sábado, 25 de fevereiro de 2012

Fernando Pessoa e a Maçonaria

Fernando Pessoa
Fernando Pessoa e a Maçonaria


         "Não sou maçom, nem pertenço a
Qualquer outra ordem semelhante ou diferente.
Não sou, porem, antimaçom, pois o que sei
do assunto me leva a ter uma
idéia absolutamente favorável
da Ordem Maçónica”
As relações de Fernando Pessoa com a Maçonaria, se não foram ideais, em muito se aproximaram disto. É notório o seu interesse, quando na ocasião da defesa que faz, em “Maçonaria”, inserida nas “Ideias Filosóficas”, escrita quando um deputado português propõe a perseguição e sanções junto à Assembleia Nacional, de todos os membros maçons:
“Posso hoje dizer, sem que use de excesso de vaidade, que pouca gente haverá, fora da Maçonaria, aqui ou em qualquer outra parte, que tanto tenha conseguido entranhar-se na alma daquela vida, e portanto, e derivadamente, nos seus aspectos por assim dizer externos”.

Por ser a Maçonaria uma associação não-religiosa, e portanto de carácter não-doutrinário, visando apenas ao aspecto da fraternidade e ao aprofundamento em estudos filosóficos, ela encontrará em Fernando Pessoa um admirador que a somará aos jogos metafóricos de sua obra, conforme podemos verificar no poema “Do Vale à Montanha”:
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por casas, por prados.
Por quinta e por fonte,
Caminhais aliados.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por penhascos pretos,
Atrás e defronte,
Caminhais secretos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por plainos desertos
Sem ter horizontes,
Caminhais libertos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por ínvios caminhos,
Por rios sem ponte,
Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha,
Da montanha ao monte,
Cavalo de sombra,
Cavaleiro monge,
Por quanto é sem fim,
Sem ninguém que o conte,
Caminhais em mim.
24/10/1932
Movimento interior, de percurso iniciático, de algum processo que se está dando na alma do poeta, e de que o vale e a montanha, o cavaleiro e o cavalo são fontes de referência.
Vale: usa-se para definir o lugar de instituições maçónicas, é um acto de humildade e verdade que a Ordem seguiu para indicação superior. É a definição da baixa qualidade da iniciação que ela ministra, em relação à alta iniciação, nas altas Ordens, referente sempre a uma montanha.
Movimento vale-montanha: É um movimento iniciático com uma simbólica específica, maçónica de gradação de “estados”.
Busca: é a ‘Palavra Perdida”.
Cavaleiros: são adeptos, os iniciados que procuram a "Palavra Perdida".

[Adaptado de um texto publicado em partes nas versões impressas de Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte, nº 154, 155 e 156, janeiro a março de 2009]
Fonte:

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