terça-feira, 10 de janeiro de 2012

INTOLERÂNCIA E FANATISMO


INTOLERÂNCIA E FANATISMO


Charles Evaldo Boller

Para absorver a capacidade de dominar a tendência natural de tomar a justiça em suas próprias mãos, o Maç.'. desenvolve uma espiritualidade racional que aliada à inteligência possibilita um aprendizado superior.

É amplamente conhecido que apenas uma sociedade educada, que valoriza sua cultura e está disposta a dominar os segredos de uma postura mais tolerante, desperta para a possibilidade de levar a intolerância e o fanatismo a níveis insignificantes. E o resultado do combate à intolerância é admitir que a tolerância absoluta seja impossível; caso contrário seria o fim dela. Se tudo for tolerado, então para que tolerância? É por isto que é aceitável que, nem sempre, algo que é considerado intolerável seja uma demonstração de intolerância. A tolerância é um dos elementos basilares da possibilidade de existir da própria Ord.'. maçônica, que nasceu no século XVIII em resultado da ação de homens de visão para propiciar a reunião de pessoas, das mais diversas religiões e linhas de pensamentos filosóficos para, em conjunto, propiciarem soluções para diversos problemas da sociedade, como a crueldade resultante do despotismo, da intolerância e do fanatismo. Muitos homens e mulheres valorosos foram mortos indevidamente, com a maior crueldade possível, apenas porque discordaram de um ou outro extremista que de forma absoluta exercia o poder.

Na Maçonaria descobre-se em maior profundidade que a ninguém, a nenhum ser humano é dado chamar para si a capacidade de possuir a verdade absoluta em qualquer tema. Para o Maç.'. a verdade absoluta só pode emanar do G.'. A.'. D.'. U.'.. E quando ele descobre esta realidade, passa a crescer em espiritualidade de fato. Não por fingimento ou pelo que o seu grupo social lhe impinge nas diversas fases da vida. Quando atinge a maturidade de sua espiritualidade ele dispensa todo e qualquer intermediário entre si e a sua divindade, ou aquilo que ele considera sagrado.

Pelo fato de apoiar sua posição num conceito ao qual denomina G.'. A.'. D.'. U.'. a Maçonaria é religiosa, ela religa o homem a sua divindade, mas não é uma religião. Como acontece isto? Para provar que a afirmação não constitui uma ambigüidade é necessário buscar apoio no que significa religião, definindo o que a Ord.'. maçônica faz em cada definição:
Culto prestado a uma divindade; a Maçonaria não pratica culto de nenhuma espécie em sua ritualística. Existem invenções como a oração proferida pelo Mestr.'. de CCerim.'. antes de iniciar os TTrab.'. ou o uso de Cadeia de União para oração, este último procedimento veementemente reprovado por autoridades maçônicas. Existem duas linhas de pensamento comuns à Maçonaria. Deísmo, a doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada; como John Locke. Teísmo, doutrina comum a religiões monoteístas caracterizada por afirmar a existência de um único Deus, de caráter pessoal e transcendente, soberano do universo e em intercâmbio com a criatura humana; como Immanuel Kant. A única oração, que segue a linha de pensamento teísta, que faz parte oficial da liturgia maçônica é a efetuada pelo Ven.'. Mestr.'. no início dos TTrab.'. e a leitura de um versículo do Livr.'. da L.'., no caso a bíblia judaico-cristã em LLoj.'. de OObr.'. cristãos.

Mesmo que Platão seja o criador da teologia ocidental, pelo fato de lançar as categorias do imaterial, o que permitiu o pensamento do divino imaterial, a Maçonaria não discute este campo por influência do iluminismo, e não vê nisso nenhum resultado prático, apenas causa de separações e litígio. Fomenta-se o desenvolvimento completo do homem pelo uso da sã racionalidade dirigida por uma espiritualidade não dogmática. Não se discute Deus em sentido teológico, pois o conhecimento de um ser desta magnitude não é concebível ao homem, e qualquer tentativa nesta direção leva ao incompreensível, ilógico e intratável pela razão. É objetivo fomentar nos homens a capacidade de pensar de forma livre, sem imposições externas e em todos os campos intelectuais. A Maçonaria provoca cada um em sua própria base de adoração numa busca interna e solitária de sua espiritualidade.

Crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal; mesmo sob forte influência teísta, em verdade G.'. A.'. D.'. U.'. não é considerado pelos MMaç.'. uma entidade, um ser, é apenas um conceito da existência de um princípio criador. Não lhe prestam culto. Qualquer tentativa em confundir o conceito por uma entidade é rechaçada porque só resulta em confusão. É condição indispensável para a admissão na Ord.'. que o cidadão acredite em um ente supremo e numa vida após a morte - Landmarks 19 e 20 - mas G.'. A.'. D.'. U.'. não é o Deus de qualquer religião, é apenas um conceito que cada Obr.'. materializa conforme sua própria crença. Na verdade, apesar de ser praticada por uma maioria cristã, o conceito genérico representa qualquer deus, de qualquer religião, seja ela cristã ou não. É um erro denominar a Maçonaria a "Ordem do Grande Arquiteto do Universo" ou escrever G.'. A.'. D.'. U.'. sem a tripontuação, como por exemplo, Gadu - porque esta designação não corresponde a uma entidade, mas estritamente a um conceito.

É induzido no Maç.'. que nenhum homem foi lançado por acaso em meio ao caos e à arbitrariedade ao despertar em si que pertence a uma ordem superior de criaturas, uma maravilhosa sinfonia da vida onde cada um constrói o seu próprio deus à sua maneira, de acordo com sua herança cultural, de acordo com a sua religião, seja esta uma interpretação antropomórfica ou não.

