quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Espírito Maçônico

José Ednor Varela (Foto), exemplo do verdadeiro espírito maçônico.
Oriente de Pombal (PB)

O Espírito Maçônico - Parte 04

Se a Arte Real é uma potência determinante; se a profissão humanitária da Loja tem um campo de aplicação e de atividade; se extraímos da Loja sentimentos humanitários, como cidadãos, estaremos ins-pirados na vida por idéias maçônicas e guiados em nossos atos por princípios maçônicos. Quer dizer que o Maçom será reconhecido por suas ações onde haja bem-estar ou sofrimento de seus semelhantes, onde haja um interesse público a ventilar – não por sinais exteriores, mas pelas manifestações íntimas do espírito maçônico – por sua concepção elevada da vida, da Justiça, Amor, Liberdade, Fraternidade, da sua atividade tranqüila e de seu pensamento isento de preconceitos.

A neutralidade da Loja a respeito das correntes religiosas ou partidos políticos está imposta e se justifica pelo espírito ideal que a domina, espírito que só tende ao conhecimento do que é eterno e imutável na vida da humanidade, só abraçando aquilo que lhe é comum. O ideal paira sobre os partidos.




Na vida em que se busca a realização do ideal, malgrado a maleabilidade do caráter humano e a diversidade dos interesses, só o homem perverso ou sem consciência pode permanecer indiferente ao seu influxo. É preciso decidir-se pelo direito contra a injustiça, possuir o sentimento de que se faz parte de um todo harmônico para cumprir reciprocamente os homens entre si e dentro de suas respectivas esferas - com os deveres e obrigações correspondentes. O homem é filho do combate e a sua história é a relação de uma luta dura e penosa.

Na história da humanidade, o progresso nem sempre se realiza pelo meio mais dignificante, freqüentemente reina a perversidade, que se manifesta sob a forma do egoísmo e da força da inércia, causadora da ruína daquele que só se abaixa para recolher o seu próprio benefício. As multidões que se tornam indolentes e se deixam oprimir, renunciam aos bens intelectuais para só conservar os materiais; não possuem ideais, nem o sentimento pelos bens espirituais, que dão à humanidade o verdadeiro sentido da vida.




Por maiores que sejam as ações das forças negativas sobre os elementos do bem no homem, são, no entanto, impotentes para extirpá-los, apenas podendo paralisá-los temporariamente. Depois de mil derrotas, o princípio elevado que existe no coração do homem levanta a cabeça e conclui pela reconquista vitoriosa do que é bom e do que é grande. O Maçom, verdadeiramente animado do espírito maçônico, não tem opiniões preconcebidas, irrefletidas, adotadas sem exame. Por outro lado, o Maçom não pode desperceber a ignorância, a origem dos preconceitos, porque o homem que a ignora não pode julgar coisas, fatos e conseqüências.



O Maçom nada admite sem prévia reflexão ou análise, não por temor de ser considerado desejoso de escapar ao compromisso da tradição, mas sim por profunda convicção. É por isso que o Maçom pode tolerar e respeitar certas idéias, o que não implica em aceitá-las. Fatos existem que estão hoje absolutamente demonstrados e que, no entanto, certos seres inteligentes resistem em aceitar. A Maçonaria é inimiga do fanatismo político e religioso.

Os preconceitos, os juízos de todas as religiões são por ela repelidos, de modo que um Maçom não pode pertencer a uma sociedade que mantém idéias tão errôneas como as de condenar a quem disser que o homem é livre de abraçar ou professar a religião que considera verdadeira, que condena a quem disser que a vontade do povo é soberana, a quem disser que os pais têm o direito de educar os filhos na religião que desejarem, e a quem disser que a autoridade religiosa deve se submeter ao poder civil.




Um verdadeiro Maçom, animado do espírito maçônico, é inspirado por sério carinho para a Verdade e sinceramente decidido a não se deixar dominar pelo fanatismo ou por propósitos preconcebidos. O progresso é o inspirador do verdadeiro Maçom em todos os domínios da atividade humana. Não deve, pois, o Maçom praticar senão obras destinadas ao bem e ao melhoramento da humanidade. O Maçom, em seu íntimo, sente simpatia por todas as causas justas; o seu coração bate por todas as obras de Justiça, Solidariedade e Fraternidade.




Nada lhe pode ser indiferente desde que se trate de fazer feliz ao seu semelhante, de aperfeiçoar as relações sociais e a todos proporcionar um lugar ao sol e ocasiões para honestamente ganharem o seu pão. O irmão Baudoin dizia: “Na sua transformação através dos séculos, a Maçonaria modificou sem cessar as suas idéias; eis porque representa o progresso. Compreendendo que foi obra vã em todos os tempos querer destruir a História, ela sempre respeitou os velhos costumes. Os seus rituais, semeados de palavras egípcias, assírias, hebraicas, gregas e latinas, tomaram alguma coisa de todas as religiões, que sucessivamente lhes tem proporcionado adeptos.

