quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Essência...


 
A ESSÊNCIA...





Hercule Spoladore (*)




O maçom tem que caminhar uma longa trajetória, para
se considerar e ser na realidade um verdadeiro Iniciado.



Ele, para entrar na Ordem passará por duas portas. Uma, a
porta física do Templo onde o espera um estranho e intrigante ritual,
mas ao mesmo tempo belo, um verdadeiro teatro simbólico e sublimado.

É o dia do seu recebimento formal na Ordem, que quando bem
desempenhado pelos Iniciadores[1], a cerimônia o marcará, de forma
indelével na mente.



A segunda porta é simbólica. Do ponto de vista mental, é
um acesso através de uma pequena fresta, isto é, uma pequena abertura
que está fechada pelo Subconsciente.



Uma vez a venda cobrindo a visão, isto fará com que o Iniciando
desperte e aguce os outros órgãos dos sentidos, e ele então enxergará
com os olhos da mente e se colocará especialmente numa situação de
pura introspecção que nada mais é que uma verdadeira jornada interior
e que para a grande maioria dos Iniciandos é o reencontro, ou mesmo o
primeiro encontro súbito, inesperado e surpreendente com o seu duplo
Eu, há muito tempo adormecido, talvez nunca procurado, ou quem sabe
ele nem soubesse da existência de um duplo estado de sua consciência.
O profano terá que, justamente auxiliado por uma técnica iniciática
perfeita e bem desempenhada, usando-se uma ritualística bastante
eficiente fluente e fácil, franquear esta barreira, e passar por ela,
mas para isso ele terá que se sentir humilde, pequeno, diminuto,
ínfimo. A Iniciação neste primeiro dia de contato com a Maçonaria se
consubstancia neste detalhe. Será apenas a conscientização de que
existe este outro estado do Ser, um outro estado da mente.



É necessário frisar que não haverá com esta
conscientização a descoberta instantânea de todo o conhecimento
humano, ou maçônico, dos mistérios ou segredos, mas tão somente a auto
revelação de sua consciência dupla, tomando-se conhecimento que existe
em cada um de nós um outro EU.



Este aspecto é apenas o começo. Esta revelação não é tudo.
A verdadeira Iniciação se processará durante toda a vida através do
estudo, da pesquisa, da meditação, da dedução, do conhecimento
adquirido corretamente, e do auto aperfeiçoamento. Ela será
praticamente inatingível em sua totalidade, porque o Homem jamais
atingirá a perfeição. Ele tenderá a chegar perto, e quanto mais perto
chegar, mais poderá ser considerado um Iniciado.



Já na própria Antigüidade o conceito de Iniciação foi se
atualizando e se transformando numa forma de conhecimento gradativo
pelo qual o Iniciando receberá inicialmente instruções através de
mensagens dogmáticas, ainda que hipotéticas, ele a partir delas,
desenvolverá, por seus próprios meios, a sua iluminação interior, das
quais apenas ele só possui a semente ou germe.



Se considerarmos que o maçom tem duas entradas, para ele permanecer na Ordem ele terá didaticamente duas saídas para escolher qual a delas
ela adotará.



Ele escolherá aquela do seu aprimoramento pessoal, ou então escolherá
aquela que identifica apenas a sua passagem física pela Maçonaria.

Ele terá que escolher a opção correta e isso será tão somente uma decisão sua.

O grande mérito seu, de sua mente, será pessoal,
intransferível, ninguém conseguirá lhe ensinar, ele aprenderá sozinho
por qual das duas saídas ele optará.



Grande parte dos maçons não percebe ou não querem perceber
que estão tendo a grande opção enquanto estão passando pelos graus
simbólicos, aliás, graus estes que constituem a verdadeira Maçonaria.
Infelizmente, estes maçons constituem a grande maioria, e embevecidos
acham que a Ordem é festa, banquetes, auxilio mútuo, graus, política
de lojas, fachada para outras atividades, belos aventais, distintivos
na lapela, e outras tantas dicotomias,



Que são na verdade, verdadeiros subprodutos ou complementos que a
Ordem coloca a disposição de todos. Alguns até acabam descobrindo
através dos anos, que tudo isso não está coerente, não está certo. Mas
acham que é tarde demais para mudar. Não têm coragem. Continuarão
inertes e coniventes, pois já estão um tanto quanto idosos, e esperam
que os maçons mais jovens mudem tal situação. Puro engano. Um
verdadeiro maçom jamais poderá se considerar idoso, mas sim experiente
humilde e sábio, e ele terá a obrigação de ter a ousadia e firmeza de
mudar o que pode e deve ser mudado. Esta é em síntese, a primeira
saída que normalmente a maioria dos maçons escolhem ou preferem.

Mas existem aqueles que descobrem durante a sua vivência
maçônica que há algo mais profundo, mais abrangente por trás das
mensagens dos rituais, ou das migalhas maçônicas que as Lojas oferecem
em matéria de ensinamentos, que toda aquela ganância em torno do poder
maçônico[2], da bulimia maçônica também conhecida por fome exagerada
de graus, sem conhecer a fundo o grau em que se está colado; da
filantropia amadora e ingênua mal feita, da fraternidade hipócrita que
alguns são hábeis em aplicá-la enganando outros inocentes e bons
Irmãos, da falta de instruções, alem de outras inúmeras razões, enfim,
decidem mudar, porque descobriram a ESSÊNCIA da natureza da Entidade para qual foram chamados a integrá-la e ao entenderem a sua
profundidade, mudam completamente seu comportamento mental.

