quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Maravilhas dos Símbolos e o Ócio Criativo



Maravilhas dos Símbolos e o Ócio Criativo
Charles Evaldo Boller

Considerando o equipamento de comunicação, sensibilidade e habilidade de que o homem é provido, só isto já o faz reinar soberano nesta biosfera. Sua superioridade é aumentada quando coloca em prática a sua capacidade de sonhar e principalmente de pensar com lógica e clareza. Mesmo que sua construção emocional o equipe com instintos que podem ser usados para bem e para o mal, ele desenvolve processos de interiorização que o defendem e o transformam de besta cruel e sanguinária em criatura dócil e amorosa. E é neste desenvolvimento que a Maçonaria atua no maçom que realmente deseja ser pessoa de bem em sentido lato. Ao incentivar o pensamento com ilustrações e especulações racionais, ensina ao homem a favorecer-se de sua capacidade racional e lógica. O maçom aprende a pensar.

Pensar como fruto do próprio esforço e iniciativa é uma característica que a poucos seres humanos é dado fazer. Não que sejam indolentes para meditar sobre temas importantes, mas estão submetidos a um sistema cruel de sobrevivência; pouco ou nenhum tempo resta para o indivíduo caminhar pelos meandros do pensamento especulativo. Esta falta de tempo é agravada pelas ofertas do mundo da propaganda e do entretenimento passivo. A concorrência é tão intensa e os atrativos para atividades passivas são tantas, que a maioria fica impossibilitada de oportunidades para meditar e pensar. Cinema, televisão, joguinhos de computador e outras distrações roubam o tempo e viciam as pessoas em atividade que não exigem praticamente nenhum esforço e os impedem de desenvolver a capacidade de pensamento para a felicidade.
A Maçonaria usa símbolos e alegorias para fazer as pessoas pensar. Todo aquele que é assíduo aos trabalhos em loja, praticamente sem esforço algum é conduzido pela caminhada dos símbolos e das estorinhas de fundo moral, que levam a pensar. Inclusive, por breves instantes, quando reunido em loja, o maçom é afastado dos laços alienantes do mercado consumidor para exercitar sua capacidade de pensar com lógica, filosofar e até sonhar.

Um símbolo fala muito mais que palavras; ele induz pensamentos completos que não são estáticos na linha do tempo, mas que se adaptam a cada situação, a cada estágio evolutivo da pessoa e da sociedade. O símbolo é o mesmo, a idéia que o circunda é diferente.

Uma alegoria representa de forma figurada expressões de pensamentos que se não forem traduzidas por ficções tornam-se difíceis, senão impossíveis de analisar com isenção. Os preconceitos e referenciais da cultura induzem enveredar por caminhos tortuosos, difíceis e até errados. Se a dificuldade for muito grande, a mente desiste e desliga o assunto. É semelhante a um ruído monótono e continuo; a mente desliga a capacidade de filtrar aquela informação e a pessoa consegue até dormir. O homem usa de sua capacidade de contar estorinhas para transmitir conceitos de moral e ética complicados aos seus pares, consistindo na principal razão do homem chegar ao ponto de evolução em que se encontra. Não fosse a sua maravilhosa capacidade de contar estorinhas ao redor das fogueiras desde o tempo das cavernas, não teria desenvolvido sua capacidade de pensar e até de sonhar. A Maçonaria abraçou esta intuitiva capacidade de ensinar utilizando-se de símbolos e estorinhas. O maçom nem percebe que está evoluindo em sua capacidade latente de pensar com lógica.

Esta característica de transmitir conhecimento era usada pelos pedreiros operativos no projeto e ensino das tarefas da profissão. Depois do trabalho, duro e estafante, eles reuniam-se de modo fraternal em algum lugar confortável, e lá, ao sabor de bom vinho e boa comida sonhavam e trocavam idéias de como fazer e melhorar em sua arte de construir catedrais. Os sábios que deram origem a Maçonaria perceberam isto e transportaram os hábitos e costumes daqueles pedreiros ao campo da especulação, na construção de catedrais que usam de pedras vivas para edificar a sociedade. Em loja tratam do treinamento formal e disciplinado, e após a reunião, em alegres reuniões os irmãos discutem os mais variados temas de interesse comum do indivíduo ou da sociedade. Assim foi o berço das grandes ações desenvolvidas por maçons que alteraram de forma permanente a história.

