segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Porque sou contra reeleição em Loja Maçônica


 
Porque sou contra reeleição em Loja Maçônica

 Paulo Henrique Sarmento (*)

 Quando ingressei na Maçonaria, acreditei que estaria em uma entidade filosófica, onde debateríamos temas de grande importância para a evolução do SER e da Sociedade, onde pudéssemos reviver os grandes filósofos em sua caminhada rumo ao entendimento humano, para a criação verdadeira de uma entidade justa e perfeita em prol de um mundo melhor. Lógico  que o homem é totalmente imperfeito, mas não imaginava que muitas pessoas não desejam consertar a imperfeição, até por serem inflexíveis e ditadores, pessoas que buscam apenas os seus interesses pessoais! Estas  pessoas verdadeiramente nunca foram, são ou serão maçons, pois trabalham para si próprios, vivem enganando os outros com filosofias baratas, vendendo-as como as praticassem..., mas o que faz estas pessoas chegarem ao limbo do mau caráter pessoal ou desejo pelo poder eterno? 

Cada um nasce com suas características próprias, potencialidades e limitações, cada ser humano é único, singular, sendo que ao longo da vida o ser humano vai se distanciando deste EU próprio, influenciado pelo mundo, sendo sequestrado pelas opiniões ou regras estabelecidas, ou sequestrando os outros pelos seus desejos, o que é chamado de sequestro de subjetividade, ou seja, aquilo que nos  faz perder nossas referências de quem nós realmente somos.

Sequestro da subjetividade é um fenômeno que há todo momento acontece em nosso meio: ou porque estamos presenciando alguém sendo levado de si, ou porque estamos sequestrando, ou sendo sequestrados. O que podemos perceber é que a estrutura social em que estamos situados é fortemente marcada pelas relações que sequestram. É sequestro da subjetividade tudo aquilo que nos priva de nós mesmos. Até mesmo nas pequenas realidades, as mais simples, há sempre o risco de que estejamos abrindo mão de nossos valores em detrimento da vontade de sequestradores que em nada estão comprometidos com nossa realização humana. É sequestro da subjetividade todo o processo que neutraliza e impede o ser humano de conhecer-se, passando a assumir uma postura ditada por outros. (Quem me roubou de mim? Autor: Padre Fábio de Melo – Ed. Canção Nova)

Para combatermos este fenômeno precisamos estudar o SER e tentar criar soluções em que venhamos reverter em boa parte esta situação de pseudo maçons que enganando as suas identidades próprias e de outrem. Podemos a propósito criar mecanismos que impeçam que este mal se alastre? Podemos transformar as estruturas sociais?

Na Loja, a forma é engajarmos no comprometimento com o SER Humano em uma ação única, no dever para evolução da sociedade, e a outra forma é impedir a reeleição e criar linha sucessória de cargos, estes são fatores que impedem maçons perderem sua identidade pessoal, vendendo sua alma e princípios em prol do gosto do poder, pois o “PODER” seduz e provoca arrogância nos líderes, vicia criando dependência de pessoas que buscam estar sempre na dominação e controle.

 Vimos que são muitos os maçons que querem o poder, pois precisam ser reconhecidos e vistos pelos outros como superiores, achando que podem mandar até na vida pessoal dos irmãos subordinados.

Todo o poder que tem caráter de conquista é sedutor, pode levar a pessoa a essa fraqueza moral, psicológica de achar que por ter o poder ele é maior do que os outros. Quem assim pensa com certeza é mais pobre, pois o conquistou mais fora de si do que dentro de si.

O mundo está repleto de homens que conseguiram êxito, só que não conseguiram ser eles próprios. Diria que essas pessoas são escravas do poder porque no dia em que deixarem o poder, também deixarão de ser o que demonstram ser. Esse tipo de líder com fraqueza de espírito e alma é um líder inseguro, desconfiado, temeroso etc.

Os líderes em todos os setores dos negócios e da educação continuam desejando a liderança e não se importam de afastar outros para obter essas posições.

