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Revista Texto & Texts Editor-Chefe J.Filardo
O Agnosticismo & Robert Green Ingersoll
Como Ingersoll entendia ser agnóstico?
Por
Austin Cline, About.com Guide
(Tradução José Antonio S. Filardo)
Robert Green Ingersoll foi um famoso e influente defensor do secularismo e do ceticismo religioso de meados até o final do século 19 na América do Norte. Ele foi um forte defensor tanto da abolição da escravatura quanto dos direitos das mulheres, algo que era bastante impopular. A posição que realmente lhe causava problemas, porém, era sua forte defesa do agnosticismo e seu anticlericlarismo rigoroso.
Ingersoll era um dos oradores mais procurados de sua época. Ele falava muito, muitas vezes, e em sobre enorme variedade de assuntos – e se as pessoas gostavam dele ou o odiavam, elas geralmente respeitavam sua grande habilidade como orador. Ele, provavelmente, teria ido muito longe na política se tivesse modificado sua posição e enfraquecido suas críticas à religião. Naquela época, no entanto, havia um medo crescente do anarquismo, que se acreditava ser encorajado e apoiado por imigrantes ateus.
Através de suas viagens, ele teve uma oportunidade de conhecer e fazer amizade com muitas das pessoas mais famosas de sua época. Livre-pensadores, céticos, defensores do voto feminino e outros que eram críticos das estruturas sociais tradicionais e religiosas o tinham, a seus discursos, e os seus muitos livros em muito alta conta.
Para compreender as idéias de Ingersoll sobre o agnosticismo, seria provavelmente mais fácil simplesmente ler algumas citações-chave de alguns de seus trabalhos.
Em Huxley e Agnosticismo(1889), Robert Green Ingersoll escreveu:
A real diferença é esta: o cristão diz que ele tem conhecimento; o agnóstico admite que ele não tem nenhum; e mesmo assim o cristão acusa o agnóstico de arrogância, e pergunta como ele tem a desfaçatez de admitir as limitações de sua mente. Para o agnóstico, cada fato é uma tocha, e por essa luz e somente essa luz ele caminha.
.
O agnóstico sabe que o testemunho do homem não é suficiente para estabelecer o que é conhecido como o milagroso. Nós não acreditaríamos hoje no testemunho de milhões de pessoas no sentido de que o morto tinha sido ressuscitado. A própria igreja seria a primeira a atacar tal testemunho. Se não podemos acreditar naqueles a quem conhecemos, por que deveríamos acreditar em testemunhas que morreram há milhares de anos, e sobre as quais nada sabemos?
O agnóstico tem como fundamento que a experiência humana é a base da moralidade. Consequentemente, não importa quem escreveu os evangelhos, ou quem atestou ou atesta a autenticidade dos milagres. Em seu esquema de vida essas coisas são absolutamente sem importância. Ele está convencido de que “o milagroso” é o impossível. Ele sabe que as testemunhas eram inteiramente incapazes de examinar as questões envolvidas, que a credulidade tinha a posse de suas mentes, que “o milagroso” era esperado, que era o seu alimento diário.
O comentário seguinte foi parte de um discurso que Robert Green Ingersoll fez a o Clube Unitário em Nova York em 15 de janeiro 1892 (O original pode ser encontrada na
Agora, entendam-me! Eu não digo que Deus não existe. Eu não sei. Como eu disse antes, eu viajei, mas muito pouco – só neste mundo. Eu quero que se entenda que eu não finjo saber. Eu digo o que penso. E na minha mente a ideia expressa pelo juiz Wright de forma tão eloquente e tão bonita não é exatamente verdade. Eu não posso conceber o Deus que ele se esforça para descrever, porque ele atribui a Deus, uma vontade, um propósito, realização, benevolência, amor, e nenhuma forma – nenhuma organização – nenhum desejo. Este é o problema. Nenhum desejo. E deixe-me dizer por que isso é um problema. O homem age apenas porque ele deseja. Você civiliza o homem, aumentando seus desejos, ou, seus desejos aumentam à medida que ele se torna civilizado.
Em Por que sou Agnostic, Robert Green Ingersoll escreveu:
Parece-me que o homem que conhece as limitações da mente, que dá o devido valor ao testemunho humano, é necessariamente um Agnóstico. Ele desiste da esperança de determinar as causas iniciais ou finais, de compreender o sobrenatural, ou de conceber uma personalidade infinita. Todo signficado cai das palavras Criador, Preservador e Providência.
Em outro texto intitulado Por que sou agnóstico, que também pode ser encontrado na
Secular Web, Robert Green Ingersoll escreveu:
A crença não está sujeita à vontade. Os homens pensam à medida que precisam. As crianças não o fazem, e não podem acreditar exatamente como foram ensinadas. Elas não são exatamente como seus pais. Elas diferem em temperamento, em experiência, em capacidade, no ambiente. E assim há uma mudança contínua, embora quase imperceptível. Há desenvolvimento, crescimento contínuo e inconsciente, e comparando longos períodos, descobrimos que o velho foi quase abandonado, quase perdido no novo.
Como a maioria de vocês, fui criado entre pessoas que sabiam – que tinham certeza. Eles não raciocinavam ou investigavam. Eles não tinham dúvidas. Eles sabiam que tinham a verdade. Em seu credo não havia adivinhação – não havia talvez. Eles tinham uma revelação de Deus. Eles conheciam o começo das coisas. Eles sabiam que Deus começou a criar em uma segunda-feira de manhã, quatro mil e quatrocentos anos antes de Cristo. Eles sabiam que na eternidade – antes daquela manhã, ele não tinha feito nada. Eles sabiam que ele levou seis dias para fazer a terra – todas as plantas, todos os animais, toda a vida, e todos os globos que orbitam no espaço. Eles sabiam exatamente o que ele fez a cada dia e quando descansou. Eles conheciam a origem, a causa do mal, de todos os crimes, de todas as doenças e da morte.
Não nego isso. Eu não sei – mas eu não acredito. Eu acredito que o natural é supremo – que a partir da cadeia infinita nenhuma ligação pode ser perdida ou quebrada – que não há qualquer poder sobrenatural que possa responder a orações – nenhum poder que a adoração possa persuadir ou mudar – nenhum poder que se preocupe com o homem.
Existe um Deus?
Eu não sei.
É o homem imortal?
Eu não sei.
Podemos ser tão honestos quanto somos ignorantes. Se somos, quando perguntado o que está além do horizonte do conhecido, devemos dizer que não sabemos. Podemos dizer a verdade, e podemos desfrutar da liberdade abençoada que os bravos ganharam. Podemos destruir os monstros da superstição, as serpentes sibilantes da ignorância e do medo. Podemos afastar de nossas mentes as coisas assustadoras que rasgam e ferem com bico e presa. Podemos civilizar nossos semelhantes. Podemos encher nossas vidas com ações generosas, com palavras amorosas, com arte e música, e todos os êxtases de amor. Podemos inundar nossos anos com a luz do sol – com o clima divino de bondade, e podemos drenar até a última gota a taça de ouro da alegria.
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