domingo, 3 de outubro de 2010

PROMETEU E PANDORA, DA CRIAÇÃO AOS MALES DO HOMEM









PROMETEU E PANDORA, DA CRIAÇÃO AOS MALES DO HOMEM
JEOCAZ LEE-MEDDI – UM POEMA

Milênios antes de o homem estudar a ciência da vida, as religiões explicaram de forma mística a criação da terra, da vida e da humanidade, numa resposta direta à imensa interrogação que se faz sobre o espaço humano dentro do universo, e a sua existência perecível, na eterna luta da vida e da morte. Se nos conceitos judaico-cristãos, Deus é único e supremo criador do universo e do homem, a religião da Grécia antiga via em Prometeu, um Titã da segunda geração, o criador da humanidade.
Feito para viver no jardim do Éden, Adão é a imagem do criador, ser inteligente e livre para escolher o seu caminho. Se no Gênesis o primeiro homem é feito do barro, na mitologia grega também. Prometeu esculpiu o homem do barro misturado com as suas lágrimas. Adão é feito à imagem de Deus, também o homem de Prometeu é feito à imagem de uma divindade. Se Adão é único, e da sua costela surge a mulher, com quem vai procriar, Prometeu maravilha-se com a sua obra e esculpi outros tantos homens, cada um à imagem das divindades. A sua obra, ao contrário da do Deus dos judeus, não é perfeita, pois esses homens são desprovidos de uma inteligência que lhes construísse uma identidade da alma. São seres silvícolas e sem vontade ou pensamento. É preciso que Atena (Minerva), deusa da sabedoria, jogue sobre a criação de Prometeu gotas do néctar divino, para que eles possuam uma alma, e quando a adquirem, não sabem o que fazer com ela.
Se Deus dá a sabedoria divina para Adão por amor à criação, Prometeu rouba o fogo dos deuses, o símbolo da sabedoria humana, não por amor, mas por vingança aos deuses. Instigado por Eva, Adão come o fruto da sabedoria e perde o Éden, também uma mulher, Pandora, será quem trará na sua caixa todos os males do mundo, abrindo-a para a humanidade, que perde a superioridade intelectual alcançada quando a consciência humana, através do conhecimento do fogo, é libertada da submissão aos deuses. Portadores de todos os males da caixa de Pandora, os homens voltam aos deuses, rogando-lhes boa colheita, boa saúde e boa morte.
Os mitos de Prometeu e Pandora, antagônicos, mas unidos através da concepção da criação humana, representam o homem, ser pensante e inteligente (por parte de Prometeu) e às limitações do seu corpo, exposto aos males físicos e intelectuais (herança de Pandora), que os fazem finitos diante da imortalidade dos deuses.


Pandora, a Mulher Feita do Bronze

Os deuses passam a temer os homens, que se expressam através da arte a raiva, o amor e o ódio, sem que precisem recorrer aos deuses. Tornam-se poderosos e cada vez mais independentes da presença divina. Esquecidos pelos homens, os deuses tramam uma vingança terrível, que lhes devolvam o poder usurpado e a submissão humana.
Zeus pede ao filho Hefestos (Vulcano), talentoso deus dos metais e da forja, que confeccione um homem de bronze, mas que seja diferente dos outros, para que possa encantá-los. Hefestos atende ao pedido, criando do bronze, a primeira mulher, bela e encantadora.
À mulher feita do bronze são dados vários presentes divinos. Afrodite (Vênus), deusa do amor, oferece-lhe uma infinita e sedutora beleza, além de encantos para enlouquecer os homens. Atena entrega à mulher uma túnica bordada que lhe cobre e realça a beleza harmoniosa do corpo. Hermes (Mercúrio), presenteia-lhe com a esperteza da língua, e Apolo confere-lhe uma voz melódica e suave. Está pronta a primeira mulher, que é chamada de Pandora, que significa “dotada por todos”. Ela estava pronta para ser enviada aos homens.
Zeus, antes de enviar Pandora aos homens, oferece-lhe uma caixa coberta com uma tampa. Dentro dela estão todos os germes da miséria humana. Assim, é enviada do Olimpo para os homens da Terra, a mulher, que trazia consigo a tentação, o símbolo dos desejos terrestres e todos os males do mundo.

Aberta a Caixa de Pandora



Quando chega a Terra, Pandora depara-se com Epimeteu, irmão de Prometeu. Ao ver tão bela criatura, o Titã encanta-se por sua beleza. Seduzido e apaixonado, ele recebe das mãos da bela mulher a caixa enviada por Zeus. Deslumbrado por tanta beleza, Epimeteu esquece-se da recomendação de Prometeu, que não recebesse nenhuma dádiva vindo do senhor do Olimpo, embevecido de paixão, nem desconfia do conteúdo caixa, abrindo-a prontamente. Subitamente, dela espalha-se um ar pestilento, os homens são afetados pelas doenças, pelas dores, pelo envelhecimento do corpo. Toma-lhes a alma a inveja, o rancor, a vingança. A essência humana, dantes pura e infinita, perde a inocência, tornando-se solitária e egoísta. Dentro da caixa de Pandora há um último elemento, a esperança, que ela deixa lá no fundo, ao fechá-la novamente. O homem perde o paraíso.
Pandora une-se a Epimeteu, criando uma nova geração de homens, desta vez vinda não do barro e das lágrimas de Prometeu, mas da união de um homem e de uma mulher. Os filhos desta união herdam a fragilidade da alma, as doenças, a miséria e todos os males que faz da humanidade a existência provisória diante da perenidade dos deuses.
Os deuses estão vingados. Através de Pandora destruíram a solidariedade entre eles, limitando o caminho vitorioso que percorreram até então. A conquista do fogo, que se fizera instrumento de transformação e progresso, passa a verter o seu lado destrutivo, que incendeia a alma humana.
Copiado de jeocaz.wordpress.com/2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário