quarta-feira, 5 de março de 2014

ÉTICA NA MAÇONARIA


 
ÉTICA NA MAÇONARIA

Klebber S Nascimento

04.05.2010

O tema escolhido para esse trabalho justifica-se pela dimensão que toma só em mencioná-lo nas lojas maçônicas ou mesmo em conversas privadas entre irmãos, pois o valor que a Maçonaria conquistou na sociedade se deve principalmente pelo comportamento de seus membros e pelos valores que defende, porem atualmente esse conceito está ameaçado.

Quando, no mundo moderno, vemos valores éticos serem simplesmente ignorados em favor de poder político ou financeiro, de vingança, de conquistas materiais, de sucesso profissional e até mesmo para servir a meras vaidades pessoais, passamos a questionar por que a nossa Sublime Ordem não debate com mais veemência ou, no mínimo, por que não abre espaço para discussão do tema.

É certo que a ética e os valores se modificam com a evolução do mundo e dos homens, e atitudes que já foram consideradas atos de coragem ou de fé na Antiguidade, verdadeiros exemplos a serem seguidos, são hoje vistas como terríveis atrocidades fora da lei.

Portanto, não é fácil enveredar pelo caminho do entendimento do comportamento humano, especialmente dos maçons, perante o foco da Ética. Antes de serem maçons, são seres humanos, vivem em conformidade a hábitos, costumes, culturas, experiências pessoais, regionais, temporais e, antes mesmo de serem seres humanos, pertencem à criação cósmica, fazem parte como figurantes da grande obra do Grande Arquiteto.

Diante disso e das questões altamente contraditórias que se apresentam o tempo todo às nossas consciências, questiona-se até que ponto é compatível discutir-se aspectos éticos em uma sociedade essencialmente egocêntrica, materialista, competitiva e generalizada, com necessidades de uma abordagem realista. Corre-se o risco de se realizar discussões estéreis.

A Ética deve ser encarada como um fator pessoal, individual, mas não podemos esquecer, por outro lado, que o indivíduo é fruto da sociedade onde vive. Portanto, a Ética é o modelo social de comportamento individual.

Sob esse prisma, entendemos que o comportamento individual aceito pela sociedade é somente aquele que responde às informações subjetivas da própria sociedade. É variável no espaço e no tempo, hoje com uma visão ética tanto mais uniforme em razão da globalização em que vivemos, porém não menos complexa.

O irmão José Barbosa leite, Loja Estrela de Santos, filiada ao Grande Oriente Paulista, em artigo intitulado Ética Maçônica em 1977 no boletim Aprendiz, apresenta de forma totalmente aberta e sem medo de retaliações uma questão delicada que sentia em sua loja naquele momento, mas que podemos extrapolar para todas as demais lojas da atualidade em maior ou menor grau, independentemente de Potência ou de número de membros, qual seja, a hipocrisia entre o que se fala e o que se faz em termos de comportamento numa oficina maçônica.

Há bem pouco tempo, os maiores inimigos da Maçonaria eram agentes externos. Governos ditatoriais e o clero de tempos em tempos desferiam ataques contra nossa Instituição e não queremos dizer que tudo isso passou, persistem ataques da ignorância e do preconceito, mas agora somaram-se ao clero extremistas de todas as crenças, ou mesmo sem crença nenhuma, que trazem discursos inflamados de ódio contra o “Demônio”, com quem frequentemente nos relacionam. A multidão que os segue encontra, em seus templos e livrarias, uma infinidade de livros e artigos que destilam mortal veneno contra a Maçonaria. Livros esses que podem ser encontrados até mesmo nas livrarias comuns das grandes cidades.

Mas os atuais e mais mortais inimigos são os próprios maçons. Os maçons mal selecionados, os não convictos e os despreparados, que trazem perigo constante à nossa instituição. A falta de estudo e instrução maçônica produz maçons que desconhecem a Ordem, verdadeiros profanos de avental. O desconhecimento da filosofia produz a ausência de autodisciplina, dificulta ou impede a reforma interior do Pesquisador da Verdade. Com isso, prevalecem a vaidade, o orgulho, a arrogância, a indulgência, a presunsão, a preguiça. Alguns maçons dão-se ao luxo de discordar das Leis e dos Regimentos Internos, sem falar no desprezo aos Rituais.

Mas, afinal, o que é ética?

Ética é a parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. Conjunto de princípios morais que se deve observar no exercício de uma profissão.

Logo, questões do tipo: O que é certo? Qual o meu dever? O que devo fazer?. Pertencem exclusivamente ao aspecto causal da busca do padrão ético e devem levar às respostas: Se as ações são boas, com certeza terão bons efeitos.

O axioma “Nem tudo que é legal é moralmente justo” demonstra com clareza que a Lei obriga o cidadão a fazer ou deixar de fazer coisas que podem comprometê-lo moralmente.

Quando, portanto, diante de qualquer ação pudemos fazer mentalmente a pergunta: “Estou moralmente inclinado a executar esta ação?, e a resposta for: “Esta ação produzirá a maior quantidade possível de bem no Universo”, teremos aí, com clareza, a exposição de um padrão ético a ser seguido.

