Porque sou contra
reeleição em Loja Maçônica
Paulo Henrique Sarmento (*)
Quando ingressei na
Maçonaria, acreditei que estaria em uma entidade filosófica, onde debateríamos
temas de grande importância para a evolução do SER e da Sociedade, onde
pudéssemos reviver os grandes filósofos em sua caminhada rumo ao entendimento
humano, para a criação verdadeira de uma entidade justa e perfeita em prol de
um mundo melhor. Lógico que o homem é totalmente imperfeito, mas não
imaginava que muitas pessoas não desejam consertar a imperfeição, até por serem
inflexíveis e ditadores, pessoas que buscam apenas os seus interesses pessoais!
Estas pessoas verdadeiramente nunca foram, são ou serão maçons, pois
trabalham para si próprios, vivem enganando os outros com filosofias baratas,
vendendo-as como as praticassem..., mas o que faz estas pessoas chegarem ao
limbo do mau caráter pessoal ou desejo pelo poder eterno?
Cada um nasce com suas
características próprias, potencialidades e limitações, cada ser humano é
único, singular, sendo que ao longo da vida o ser humano vai se distanciando
deste EU próprio, influenciado pelo mundo, sendo sequestrado pelas opiniões ou
regras estabelecidas, ou sequestrando os outros pelos seus desejos, o que é
chamado de sequestro de subjetividade, ou seja, aquilo que nos faz perder
nossas referências de quem nós realmente somos.
Sequestro da subjetividade é um fenômeno que há todo momento
acontece em nosso meio: ou porque estamos presenciando alguém sendo levado de
si, ou porque estamos sequestrando, ou sendo sequestrados. O que podemos perceber
é que a estrutura social em que estamos situados é fortemente marcada pelas
relações que sequestram. É sequestro da subjetividade tudo aquilo que nos priva
de nós mesmos. Até mesmo nas pequenas realidades, as mais simples, há sempre o
risco de que estejamos abrindo mão de nossos valores em detrimento da vontade
de sequestradores que em nada estão comprometidos com nossa realização humana.
É sequestro da subjetividade todo o processo que neutraliza e impede o ser
humano de conhecer-se, passando a assumir uma postura ditada por outros. (Quem
me roubou de mim? Autor: Padre Fábio de Melo – Ed. Canção Nova)
Para combatermos este fenômeno precisamos estudar o SER e tentar
criar soluções em que venhamos reverter em boa parte esta situação de pseudo
maçons que enganando as suas identidades próprias e de outrem. Podemos a
propósito criar mecanismos que impeçam que este mal se alastre? Podemos
transformar as estruturas sociais?
Na Loja, a forma é engajarmos no comprometimento com o SER
Humano em uma ação única, no dever para evolução da sociedade, e a outra forma
é impedir a reeleição e criar linha sucessória de cargos, estes são fatores que
impedem maçons perderem sua identidade pessoal, vendendo sua alma e princípios
em prol do gosto do poder, pois o “PODER” seduz e provoca arrogância nos
líderes, vicia criando dependência de pessoas que buscam estar sempre na
dominação e controle.
Vimos que são muitos os maçons que querem o poder, pois
precisam ser reconhecidos e vistos pelos outros como superiores, achando que
podem mandar até na vida pessoal dos irmãos subordinados.
Todo o poder que tem caráter de conquista é sedutor, pode levar
a pessoa a essa fraqueza moral, psicológica de achar que por ter o poder ele é
maior do que os outros. Quem assim pensa com certeza é mais pobre, pois o
conquistou mais fora de si do que dentro de si.
O mundo está repleto de homens que conseguiram êxito, só que não
conseguiram ser eles próprios. Diria que essas pessoas são escravas do poder
porque no dia em que deixarem o poder, também deixarão de ser o que demonstram
ser. Esse tipo de líder com fraqueza de espírito e alma é um
líder inseguro, desconfiado, temeroso etc.
Os líderes em todos os setores dos negócios e da educação
continuam desejando a liderança e não se importam de afastar outros para obter
essas posições.
