Valoroso irmão Iraildo, obreiro da Vale do Piranhas 31 |
Do velho ao moço
Você já foi criança um dia, mas
os seus anos se dobraram e fizeram de você um jovem adulto, e, agora, você me
olha com certo desprezo, só porque muitos anos se dobraram para mim e hoje sou
velho.
Você observa minhas mãos trêmulas
e encarquilhadas e se esquece que foram elas que ajudaram a acariciar as suas, inseguras
na infância.
Critica os meus passos lentos e
vacilantes, esquecendo-se de que foram eles que orientaram seus primeiros
passos.
Reclama quando lhe peço para ler
uma palavra que meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão, esquecido das
várias palavras que eu repeti, inúmeras vezes, para que você aprendesse a
falar.
Fala da lentidão das minhas decisões, esquecendo-se de que suas
primeiras decisões foram por elas balizadas.
Diz que sou um velho desatualizado
e sem estudo, mas eu confesso que pensei muito pouco em mim, para fazer de você
um homem de bem.
Reclama da minha saúde
debilitada, mas creia, muito trabalho foi preciso para garantir a sua.
Ri quando não pronuncio corretamente
uma palavra, mas eu lhe afirmo que esqueci de mim mesmo, para que você pudesse cursar
uma universidade.
Diz que não possuo argumentos
convincentes em nossos raros diálogos, todavia, muitas foram às vezes que
advoguei em seu favor, nas situações difíceis em que se envolvia.
Hoje você cresceu e é um homem
robusto e a juventude lhe empolga as horas, esqueceu-se de sua infância, seus
primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros sorrisos, mas acredite,
tudo isso está bem vivo na memória deste velho cansado, em cujo peito ainda
pulsa o coração amoroso de outrora.
É verdade que o tempo passou, mas
eu nem me dei conta, só notei naquele dia em que você me chamou de velho pela primeira
vez e, eu olhei no espelho, lá estava um velho de cabelos brancos, vincos profundos
na face e um certo ar de sabedoria, que na imagem de ontem não existia.
Por isso eu lhe digo meu jovem,
que o tempo é implacável, e um dia você também contemplará o espelho e
perceberá que a imagem nele refletida não é mais a que hoje você admira, mas você
sentirá que em seu peito, o coração ainda pulsa no mesmo compasso; que o afeto
que você cultivou, não se desvaneceu; que as emoções vividas, ainda podem ser
sentidas como nos velhos tempos; que as palavras amargas, ainda ferem com a mesma
intensidade; e que, apesar dos longos invernos suportados, você ficou frio
diante da indiferença dos seres que embalou na infância.
Por isso que lhe aconselho meu
filho, não ria nem blasfeme do estado em que estou, eu já fui o que você é, e
você será o que hoje sou.
Fonte: Jornal "O
UNIFICADOR" - Orgão oficial da Loja Maçônica «OBREIROS DE MACAÉ» nº 2075. Fundado
em 25 de outubro 1995 - Filiado à ABIM - Registro nº 018 J
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