Assim, quando a Ética presume afirmar que certos modos de ação são “deveres”, ela presume afirmar que agir desses modos produzirá sempre a maior soma possível de bem.

E temos certeza de que o exemplo de uma conduta produz efeitos não perceptíveis a toda a sociedade. Logo, se o exemplo é ético, produz um efeito ético que será depositado em cada elemento da sociedade. O contrário produz simplesmente degeneração de valores.

Um maçom, quando produz uma ação ética, reverbera por toda a Maçonaria e coloca mais uma pedra polida e perfeita no edifício moral da sociedade.

Mas, e quando o maçom produz ações tipicamente amorais, imorais ou não éticas, o resultado é pior, porque a reverberação negativa extrapola a Maçonaria, provocando degeneração, tanto da Ordem quanto da sociedade em geral.

Se, entretanto, tal conduta provoca repulsa na Ordem e além da repulsa provoca também a ação necessária, o efeito passa a ser muito mais poderoso, produzindo a confirmação do padrão ético. Significa que a Ordem reage para se manter limpa e pura. Quando, no entanto, esta não reage, o resultado é o mesmo em qualquer grupamento humano, a degeneração e o descrédito.

Fica claro, portanto, que não podemos e não devemos conviver com ações não ética de irmãos, na ilusão de que cada um é responsável por seus atos e que, portanto, podemos continuar éticos em meio a irmãos não éticos.

O que há, nesse caso, é a típica ilusão da pureza em ambiente contaminado. Ora, sabe-se que o exemplo produz efeitos, logo, eu até poderia me manter puro com muito esforço em tal ambiente, mas o exemplo que ficaria para a sociedade é que todos são impuros e indignos.

Não há, portanto, escapatória, já que para se manter um organismo limpo é necessária a limpeza de sua parte contaminada, de forma clara e que não pairem dúvidas da ação.

Um padrão ético exige uma aderência de comportamento e é universal. Um padrão moral também exige aderência à conduta, mas sua natureza é particular e sectária. Os dados, portanto, estão devidamente colocados. Podemos continuar como estamos: indignando-nos no nosso meio, mas omissos em ações. A resposta será dura, moralista e intolerante. E nosso exemplo perpassará por toda a sociedade e produzirá frutos.

Em loja maçônica deve prevalecer a unidade, a obediência e a disciplina. Caso continuemos, não aleguemos ignorância, fraqueza, incapacidade ou outra pequenez qualquer para desertar da missão a que somos chamados. Qualquer que seja o cargo ocupado, ele é imprescindível na execução dos trabalhos. Tenha sempre em mente que não existem cargos menores. Se tiver de ser Cobridor Externo, que seja o melhor Cobridor Externo que exista. Se tiver de ser Secretário, Diácono, Orador, faça o melhor que puder, não se esqueça de que você faz parte de um conjunto maior, existe um mundo extrafísico neste complexo em que você está. Caso assim não entenda, par e pense: para quê você está fazendo parte dessa pretensa farsa? Não esqueça que você foi escolhido para ser maçom porque é um líder, uma pessoa especial na vida profana, você se destacou dos seus pares e se aqui chegou é porque tem um valor, faça então valer esse tesouro que você traz em seu coração.

A cada reunião, reafirmamos que aqui estamos para cavar masmorras ao vício e levantar templos á virtude, e é isso, verdadeiramente que chamamos de transformar a pedra bruta em pedra polida, nesta luta não há lugar para os fracos. Qualquer que seja nossa luta interna, enfrentemos e seremos verdadeiramente construtores de um novo mundo.

Em nossas oficinas existem necessidades materiais, necessidades burocráticas a ser realizadas, mas não podemos deixar que um processo de materialização se desenvolva dentro dos Templos Maçônicos. Temos que realizar esse trabalho sem esquecer que os símbolos trazem em si o conteúdo de uma Alta Escola de Filosofia, com um caráter transcendental, e, par isso, não podemos nos esquecer da Ética, da Fraternidade, do Amor.

A crise atual é mundial, e a crise é de homens, na verdadeira acepção do vocábulo, e o maçom é um homem especial. A Maçonaria precisa voltar a mostrar aos maçons que o mundo é um hospital, onde os profanos são os enfermos; e os iniciados, os médicos e enfermeiros.

Acreditamos que padrões éticos devem ser restabelecidos rapidamente entre os maçons para que sua influência possa frutificar. Deve-se começar a falar de ética. Deve-se voltar a estudar e recuperar o verdadeiro sentido das coisas. Deve-se, enfim, divulgar pelos meios disponíveis, mas, sobretudo, cobrar de nossos irmãos em cargos de poder uma conduta ética que se transforme em exemplo para todos, profanos e iniciados, e trabalharmos sempre com Amor e Tolerância, e visando ao bem da Fraternidade.

Ir.´. Paulo Garrido Macedo de Araújo

 

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