Para mudar este padrão vicioso em ter o PODER, podemos trazer
soluções básicas que podem trazer efeitos magníficos em nossa caminhada
maçônica:
- Não haver reeleição para Venerável ou Grão-Mestre (Distrital,
Estadual ou Geral);
- Linha sucessória para todos os graus, salvo quando o irmão não
tiver condições de ser exaltado ou assumir cargos ou quando o irmão não tiver
interesse em assumir algum cargo. Lembrando que quando não houver sucessor os
mestres que já tivessem sido Veneráveis ou cargos de diretoria –
excepcionalmente - poderão se candidatar a eleição novamente;
- Avaliação de todos os mestres para os irmãos que estão na
linha sucessória para assumir os cargos;
- Os irmãos para chegarem ao veneralato deverão passar por todos
os cargos começando pelo cargo de Diácono, depois Tesoureiro, Secretário, 2°
Vigilante, 1° Vigilante e depois o cargo de Venerável. Após ocupar este honroso
cargo, irá para o cargo de Past Master orientando e treinando
o novo Venerável e no ano seguinte assumindo o cargo de Guarda do Templo
onde in casu assumirá um cargo sem poder, quando então
analisará que toda a sua trajetória é feita para transformar o SER e não para
trazer vícios ou manias de poder;
- Aceitar a individualidade e a opinião de cada irmão;
- Aumento de assuntos filosóficos sobre temas que modifiquem o
SER e sociedade em geral.;
Para fundamentarmos que a alteração na operacionalidade é
importante, algumas visões sobre o que o poder muda o SER, retiramos o
texto a seguir de um artigo escrito por Raymundo de Lima, psicanalista e
professor da UEM (Universidade Estadual de Maringá), podemos perceber o que é o
poder na vida das pessoas:
O psicanalista J. Lacan ,observou que a partir do momento
em que alguém se vê "rei", ele muda sua personalidade. Um cidadão
qualquer quando sobe ao poder, altera seu psiquismo. Seu olhar sobre os outros
será diferente; admita ou não ele olhará "de cima" os seus
"governados", os "comandados", os "coordenados",
enfim, os demais.
Estar no poder, diz Lacan, "dá um sentido interiormente
diferente às suas paixões, aos seus desígnios, à sua estupidez mesmo".
Pelo simples fato de agora ser "rei", tudo deverá girar em função do
que representa a realeza. Também os "comandados" são levados pelas
circunstâncias a vê-lo como o "rei do pedaço".
Antes de ocupá-lo, o poder atrai e fascina; depois de ocupado
tende a colar a alguns como se lhes fossem eterno. Aí está a diferença entre um
Fidel Castro e um Nelson Mandela. O primeiro e a maioria dos ditadores
pretendem se eternizar no poder, o segundo, mais sábio, toma-o como
transitório, evitando ser possuído pelo próprio. ("Possuído", sim,
pois o poder tem algo de diabólico, que tenta, que corrompe, etc).
Uma vez no poder, o sujeito precisará
de personas (máscaras) e molduras de sobrevivência. A persona serve
para enganar a si e aos outros. A moldura, é algo necessário para delimitar
simbolicamente a ação dele enquanto representante do poder. A ausência de
moldura ou o seu mau uso fará irromper a força pulsional do sujeito que anseia
por mais e mais poder, podendo vir a se tornar uma patologia psíquica. A
história coleciona exemplos: Hitler, Stalin, Mobutu, Collor de Melo, Pol Pot,
Idi Amim, etc.
O poder faz fronteira com a loucura. Não é sem motivo que
muitos loucos se julgam Napoleão ou o Rei Luis XV. Parece que há algo de
"loucura narcísica" nas pessoas que anseiam chegar ao poder político
(governante de uma cidade, estado ou país, ministro, membro do secretariado
local), ou ao poder de uma instituição, empresa, departamento, pequeno setor de
uma organização qualquer ou grupo qualquer. O narcisismo de quem ocupa o poder,
revela-se na auto-admiração (o amor a si e aos seus feitos), na recusa em aceitar
o que vem dos outros e no gozo que ele extrai do poder, que, levado ao extremo
poderia revelar loucura. R. Kurz, é direto ao declarar que "o
poder torna as pessoas estúpidas e muito poder, torna-as estupidíssimas".
O sociólogo M. Tragtenberg certa vez observou como muitos
intelectuais discursam uma preocupação pelo "social", mas
estão mesmo preocupados com a sua "razão do poder". Há uma
espécie de "gozo louco" pelo poder, que faz subir a cabeça dos que
estão jogando para ganhá-lo um dia.
Do ponto de vista psicológico, observa-se que o poder faz o
ocupante perder a própria identidade pessoal e assumir outra, contornada pela
"forma" do próprio poder.