Para mudar este padrão vicioso em ter o PODER, podemos trazer soluções básicas que podem trazer efeitos magníficos em nossa caminhada maçônica:

- Não haver reeleição para Venerável ou Grão-Mestre (Distrital, Estadual ou Geral);

- Linha sucessória para todos os graus, salvo quando o irmão não tiver condições de ser exaltado ou assumir cargos ou quando o irmão não tiver interesse em assumir algum cargo. Lembrando que quando não houver sucessor os mestres que já tivessem sido Veneráveis ou cargos de diretoria – excepcionalmente - poderão se candidatar a eleição novamente;

- Avaliação de todos os mestres para os irmãos que estão na linha sucessória para assumir os cargos;

- Os irmãos para chegarem ao veneralato deverão passar por todos os cargos começando pelo cargo de Diácono, depois Tesoureiro, Secretário, 2° Vigilante, 1° Vigilante e depois o cargo de Venerável. Após ocupar este honroso cargo, irá para o cargo de Past Master orientando e treinando o novo Venerável e no ano seguinte assumindo o cargo de Guarda do Templo onde in casu assumirá um cargo sem poder, quando então analisará que toda a sua trajetória é feita para transformar o SER e não para trazer vícios ou manias de poder;

- Aceitar a individualidade e a opinião de cada irmão;

- Aumento de assuntos filosóficos sobre temas que modifiquem o SER e sociedade em geral.;

Para fundamentarmos que a alteração na operacionalidade é importante, algumas visões sobre o que o poder muda o SER, retiramos  o texto a seguir de um artigo escrito por Raymundo de Lima, psicanalista e professor da UEM (Universidade Estadual de Maringá), podemos perceber o que é o poder na vida das pessoas:

O psicanalista J. Lacan ,observou que a partir do momento em que alguém se vê "rei", ele muda sua personalidade. Um cidadão qualquer quando sobe ao poder, altera seu psiquismo. Seu olhar sobre os outros será diferente; admita ou não ele olhará "de cima" os seus "governados", os "comandados", os "coordenados", enfim, os demais.

Estar no poder, diz Lacan, "dá um sentido interiormente diferente às suas paixões, aos seus desígnios, à sua estupidez mesmo". Pelo simples fato de agora ser "rei", tudo deverá girar em função do que representa a realeza. Também os "comandados" são levados pelas circunstâncias a vê-lo como o "rei do pedaço".

Antes de ocupá-lo, o poder atrai e fascina; depois de ocupado tende a colar a alguns como se lhes fossem eterno. Aí está a diferença entre um Fidel Castro e um Nelson Mandela. O primeiro e a maioria dos ditadores pretendem se eternizar no poder, o segundo, mais sábio, toma-o como transitório, evitando ser possuído pelo próprio. ("Possuído", sim, pois o poder tem algo de diabólico, que tenta, que corrompe, etc).

Uma vez no poder, o sujeito precisará de personas (máscaras) e molduras de sobrevivência. A persona serve para enganar a si e aos outros. A moldura, é algo necessário para delimitar simbolicamente a ação dele enquanto representante do poder. A ausência de moldura ou o seu mau uso fará irromper a força pulsional do sujeito que anseia por mais e mais poder, podendo vir a se tornar uma patologia psíquica. A história coleciona exemplos: Hitler, Stalin, Mobutu, Collor de Melo, Pol Pot, Idi Amim, etc.

O poder faz fronteira com a loucura. Não é sem motivo que muitos loucos se julgam Napoleão ou o Rei Luis XV. Parece que há algo de "loucura narcísica" nas pessoas que anseiam chegar ao poder político (governante de uma cidade, estado ou país, ministro, membro do secretariado local), ou ao poder de uma instituição, empresa, departamento, pequeno setor de uma organização qualquer ou grupo qualquer. O narcisismo de quem ocupa o poder, revela-se na auto-admiração (o amor a si e aos seus feitos), na recusa em aceitar o que vem dos outros e no gozo que ele extrai do poder, que, levado ao extremo poderia revelar loucura. R. Kurz, é direto ao declarar que "o poder torna as pessoas estúpidas e muito poder, torna-as estupidíssimas".

O sociólogo M. Tragtenberg certa vez observou como muitos intelectuais discursam uma preocupação pelo "social", mas estão  mesmo preocupados com a sua "razão do poder". Há uma espécie de "gozo louco" pelo poder, que faz subir a cabeça dos que estão jogando para ganhá-lo um dia.

Do ponto de vista psicológico, observa-se que o poder faz o ocupante perder a própria identidade pessoal e assumir outra, contornada pela "forma" do próprio poder.

