sábado, 6 de setembro de 2014


A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL (*)

 

 



 

 

 

PREÂMBULO

 

 

A História da nossa Independência está intimamente ligada com a Fundação do Grande Oriente do Brasil, Obediência Mater da Maçonaria Brasileira.

 

Apesar do farto material documental existente, pouco se publica sobre o papel importante, decisivo e histórico que a Maçonaria, como Instituição, teve nos fatos que precipitaram a proclamação da Independência.

 

Deixar de divulgá-los é ocultar a verdade e conseqüentemente ocorrer no erro da omissão, que nem a História e nem o tempo perdoam, principalmente para com aqueles nossos Irmãos, brava gente brasileira, que acreditavam, ou ainda mais, tinham como ideário de vida a Independência da Pátria tão amada.

 

O Objetivo principal, sem dúvida nenhuma, da criação do Grande Oriente, foi engajar a Maçonaria na luta pela Independência Política do Brasil.

 

Desde sua descoberta em 1500, o Brasil foi uma Colônia Portuguesa, sendo explorada desde então pela sua Metrópole. Não tinha, portanto, liberdade econômica, liberdade administrativa, e muito menos liberdade política.

 

Como a exploração metropolitana era excessiva e os colonos não tinham o direito de protestar, cresceu o descontentamento dos brasileiros.

 

Inicia-se então as rebeliões conhecidas pelo nome de Movimentos Nativistas, quando ainda não se cogitava na separação entre Portugal e Brasil. Estampava-se em nosso País o ideal da liberdade. A primeira delas foi a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão.

 

No início do século XVIII, com o desenvolvimento econômico e intelectual da colônia, alguns grupos pensaram na Independência Política do Brasil, de forma que os brasileiros pudessem decidir sobre seu próprio destino. Ocorreu, então, a Inconfidência Mineira (1789) que marcou a história pela têmpera de seus seguidores; depois a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), todas elas duramente reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes movimentos a Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e Sociedades Secretas já existentes, de caráter maçônico tais como: "Cavaleiros das Luz" na Bahia e "Areópago de Itambé" na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem como pelas ações individuais ou de grupos de Maçons.

 

I – ANTECEDENTES – As Cortes de Lisboa

 

 

A 16 de dezembro de 1815, precisamente no dia do aniversário de Dª Maria I, que estava louca, foi o Brasil elevado a Reino, através da régia carta de D. João VI, assinada no Palácio do Rio de Janeiro, e cujos dois principais artigos estabeleceram:

 

1) “ Que os meus Reinos de “Portugal”, “Algarves” e do “Brasil” formem d´ora em diante um só e único  Reino, debaixo do Título de REINO UNIDO DE PORTUGAL, DO BRASIL E DE ALVARAVES”;

 

2) “Que os títulos inerentes à Coroa de Portugal, e de que até agora hei feito uso, se substituam em todos os Diplomas, Cartas de Lei, Alvarás, Provisões e Atos Públicos pelo novo Título de – PRÍNCIPE REGENTE DO REINO UNIDO DE PORTUGAL, DO BRASIL E DE ALVARAVES”, d´Aquem e d´Além Mar, em “África de Guiné” e da “Etiópia”, “Pérsia” e “Índia”.

 

Com efeito, o Brasil prosperava a olhos vistos. Sua grande riqueza natural determinava o célere progresso, uma ascensão vertiginosa entre as demais nações, contrastando com o notório estacionamento, senão declínio de Portugal.

 

Por isso, depois da volta de D. João a Lisboa, ampliou-se a política de reação a tudo quanto se tinha fundado no Brasil. A permanência de D. Pedro no Rio de Janeiro decepcionou a Assembléia das Cortes, que esperava o retorno de toda a família real e o conseqüente abandono da terra brasileira ao Governo das Juntas Provinciais, cuja formação era ruidosamente promovida em Lisboa.

 

Pressentiam os portugueses que o engrandecimento do Brasil ocasionaria sua inevitável emancipação política, o que seria de  resultados desastrosos para a Metrópole, que tinha nesta opulenta colônia seu maior sustentáculo econômico. Com essa clara visão do futuro, resolveram as Cortes empenhar-se em inglória batalha, no sentido de fazer o Brasil regredir, para enfraquecer-lhe o nacionalismo crescente.

