sexta-feira, 16 de março de 2018


LEMBRANÇA DA CARIDADE

 

Irene de Souza Pinto

 

Tanta vez, ei-los à frente,

Os nossos irmãos do mundo,

Face triste, olhar profundo,

Angústia a esconder-se em vão...

Recordam seres estranhos

Em luta desconhecida,

Multidão de alma sofrida,

Tresmalhada na aflição.

 

Esse nobre companheiro,

Acabrunhado e doente,

Quer trabalho inutilmente,

Precisa de pão no lar...

Mas tendo saúde estreita

Envergonhado, mendiga,

Não encontrou mão amiga

Que lhe pudesse apoiar.

 

Aquele sofreu pesares,

Que ninguém sabe, nem conta,

Penúria, sarcasmo, afronta

E a força se lhe desfez...

Buscando fuga e veneno

Hoje, o pobre em desalinho,

Chora, largado e sozinho,

Cansado de embriaguez...

 

Aquela irmã que se mostra

De porte elegante e eleito,

Às vezes, guarda no peito,

As marcas de férrea cruz...

Sob o colo em pedrarias,

Tanta vez em pranto e prece,

O coração lhe parece

Um pouso frio e sem luz.

 

Aproxima-se mais outra,

Tem mágoa, febre, cansaço,

Traz um filhinho no braço,

Pede o concurso de alguém...

Mãe valorosa e esquecida,

Anjo que chora e vagueia,

Implora à bondade alheia

A proteção que não tem...

 

Eis, mais além, a criança

Que segue desprotegida,

Flor de esperança e de vida

Despetalando-se ao léu...

Surgem outras ... Fazem bandos

De promessas desprezadas

À noite, ao vento, às estradas

Sob as lágrimas do Céu...

 

Enquanto o cérebro fulge

Por tudo aquilo que encerra,

Engrandecendo na Terra

A luz dos seus próprios dons...

O coração compreensivo

Sem alarde, sem tumultos,

Louva o brilho dos mais cultos

E guarda todos os bons.

 

Ah! Meus irmãos de caminho,

Que aceitais Jesus por Mestre,

Fitai a casa terrestre

Repleta de sombra e dor;

Vinde conosco! --- Sirvamos,

A caridade no mundo

É o Cristo plantando amor.

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