quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Semente e o Semeador


A Semente e o Semeador


Ad Majorem Dei Gloriam


As parábolas deixadas ou dadas por Jesus às multidões – ao povo que ouvia, via e seguia o senhor e os seus apóstolos e discípulos – transmitem uma mensagem perene cujo eco ressoa hoje em nós. Em Nós que esperamos vir a tornar-nos solo fértil onde a semente possa frutificar e dar muito fruto.

Como podemos perceber na mensagem do Evangelho, Jesus, à imagem dos profetas e mensageiros de Deus, usava uma linguagem velada perante aqueles que vinham ouvi-lo para que os mesmos pudessem meditar na mensagem que lhes deixava. Isso, porque uma mensagem velada desperta o interesse e estimula a mente. Este é um processo clássico usado até hoje nas escolas de mistérios. As chaves não são dadas a todos, mas sim àqueles que as conquistam, dado que elas abrem as portas da terra e dos céus. Iconograficamente, estas chaves são visíveis na imagem de Pedro-Sefas, o discípulo do Reino. Aquele que deveria estabelecer ou construir a parte física da Ecclesia.

As parábolas são pois a forma usada por Jesus para ensinar as multidões, ou seja todos os que têm um primeiro contacto com a sua doutrina. Elas parecem ter sido ordenadas temporalmente pelos compiladores dos evangelhos de modo a auto completarem-se durante o percurso descrito. Não é pois de estranhar que esta parábola hoje ouvida, complete a súmula doutrinária de Cristo, dada nas bem-aventuranças.

Na verdade, o Senhor mostra-nos como os humildes, os misericordiosos, os puros de coração são a terra fértil onde a semente germina e dá fruto. Fruto que sacia a fome e a sede. Que satisfazem através da sabedoria e da compreensão a Alma humana sedenta de Cristo.

A proposta dada por Jesus é clara e respeita à semente que recebemos e criamos em nós. Esta é representada pelo Ego, parte inerente ou constituinte do Ser.

Sabemos que o Ego assume diversas formas, a mais densa delas é aquela que se liga ao fomento ou ao apego ao vício. Ao vício enquanto defeito ou imperfeição vulgar repetitiva. Aquilo a que alguns chamam a corrente que leva os seres não despertos.

Mas o Ego é mais que isso. Longe da visão puramente mundana (do mundo terreno) ou profana (pró Antes ou perante + fanus/fanum – o Templo ou espaço sagrado); O Ego é a expressão do Eu. O pedaço de nós mesmos que poderá realizar-se plenamente. Ele é a verdadeira pedra ou sefas que contendo em si a dupla chave, nos poderá abrir as portas dos Reinos.

Ele é a chave que desbloqueia os pinos da nossa própria fechadura, isto é, a serpente alada que despertando pouco a pouco sobe do reino… aos céus. De Malkut a Tiphereth, abrindo assim as portas do templo de Deus (que somos nós física e subtilmente) a Cristo que é caminho, verdade e vida. Ele que É o sumo pontífice Real e divino.

Os espinhos abordados na parábola representam as formas densas, egóicas e egoístas que só se satisfazem pela auto-realização mundana e que conhecemos como sendo o amor-próprio, a nossa vontade, o nosso desejo de reconhecimento. A vontade que temos de parecer justos e rectos. Tudo isso é fantasia perante a justiça e a rectidão divina, perante o amor e a vontade do Alto. Esses desejos ou espinhos, não passam de figurações relacionadas com os príncipes deste mundo representados pelo maligno referido no Evangelho. Estes são os que asfixiam o ego, não o deixando frutificar.

E quantas vezes pensamos nós mesmos ter a capacidade de compreensão da palavra sagrada? Com certeza muitas. Essa é a figura representada pela terra rasteira onde a semente germina, mas que por falta de raízes sucumbe. As raízes são na verdade o conhecimento do real significado da Palavra, do Verbo, da Mensagem que Deus tem para nos dar. Por isso Jesus diz aos que o ouvem: “Quem tem ouvidos oiça!”

A referência a Isaías reforça este momento e mostra-nos como temos a forte tendência de distorcer a mensagem interpretando-a à nossa maneira e assim desfigurando-a.

Por isso Cristo deixa a chaves aos seus apóstolos. Aqueles que são os ditosos a quem são revelados os mistérios (de mistérium – culto secreto – de onde derivam: mister ou ofício) do Reino. Aqueles que alcançarão o domínio do Mundo do Reino e terão a vida eterna.

Aqueles que abrem os seus ouvidos, os seus olhos e o seu coração. Aqueles que procuram e encontrando batem à porta para que a mesma se abra! À voz de CRISTO que hoje, como ontem, clama nos desertos vastos de areias secas, ou seja: de almas secas e sem desejo de frutificação.

Paremos! Hoje se escutarmos em nós mesmos a voz do Senhor, não fechemos os nossos corações. Percebamos que a compreensão da Palavra divina não vem somente da nossa interpretação da mesma, mas acima de tudo pela expressão real da sabedoria a que chamamos gnose cristã, e que é o resultado da frutificação da semente. A compreensão, no seu duplo sentido de apreensão e entendimento é a colheita que conclui o processo de revelação interior. É por isso que o Verbo, quando compreendido se torna em sinal de multiplicação. De 1 para 100 ou 1 para 60 ou 1 para 30, conforme a capacidade e o percurso de cada um. A compreensão, ao nosso nível e no nosso plano, corresponde à expansão da consciência. À Luz individual que se extrapola repelindo as trevas da Ignorância, do fanatismo e da opressão enquanto liberta paz e amor.

Cristo exorta-nos! Aponta-nos o caminho e diz-nos: “Ganhai raízes! Ouvi-me e vede-me! Não como alguém que ontem viveu e morreu por cada um de vós, mas acima de tudo como alguém que ressuscitou para que vós o pudésseis fazer. Abri os vossos corações e as vossas mentes e enchei-vos do Espírito-Santo”

Respondei ao desafio. Despertai na Alma o germe frutificador que recebestes na vossa encarnação, para que um dia plenos de fruto possais dar um pouco de vós àqueles que vejais que poderão ganhar raízes, para que a mensagem perdure pelos séculos sem fim. Eis o desafio e as chaves que abrem as portas dos Reinos. Tenhamos nós mesmos a força e a capacidade de as saber usar.

Ámen

Mons. +Lusignan

Fonte:IN HOC SIGNUS Hermetic Institute

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