domingo, 11 de fevereiro de 2018


A SUBLIME SENTENÇA

 

Francisco Antônio de carvalho Júnior*

 

Ao pé de templo enorme, a praça tumultua.

Ansiosa expectação na calçada poeirenta...

A massa encontra o Cristo e, trágica, apresenta

Consternada mulher a chorar seminua...

 

– “Adúltera, Senhor!” – velho escriba insinua.

– “Que dizes, Mestre?” – insiste a multidão violenta –

“Somos o tribunal que a tradição sustenta,

A lei é apedrejar nos libelos da rua!”

 

– Fita o Mestre a infeliz que à miséria alanceia;

Inclina-se, em seguida, e escreve sobre a areia,

Como quem grava o sonho onde a vida não medra.

 

Depois, contempla em torno a malícia, o veneno,

E exclama para a turba, entre nobre e sereno:

– “Quem for puro entre vós, lance a primeira pedra!”

 

 

(*) Depois de ingressar na Faculdade de Direito de S. Paulo, fazendo o terceiro e quarto anos no Recife, sòmente em 1877 concluía o curso em S. Paulo. Ainda estudante, colaborou na República, de Lúcio de Mendonça. Poeta, folhetinista, critico literário, dramaturgo. Nomeado promotor de Angra dos Reis, em 1878, transferiu-se depois para o Rio, onde viria à desencarnar no ano seguinte, como juiz municipal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário