domingo, 20 de março de 2011

Trindade de vícios – ignorância, medo e ambição.


Trindade de vícios – ignorância, medo e ambição.

– O CRIME.

Este corpo-templo, maravilha das idades, foi construído e dirigido pelo poder, pelo saber e pela beleza. Apesar disso, no mundo inferior do homem existem sempre certos defeitos e vícios que o induzem a cometer barbaridades inauditas e indignas; estes defeitos são a ignorância, o medo e a ambição. A ignorância é um defeito que faz o homem crer que sabe, não desejando aprender nada; o medo elimina a fé do coração do homem em seu Deus íntimo e em seus guias, e a ambição é filha do egoísmo, que exige tudo para si, sem merecimento.

Pois bem, três obreiros da classe dos companheiros, julgando-se merecedores e dignos de serem mestres, e querendo conseguir isso pela força, como acontece com todos os ignorantes, tramaram uma conspiração para se apoderarem, pela violência, da Palavra Sagrada, e de serem reconhecidos como Mestres. Esta trindade de vícios – ignorância, medo e ambição – no homem quer sempre obter o que não merece do mundo espiritual e material.

Estes três vícios malvados e companheiros do homem, que ameaçam todas as conquistas e esforços espirituais, trataram de conquistar a complacência de outros vícios e companheiros dentro do homem, lograram convencer outros nove companheiros mestres, mas estes, no último momento, desistiram, porque foram perturbados pelo remorso.

Os três cúmplices ficaram sozinhos, e, urdindo o crime, resolveram obter a Palavra pela força, do mesmo Hiram (o homem inferior quer sempre obrigar seu Íntimo a outorgar-lhe todos os poderes divinos, pela força, e sem merecimento).

Os três aguardaram Hiram, a quem, por sua bondade, esperavam intimidar.

Escolheram o meio-dia como a hora mais propícia, pois a essa hora Hiram costumava visitar e revisar o trabalho, e elevar suas preces enquanto os demais descansavam. Os três se dirigiram para as três portas do Templo, que naquele momento já estavam desertas, porque todos os obreiros já haviam saído para descansar.

Quando Hiram terminou sua prece e quis atravessar a porta do sul, o companheiro ali postado o ameaçou com sua régua de vinte e quatro polegadas, pedindo-lhe a Palavra e o Sinal de Mestre. Todavia, o Mestre respondeu-lhe: “Trabalha, e serás recompensado!”



Vendo a inutilidade de seus esforços, o companheiro ignorante o golpeou fortemente com a régua (que representa o dia de vinte e quatro horas, mas que nunca foram aproveitadas, porque a ignorância sempre tenta obstaculizar a obra divina interna).

E, havendo o Mestre levantado o braço direito para deter o golpe vibrado sobre sua garganta, seu ombro direito foi atingido, paralisando o braço (positivo).

O Mestre dirigiu-se, então, até a porta do Ocidente, e, ali, o segundo companheiro lhe exigiu, como o primeiro, A Palavra e o Sinal de Mestre, recebendo a mesma resposta:

“Trabalha, e obterás”.

Então este companheiro deu-lhe um forte golpe no peito com o esquadro de ferro.

Meio aturdido, Hiram dirigiu-se até a porta do Oriente. Nesta porta o terceiro o esperava.

Era o pior intencionado dos três, o egoísmo, que, recebendo a mesma negativa do Mestre, deu-lhe um golpe mortal sobre a fronte, com o malhete que havia levado consigo.

Quando os três se encontraram novamente, comprovaram que nenhum possuía o Sinal nem a Palavra; horrorizaram-se pelo crime inútil e não tiveram outro pensamento senão o de ocultá-lo e fazer desaparecer seus vestígios. E, assim, de noite, levaram a vítima em direção ao Ocidente e a esconderam no cume de uma colina, perto do local da construção.

(O simbolismo ou a lenda nos ensina que o Mestre Interno, que está trabalhando sempre pelo bem do homem, pelo seu progresso espiritual e anímico, é atacado pelos três defeitos, em princípio, eram qualidades ou caracteres necessários ao homem. O desejo de progredir se converteu, por meio do intelecto, em ambição egoísta; o amor desenfreado a si próprio tornou-se fanatismo estúpido, e, por sua ambição e ignorância fanática, o homem perdeu sua fé e o Medo se apoderou dele).

Estes três grandes vícios matam o homem, o Eu Superior na parte Oriental; a Personalidade na Ocidental; e, na parte Sul, o Intelecto. Em outras palavras: o Mestre Interno, Eu Superior, que é a Consciência; a Personalidade ou o Eu Individual, que é a Vontade, e o Intelecto ou Inteligência, representados, respectivamente, pelos membros feridos: peito, braço e cabeça.


Fonte do livro:
DO SEXO À DIVINDADE
As Religiões e seus Mistérios, de Jorge Adoum



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