O psicólogo Ricardo Vieira, da UERJ, de quem me inspirei para continuar seu artigo, levanta alguns indicadores de mudanças que ocorrem com  as pessoas que chegam ao poder:

3) altera o tratamento com o outro, que torna-se autoritário com seus subordinados; gritos e ameaças passam a ser seu estilo. Certa vez, perguntaram a Maquiavel se era melhor ser amado que temido? O autor de O príncipe respondeu que "os dois mas se houver necessidade de escolha, é melhor ser temido do que amado".

Os sujeitos quando no poder protegem-se da crítica reforçando pactos de auto-engano com seus colegas de partido. Reforçam a crença de que representam o Bem contra o Mal, recusam escutar o outro que lhe faz crítica e que poderia norteá-lo para corrigir seus erros e ajudar a superar suas contradições. Se entrincheirarem no grupo narcísico, o discurso político tornar-se-á dogmático, duro, tapado, e podemos até prever qual será o seu futuro se tomar o caminho de também eliminar os divergentes internos e fazer mais ações de governo contra o povo, "em nome do povo".

Infelizmente assim é o poder: seduz, corrompe, decepciona e faz ponto cego e surdo nos seus ocupantes temporários.

Acabando com a reeleição e criação de linha sucessória a Loja enfim obterá:

 - Extinção de criação de grupos interessados em poder;

- Extinção de articulações, manobras, alianças espúrias e conchavos de pessoas que desejam eleger seus queridinhos;

- Extingue a manipulação de pessoas;

- Extinção do Puxa-saquismo, pois os irmãos saberão que há o tempo e linha sucessória já determinados e que só depende dele próprio estar em condições para assumir;

- Renovação de liderança anualmente faz o grupo adaptar-se sempre ao novo, o que é o conceito da filosofia: mudança é que move o mundo e ter sempre reformulação de ideias, impedindo a repetição e estagnação;

- Oportunidade de participação total de todos os membros;

- Motiva os seus membros em ter comportamento baseado em princípios de união;

- Não haverá competividade, pois há uma linha sucessória a ser cumprida, exceto se o irmão estiver com pendências e desagravos com as obrigações na Loja;

-  Não gera insatisfações de grupos que não participaram da Diretoria, não cria desejos de irmãos quererem sair da Loja para montarem uma outra Loja;

- Obrigação dos que assumirem os cargos em estar em consonância com seus deveres a essência da Maçonaria e da Loja;

- Acaba com a vaidade de querer manter o reinado e o vicio em querer controlar tudo. Extinção de vícios de poder e extingue os interesses pessoais;

- A diretoria passa a não ter influência de poucos “reis do pedaço”, focando na egrégora da Loja, não provocando distorções que sufocam as pretensões de novas lideranças ou reeleições para manter o poder de poucos;

- Aumento de participação no compartilhar conhecimento;

- Aceitação da individualidade e opinião do irmão;

- Não haverá criação de chapas promovendo divisões na Loja, diminuído confrontos entre mestres.

 A estrutura social vigente toma o ser humano como objeto quando o único caminho é o resgate da subjetividade humana, através da fala, expressão e comunicação, permitindo o respeito da individualidade de cada um.

Muitos não foram ensinados ao diálogo, tornando o ambiente em competividade e agressividade, pois muitos gostam de agredir, mas quando as pessoas reagem exigem que os irmãos tenham tolerância com ele, pois são covardes que se escondem atrás dos puxa-sacos e escudo da tolerância. Ter tolerância é ser justo, mas ser tolerante excessivo é deixar as impunidades imperarem.

Qual é o desejo que leva ao homem querer um segundo mandato? Será para manter que é uma pessoa importante? Será o desejo de continuar no poder? Promoção pessoal? Muitos alegam que é o desejo de todos os irmãos, mas enganam-se a si próprio que o desejo real é do próprio em manter o sentimento do PODER.

...Cada ser humano traz em si o dom de transformar o mundo inteiro, mas isso só será possível se ele viver o constante desafio de não perder-se de si mesmo. (Quem me roubou de mim? Autor: Fábio de Melo – Ed. Canção Nova)

 C\A\M\

 Ir\ Paulo Henrique Sarmento – C\M\

 

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