domingo, 6 de março de 2016


Sentidos Humanos e Espiritualidade

 

Desligamento dos cinco sentidos naturais e desenvolvimento da espiritualidade para efeito de mudanças duradouras.

 

Os sentidos humanos existem para possibilitar os relacionamentos com outras pessoas e a realidade por eles perceptível. As sensações de tato, paladar, audição, olfato e visão são utilizadas de forma limitada na orientação das criaturas reclusas ao planeta Terra.

 

O homem, devido a sua capacidade racional mais desenvolvida, tem a capacidade de atingir a plenitude do sentir. Para tal, há necessidade de desligar os cinco sentidos, possível ao retirar-se para um local sem ruído e luz. E na escuridão e silêncio que os cinco sentidos humanos ficam sem alimento. Movimentos paralisam. Ficam apenas os pensamentos; é a meditação. Com a meditação é possível esvaziar a mente. Tal ação intencional e racional faz com que a percepção se volte para dentro de si. E é lá, neste mundo artificial criado pela mente, que se abrem os olhos. São outros olhos e outro despertar. Ver esta luz desperta para realidades mais profundas. Percebe-se a espiritualidade, uma forma de energia que pode ser percebida e controlada.

 

O homem evolui, num maior ou menor grau, para os conhecimentos intelectual e espiritual: O conhecimento intelectual é tudo o que é possível de ser medido, aferido, possuído ou disponibilizado mediante alguma técnica.

Normalmente são operações de identificação da criação que o sujeito faz do objeto, da consciência e da linguagem; o conhecimento espiritual, em sentido lato, é a relação interna da consciência para consigo mesmo. Basicamente o resultado do conhecimento que o sujeito tem de si mesmo. Em sentido íntimo é o único conhecimento possível para as próprias verdades metafísicas. Algo como a visão que o espírito tem de si mesmo. É a percepção de que existe sempre em um dado objeto inseparável de si mesmo que a consciência tem de suas próprias vivências. O espírito é a constatação material de uma forma de energia que está encarnada no sujeito.

 

Toda vez que a razão bloqueia o funcionamento dos sensores materiais, esvaziando a mente, a energia denominada alma, espírito, sopro de vida ou alento, conforme traduzido das mais diversas linhas de pensamento e culturas, penetra cada vez mais na matéria. Mistura-se. Forma unidade com ela. Com o exercício de esvaziamento o sujeito adentra a estados cada vez mais aprofundados de consciência. A manifestação física da substância sólida é outra forma de energia, só que hipoteticamente congelada devido a sua freqüência ondulatória manifestar-se em freqüência tal que a torna perceptível aos sensores naturais. Bloquear os sensores naturais tem a função de afastar o sujeito da ilusão. A substância sólida é uma ilusão percebida pelos sensores naturais. Em sendo energia, a pessoa encontra dentro de si um vasto espaço, um universo em miniatura, semelhante ao grande universo que, de sua parte, também é energia. Tudo é energia e está energeticamente interligado! Tudo está amarrado por linhas de força. Tudo é, em essência, formado de espaço vazio. O nada!

 

A realidade é coiistituída de átomos esféricos e de vazio; não existe nada além de átomos e espaços vazios. O resto não passa de opinião. (Demócrito de Abdera), filósofo de nacionalidade grega.

 

A afirmação que tudo é energia já foi intuída e é parte dos usos e costumes das culturas do sul da Ásia, onde, para indicar respeito e até veneração, as pessoas cumprimentam-se com as mãos postas em frente à testa, como se curvassem diante de um Deus ou pessoa santa, pronunciando a palavra “namastê”; significando: “o Deus que habita meu coração saúda o Deus que habita teu coração”. Traduzindo para a presente finalidade: a força ativa que anima meu coração saúda o alento que habita em teu coração. Estou em você como você está em mim. Energeticamente somos um.

 

Em Maçonaria, os adeptos são levados a reconstruir o Templo que foi destruído, numa referência lendária a Zorobabel. O Templo em verdade não é o histórico lugar misterioso e respeitável onde os judeus praticavam a adoração ao seu Deus Jeová, mas refere-se a um Templo feito de carne e ossos: o próprio adepto. Interpretar literalmente a lenda histórica de Zorobabel de nada serve para alçar o homem a estados espirituais mais elevados. A razão do não entendimento subliminar da lenda reside na forma de organização e exploração definida pelo sistema humano de coisas, dada à alienação que consta da:

• Consciência, que passa a considerar-se coisa;

• Pessoa tornar-se estranha para si mesma;

• Obrigatoriedade do trabalho;

• Influência das tecnologias;

• Frivolidade de entregar-se aos prazeres do instinto;

• Fantasia;

• Regra ou lei imposta que, de alguma forma, afasta o sujeito da vida natural.

