sexta-feira, 10 de maio de 2013

A RÉGUA DE 24 POLEGADAS


Maçons Honório e Arimatéia
 
 
“ . . . o maçom tem como responsabilidade traçar para si padrões ou“standards” não apenas baseados nas leis, mais principalmente na justiça irrestrita. . . “



 

A RÉGUA DE 24 POLEGADAS



ÁLVARO BOTELHO REIS (*)



Deste importante instrumento simbólico no Rito Escocês Antigo e Aceito, extrairemos as duas principais lições práticas, que são as seguintes.



PRIMEIRA LIÇÃO


A origem da palavra régua é francesa (règle) e significa “lei ou regra”. Trata-se de um instrumento cuja primeira idéia que nos impõe é a do traçado reto e de medida. Junto ao Malho e o Cinzel, a Régua completa os instrumentos de trabalho do aprendiz maçom. Elá servirá para medir e traçar sobre a pedra bruta o corte a ser efetuado. De nada nos serve o Cinzel, símbolo da razão e dicernimento, e do Malho, símbolo da vontade, determinação e força executiva, sem as propriedades diretivas da régua. Sem diretrizes podemos fazer com que nossa pedra bruta torne-se mais irregular ainda.



O traço de retidão é visto de uma maneira muita rígida nos ensinos orientais. No budismo, o Iluminado traçou aos seus discípulos os Oito Caminhos Nobres.“Compreensão correta, Pensamento correto, Linguagem correta, Comportamento correto, Modo de vida correto, Esforço correto, Desígnio correto, Meditação correta”. Buda traçou com sua régua o código para que seus seguidores evitassem dissabores e tristezas no caminho da vida.



Analogamente, todo credo, nação ou instituição depende de regras para sua identidade e funcionamento. Sem critérios, a vida seria por demais defeituosa e complicada. Daí a necessidade que o homem teve em estabelecer leis e padrões de conduta que norteassem suas ambições. Isso nos faz lembrar da maior lição sobre a régua já registrada pela história.



Após 400 anos escravizados pelos egípcios, o povo judeu foi libertado por Moisés que prometeu guiá-los de volta à terra prometida (palestina). Moisés, homem educado na corte egípcia, entendia que depois de 400 anos como escravos, os israelitas haviam perdido sua identidade como nação. O judeu era simplesmente um povo sem lei. Moisés receava o efeito catastrófico que seria adentrar a palestina com um grupo de mais de dois milhões de pessoas desorganizadas, sem regras e princípios. O resultado óbvio seria a auto-aniquilação daquele povo em disputas por terras e sucessão do poder. Revelando-se um grande estrategista, ao sair do Egito, Moisés acampou com todo o povo ao pé do Monte Sinai e fez o uso da régua. Criou o código civil, o código penal, o direito de família, leis ambientais e de uso da terra, leis religiosas, código sanitário, realizou o censo, dividiu o povo em tribos, instituiu hierarquia de comando, criou um exército de 605.550 homens e para coroar sua gestão, entregou os Dez Mandamentos, supostamente escrito pelo próprio Deus, que equivaleria hoje à nossa constituição.



Moisés havia feito o uso da régua, mais sabia que faltava o uso do cinzel e do malho. Por isso ainda não permitiu que o povo entrasse na palestina logo após a criação das leis, mas obrigou-os a viver como nômades durante 40 anos, pela orla do deserto na Península do Sinai, até que entendessem as regras criadas. Esses 40 anos foi o período necessário para se lapidar a pedra bruta desta nação, antes que finalmente entrassem na terra há tanto tempo prometida.



Hoje vivemos em uma sociedade com excesso de regulamentação, um emaranhado de leis que vai do direito internacional às regras de trânsito. No entanto presenciamos constantemente nosso governo, grandes corporações e até simples funcionários usando as leis existentes para cometer injustiças através de manobras jurídicas e “Litigâncias de Má Fé”.
Nem tudo que é legal é justo. Por este motivo o maçom tem como responsabilidade traçar para si padrões ou “standards” não apenas baseados nas leis, mais principalmente na justiça irrestrita.