 

As Cortes eram constituídas de 181 deputados, dos quais 72 apenas do Brasil e destes somente 46 estavam empossados. A disparidade era mais espantosa ao ter-se em conta que a população do Brasil já era maior que a de Portugal.

 

Descriteriosamente, porém, na sede do Reino, o total de habitantes do Brasil era considerado com base num censo realizado em 1800, antes da vinda da família real.

 

Afinal, em 29 de setembro de 1821, aprovaram-se os Decretos nºs 124 e 125.

 

O primeiro extinguia os governos provinciais independentes, restabelecendo as juntas provisórias de governo com “toda a autoridade e jurisdição na parte civil, econômica, administrativa e de polícia”, ficando subordinados às juntas “todos os magistrados e autoridades civis”. O segundo, como ponto nevrálgico, determinava o imediato regresso a Portugal do Príncipe D. Pedro.

 

O historiador português ROCHA MARTINS, em “A independência do Brasil”, sintetiza o fato: “Era uma situação singular de regresso ao período colonial, uma medida irritante, despótica, só própria para ferir as suscetibilidades brasileiras”.

 

Certamente, afigura-se o golpe na unidade do Brasil, com seu esfacelamento em várias províncias. A reação brasileira foi imediata, a partir de seus deputados em Lisboa, os quais, tendo à frente o Maçom Cipriano José Barata, lançaram-se em acirrados debates com os representantes portugueses, que procuravam esmagar pela quantidade os brasileiros. Simultaneamente, aqui, a Maçonaria inflamava o movimento emancipador, fazendo agigantar-se a consciência nacional e despertar o anseio já incontido de ver surgir um Brasil livre.

 

Nos redutos maçônicos, particularmente na Loja “Comércio e Artes”, que se reinstalara em 24 de junho daquele ano (1821), intensificou-se o trabalho pela organização, no reino ultramarino, de um governo livre e independente, sob a regência do Príncipe D. Pedro, que por influência dos maçons se rebelara contra os Decretos 124 e 125.

 

II – O CLUBE DA RESISTÊNCIA –  “O FICO”

 

Naqueles três meses seguintes, tal era o burburinho da nacionalidade que o Intendente-Geral da Polícia, João Inácio da Cunha, comunicou-se com o Ministro do Reino, por ofício de conteúdo sigiloso, informando-lhe da impossibilidade de agir com as tropas de que dispunha, pois estavam os seus integrantes, na maioria, filiados à Maçonaria. E terminava o ofício com o seguinte enunciado: “... o movimento da Independência é por demasia generalizado pela obra maldita dos maçons astuciosos, sob a chefia de GONÇALVES LEDO”.

 

Do Grupo de Gonçalves Ledo, entre outros, faziam parte, destacadamente, o Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira, Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, José Domingos Ataíde, o coronel Francisco Maria Gordilho de Barbuda e o Capitão-mor José Joaquim da Rocha.

 

Núcleo da idéia de emancipação, a Loja “Comércio e Artes”, sob a liderança de Gonçalves Ledo, trabalhava infatigavelmente. Desponta, no entanto, um ardoroso patriota e maçom, o Capitão-mor José Joaquim da Rocha, e planeja o empreendimento de que resultou “O FICO”, definitivo ato de rebeldia de D. Pedro contra as Cortes de Lisboa, que insistiam em seu retorno a Portugal.

 

Os malsinados decretos das Cortes chegam ao Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro pelo bergantim de guerra “Infante D. Sebastião”. Precisamente nesse dia, José Joaquim da Rocha funda em sua casa o “CLUBE DA RESISTÊNCIA”, tendo como companheiros Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, consagrado orador da época, Antônio Menezes de Vasconcelos Drumonnd, Joaquim José de Almeida, Luiz Pereira da Nóbrega e Francisco Maria Gordilho de Barbuda. O Clube visava, precipuamente, projetar com segurança a adesão de D. Pedro ao movimento nacionalista.Para evitar a vigilância da Polícia, reuniam-se na residência de José Joaquim da Rocha, na Rua da Ajuda, e muitas vezes na cela de Frei Sampaio, no Convento de Santo Antônio, onde se realizavam verdadeiras sessões maçônicas.