 

Submissos ao sistema criado pelo homem, os Templos de carne ficam ao chão, ao Nível do Esquadro, na materialidade.

 

A reconstrução do Templo do Maçom acontece a cada Grau e está repleta de tensão e desespero. Implica em perigos. O pior inimigo está em si quando este se sabota e embota a coragem de mudar e de ser diferente. A busca da sabedoria para reconstruir implica em coragem para enfrentar a mudança. É precaver-se contra os inimigos internos e externos. Os agentes inimigos sabotam a capacidade e o incentivo às mudanças como: valor, firmeza e perseverança.

 

Há necessidade do uso da Espada com maestria. O órgão mais parecido com uma Espada de dois gumes é a língua. Uma língua afiada corta em dois sentidos; é arma que serve tanto para o ataque quanto para a defesa. Defende o conhecimento intelectual de fazer frente às mudanças e ataca o pensamento aviltante de terceiros que visam escravizar as pessoas a dogmas; verdades impostas por decreto e longe da Iluminação. Com a Trollia o Maçom constrói a espiritualidade. Como a espiritualidade é encarnada, é internamente que a ferramenta tem a capacidade de aplainar rugosidades, preencher os vazios da mente que é o próprio processo da vida. Na medida em que a mente evolui pelo uso da Espada e da Trolha, cresce a consciência espiritual.

 

No passado considerava-se a mente como o aspecto da alma imaterial, ou espírito, sopro de vida, alento. Hoje, na visão da Teoria dos Sistemas Vivos, a mente deixou de ser coisa e passou a ser considerada um processo; comparável ao software que roda num hardware. A mente, o intelecto, corresponde a um conjunto de funções superiores da alma e da vontade. E o que é importante: é modificável! É esta capacidade que o Maçorn usa para modificar-se a cada Grau que sobe e que introduz na mente novos conhecimentos. Quando aumenta seu conhecimento intelectual, aplicado pelo uso da Espada, cresce também o seu conhecimento espiritual na aplicação da Trolha. Por isso, todo Maçorn, para perseverar nas mudanças que resolveu em sua mente, tem a Espada numa das mãos e a Trolha noutra.

 

São muitas as considerações que permitem afirmar e aceitar a existência da energia interna que muda a forma de ver o mundo e de relacionar-se com ele, de perceber que o mundo é como um imenso campo energético. Pode-se

especular que o Templo de carne é parte de um todo que funciona em sincronia de oscilações energéticas, algumas visíveis, mas em sua maioria invisíveis aos sentidos naturais. Daí a necessidade de desenvolver novas capacidades de percepção pela anulação dos sentidos naturais. Onde o esvaziar da mente promove a percepção daquilo que tem a capacidade de efetuar mudanças no mais íntimo do ser: a espiritualidade.

 

O contato com energias desconhecidas e imperceptíveis aos sensores naturais leva à constituição de nova identidade# Um novo homem a cada mudança, a cada Grau. É um processo que não tem fim. Depois de treinar a capacidade de reagir favoravelmente ao que cada Grau que a Maçonaria pretende de seus adeptos, estes, treinados e suscetíveis a caminhar sozinhos, iniciam novas ligações mentais. Mesmo depois de alcançar o maior Grau, o processo de multiplicação dos degraus da Escada que ascende à espiritualidade continua. A mente está treinada. A Escada propicia infinitas associações no caminho da Iluminação, vista pela primeira vez na Cerimônia de Iniciação do primeiro Grau. Ritual e Símbolo são sempre os mesmos, mas as suas interpretações evoluem de tempos em tempos dependendo apenas de perseverança no seu exercício.

 

O objetivo central de todos os Graus da Maçonaria é o exercício de fortalecimento da espiritualidade. Da penetração da energia, do sopro da vida, cada vez mais fundo no campo energético que a pessoa é. Fortalece a capacidade de mudança na busca de contato com a essência daquilo que cada homem é. A espiritualidade pavimenta "o caminho à religação com o divino ensinado pela religião que cada adepto segue. Justifica o fato de o Maçorn referir-se à divindade que existe dentro de seus Irmãos por algo assemelhado a “namastê”, o conceito Grande Arquiteto do Universo, o inominado, a energia com a qual cada criatura que pensa deseja religar-se.

 

Irm.-. Charles Evaldo Boller

Or.'. Curitiba PR

 

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