Sobre a primeira lição, ficam algumas perguntas para reflexão:



· Estou traçando critérios para meu o aperfeiçoamento pessoal?



Para o aperfeiçoamento de meus filhos, Subordinados e pessoas pelas quais tenho alguma responsabilidade?



· Esses critérios são baseados na justiça irrestrita ou nas minhas ambições pessoais?



· Como maçom, seria capaz de abrir mão de um direito garantido por lei, uma vez que entendesse que esse causaria dano ou injustiça ao meu próximo?


SEGUNDA LIÇÃO


A segunda lição prática do nosso estudo é sobre as 24 polegadas da régua que representa o total de horas de um dia. Lembra que o dia deve ser vivido com critério dividido entre o trabalho, laser, espiritualidade e o descanso físico e mental.



O filósofo grego Demócrito, do século V a.C, escreveu, -



“Ocupe-se de pouco para ser feliz”. Demócrito não pregava a ociosidade, mas sim a administração do tempo. Dizia que uma única coisa deveria ser feita por vez. Hoje vivemos na era da hiperatividade e da multitarefa. A dinâmica do trabalho na vida moderna nos exige cada vez mais padrões de eficiência e resultado.

Em nome da competitividade, somos obrigados ainda a consumir enormes quantidades de informações. Política, mercado, informações técnicas, MBA´s, segundas línguas, cursos de especialização, seminários, etc. Uma única edição de domingo da “Folha de São Paulo” contém mais informação do que um leitor médio encontraria durante toda a vida no século XVII.



As novas tecnologias de informação como celular, e-mail, internet, palm-top e outros, ao invés de proporcionar mais tempo livre, nos tornam escravos em tempo integral. Somem-se ao trabalho todos os outros papeis que temos que cumprir.

Somos filhos, pais, cônjuges, irmãos, amigos, membros de uma igreja e maçons. Como reagir diante deste caos de demandas simultâneas?

A Dra. Yuhong Jiang, pesquisadora da Universidade de Harvard – E.U.A. vem reafirmar hoje o ensinamento feito por Demócrito 2.500 anos atrás. Seu trabalho científico mostra que o cérebro humano é incapaz de processar duas coisas ao mesmo tempo. O cérebro é capaz de receber estímulos simultâneos, mas não é capaz de tomar decisões simultâneas. Ao receber múltiplas demandas, o cérebro sofre alterações orgânicas e entra em exaustão. Por tempo prolongado, os danos são catastróficos: Estresse, depressão, síndrome do pânico, psicoses, insônia, mialgias, doenças gastrintestinais, alteração de pressão arterial, etc.

A administração do tempo expressa na lição das 24 polegadas nunca foi tão necessária como hoje em nossos dias. Para sermos felizes temos que reconhecer e aceitar nossos limites, aprender a dizer não. Eliminar atividades desperdiçadoras de tempo. Estabelecer metas para vida e realizá-las em ordem de prioridade.

Para finalizar este estudo, sito as palavras do Reis Salomão, uma das figuras mais estudadas pela maçonaria. Em uma época quando ainda não havia televisões, celulares, computadores nem flutuações de câmbio, este filósofo escreveu:



Existe um tempo próprio para tudo,

E há uma época para cada coisa debaixo do céu:



Um tempo para nascer e um tempo para morrer;

Um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou;



Um tempo para matar, um tempo para curar as feridas;

Um tempo para destruir e outro para reconstruir;



Um tempo para chorar e um tempo para rir;

Um tempo para se lamentar e outro para dançar de alegria;



Um tempo para espalhar pedras, um tempo para juntá-las;

Um tempo para abraçar, e um tempo para afastar-se;

Um tempo para procurar e outro para perder;

Um tempo para armazenar e um para distribuir;



Um tempo para rasgar e outro para coser;

Um tempo para estar calado e outro tempo para falar;



Um tempo para amar, e um tempo para odiar;

Um tempo para a guerra, e um tempo para a paz.




(*) ÁLVARO BOTELHO REIS - C\ M\

ARLS Deus, Justiça e Amor - Sumaré/SP, Brasil


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