quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Os Cataros II

Paulo Preti .·.

Nos meados do século XII, iniciou-se na Itália um movimento religioso denominado Catarismo (Albigenses), a doutrina dos cátaros era nitidamente diferente da Igreja Católica, numa reação à Igreja Católica e suas práticas, como a venda de indulgências, e a soberba vida dos padres e bispos da época.
 
Eles eram extremamente radicais e dualistas como os maniqueístas, acreditavam que a salvação vinha em seguir o exemplo da vida de Jesus, negavam que o mundo físico imperfeito pudesse ser obra de Deus, acreditavam ser o mundo criação do príncipe das trevas, rejeitavam a versão bíblica da criação do mundo e todo o antigo testamento, acreditavam na reencarnação, não aceitavam a cruz, a confissão e todos os ornamentos religiosos.
 
Com medo da repressão da Igreja, os Cataros mantiveram sua fé em segredo, porém em pouco tempo esta seita atraiu muitos seguidores. Cresceram bastante no sul da França e se estenderam a região do Flandres e da Catalunha, funcionaram abertamente com a proteção dos poderosos senhores feudais, capazes de desafiar até mesmo o Papa.
 
O chamado “Pays Cathare” (País Cátaro) se extendia pela zona chamada Occitania , atual Languedoc, em uma extensão fronteiriça com Toulouse até o oeste, nos Pirineus até o sul, e no Mediterráneo até o leste. Em definitivo, uma área política que, durante o século XIII, limitava-se com a Coroa de Aragão, França e condados independentes como o de Foix e Toulouse.
 
O mais curioso nesta cultura é a cautela por construir seus castelos e abadias em cima de precipícios e inacessíveis colinas, as mais elevadas possíveis, razão pela qual, na atualidade, os fazem muito atrativos por suas inabarcáveis vistas sobre o horizonte e pela observação de paisagens impressionantes.
 
Realizavam cerimônias de iniciação, suas cerimônias eram muito simples, consistia basicamente em um sermão breve, uma benção e uma oração ao Senhor, essa simplicidade influenciou posteriormente uma gama de segmentos protestantes. Possuíam duas classes ou graus.
 
Os leigos eram conhecidos como crentes, e a esses não eram exigidos seguir suas regras de abstinência reservada aos perfecti, ou bonhomes eleitos, que formavam a mais alta hierarquia do catarismo. Para ser um perfecti tinham que tanto homem quanto mulher, passar por um período de provas nunca inferior a 2 anos, e durante esse tempo, faziam a renúncia de todos os bens terrenos, abstinham de carne e vinho, não poderiam Ter contato com o sexo oposto, e nem dormirem nús. Depois deste período o candidato recebia sua iniciação conhecida com o nome de Consolamentum que era realizada em público. Essa cerimônia parecia com o batismo e continha também uma confirmação e uma ordenação.
 
Na idade média, marcada pela violência e pela sede de poder da igreja Católica Romana, o Catarismo chocou-se frontalmente com o dogmatismo da Igreja. A religião catara propunha, como aspectos básicos, a reencarnação do espírito, a concepção da terra como materialização do Mal, por encher a alma de desejos e prende-la às coisas efêmeras do mundo, e do céu como a do Bem, numa concepção dualista do mundo. Mas o principal ponto de discordância, e talvez o mais original, tenha sido a de que os cataros não admitiam qualquer tipo de intermediação entre o homem e Deus.
 
Esta crença chocou-se frontalmente com a religião hegemônica em toda Europa, a base da estrutura social, cultural econômica e religiosa do Feudalismo. Durante muito tempo os cataros foram relativamente poucos, com o tempo, começou a estender-se pela Occitania, até chegar a um ponto cujo resultado era demasiado incômodo tanto para Roma como para a França.
 
Um bastião religioso no centro da Europa não fazia mais que estorvar a cristalização do cristianismo de Roma no continente, e um território não católico era um pretexto ideal da Coroa da França para anexar as terras do Languedoc e expandir-se.
 
Por esta razão, e também pela força que assumiu o catarismo, a Igreja Católica fez tudo para combater sua expansão, classificando o movimento como heresia, em 1209, o infalível Papa Inocêncio II estimulou os fiéis a ir para as cruzadas contra os hereges, com cerca de 20.000 cavaleiros os cruzados massacraram o povo, muitos morreram torturados ou na fogueira, sendo esta a primeira cruzada feita contra cristãos e em território franco. O presente que o santo Papa prometeu em compensação para aqueles que participaram da campanha era a partilha e doação das terras aos barões que as conquistassem, ou seja, converter-se-iam em senhores feudais..
 
A Cruzada Albigesa (devido à cidade de Albi), comandadada por Simon de Montfort (1209 – 1224) e pelo Rei Luis VIII (1226-1229) durou 40 anos. A perseguição arrasou a região dos Cátaros, a resistência teve que enfrentar-se com duas forças enormes, o poder militar do Rei de França e o poder espiritual da Igreja Católica.
 
Na primeira fase da cruzada, foi destruída a cidades de Béziers (1209), onde 60.000 pessoas morreram. Destruída a cidade, os cruzados marcham para Carcassone, onde Simon de Montfort se apossa dos condados de Trencavel (Carcassone, Béziers), conquistando também Alzonne, Franjeaux, Castres, Mirepoix, Pamiera e Albi.
 
Em 1216, ouve outra investida contra os cataros. Simon morre em 1218, acabando também a cruzada, sem, entretanto, extinguir a heresia. Amaury, filho de Montfort, oferece as terras conquistadas por seu pai a Felipe Augusto, rei da França que as recusa, seu filho Luís VIII acabará aceitando as terras.
 
Em 1224 Luís VIII liderando os barões do norte, empreendeu uma nova cruzada que durou cerca de três anos alcançando muitas conquistas até chegar a Avignon, onde termina o cerco contra os hereges. O resultado dessa disputa foi um acordo imposto pelo rei da França aos Senhores feudais das áreas conquistadas e consequentemente os domínios disputados passariam para a coroa da França (Tratado de Meaux, 1229).
 
Militarmente, apesar de terem o apóio de pequenos condados, os cataros não conseguiram resistir ao genocídio das cruzadas, mas elas não conseguiram erradicar o Catarismo de forma definitiva. Foi a Inquisição, a instituição que realmente conseguiu exterminar definitivamente o catarismo.
 
No chamado País Cátaro viviam outras pessoas cuja religião era o catolicismo, Perguntado sobre como distinguir entre os hereges e os outros, o legado papal (inquisidor) respondeu:
 
“Matem-nos a todos. Deus se encarregará dos seus”.

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