Todos estes restos dos dias do passado são elos no caminho do passado, que indicam o trajeto percorrido pela humanidade. Hoje, como ontem, buscam os Maçons a Verdade; discípulos do progresso, impelem a humanidade para uma incessante melhoria; as lembranças do passado os tornam tolerantes, porque sabem quanto padeceram os antepassados. Buscam a Verdade como a buscavam os seus predecessores, sabendo embora que não devem esperar encontrar senão uma Verdade relativa, destinada a ser reformada ou completada pelos que lhe sucederem, ou lhes revelar nesse trabalho”.




III - O espírito maçônico é, por fim e, sobretudo, Um Espírito de Amor e de Justiça. O Maçom verdadeiro é pacifista, isto é, reconhece com a Economia Política a falsidade da opinião que proclama que um povo comerciante pode se enriquecer mediante a ruína de seus vizinhos. Acredita que todos os povos têm interesses diretos na prosperidade dos que lhe estão ligados pela permuta comercial, da mesma forma que o vendedor tem interesse em que seus clientes vivam na abastança. O Maçom acredita com o economista que os diversos mercados do mundo estão de tais modos ligados entre si, que a nenhum deles pode sobrevir uma perturbação sem que os outros se ressintam imediatamente. As atuais relações comerciais são tão numerosas e estreitas entre os povos, que a guerra seria um mal para o próprio vencedor.

A aversão à guerra deve aumentar porque quanto mais um povo avança na via do seu desenvolvimento comercial e industrial, mais o seu próprio interesse o dispõe em favor da paz. Estas Verdades econômicas são atualmente tão elementar que quanto mais persuadido estiver um Verdadeiro Maçom das vantagens da Fraternidade humana, com tanto mais ardor se declarará pacifista.




As Constituições Maçônicas de 1722 fazem ressaltar que a Maçonaria sempre foi contra a guerra, a morte e a confusão. O Irmão Benjamin Franklin, inspirado pela idéia maçônica, dizia: “Quando a humanidade estiver convencida de que todas as guerras são loucuras assaz custosas e por demais nocivas, se decidirá a regular as suas diferenças pela arbitragem”.




O Verdadeiro Maçom não ama a guerra entre indivíduos ou povos. Inspira-se num perpétuo anelo de concórdia, de inteligência e de boa harmonia. Supera todos os obstáculos para frustrar os desacordos; não conhece o rancor, sabe perdoar, sabe esquecer e sabe estender a mão sem intenções ocultas. Todas as injúrias profanas, públicas ou secretas, ele responde com a dignidade da sua vida, com a generosidade dos seus sentimentos. Não falamos das discussões com seus Irmãos, pois estes conflitos são os que primeiro devem ser atendidos por meio da prática das virtudes maçônicas, que se chamam lealdade, franqueza e probidade.

Todo homem, e Maçom, está exposto à inimizade e à inveja; todos temos inimigos, até aqueles a que se afiguram não os ter. Se é difícil ou impossível estar ao abrigo dos ataques da calúnia e da maledicência humanas, ao Maçom não se pode admitir que os seus Irmãos tenham a tal respeito atitudes hostis ou procedimentos incorretos. A confiança e o afeto dos Irmãos devem ser ganhas pela atividade e pelo esforço, com tendência a fazer desaparecer todas as nuvens que possam obscurecer as suas relações fraternais.




O Maçom é naturalmente generoso de coração, filantrópico, caritativo, sem pretensão nem vaidade. O seu Amor se manifesta por todos os sofrimentos, sem se preocupar com as opiniões políticas ou religiosas dos seus protegidos. Faz o bem pelo bem, sem se preocupar com o seu amor próprio. Sobre isto é desnecessário insistir, pois é notória a sã filantropia maçônica.

Há outra disposição natural no Maçom: as afeições não se limitam às fronteiras de seu país. É patriota consagrado à sua pátria, o que não impede de ser humanitário. Em certos meios zomba-se deste humanismo e é considerado até ridículo. Isto não deve impressionar o Maçom. Cremos na penetração mútua dos interesses humanos, pois afirmamos os princípios da Fraternidade e de Solidariedade, e isto nos isenta de responder aos que não podem ou não querem nos entender.



Muito tem a maçonaria que fazer com idéias, símbolos, rituais, usos e sua história, guiando, também, os filiados a alargarem o círculo em afetividade e sentimentos, ensinando que todos os seres humanos, sem distinção de raça, povo e história merecem o interesse, a estima e simpatia, para que se possa deixar de responder ataques, filhos de ignorância ou da má fé. A Fraternidade maçônica existe; é inerente às instruções da Aliança. É a Fraternidade tão incontestavelmente de essência maçônica que toda a atividade da Ordem a proclama de modo irrefutável.