Passam a entendê-la como uma Escola de Vida, descobrem que sua
principal função é político-social, e que eles serão consequentemente
os construtores da futura sociedade mundial, que terão que amadurecer
como cidadãos, que terão que ser embriões catalisadores dos movimentos
de vanguarda, atuando como aglutinadores de idéias, de sonhos que se
tornarão realidades, não responsabilizando nem Lojas e nem Irmãos com
relação a este compromisso que será só deles, pois eles serão o
fermento que provocará os fenômenos sociais e que, tão somente a
instrospecção, a meditação, a análise exata, o raciocínio transparente
e o estudo eficiente e correto da Filosofia, da História, do
Simbolismo do Ritualismo e das coisas pertinentes à Ordem lhes darão o
poder do conhecimento, o qual poderá ser repassado ou dividido com os
demais adeptos, mas ninguém lhes tirará esta riqueza intelectual e
consequentemente neste caminho deslumbrarão toda a espiritualidade que
este estado mental encerra.



Descobriram simplesmente a ESSÊNCIA porque acabaram de despertar para um mundo novo...



Quando chegarem nesta fase mental, o autoconhecimento e a
espiritualidade adquiridos farão com que estes Irmãos mesmo que não se
apercebam, e se perceberem não deixarão que os outros notem, já
estarão alguns passos à frente deles.



Considera-se que eles avançando em seus progressos penetrarão nas
profundezas do Subconsciente ou Inconsicente, alcançarão a Consciência
Cósmica e, indo alem, chegarão á Superconsciência que é nada mais que
o próprio GADU mais justo, bom, racional e espiritual de um livre
pensador.

Uma verdadeira transformação ocorrerá na mente quando se perceberá uma sensação que não é de insatisfação com esta humanidade imperfeita, ela é muito mais um sentimento de calma, que mais parecerá uma percepção de humildade de bondade e compreensão, que será mais uma entrega de si mesmo, a uma força maior que, embora desconhecida objetivamente, sentem-na presente. E assim conhecerão a expansão do campo da consciência, e verão que as coisas se tornam mais belas, a vida tem mais sentido, quase não ficam aborrecidos ou irritados, porque este
estado especial, desviará sua agressividade instintiva para algo mais
construtivo. Este autoconhecimento é considerado como uma verdadeira
catarse, limpeza ou purificação da mente, porque ele mostra,
estabelece e orienta a força capaz de criar, reprogramar e incentivar
a condução da própria vida. Neste momento o maçom estará preparado
para ser um verdadeiro líder e também estará no caminho seguro em
direção à sua verdadeira Iniciação Real.



Para se chegar a este estado mental, percorrer-se-á um
caminho tortuoso, difícil, gratificante, mas totalmente individual,
pois somente o adepto sem auxilio de quem quer que seja, o alcançará.
Este é o autêntico segredo maçônico. Os sinais, palavras toques
rituais e etc., não são em realidade os verdadeiros segredos. O Irmão
que chegar a esta situação mental não terá condições, nem que queira
de transmiti-la, descreve-la ou conceitua-la. Não conseguirá. Será
impossível. É inexprimível. É um estado da alma que não estará ao
alcance de ninguém, a não ser tão somente de sua psique. Será só seu.
É o mesmo mecanismo que se observa nas transformações mentais dos
gurús, dos santos, dos chamãs, dos jejuadores, de alguns paranormais e
dos Grandes Iniciados.



Estará em estado de expansão da mente, em ondas cerebrais “alpha” ou
“theta”. Acresça-se que não é só a Maçonaria que realiza Iniciações.
As grandes escolas iniciáticas da Antigüidade, das quais somos
herdeiros, e mesmo outras entidades iniciáticas do presente,
basicamente sempre utilizaram técnicas muito semelhantes.



Temos que ressaltar que nosso Inconsciente sempre busca
satisfazer nossos desejos instintivos, mas eles são bloqueados por
outra parte da mente chamada de Superego segundo Freud. Nossa
civilização incide neste fato, onde os conflitos deste bloqueio geram
a infelicidade do homem. O Iniciado deverá romper esta barreira. É uma
bela e fantástica aventura, esta ruptura. Este é o ideal superior que
ele se proporá a realizar. A sua mente deverá se abrir. Eis a sua
tarefa. A trajetória percorrida para se chegar a este ideal superior é
muito linda e rica em sabedoria, por causa das observações, incidentes
de percurso e das experiências vividas para se chegar lá. Quantas
lindas verdades ocultas serão descobertas a caminho. O percurso será
tão importante quanto o ideal a ser atingido. É uma linda e longa
viagem para dentro de SI MESMO.





(*) Hercule Spoladore



Obreiro da Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil






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[1] Bom desempenho significa, que o Venerável, e todos os Irmãos que
forem ler algum trecho do Ritual, o façam com clareza, com boa dicção,
palavras bem pronunciadas, para que todos ouçam, sem tartamudear
(gaguejar) e que os procedimentos tenham sido devidamente muito bem
treinados. Não se devem dar trotes nos candidatos, aliás, costume
grosseiro, medieval, desumano que ainda persiste, e que bloqueará
ainda mais a mente do neófito.





[2] O poder verdadeiro e respeitado dos dirigentes advém tão somente
do carisma, bondade, sabedoria, polidez, educação já que nenhum maçom
é obrigado a obedecer a dirigentes déspotas, e impositivos que não
conheçam os princípios básicos da democracia e que o “poder” lhes
tenha “subido à cabeça”. Um Grão-Mestre ou um Venerável não governarão
seu povo por decretos, leis, por imposição, a grito ou através de
tramas e perseguições, só governarão pela bondade de seu coração...

Artigo enviado por Devaldo de Souza






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