terça-feira, 31 de agosto de 2010

Imortalidade!

Platão



Sob o véu da morte, esconde-se a nudez da verdade, que um dia, ao ser revelada, dará ao Homem a certeza de que não existem nem vida nem morte, mas, simplesmente, Imortalidade!




Carlos Bernardo Loureiro




Provérbio Egípcio

“Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar, inclusive o meu inimigo, em nome de Cristo, tudo isto, naturalmente, não deixa de ser uma grande virtude. O que eu faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço. Mas o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar?”

Carl Gustav Jung



“Quando as águas se juntam, o rio se forma”.


ditado chinês




Platão, a imortalidade da Alma



XII – Por conseguinte, companheiro, continuou Sócrates, se tudo isso estiver certo, há muita esperança de que somente no ponto em que me encontro, e mais em tempo algum, é que alguém poderá alcançar o que durante a vida constitui nosso único objetivo. Por isso, a viagem que me foi agora imposta deve ser iniciada com uma boa esperança, o que se dará também com quantos tiverem certeza de achar-se com a mente preparada e, de algum modo, pura.
Isso mesmo, observou Símias.
E purificação não vem a ser, precisamente, o que dissemos antes: separar do corpo,
quanto possível, a alma, e habituá-la a concentrar-se e a recolher-se a si mesma, a afastar-se de todas as partes do corpo e a viver, agora e no futuro, isolada quanto possível e por si mesma, e como que libertada dos grilhões do corpo?
É muito certo, respondeu.
E o que denominamos morte, não será a liberação da alma e seu apartamento do
corpo?Sem dúvida, tornou a falar.
E essa separação, como dissemos, os que mais se esforçam por alcançá-la e os únicos
a consegui-la não são os que se dedicam verdadeiramente à Filosofia, e não consiste toda a atividade dos filósofos na libertação da alma e na sua separação do corpo?
Exato.
Sendo assim, como disse no começo, não seria ridículo preparar-se alguém a vida
inteira para viver o mais perto possível da morte, e revoltar-se no instante em que ela
chega? Ridículo, como não?
Logo, Símias, continuou, os que praticam verdadeiramente a Filosofia, de fato se
preparam para morrer, sendo eles, de todos os homens, os que menos temor revelam à idéia da morte. Basta considerarmos o seguinte: se de todo o jeito eles desprezam o corpo e desejam, acima de tudo, ficar sós com a alma, não seria o cúmulo do absurdo mostrar medo e revoltar-se no instante em que isso acontecesse, em vez de partirem contentes para onde esperam alcançar o que a vida inteira tanto amara – sim, pois eram justamente isso: amantes da sabedoria – e ficar livres para sempre da companhia dos que os molestavam? Como!
Amores humanos, ante a perda de amigos, esposas e filhos, têm levado tanta gente a baixar voluntariamente, ao Hades, movidos apenas da esperança de lá reverem o objeto de seus anelos e de com eles conviverem; no entanto, quem ama de verdade a sabedoria, e mais: está firmemente convencido de que em parte alguma poder encontrá-la a não ser no Hades, haverá de insurgir-se contra a morte, em vez de partir contente para lá? Sim, é o que teremos de admitir, meu caro, se se tratar de um verdadeiro amante da sabedoria. Pois este há de estar firmemente convencido de que a não ser lá, em parte alguma poderá encontrar a verdade em toda a sua pureza. Se as coisas se passam realmente como acabo de dizer, não seria dar prova de insensatez temer a morte semelhante indivíduo?
Sem dúvida, por Zeus, foi a sua resposta.



Fédon, de Platão

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