G.'. A.'. D.'. U.'. é causa, a causa criadora, criador da ordem no universo, o bem, e tem relação com a ordem moral. A concepção mais comum é a que considera G.'. A.'. D.'. U.'. como garante da ordem moral do mundo, onde mesmo como criador da ordem natural, não tem nenhuma responsabilidade sobre a ordem moral que é confiada ao livre arbítrio da criatura.

Na prática vêem-se manifestações dentro da Ord.'. maçônica que oscilam entre o deísmo de John Locke e o teísmo de Immanuel Kant, mas estas diferenças são toleradas, podem até ser invocadas, porém nunca discutidas ou veneradas.

Conjunto de dogmas e práticas próprias de uma confissão religiosa; apesar das leis basilares emanadas dos Landmarks 19 e 20 constituírem dogmas; crença num ente supremo e numa vida futura, estes dogmas não sofrem nenhum tipo de adoração ou tradução em ato de fé.

Os místicos que pululam a Ord.'.maçônica introduziram miríades de conceituações e rituais que não são parte integrante da base da ritualística e liturgia maçônica.

A base do entendimento maçônico entende que o corpo não morrerá e que continuará perpetuamente vivo, onde a vida continua, haja vista que todos têm moléculas em comum com o restante dos seres viventes da biosfera, bem como guardam entre si os princípios básicos da organização vital.

A mente encarnada leva à dedução da espiritualidade também fazer parte do corpo, porque os conceitos e metáforas estão profundamente misturados neste caldeirão de vida da biosfera. Todos os seres vivos pertencem ao universo no qual estão em sua própria residência, e o perceber desta realidade, deste fazer parte de um projeto gigante e complexo dá um profundo sentido a vida.

O espírito, o sopro da vida que mora em cada um, é o que todos têm em comum com os seres viventes. É esta que alimenta a todos e os mantém vivos. Uns mais evoluídos outros menos, mas todos pertencentes a um ser vivo imenso composto de uma imensa variedade de seres individuais, interdependentes entre si. A relação existe desde as criaturas monocelulares até o homem no topo da cadeia evolucional.

Manifestação de crença por meio de doutrinas e rituais próprios; não existe doutrina de profissão fé, apenas o desenvolvimento de princípios morais e de conduta em resultado de estórias, ficções, que representam princípios morais a serem cultivados; não são praticados rituais de adoração, apenas de circulação, respeito e posicionamento.

Qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolve uma posição filosófica, ética, metafísica; estuda-se filosofia em sentido lato, de qualquer origem, eclética, para extrair o que existe de bom em cada uma e formar bons princípios;
Existe uma ética própria, como em qualquer classe profissional, haja vista a Ord.'. maçônica derivar de antigas organizações de talhadores de pedra;
Obedece aos conceitos metafísicos do platonismo que infere uma libertação total para o campo da idéia, racional; perceptível com a mente e imperceptível aos sentidos.

Cada Maç.'. já possui sua própria forma de adoração; o cristão torna-se melhor cristão, o maometano um melhor maometano.

A própria cerimônia de iniciação na Maçonaria é um ensaio para a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos e que conduz para uma madureza revelada pela luz, a sabedoria. Onde esta minoridade é a incapacidade de usar a própria capacidade intelectual sem a orientação de outro. O iniciando é vendado e conduzido o tempo todo por um guia. E essa minoridade será debitada a cada um se não for causada por deficiência da capacidade de pensar por si próprio, por falta de decisão, falta de coragem para utilizar do intelecto como seu guia, ou ainda por simples indolência. Os MMaç.'. são permanentemente provocados a ousarem a utilização de seus próprios intelectos; alguns assim agem, outros, mesmo no decurso de muitos anos ainda remanescem adormecidos na minoridade.

Então, não basta ser iniciado na Ord.'. maçônica, a verdadeira iniciação ocorre dentro do intelecto e para isto há necessidade de estudar, discutir, pensar, enfim, honrar o avental e trabalhar muito.

O Maç.'. evoluído deve buscar o equilíbrio consigo, com os outros e o meio-ambiente.

É dotado de motivação para a prática da virtude, não por obrigação, mas por sentimento de dever cumprido.

Não deve demonstrar receio de punições num mundo após sua morte, se faz algo, certo ou errado, está consciente que tanto a recompensa como o castigo o alcançará enquanto estiver vivo.

Deve aplacar paixões desenfreadas a níveis insignificantes, mas deve equilibrar e liberar suas paixões dentro de limites que tornem a vida bela e prazerosa.

Deve ser moderado até no falar e expor suas idéias, sem ser subserviente, arrogante, ou adulador oportunista.

Em função de sua condição e estado neurofisiológico tenta ser cordial não só com seus IIrm.'. em Loj.'., mas com toda a coletividade, mesmo que sua reação contra a violência e o mal demonstrem o contrário; com a ignorância, o fanatismo e a intolerância não existe comiseração.

Não é tido a bravatas no campo da política partidária dentro da Maçonaria, isto ele expressa fora dela, por sua atuação na melhoria das condições de vida da população ao seu redor e alicerçado nos princípios que absorveu na Ord.'..

É moderado, discreto e tem como objetivo principal da vida a busca de um espírito desenvolvido.
Estas as razões do Maç\ desperto e ativo combater a intolerância e o fanatismo.

Charles Evaldo Boller
ARLS Apóstolo da Caridade, 91
Grande Loja do Paraná (Oriente de Curitiba)



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