quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Platão e a Alegoria da Caverna


Platão e a Alegoria da Caverna


Imagine alguns homens vivendo em uma moradia em forma de caverna, com uma grande abertura do lado da luz. Encontram-se ali desde a sua meninice, presos por correntes que os imobilizam totalmente e de tal modo que não podem nem mudar de lugar...



Platão nasceu em Atenas em 427 a.C, era filho de Artíston e Perictioné. Seu pai era um homem rico cuja dinastia remontava aos primórdios de Atenas. Deu ao filho uma excelente educação, a quem deu o nome de Aristocles. Platão era um apelido adquirido quando já moço, designando alguém que tenha um porte atlético, com ombros largos. Platão não teve esposa nem deixou filhos. Viajou pela Magna Grécia, onde aprendeu os ensinamentos deixados por Pitágoras, andou pelo Egito e muitos afirmam que esteve no Oriente.

Platão

No início se dedicou a poesia e depois à filosofia. Conheceu Sócrates com dezoito anos e o acompanhou por dez anos, até em 399 A.C., quando Sócrates morreu. Em 387 A.C. fundou sua escola nos jardins de Academus, dedicando-se ao ensino e composição de suas obras.

Foi sem dúvida um dos maiores filósofos que humanidade já possuiu, o sábio dos sábios, durante 22 séculos.

Já sabemos que Sócrates é, pode-se dizer, o descobridor do conceito. Sabemos ainda que o interesse primeiro da filosofia socrática é a moral. Sócrates deseja que a moral possa ser aprendida e possa ser ensinada, como se aprende e se ensina gramática. Daí a razão por que Sócrates tem a convicção de que aquele que é mau, o é porque não sabe. Platão, por sua vez, abraça a idéia de conceito esposada por Sócrates, só que amplia a idéia de conceito. Para ele, essa idéia não se circunscreve apenas à virtude, mas abarca tudo, todas as coisas em geral. Neste caso, deve-se reconhecer que Platão junta a contribuição conceitual de Sócrates aos ensinamentos de Parmênides: une a idéia do ser à idéia de conceito, estabelecendo assim a sua teoria das idéias.

Platão faz distinção entre aparência e realidade. Ora, se existe um mundo de realidade e um mundo de aparência, deve-se procurar saber como se pode distinguir um do outro. Sabe-se que as aparências são diagnosticadas por nossas sensações, ao passo que as nossas idéias diagnosticam o mundo da realidade. Por aí se vê que só podemos aproximar-nos da realidade através do pensamento.

A teoria do ser deduzida por Platão é aparência ilusória o que corresponde à enganosa opinião sensível; o conheci­mento verdadeiro é aquele que se refere às essências, às idéias. É aí que se firma o ideal platônico e temos então o estabelecimento da antítese entre o mundo fenomenológico, formado pelos postulados da sensibilidade, e o mundo das essências que só pode ser alcançado por intermédio da indução e da definição, como também ensinava Sócrates.

Platão afirma que as idéias são vivas e não inertes, como a muitos poderia parecer. Para ele a idéia mais importante é a do Bem, porque constitui a natureza de Deus criador soberano do Cosmo. Não pode o Bem ser causa do Mal. Todavia, a existência do Mal não pode ser negada, é o inverso, que se opõe ao Bem. O que importa é que todas as idéias se inclinam para aquela idéia superior a todas elas, que é a idéia do Bem. Ele quer que o Estado se ajuste à idéia do Bem, dai por que coloca sua filosofia, sua metafísica e sua ontologia a serviço da teoria política do Estado. Crê que se a idéia do Bem é a suprem a idéia, aquela que rege e manda em todas as outras idéias, do mesmo modo, entre tudo o que existe no mundo sensível, o que deve e tem que coincidir com a idéia do Bem é o Estado. Por isso, ele escreve esses dois livros admiráveis, A República, e As Leis, onde mais profundamente estuda a formação do Estado ideal e chega à conclusão de que o Estado ideal seria aquele em que os mandantes fossem filósofos.

