És Maçom? (uma fábula)
Contribuição enviada pelo Ir.'. Carlos A. Guimarães
Só me lembrava daquela forte dor no peito. Como viera eu parar aqui? O ambiente me era familiar. Já estivera aqui, mas quando?
Caminhava sem rumo. Pessoas desconhecidas passavam por mim, contudo, não tinha coragem de abordá-las.
Mas espere, que grupo seria aquele reunido e de terno preto?
Lógico! Não estariam indo e vindo de um enterro; hoje em dia é tão comum pessoas irem ao velório de roupa preta. É claro! São Irmãos!.
Aproximei-me do grupo. Ao me verem chegar interromperam a conversa.
Discretamente executei o S.’. de A.’., obtendo resposta.
A alegria tomou conta de mim. Estava entre amigos.
Identifiquei-me. perguntei ansioso o que estava acontecendo comigo.
Responderam-me com muito cuidado e fraternalmente. Havia desencarnado.
Fiquei assustado; e a minha família, os meus amigos, como estavam?
- Estão bem, não se preocupe; no devido tempo você os verá, responderam.
Ainda assustado, indaguei do motivo de suas vestes.
Estamos nos encaminhando ao nosso Templo Maçônico – foi a resposta.
- Templo Maçônico? Vocês têm um?
- Sim, claro. Por que não?
Senti-me mais à vontade, afinal sou um Grande Inspetor Geral e com certeza receberei as honras devidas ao meu Gr.’..
Pedi para acompanhá-los, no que fui atendido.
Ao fim da pequena caminhada divisei o Templo. Confesso que fiquei abismado. Sua imponência era enorme.
As colunas do pórtico, majestosas. Nunca vira nada igual. Imaginei grupos de Irmãos conversando animadamente, porem em tom respeitoso.
O que parecia o líder do grupo, que me acompanhava, chamou um Irmão que estava adiante:
- Irmão Exp.’.! Acompanhai o Irmão recém chegado e com ele aguarde.
Não entendi bem, afinal, tendo mostrado meus documentos, esperava, no mínimo, uma recepção calorosa. Talvez estejam preparando uma surpresa à minha entrada; para um Gr.’. 33 não poderia se esperar nada diferente.
Verifiquei que os Irmãos formavam o cortejo para entrada no Templo. À distância não pude ouvir o que diziam, contudo, uma luminosidade esplendorosa cercou a todos.
De tanta emoção não conseguia dizer nada. O tempo passou... Não pude medir quanto.
A porta do Templo se entreabriu e o Irmão M.’. de CCer.’., encaminhando-se a mim, comunicou que seria recebido. Ajeitei o paletó, estufei o peito, verifiquei se minhas comendas não estavam desleixadas e caminhei com ele.
Tremia um pouco, mas quem não o faria em tal circunstância? Respirei fundo e adentrei ritualisticamente ao Templo.
Estranho... Esperava encontrar luxuosidade esplendorosa, muito ouro e riqueza.
Verifiquei, rapidamente, no entanto, uma simplicidade muito grande.
Uma luz brilhante, vindo não sei de onde, iluminava o ambiente.
Cumprimentei o V.’. M.’. e os VVig.’. na forma usual. Ninguém se levantou à minha entrada. Mantinham-se calados, respeitosos.
Não sabia o que fazer. Aguardava ordens ... e elas vieram na voz firme do V.’. M.’., que, na forma de costume, me perguntou se eu sou maçom.
Reconhecendo a necessidade de tal formalidade em tais circunstâncias, aceitei respondê-lo e o fiz, também pela forma de costume.
Aguardei, seguro, a pergunta seguinte. Em seu lugar o V.’. M.’. dirigindo-se aos presentes, perguntou:
- Os IIr.’., aqui presentes, o reconhecem como Maçom?
Assustei-me. O que era isso? Por que tal pergunta?
O silêncio foi total.
Dirigindo-se a mim, o V.’. emendou:
- Meu caro Ir.’. visitante, os IIr.’. aqui presentes não o reconhecem como Maçom.
- Como não?! Disse eu. Não vêm as minhas insígnias? Não verificaram os meus documentos?
Sim, caro Ir.’., retrucou solenemente o V.’. M.’.. Contudo, não basta ter ingressado na Ordem, ter diplomas ou insígnias para ser um Maçom. É preciso, antes de tudo, ter construído o “seu Templo” e verificamos que tal não ocorreu com o Ir.’.. Observamos, ainda, que apesar de ter tido todas as oportunidades de estudo e de ter galgado ao mais alto dos GGr.’., não absorveu seus ensinamentos. Sua passagem pela Arte Real foi efêmera.
Não pude agüentar. Retruquei:
- Como efêmera? Vocês que tudo sabem não observaram minhas atitudes fraternas?
Fui interrompido.
- IIr.’., vejamos então sua defesa...
Automaticamente desenhou-se na parede algo parecido com uma tela imensa de televisão e, na imagem, reconheci-me junto a um grupo de IIr.’. tecendo comentários desairosos contra a administração de minha Loja. Era verdade.
Envergonhei-me. Tentei justificar, mas não encontrava argumentos. Lembrei-me, então, de minhas ações beneficentes. Indaguei-os sobre tal.
E mudando a imagem como se trocassem de canal, vi-me colocando a mão vazia no Tr.’. de B.’.. Era fato e, costumeiramente, o fazia, por achar que o óbolo não seria bem usado...
Por não ter o que argumentar; calei-me e lágrimas de remorso brotaram-me nos olhos. Iniciei a retirar-me, cabisbaixo e estanquei ao ouvir a voz autoritária e, ao mesmo tempo, fraterna do V.’..
- Meu Ir.’., reconhecemos suas falhas quando no orbe terrestre e na Maçonaria. Contudo, reconhecemos, também, que o Ir.’. foi iniciado em nossos Augustos Mistérios. Prometemos, em suas iniciações, protegê-lo, e o faremos. O Ir.’. terá a oportunidade de consertar seus erros. Afinal, todos nós aqui presentes já os cometemos um dia. Descanse neste plano o tempo necessário e, ao voltar à matéria, para novas experiências, nós o encaminharemos para a Ordem Maçônica. Sua nova caminhada, com certeza, será mais promissora e útil.
Saí decepcionado, mas estranhamente aliviado.
Aquelas palavras parecem ter me tirado um grande peso. Com certeza, ali eu desbastara um pedaço de minha P.’. B.’..
Acordei, sobressaltado e suando. Meu coração, disparado. Levantei-me assustado, mas com certa alegria no peito. Havia sonhado!!
Dirigi-me ao guarda-roupas. Meu terno ali estava.
Instintivamente retirei do paletó as medalhas e insígnias e as guardei em uma caixa.
Ainda emocionado, e com os olhos molhados de lágrimas, dirigi-me à minha mesa e com as mãos trêmulas e cheio de uma alegria enleante, retirei o Ritual de Ap.’. Maç.’..
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