O Irmão Blatin, na interessante biografia do Irmão Ch. Limousin, redator da “A Accacia”, exprime-se desta maneira: “O espírito maçônico é formado do sentimento profundo de afetos e de solidariedade que deve unir todos os Maçons; do menosprezo dos preconceitos que governam o geral dos homens; do amor para a nossa Ordem e do respeito das tradições que fazem a sua força; da submissão às nossas fórmulas ritualísticas que constituem a nossa disciplina; da compreensão dos nossos símbolos, de que derivam os nossos mais altos ensinamentos de filosofia e de moral”.




Uma das coisas que os Maçons nunca devem esquecer é que, pelos ensinamentos extraídos de seus rituais e pela interpretação dos símbolos estão solidamente unidos uns aos outros em toda a superfície do globo. As questões de ordem profana, em que se tem o direito de divergir de opinião, podem dividi-los - quando não sejam prudentemente abordadas, seguindo as prescrições ritualísticas da Ordem - mas, não contribuirão para desfazer a sua união. A história e a ciência demonstram que o único laço suficientemente poderoso para manter uma estreita união fraternal entre os homens que divergem uns dos outros pela educação, conhecimentos, costumes, nacionalidade, raça e pela língua, encontra-se na prática dos ensinamentos que lhes são comuns e o amor fraternal.



A larga existência da nossa Ordem, a sua influência no mundo e o afã para chegar ao aperfeiçoamento dos homens mediante isso aproximam as nações e dependem, sobretudo, do respeito que os seus membros guardaram e guardam por costumes que lhes são comuns, que só faltando aos juramentos livremente prestados pode o Maçom deixar que se enfraqueça.

Compreende-se agora com quanto escrúpulo e quanta perseverança devem as Oficinas Maçônicas estudar os nossos rituais e os nossos símbolos e assim aprenderem a tirar partido dos ensinamentos que deles derivam. Onde o estudo for descuidado, não há iniciados na Verdadeira acepção da palavra – não há senão Profanos disfarçados de Maçons. É penetrando o espírito maçônico que o Irmão se deixa inspirar pelos princípios de Justiça, Solidariedade, Igualdade, Fraternidade, Moralidade, Educação, Universalidade, conservando o amor a sua pátria.
Pela posse do espírito maçônico é que todo Irmão compreende e pratica os deveres de retidão, Tolerância, averiguação da Verdade, amor ao próximo e ao progresso. É esse espírito que deve possuir todo Irmão para compreender e sentir o benefício que resulta do bem-estar de nossos semelhantes; a aspiração almejada pela Maçonaria é a harmonia social tomada do ponto de vista humano, que é constitutiva de um todo mais amplo e perfeito nivelador de condições, raças, sentimentos e aspirações.

Aquele que bem compreende a Arte Maçônica sabe muito bem em que ponto malho, colher, prumo, compasso, esquadro e nível lhe foram confiados. Sabe que essa Arte sublime não somente liga o indivíduo como o aproxima do objeto; que não deve ser egoísta, deve se exteriorizar; que a Aliança está aí, não para a organização aparente das Lojas e sim para a humanidade, e que os princípios e os deveres não têm em vista um simples jogo, e sim uma obra formal.




O espírito maçônico é a necessidade de melhoramento moral, de Tolerância, respeito e estima para todos; de amor ao progresso e à paz; de trabalho e desvelo em benefício de toda a humanidade; de generosidade de espírito e sacrifício para os nossos semelhantes.

O espírito maçônico sugere as grandes e nobres idéias de educação moral e intelectual da juventude e o desenvolvimento cada vez mais acentuado dos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Pela afirmação do livre exame, pelo reconhecimento de que isso não constitui simplesmente um direito, sim um dever, - só o livre uso do pensamento permite descobrir a Verdade - a Maçonaria conduz ao estudo de todos os problemas de filosofia, moral e política, aguilhoando a curiosidade do espírito com tanta força que chegou a ser uma das causas primordiais da rapidez com que o progresso se realiza no mundo moderno.




Impressora Helvética Ltda.
Curitiba - Paraná - Brasil
Original na biblioteca da Aug. e Resp. Loj. Simb. Apóstolo da Caridade, nº 21.
Muit. Resp. Gr. Loj. do Par..
Restaurado às 18 horas e 15 minutos de terça-feira, 22 de abril de 2008, por Charles Evaldo Boller.
A recuperação pode conter inconsistências.

Por Ir.•.Walter Murbach

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