A INICIAÇÃO
Todas as Instituições espiritualistas valem-se da Iniciação para o recebimento dos adeptos.
Iniciação simbólica em um misto de participação efetiva e física a começar pela proposta.
A rigor, em especial na América Latina, o candidato recebe um convite para participar da Instituição.
Esse convite é precedido de uma rigorosa sindicância realizada sem o conhecimento do candidato.
Aqui, candidatura não significa "aspiração", mas "indicação" de um Mestre de um candidato que julga digno de participar de Família Maçônica do convívio fraterno.
Grande é a responsabilidade do proponente, vez que, há riscos grave na admissão de um estranho.
Estranho que ignora tudo a respeito da fraternidade e que se entrega à Iniciação de "olhos vendados"; trata-se de uma dupla aventura: para a Loja e para o candidato.
Quando uma Loja "enfraquece" e há necessidade de uma campanha para a obtenção de prosélitos, o risco é ainda maior, porque se faz necessário admitir quem possa contribuir para o fortalecimento.
A seleção deve ser severa; não é difícil, pinçar dentre milhares de profanos, aquele que deva preencher um lugar vago.
Não basta que um Mestre proponha um amigo seu ou um parente; ele deve colocar acima de sentimentos, o interesse da Loja.
Em toda parte nota-se um fenômeno inexplicável: o rodízio de membros que figuram no quadro, mas que não assistem aos trabalhos.
Deve-se alertar o proposto, logo após o cerimonial iniciático, que ele "jurou", isto é, "assumiu" o compromisso de assistir a Loja o que vale dizer, "assistir aos seus Irmãos".
Todo aquele que deixa de cumprir os compromissos, na realidade passa a ser um "perjuro", pois, a sua ausência, enfraquecerá a Loja.
Todo candidato passa por uma rigorosa sindicância que objetiva o conhecimento da personalidade, seu modo de viver.
Aquele que não é cumpridor dos deveres profanos, para com a família, o seu trabalho e a sociedade, é evidente que não será útil à Instituição e resultará em um peso morto.
Logo, o segredo do êxito está na sindicância.
Essa tem sido "superficial"; trata-se de uma falha gritante do Mestre sindicante que age
inconscientemente porque sabe que não sofrerá qualquer punição.
A responsabilidade deveria ser apurada e exigir do proponente e dos sindicantes a tarefa de orientar o Neófito, acompanhar seus passos, incentivá-lo e, sobretudo, instruí-lo.
O Neófito passa a ser um "discípulo" do Mestre que o propôs.
Na prática e na realidade, porém, encontramos Lojas que possuem um grande quadro de Mestres, mas... sem discípulos, o que é um contra-senso e uma falha.
O nome do proponente é mantido em sigilo; as propostas escritas não são registradas e ninguém sabe quem propõe, o que constitui uma falha grave, vez que, não há possibilidade de exigir do proponente que acompanhe o seu proposto.
Na realidade, caso se mantenha em sigilo o nome do proponente, deveria ser dado ao Neófito, um Mestre, seja indicado, seja aceito ou voluntário que o deseje ser.
Parece um problema simples e superficial; no entanto, constitui a raiz da eficiência de uma Loja.
Um Venerável Mestre que se preocupe com a permanência em Loja dos Neófitos, poderá exercitar o Seu mandato com eficiência.
Durante o aprendizado, poder-se-ia adotar uma "caderneta" onde a Secretaria anotaria a presença, caderneta em poder do Aprendiz e esse só poderia ter acesso ao Companheirismo, provando sua presença em Loja.
Apesar de milenar, a Maçonaria, com sua experiência, ainda não possui instrumentos para incutir aos seus membros o dever de freqüência.
Concluídas as sindicâncias, e aprovado o candidato, esse será procurado e convidado a ingressar na Ordem.
Raros são os casos de negativa.
E por quê?
Toda vez que o nome de um candidato for pronunciado em Loja, o candidato em seu subconsciente é tocado e ele recebe os chamamentos que o despertam interessando-se quanto ao aceitamento do convite. E uma predisposição criada pelas "mensagens" esotéricas.
É sabido que a palavra sonora transmite-se em ondas que ocupam todos os espaços e que se alargam, de forma permanente.
Os sons permanecem "materialmente" e atingem os visados; é a parte mística da Liturgia Maçônica
É evidente que o candidato inquirirá a comissão que o visita para o convite a respeito do que seja a Maçonaria.
Posto a par, embora, resumidamente, comparece no local e hora designados, onde tem início a cerimônia.
O Candidato passa pelo despojamento, dos metais, de tudo o que porta consigo, permanecendo descalço, semidespojado da vestimenta e calçando grosseiras alpargatas.
"Perde" tudo o que porta, até a visão, pois os olhos lhe são vendados e com essa cegueira momentânea, os outros sentidos lhe são aguçados.
É conduzido à Câmara de Reflexão.
A venda lhe é retirada e na penumbra, vislumbra o recinto; uma mesa tosca; alguns papéis, caneta e tinteiro, inscrições nas paredes, alguns objetos estranhos; uma ampulheta medindo o tempo; silêncio absoluto; um odor de mofo; um crânio, algumas tíbias, símbolos mortuários.
Teias de aranha dão ao ambiente caráter lúgubre.
Qual a reação do candidato? De temor, de curiosidade?
A resposta, oportunamente, é solicitada e o candidato, não sabendo exatamente do porquê daquela passagem, titubeia e dá uma resposta vaga.
Na Iniciação, a permanência na Câmara de Reflexão (é denominada também de Câmara de Reflexões, no plural, vez que são sucessivas reflexões que o candidato é chamado a executar) pode ser considerada como a parte principal pois, a preparação psicológica não tem a interferência de
qualquer pessoa; trata-se de uma auto-reflexão que ocorre sem qualquer orientação; o candidato é chamado a refletir isoladamente.
Qual a reação para quem se defronta com símbolos mortuários, com inscrições de admoestação severa? Certamente, conduzirá a uma reflexão inusitada.
Após uma Iniciação, conversando com o Neófito, esse disse que jamais lhe ocorreria pensar sobre a morte na forma como foi solicitado; é aterrorizante, nos disse.
Ao contrário do que se poderia pensar, não é a Loja que prepara o candidato para a Iniciação; é ele que se auto-prepara, que psicologicamente espera o pior e somente sua fibra de homem é que consegue vencer o temor crescente.
Essas preliminares são relevantes: se não forem bem executadas, quiçá a Iniciação não surta o efeito desejado.
Quando assistimos a um funeral de algum amigo e contemplamos na câmara mortuária, aquele corpo inerte, rosto amarelecido, traços rígidos, é que nos ocorre que algum dia tocará a nós e isso conduz a uma reflexão mórbida, triste e nervosa; porém, quando a morte é sugerida através de um sem número de símbolos, e nós nos sentimos isolados do mundo, reclusos em um lugar insólito, a reflexão torna-se mais profunda e a antecipação de nossa própria morte nos acabrunha.
Aprendiz - Grau 1o
Rizzardo do Caminho
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