quarta-feira, 7 de abril de 2010

O pensamento filosófico da Maçonaria

Não é costume da maçonaria discutir sua doutrina fora dos seus templos, porém, sintonizado com a necessidade de maior aproximação com o mundo que nos rodeia, ao qual todos nós pertencemos, levou-me a tomar a decisão de expor um pouco da nossa filosofia, do nosso pensamento.

Permitam-me que, num esforço de síntese, provavelmente superior à minha capacidade intelectual, possa trazer-lhes algumas considerações sobre nossa filosofia de pensamento, nosso simbolismo.

No inicio do século XVIII apareceu em Londres uma sociedade, provavelmente já existente antes (há passagens bíblicas superponíveis ao seu simbolismo), ao qual ninguém sabe dizer de onde vinha, o que era e o que procurava. Expandiu com incrível rapidez pela Europa Cristã, principalmente na França e Alemanha, chegando até a América. Homens de todas as classes sociais, étnicas e religiosas entraram para o seu círculo – chamavam-se, mutuamente, de irmãos.

Esta sociedade, intitulada Associação dos Pedreiros Livres, atraiu a atenção dos governos; foi perseguida; foi excomungada por dois pontífices; suas ações levantavam suspeitas odiosas. No entanto, ela resistiu a todas estas tempestades, difundindo-se, cada vez mais, até chegar aos nossos dias.


Podemos dizer que basicamente existem três correntes de pensamento maçônico:
Maçonaria inglesa, de cunho tradicionalista, observadora e seguidora dos rituais; mantém-se imutável nos seus três séculos de existência documentada. É estática e conservadora.
Maçonaria francesa, embora originária da Britânica, sofreu alterações através dos tempos, ditadas pelas condições do meio em que se desenvolveu, adquirindo feição mais latina, tornando-se conhecida pela ação exercida por seus membros, como cidadãos, nas áreas política, social e religiosa. A maçonaria brasileira e dos demais países hispano-americanos são, filosoficamente, a ela filiados.
Formada no meio hostil e intolerante à liberdade de pensamento, partiu para a luta que visava transformar estas condições adversas. São muito vivas e documentadas as lembranças de sua participação na Revolução Francesa, quando sobressaíram grandes maçons como Danton, Robespierre e Diderot; na independência de quase todos os países da América Latina, com a participação efetiva de notáveis maçons, como Simon Bolívar, San Martim, Sucre e Francisco Miranda; na independência do Brasil e na proclamação da República, para citar alguns irmãos da ordem, como Dom Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa, Floriano Peixoto, Quintino Bocaiúva, dentre outros.

Maçonaria Alemã, voltada para os estudos filosóficos de alta indagação: Goethe, Kant e Fichte são exemplos de filósofos e literatos que honraram nossa instituição com suas adesões.

A maçonaria resistiu à prova do tempo, enquanto muitas outras organizações, aparentemente similares, desapareceram. Isto aconteceu porque ela é, por princípio, uma instituição com propósitos universalistas. A “sociedade separada dos maçons” se distingue da “grande sociedade humana” porque ela se isola para impedir a visão unilateral da divisão de trabalho, atingindo, com isto, a síntese da cultura humana.


A Igreja se opõe a outras igrejas, o Estado a outros Estados. A maçonaria não; ela toca no santuário do espírito, o problema ético individual; ela atua sobre a república dos espíritos, administra o pluralismo de opiniões.

Esta instituição exalta tudo o que une e aproxima as pessoas e repudia tudo aquilo que divide e as isola. Isto acontece porque ela aspira, por princípio, fazer da humanidade uma grande família de irmãos e, para atingir este desiderato, se põe sempre a serviço dos movimentos moralizadores e dos bons costumes.

Ela prepara o terreno onde florescerão a justiça e a paz. Sua única arma é a espada da inteligência; sabe que o único modo de produzir, mesmo socialmente, uma mudança profunda e durável de uma sociedade é trabalhar para modificar a sua mentalidade.

Os pilares que sustentam esta vontade indomável de transformar, primeiro o homem e, por corolário, todo o universo dos homens, são três palavras mágicas: liberdade, igualdade e fraternidade.

“O amor à liberdade foi-nos dado juntamente com a vida, e dos presentes do céu o de menos valor é a vida”, afirmou Goethe, o famoso literato alemão e nosso irmão de ordem; afirmo eu, corroborado pelos registros da história, que em nenhuma parte do mundo, jamais houve um grito de liberdade para um povo que não houvesse sido apoiado pela maçonaria.


A liberdade é a essência íntima e supremo desejo do homem, e os indivíduos, pela sua colaboração mútua, visam criar uma alma coletiva; embalados pelo sopro do vento que libera os grilhões do obscurantismo. “A filosofia verdadeira, no dizer do grande filósofo e irmão de ordem, o alemão Fichte, considera o pensamento livre como a fonte de toda a verdade independente.”

No que diz respeito à igualdade, a maçonaria reconhece que todos os homens nascem iguais e as únicas distinções que admite são o mérito, o talento, a sabedoria, a virtude e o trabalho.

Para dizer o pensamento da ordem sobre a fraternidade, peço licença para repetir o que disse outro maçom, o imortal Victor Hugo: “A civilização tem suas frases, estas frases são séculos. A lógica das frases, expressão da idéia divina, se condensam na palavra fraternidade.”


Hélio Moreira é membro da Academia Goiana de Letras, Academia Goiana Maçônica de Letras e Academia Goiana de Medicina. hmoreira@cultura.com.br

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