Rui Bandeira |
As Quatro Colunas
Quinta, 30 Outubro 2008 13:53
Escrito por Rui Bandeira
(Após estar entre colunas e ter recebido do V. M. autorização para iniciar a apresentação da sua prancha, o obreiro declara:
Ob.:
À Glória do Grande Arquiteto do Universo!
Venerável Mestre, necessito do auxílio do Mestre de Cerimônias.
O V. M., deferindo o tácito pedido de autorização para movimentação em Loja, ordena:
V. M.: Mestre de Cerimônias, conduz o Irmão que se encontra entre colunas aonde ele o desejar, enquanto decorrer a apresentação da sua prancha e, no final, recondu-lo entre colunas.
O M. C. conduz o obreiro até junto da coluna situada no canto sudeste do Quadro de Loja e ambos aí permanecem enquanto o obreiro lê o texto que segue)
Sabedoria
Não é Conhecimento. Há, por esse mundo fora, muito analfabeto mais sabedor que muito doutor.
Não é também Cultura. Há por aí muito intelectual superculto que, apesar da pose, destila muita erudição, mas demonstra muito pouca sabedoria.
Não é ainda Inteligência. Há à nossa volta muito bem dotado de células cinzentas que esbanja as suas capacidades com uma ingenuidade arrepiante.
Sabedoria é um pouco de tudo isso, com um nada de aquilo e um pó de aqueloutro, para ser muito mais do que tudo isso.
Sabedoria é a capacidade de fazer o que se deve, quando se deve. A virtude de tomar a decisão certa, na hora adequada, para a situação asada.
Sabedoria é intuir quando é hora de aguardar e quando é o momento de agir.
Sabedoria é sentir quando se deve elogiar e quando se impõe criticar.
Sabedoria é concordar com naturalidade e discordar com elegância.
Sabedoria é prudência corajosa temperada com arrojo medido, misturada com acerto racional envolvido em intuição educada.
O objetivo do maçom é pautar todos os seus atos, dotar todas as suas obras, da virtude da Sabedoria. É um equilíbrio difícil de atingir, para o timorato e para o arrojado, para o novo e para o velho, para o intelectual e para o prático.
Para conseguirmos dotar as nossas decisões de Sabedoria, temos de estar constantemente alerta e no uso de todas as nossas capacidades. Em cada momento é mister temperarmos o nosso impulso com a razão, mas não abafando a nossa intuição, antes a completando com o resultado de nossa análise.
Agir com Sabedoria não é ganhar sempre; é, por vezes, saber perder, porque a nossa derrota é menos prejudicial do que a vitória sobre outrem; é entender que é preciso conceder a vitória a outrem hoje para vencer amanhã.
Atuar de modo sabedor é lograr atingir, em cada situação, o maior Bem possível, causando o menor Mal que se puder.
Procurar praticar a Sabedoria é uma tarefa de hoje, sempre e durante toda a vida.
Não se é sabedor. Procura-se conseguir agir sabiamente em cada instante.
É uma tarefa de vida. Mas quando se consegue executá-la com êxito, vislumbra-se uma poalha do brilho da Divina Perfeição.
Só procurando utilizar todas as nossas capacidades e todo o nosso esforço no sentido de agir com Sabedoria somos dignos da nossa Humanidade.
Eis porque a Sabedoria é uma das colunas de suporte do nosso Templo Interior!
(O M. C. conduz o obreiro até junto da coluna situada no canto noroeste do Quadro de Loja e ambos aí permanecem enquanto o obreiro lê o texto que segue)
Força
A obra humana, para ter valia, deve estar dotada de Força. A ação do maçom deve beneficiar da Força.
Não é de força física que aqui se trata. Ao mencionar esta característica de que devem estar dotados os maçons e o comportamento e as obras destes, querem-se, em primeiro lugar, fazer referência à Força de Caráter que deve ser apanágio do maçon. Força de caráter para seguir o, por vezes estreito e acidentado, caminho da virtude.
Em segundo lugar, Força de Vontade. Força de vontade para combater o vício, isto é, para combater e anular, se possível, os defeitos que, infelizmente, todos nós temos.
Mas a Força não respeita apenas às características intrínsecas do Homem, refere-se igualmente às das suas obras.
E, neste plano, a Força de que aqui se fala respeita à Eficácia das ações humanas. Pode agir-se com muita boa vontade, mas se a nossa atuação for estéril, se a nada conduzir, se do nosso ato nada nascer, nada frutificar, nada mudar, nenhum efeito se obtiver, então mais valia ter estado quieto e poupado o esforço absolutamente inútil... Quando nada de útil se pode fazer, então manda o bom senso (a Sabedoria de que há pouco falava...) que nada se faça. O Homem deve agir, deve atuar, mas deve fazê-lo com eficácia, de forma a que dos seus atos resultem efeitos, especialmente os efeitos pretendidos, que devem melhorar o que existia antes de se atuar.
Também no plano das características de que devem estar dotadas as obras humanas, a Força é sinônimo de Durabilidade. Pouca utilidade tem a construção que se desmorona ao mais leve sopro de vento ou que, ao jeito de construção na areia, é destruída logo que a maré sobe... Neste sentido, o Homem prudente procura que aquilo que constrói seja durável, que seja utilizável com proveito enquanto seja útil. E com isto, tanto nos podemos estar a referir à construção de um edifício ou de uma ponte, como à edificação da relação que partilhamos com a nossa companheira de vida ou àquela que temos com os nossos filhos, ou ainda aos laços de amizade que tecemos ao longo de nossas vidas.
A obra humana, seja física, seja relacional, deve, à imagem do seu autor, estar dotada de Força, isto é, deve corresponder ao que se pretende dela (eficácia) por todo o tempo que se destinar a durar (durabilidade), no limite para toda a nossa vida e, se possível, para além dela.
