QUITE
Escrito por Rui
Bandeira
Um maçom deve estar sempre quite para com a sua
Loja, isto é, ter cumpridas as suas obrigações para com esta. As obrigações
mínimas do maçom perante a Loja respeitam ao dever de assiduidade, isto é, à
comparência em todas as sessões de loja para que for convocado, e o pontual
pagamento da quota mensal.
Estar quite é cumprir estes deveres SEMPRE.
Sempre que um obreiro injustificadamente falte a uma sessão, viola o dever de
assiduidade e, portanto, não está quite. Sempre que se inicia um mês do
calendário civil sem ter pago a sua quota do mês anterior, não está quite.
Não está quite perante si próprio, perante a sua
consciência. Porque, incumprindo o seu dever de assiduidade, sem justificação
para tal, incumprindo, podendo fazê-lo, o seu dever de pagar a sua quota
mensal, o obreiro está, antes de mais, a faltar aos compromissos que assumiu,
respetivamente, de assiduidade e de comparticipação para o Tesouro da Loja. E o
cumprimento dos compromissos livremente assumidos é uma questão de honra! Logo,
o maçom que injustificadamente falte a uma sessão de Loja para que foi
convocado, que se deixa, sem razão que o justifique, entrar em mora no
cumprimento do seu dever de contribuição para as despesas da Loja, antes de
tudo e cima de tudo sente-se ele próprio desonrado.
O atraso no pagamento das quotas pode ser
remediado: basta pagar o que está em dívida e ficar-se-á quite. Já o
incumprimento do dever de assiduidade causa sempre prejuízo. À Loja porque fica
privada do contributo do maçom. E todos os contributos de todos os maçons da
Loja são inestimáveis e imprescindíveis. Do Mestre mais antigo ao Aprendiz mais
recente, todos e cada um são essenciais para o aperfeiçoamento de cada um e
global da Loja. Mas o incumprimento do dever de assiduidade prejudica sobretudo
o próprio incumpridor. E, de alguma forma, é incompreensível: pois não tomou o
maçom a decisão de pedir a Iniciação para beneficiar da ajuda da Loja no seu
crescimento pessoal, na sua jornada própria? E vai prejudicar a sua demanda,
prescindir do contributo do grupo não comparecendo? O tempo não para, não se
pode rebobinar o filme. A única forma de remediar a falta sem motivo é
diligenciar pelo estrito cumprimento do dever de assiduidade. Assim se diluirá
o atraso, assim se recuperará o trabalho que ficou um dia por fazer. Assim se
fica, de novo, quite. Quite para com a Loja. Mas sobretudo – e principalmente!
– quite perante si próprio!
O maçom tem, a todo o tempo, direito a que a sua
Loja certifique que se encontra quite. Se o fizer na constância e na
permanência da ligação à sua Loja, é-lhe emitida uma declaração de good
standing, com a qual poderá provar, perante qualquer outra Loja que visite, ser
um maçom quite, em boa posição, de pé e à ordem, perante a Loja, a Maçonaria e
ele próprio. Se o fizer no âmbito do processo de desvinculação da sua Loja –
que é um direito que todo o maçom a todo o tempo pode exercer -, seja por
entender dever adormecer, isto é, suspender a sua atividade maçónica ou por
decidir mudar de Loja, é-lhe então emitido um atestado de quite. Com esse
documento, fica ultimada a sua desvinculação da Loja. O maçom pode assim pedir
a sua admissão a outra Loja, comprovando perante a mesma estar quite de todas
as suas obrigações perante a Loja de que se desvinculou. Ou, se simplesmente
pretender suspender a sua atividade maçónica, pode, se e quando o entender,
retomá-la reintegrando-se na mesma ou em outra Loja, comprovando que cumpriu os
seus deveres enquanto esteve em atividade maçónica, pelo que saberá voltar a
cumpri-los ao retomá-la.
Mas, no fundo, o atestado de quite é apenas uma
declaração num papel. O que verdadeiramente interessa é que o maçom se sinta,
ele próprio, pessoalmente, perante si mesmo, sempre quite. E é para que assim
seja que a Loja existe e se disponibiliza e auxilia e coopera. Porque a razão
de ser da Loja, da Obediência, da Maçonaria é, afinal, simplesmente, o maçom.
Cada um deles. Cada um de nós. Livre, especial, insubstituível e... quite!
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