É nos momentos de descontração que afloram os potenciais de pensar; semelhante ao tempo em que não existia rádio e televisão, quando as pessoas conversavam e trocavam as mais valiosas informações para o seu crescimento intelectual, emocional e espiritual. É a prática daquela reunião familiar tão comum antes da Primeira Guerra Mundial. É uma sábia forma de escapar da alienação do sistema que escraviza e afasta o homem do estado natural.

O maçom que participa das atividades de sua loja, em todos os aspectos, se humaniza com muito mais facilidade. As duas atividades são importantes e complementares. O ritual comportado e ordeiro das lojas e a descontração livre e solta após os trabalhos complementam-se. É nos momentos de relaxamento que o maçom encontra solução para a maioria de seus problemas do cotidiano. Estes postulados são meticulosamente defendidos por Domenico de Masi e Bertrand Russell. Muitas vezes um simples comentário de um irmão dispara um processo racional para solução de problemas que até então pareciam insolúveis; é a volta para o circulo das fogueiras praticado pelos vetustos homens das cavernas, um hábito que a poucos é dado desfrutar neste mundo recheado de artificialidades.

Muitas vezes uma pessoa que não está contaminada pela emoção ou submetida a um sentimento de culpa desperta soluções na mente do irmão que tem algum problema em sua casa ou escritório.

Em todas as oportunidades da vida moderna o cidadão é instado a preparar-se para o trabalho; são raras ou inexistentes as vezes em que é treinado para o ócio. Nas ágapes festivas após os trabalhos em loja, o maçom reúne-se com outros seres humanos e troca símbolos ou idéias que o ajudam na programação de sua vida profissional e familiar. Há muito tempo, bem antes da loucura de nossa lides estafantes e alienantes que a Maçonaria trabalha assim, preparando o homem para bem usufruir os momentos de descontração. É um ócio criativo que possibilita e fomenta um futuro de qualidade e feliz para o ser humano.

Estes procedimentos complementares das reuniões nas lojas maçônicas liberam intelectualidade, energias psicológicas, morais, emocionais e espirituais. Existe um intercâmbio de sensações, emoções, símbolos e estorinhas que constroem o ser humano para fazer frente às vicissitudes da vida. Esta convivência pacífica e prazerosa desperta o poder dos símbolos latentes em cada intelecto e que foram treinados, até de forma subliminar, na reunião do templo. Cada atitude exterior do maçom reflete uma disposição interior, que foi desenvolvida no templo. Os momentos de descontração e divertimento consolidam aquilo a que o maçom foi exposto em loja. É importante não sair correndo após os trabalhos da loja exatamente devido a esta característica de complementação do que se aprendeu no templo. Ambas as atividades tem igual importância na fixação de tudo o que se aprendeu. Se assim não ocorre na loja é porque existe algum problema que está dispersando os irmãos, e cabe a todos os mestres maçons examinar quais os motivos que levam à debandada dos irmãos após os trabalhos; motivos que podem ser a sinalização de simples apatia até o perigo de degradação dos relacionamentos da irmandade ao ponto de culminar com abatimento de colunas, além de tornar infrutífero tudo o que se desenvolveu durante a sessão.

A confraternização após os trabalhos da sessão é útil e obrigatória. É quando afloram as maravilhas dos símbolos e o ócio criativo em termos práticos. É o momento de gozar das delícias para as quais o corpo humano foi maravilhosamente projetado. Isto porque, o homem não foi feito para o trabalho abusivo e degradante, mas para em suas lides obter prazer e alegria. Os orientais dizem que é devido ao cidadão encontrar um trabalho que ama que ele nunca mais trabalhará na vida. É nos momentos de ócio que a mente humana cria as mais belas obras de arte, seja esta uma arte útil ou inútil. O que interessa é fazer jus de ser maçom, desenvolver para fazer o bem, criar mais e melhores obras que influenciem a sociedade para a honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.
Artigo de Charles Evaldo Boller

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