Para os maçons, é importante, mas não basta, que os seus atos estejam dotados de Sabedoria; é imperioso que tenham também a Força que os faça valer a pena.
É assim que a Força é outra coluna de suporte do Templo que interiormente cada um de nós deve edificar.
(O M. C. conduz o obreiro até junto da coluna situada no canto sudoeste do Quadro de Loja e ambos aí permanecem enquanto o obreiro lê o texto que segue)
Beleza
O maçom procura revestir-se da característica da beleza. Não é, obviamente, a física que importa. Até porque essa não depende de si, antes da carga genética que lhe foi transmitida por seus ascendentes. A beleza de que o maçom se procura revestir é a interior, resultante da pureza de princípios, da firmeza de caráter, do aprumo moral e da tolerância para com os outros que deve ser seu apanágio.
Pureza de princípios que constitui o pano de fundo de toda a atuação do Homem. Quem tiver adquirido e os viver como integrantes do seu ser os princípios básicos do respeito para com o Outro, que constituem os fundamentos da Civilização não cometerá agressões contra o seu semelhante. O respeito pela Vida, pela Integridade, pela Liberdade, pela Democracia, pela Igualdade são meros e naturais corolários desses princípios básicos, tão naturais como a faculdade de respirar!
Firmeza de caráter para moldar sua personalidade, combatendo suas fraquezas, mas também para arrostar com as inevitáveis dificuldades que a vida sempre coloca, sem nunca pôr em causa nem incumprir os princípios básicos que devem nortear sua conduta.
Aprumo moral como ferramenta para distinção entre o Bem e o Mal, em todas as suas manifestações e circunstâncias, em especial quando umas ou outras os tornam de difícil destrinça.
Tolerância para com os outros como contrapartida da necessidade de dos outros vermos toleradas nossas próprias imperfeições.
Quem interiorizar estas simples, mas tão exigentes, regras, poderá ser fisicamente horrível, mas acabará por ser reconhecido como Belo por todos aqueles que sabem ver para além das meras e efêmeras aparências.
Mas o maçom não procura apenas ter a Beleza em si, procura que as suas obras sejam dotadas dessa característica. Isto é, suas ações, suas criações, suas obras, não basta que sejam sábias e fortes, devem também ser belas. É a beleza que aproxima da perfeição o que se construiu com Sabedoria e Força. Entre dois edifícios, ambos igualmente perfeitamente projetados e edificados, com o recurso a todos os conhecimentos da arte de construir, ambos firmes, fortes e duráveis, qualquer de nós preferirá o que é esteticamente bonito, agradável ao que não possua essa característica.
Buscar dotar as nossas obras de Beleza não é uma futilidade. É uma procura da perfeição possível na atividade humana.
O Belo é divino!
O Templo do maçom é assim sustentado também por esta terceira coluna, a da Beleza.
E assim, buscando nós próprios dotar-nos e dotar nossas ações de Sabedoria, de Força e de Beleza nos aproximamos tanto quanto ao Homem é possível, da Divina Perfeição.
(O M. C. conduz o obreiro até junto do canto nordeste do Quadro de Loja e ambos aí permanecem enquanto o obreiro lê o texto que segue)
A quarta coluna
Já se falou sobre as três colunas que se encontram na zona central da sala onde decorre a reunião e que simbolizam a Sabedoria, a Força e a Beleza. Essas três colunas estão dispostas nas posições de três dos quatro vértices de um retângulo. O quarto vértice nada tem.
Nada tem? Não é bem assim...
Esse quarto vértice é o local de uma quarta coluna, invisível porque imaterial, que simboliza a ligação espiritual entre o Homem e o Criador.
É, portanto, a coluna do Espírito, que não é a Mente, embora a ilumine, que não é mero Instinto, apesar de o guiar, que, não sendo a Inteligência, só por esta pode ser, fugazmente, entrevisto.
Tal como as demais qualidades que devem estar presentes nas obras e ações humanas, também o Espírito, ou o que dele dimana e se projeta nos atos humanos, chame-se-lhe garra ou vontade ou ainda elevação, aí deve estar representado.
De que vale uma obra ou ação humana, ainda que sábia, mesmo que forte, porventura bela, se dela nada de elevado, de digno do Livre Arbítrio que à Humanidade foi concedido, se vislumbrar? O ato humano deve, com efeito, ser digno desse Livre Arbítrio, da Condição Humana, deve elevar-se para além da simples materialidade. Só assim o Homem é algo mais do que um primata com um intelecto hiper-desenvolvido...
A Condição Humana só atinge a nobreza que lhe é inerente quando temperada com a dimensão de espiritualidade que especificamente lhe é alcançável.
A obra humana, o ato do Homem, distingue-se do resultado da atividade meramente animal em face da marca do Espírito que o anima e que se alberga dentro de nós.
A quarta coluna, a que aparentemente não existe, porque imaterial e, por isso, invisível, simboliza o Espírito do Homem, a mais nobre qualidade que este recebeu do Criador.
Não se vê, não se sente, não se toca materialmente, mas é, porventura, a mais importante das quatro colunas.
E eis como o maçom é tão embrenhado nos símbolos e nos seus significados que até é capaz de extrair significado de um símbolo... que não existe materialmente!
(O M. C. conduz o obreiro entre colunas, após o que este declara:)
Ob.: Disse, Venerável Mestre!
Feito aos 3 de Janeiro de 6007, em adaptação de textos publicados no blogue "A Partir Pedra" em 23, 24 e 26 de Outubro e 21 de Novembro de 6006
Rui Bandeira, M. M..
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