José Joaquim da Rocha considerou necessária a adoção de três providências para o êxito da empresa:

 

1) Consulta Dr. Pedro sobre o movimento e sentir sua receptividade;

2)Convite para a adesão de José Clemente Pereira, então Presidente do Senado da Câmara;

3) Envio de emissários a São Paulo e Minas.

 

Gordilho de Barbuda, que era camareiro de D. Pedro, foi incumbido de auscultar a opinião do Príncipe. Recebendo a proposta com hesitação, o que era justo, em fase da grave atitude de rebeldia que ia adotar, não tardou muito a resposta de D. Pedro, que assim se expressou: “No caso de virem as representações, pedindo-me para não partir, ficarei”.

 

Exultante, Barbuda apressou-se em ir à casa de José Joaquim da Rocha para transmitir-lhe a resposta de D. Pedro. Encontravam-se lá os maçons Vasconcelos de Drumonnd, José Joaquim de Almeida, Luiz Pereira da Nóbrega e José Mariano de Azevedo Coutinho. Ante as manifestações de júbilo de todos, José Mariano foi incumbido de solicitar o apoio de José Clemente Pereira.

 

Rocha Martins, no livro citado, comenta que os patriotas do Clube da Resistência reputavam difícil a missão de José Mariano Coutinho, pois José Clemente Pereira, que era português, avia sido nomeado Presidente do Senado da Câmara por influência do General Jorge Avilez, comandante da Divisão Auxiliadora, força portuguesa de apoio às Cortes e que deveria retornar a Portugal com D. Pedro.

 

Mas o maçom José Clemente Pereira prestou sua inteira solidariedade ao movimento, sugerindo até que fixasse a data de 9 de janeiro para a entrega das representações de D.Pedro lhe afirmara que não hesitaria em ficar, se o pedido se fizesse através das representações do Rio, São Paulo e Minas.

 

Como era de se esperar, São Paulo e Minas aderiram. José Bonifácio era Vice-Presidente da Junta de São Paulo e redigiu a enérgica representação daquela Província, na qual advertia D. Pedro: “Nada menos se pretende do que desunir-nos, enfraquecer-nos e até deixar-nos em mísera orfandade, arrancando do seio da grande família brasileira, o único pai que nos restava, depois de terem esbulhado o Brasil, do benéfico fundador deste reino. Se V.A.R. estiver (o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso Decreto de 29 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se escravo, de certo, de um pequeno número de desorganizadores, terá também de responder, perante o céu, do rio de sangue que vai correr pelo Brasil com sua ausência...”.

 

Essa manifestação paulista, redigida por José Bonifácio, cegou ao Príncipe no dia 8 de janeiro.

Entrementes, o “Clube da Resistência” e a Loja “Comércio e Artes”, unem-se a pugnar na elaboração do “Fico”. Acertou-se que a palavra oficial da representação fluminense seria dirigida por José Clemente Pereira, na qualidade de Presidente do Senado da Câmara e membro da Loja “Comércio e Artes”.

 

Ao meio-dia de 9 de janeiro, o Príncipe D. Pedro recebeu os representantes. Em seu longo discurso, José Clemente Pereira afirmou-lhe: “Senhor, a saída de Vossa Alteza Real dos Estados do Brasil será o fatal decreto que sanciona a independência deste Reino. Exige, portanto, a salvação da Pátria que Vossa Alteza suspenda a sua partida, até nova determinação do soberano Congresso”.

 

Em resposta, proferiu D. Pedro: “Convencido de que a presença de minha pessoa no Brasil, interessa ao bem de toda a Nação portuguesa e conhecendo que a vontade de algumas províncias assim o requer, demorarei a minha saída até que as Cortes e meu Augusto pai e Senhor deliberem a esse respeito, com perfeito conhecimento das circunstância que têm ocorrido”.

 

Mas suas palavras não foram bem recebida. Pelos militares portugueses, porque refletiam elas o adiamento de sua partida para Lisboa e, pelos brasileiros, porque nelas não sentiram sua decisão de ficar.

 

Solicitada sua presença pelo povo, que prorrompeu em aplausos, D. Pedro assomou a uma das janelas do Paço e disse-lhes: “Agora só tenho a recomendar-vos união e tranqüilidade”.

