terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Virtude

Via Láctea

A Virtude

 
A virtude não é veste de gala para ser envergada em dias e horas solenes. Ela deve ser nosso traje habitual. A virtude precisa fazer parte de nossa vida, como alimento que ingerimos cotidianamente, como o ar que respiramos a todo instante.

A virtude não é para ostentação: é para uso comum. É falsa a virtude que aparece para os de fora, e não se verifica para os familiares. Quem não é virtuoso dentro do seu lar, não o será na vida pública, embora assim aparente. Ser delicado e afável na sociedade, deixando de manter esses predicados em família, não é ser virtuoso, mas hipócrita. A virtude não tem duas faces, uma interna, outra externa: ela é integral, é perfeita sob todos os aspectos e prismas. Não há virtude privada e virtude pública: a virtude é uma e a mesma, em toda parte.

O hábito da virtude, quando real, reflete-se em todos os nossos atos, do mais simples ao mais complexo, como o sangue que circula por todo corpo.

As conjunturas difíceis, as emergências perigosas não alteram a virtude quando ela já constitui nosso modo habitual de vida.

A virtude assume as modalidades necessárias para se opor a todos os males, sem prejuízo de sua integridade. Há um matiz para resolver cada caso, para se opor a cada vício, para vencer cada paixão, para enfrentar cada incidente; mas sempre, no fundo, é a mesma virtude. Ela é como a luz, que, iluminando, resolve de vez todos os obstáculos e tropeços, franqueando-nos o caminho. O hábito da virtude é fruto de uma porfiada conquista. Possuí-la é suave e doce. Praticá-la é fonte perene de infindos prazeres. A dificuldade não está no exercício da virtude, mas na oposição que lhe faz o vício, que com ela contrasta. É necessário destronar um elemento, para que o outro impere. O vício não cede o lugar sem luta. A virtude nos diz: eis-me aqui, recebei-me, dai-me guarida em vosso coração; mas lembrai-vos de que, entre mim e o vício, existe absoluta incompatibilidade. Não podeis servir a dois senhores.

A verdadeira religião é a da virtude. Fora da virtude não há salvação. “Vós sois o sal da Terra”, disse Jesus aos seus discípulos. (Mateus, 5:13.) Se ele hoje viesse ao mundo reunir seus escolhidos, não se valeria certamente das denominações e títulos dos vários credos religiosos para os distinguir; a virtude seria o sinal inconfundível por onde os descobriria, por mais dispersos e disfarçados que estivessem.

É pela virtude que as almas se irmanam entretecendo entre si liames indissolúveis. Os homens de virtude entendem-se num momento, ao passo que os séculos não são suficientes para firmar acordo entre aqueles que dela vivem divorciados.

Propaguemos a religião da virtude: só ela satisfaz o senso da vida, conduzindo o espírito à realização dos seus destinos.





Nas pegadas Do Mestre
Vinícius

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