Não se pense, contudo, que a filosofia platônica seja idealista, como querem muitos. Não, para Platão, as idéias são realidades que existem, aliás, as únicas verdadeiramente existentes, uma vez que as coisas que vemos e tocamos são como sombras efêmeras. Deve-se, pois, entender a filosofia de Platão como um realismo das idéias.

Na Alegoria da Caverna, Platão resume a aprendizagem do homem, buscando as verdadeiras idéias no mundo maravilhoso do incognoscível. E nessa alegoria que Platão estabelece a comparação entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Para tanto, lança mão de sombras que se projetam no fundo de uma caverna escura, quando pela sua entrada passam objetos iluminados pela luz do sol.

ALEGORIA DA CAVERNA

Imagine alguns homens vivendo em uma moradia em forma de caverna, com uma grande abertura do lado da luz. Encontram-se ali desde a sua meninice, presos por correntes que os imobilizam totalmente e de tal modo que não podem nem mudar de lugar, nem volver a cabeça e não vêem mais que aquilo que lhes está na frente. A luz lhes vem de um fogo aceso a uma certa distância, por trás deles, em uma eminência do terreno. Entre esse fogo e os prisioneiros há uma passagem elevada, ao longo da qual imagine-se um peque­no muro, semelhante aos balcões que os ilusionistas levantam entre si e os assistentes e por cima dos quais mostram seus prodígios. Pensa agora que ao lado desse muro alguns homens levam objetos de todos os tipos. Tais objetos são levados acima da altura do muro e os homens que os transportam alguns falam, outros seguem calados. Os prisioneiros, nessa situação, jamais viram outra coisa senão as sombras, jamais ouviram outra voz senão os ecos que reboam no fundo da caverna. Falarão das sombras como se fossem objetos reais, terão os ecos como vozes verdadeiras. Esses estranhos prisioneiros são semelhantes a nós, homens. Pensa agora no que lhes acontecerá se forem libertados das cadeias que os prendem e curados da ignorância em que jazem. Se um dentre eles se levantar e volver o pescoço e caminhar, erguendo os olhos para o lado da luz, certamente tais movimentos o farão sofrer e a luz ofuscar-lhe-á a visão e impedirá que ele veja os objetos cuja sombra enxergava há pouco. Ficará deveras embaraçado e dirá que as sombras que via antes são mais verdadeiras que os objetos que são agora mostrados. E se tal prisioneiro, arrancado à força do lugar onde se encontra for conduzido para fora, para plena luz do sol, por acaso não ficaria ele irritado e os seus olhos feridos? Deslumbrado pela luz, porventura não precisaria acostumar-se para ver o espetáculo da região superior? O que a princípio mais facilmente verá serão as sombras, depois as imagens dos homens e dos demais objetos refletidos nas águas, e finalmente será capaz de veres próprios objetos. Então olhará para o céu. Suportará mais facilmente, à noite, a visão da lua e das estrelas. Só mais tarde será capaz de contemplara luz do sol. Quando isso acontecer reconhecerá que o sol governa todas as coisas visíveis e também aquelas sombras no fundo da caverna.

O próprio Platão, interpretando a Alegoria da Caverna, explica que:

A caverna subterrânea é o mundo visível. O fogo que a ilumina é a luz do sol. O prisioneiro que sobe à região superior e contempla suas maravilhas é a alma que ascende ao mundo inteligível. E o que eu penso, mas só Deus sabe se é verdade. Em todo caso, eu creio que nos mais altos limites do mundo inteligível está a idéia do bem que dificilmente percebe­mos, mas que ao contemplá-la, concluí­mos que ela é a causa de tudo o que é belo e bom. (A República, VII, 518b-d).

A partir de Sócrates se define o conceito, isto é, o conhecimento. Platão define as idéias e suas relações dando-lhes valores, perfazendo um pensamento lógico e aritmético. Mostra em sua alegoria que o homem poderá viver no mundo das sombras (ignorância) acreditando em um mundo completamente diferente da realidade, podendo talvez, atingir a luz (sabedoria), para viver livre de preconceitos, conhecedor da verdade.



Ir.'. Maurício Gomes dos Santos



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