetro de nossa
atuação no mundo.
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