O psicólogo Ricardo Vieira, da UERJ, de quem me inspirei
para continuar seu artigo, levanta alguns indicadores de mudanças que
ocorrem com as pessoas que chegam ao poder:
3) altera o tratamento com o outro, que torna-se autoritário com
seus subordinados; gritos e ameaças passam a ser seu estilo. Certa vez,
perguntaram a Maquiavel se era melhor ser amado que temido? O autor de O
príncipe respondeu que "os dois mas se houver
necessidade de escolha, é melhor ser temido do que amado".
Os sujeitos quando no poder protegem-se da crítica reforçando
pactos de auto-engano com seus colegas de partido. Reforçam a crença de que
representam o Bem contra o Mal, recusam escutar o outro que lhe faz crítica e
que poderia norteá-lo para corrigir seus erros e ajudar a superar suas
contradições. Se entrincheirarem no grupo narcísico, o discurso político
tornar-se-á dogmático, duro, tapado, e podemos até prever qual será o seu
futuro se tomar o caminho de também eliminar os divergentes internos e fazer
mais ações de governo contra o povo, "em nome do povo".
Infelizmente assim é o poder: seduz, corrompe, decepciona e faz
ponto cego e surdo nos seus ocupantes temporários.
Acabando com a reeleição e criação de linha sucessória a Loja
enfim obterá:
- Extinção de criação de grupos interessados em poder;
- Extinção de articulações, manobras, alianças espúrias e
conchavos de pessoas que desejam eleger seus queridinhos;
- Extingue a manipulação de pessoas;
- Extinção do Puxa-saquismo, pois os irmãos saberão que há o
tempo e linha sucessória já determinados e que só depende dele próprio estar em
condições para assumir;
- Renovação de liderança anualmente faz o grupo adaptar-se
sempre ao novo, o que é o conceito da filosofia: mudança é que move o mundo e
ter sempre reformulação de ideias, impedindo a repetição e estagnação;
- Oportunidade de participação total de todos os membros;
- Motiva os seus membros em ter comportamento baseado em
princípios de união;
- Não haverá competividade, pois há uma linha sucessória a ser
cumprida, exceto se o irmão estiver com pendências e desagravos com as
obrigações na Loja;
- Não gera insatisfações de grupos que não
participaram da Diretoria, não cria desejos de irmãos quererem sair da Loja
para montarem uma outra Loja;
- Obrigação dos que assumirem os cargos em estar em consonância
com seus deveres a essência da Maçonaria e da Loja;
- Acaba com a vaidade de querer manter o reinado e o vicio em
querer controlar tudo. Extinção de vícios de poder e extingue os interesses
pessoais;
- A diretoria passa a não ter influência de poucos “reis do
pedaço”, focando na egrégora da Loja, não provocando distorções que sufocam as
pretensões de novas lideranças ou reeleições para manter o poder de poucos;
- Aumento de participação no compartilhar conhecimento;
- Aceitação da individualidade e opinião do irmão;
- Não haverá criação de chapas promovendo divisões na Loja,
diminuído confrontos entre mestres.
A estrutura social vigente toma o ser humano como objeto
quando o único caminho é o resgate da subjetividade humana, através da fala,
expressão e comunicação, permitindo o respeito da individualidade de cada um.
Muitos não foram ensinados ao diálogo, tornando o ambiente em
competividade e agressividade, pois muitos gostam de agredir, mas quando as
pessoas reagem exigem que os irmãos tenham tolerância com ele, pois são
covardes que se escondem atrás dos puxa-sacos e escudo da tolerância. Ter
tolerância é ser justo, mas ser tolerante excessivo é deixar as impunidades
imperarem.
Qual é o desejo que leva ao homem querer um segundo mandato?
Será para manter que é uma pessoa importante? Será o desejo de continuar no
poder? Promoção pessoal? Muitos alegam que é o desejo de todos os irmãos, mas
enganam-se a si próprio que o desejo real é do próprio em manter o sentimento
do PODER.
...Cada ser humano traz em si
o dom de transformar o mundo inteiro, mas isso só será possível se ele viver o
constante desafio de não perder-se de si mesmo. (Quem me roubou de mim?
Autor: Fábio de Melo – Ed. Canção Nova)
C\A\M\
Ir\ Paulo Henrique
Sarmento – C\M\
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