 

Depois que todos se retiraram, verificou D. Pedro que nem aos brasileiros nem aos portugueses satisfizera. Por interferência de alguns membros do “Clube da Resistência”, que com ele mantinham estreita ligação, mandou chamar horas depois o Presidente do Senado da Câmara e determinou-lhe que substituísse a resposta que dera por esta: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao Povo que fico”.

 

No dia 11, o General Jorge Avilez, Comandante da Divisão Auxiliadora, convocou oficiais de vários corpos de tropa e, entre eles, ficou assentada a volta de D. Pedro para Portugal, como ordenaram as Cortes. Combinaram, também, que para levantar toda a tropa seria necessário espalhar a notícia de que aquele General havia sido destituído do comando pelo Príncipe. Assim o fizeram. À noite, soldados portugueses percorreram as ruas, dirigindo insultos aos brasileiros e provocando distúrbios. Boatos começaram a circular, alarmando a cidade.

 

D. Pedro naquele momento estava no Teatro São João, quando chegou a seu conhecimento a agitação das ruas. Imediatamente, chamou o Brigadeiro Carreti e ordenou-lhe que mantivesse a ordem. Carreti deixou o teatro,voltando momentos após, para comunicar a D. Pedro que os soldados já estavam recolhidos. Os patriotas do “Clube da Resistência” colocaram D. Pedro a par de todas as ocorrências, pois mantinham vários agentes espalhados pela cidade. A peça do teatro terminara, quando veio informação de que a tropa de Avilez se  movimentava para cerca-lo. D. Pedro, acompanhado dos membros do Clube e de oficiais brasileiros, seguiu para São Cristóvão. Ao chegar na Quinta de Boa Vista, providenciou a ida da família para Santa Crua.

 

Em conseqüência de enfermidade adquirida na longa viagem a Santa Cruz, veio a falecer o filho de D. Pedro, o príncipe João Carlos, de 3 anos.

 

Decepcionado com o malogro do plano para deter D. Pedro no Teatro, mas nutrindo, ainda, a idéia de forçá-lo a cumprir as ordens das Cortes, Avilez determinou que a tropa portuguesa tomasse posição no Morro do Castelo, de onde passaria a dominar toda a cidade. No dia 12 pela manhã, enquanto a tropa de Avilez se encontrava em atitude ameaçadora, chegaram ao Campo de Santana as forças de 1ª linha, que ficaram fiéis ao Príncipe, regimentos de milicianos e batalhões patrióticos organizados pelo “Clube da Resistência”. Por toda a parte os movimentos da reação se multiplicavam. Arranjaram-se de improviso as armas possíveis do momento: espingardas velhas, trancas, cacetetes e até cacos de garrafa. Todos queriam combater.

 

Às oito horas da manhã, D. Pedro chegou ao Campo de Santana, sendo aplaudido. Chamou o Capitão-tenente José de Lemos Viana e ordenou-lhe que dissesse a Avilez que embarcasse com sua tropa para Lisboa. O General respondeu-lhe que não lhe atenderia, porque suas ordens contrariavam o que as Cortes haviam decidido. À tarde, D. Pedro mandou o General Xavier Curado entender-se com Avilez. O acordo foi estabelecido. Avilez passaria imediatamente com sua tropa para a Praia Grande, sujeitando-se às ordens do Príncipe e recebendo o soldo devido, juntamente com a tropa, até sua viagem para Portugal.

 

No dia 5 de fevereiro, Avilez foi intimado a deixar o Brasil. Determinou D. Pedro que, se não o fizesse, perderia o direito ao soldo e à comida. Avilez não embarcou. No dia 9, Dr. Pedro para bordo da Fragata “União” e mandou dizer-lhe que, se na manhã do dia 10 não começasse a embarcar sua tropa, iria atacá-lo. Na manhã do dia 10, Avilez iniciou o embarque e, no dia 15, zarpou do Rio de Janeiro.

 

Depois do vitorioso episódio do FICO, o “Clube da Resistência”, sob a direção de José Joaquim da Rocha, foi transformado em “Clube da Independência” e, mais tarde, na Loja “9 de janeiro”.

 

III – REPERCUSSÃO NAS LOJAS MAÇÔNICAS – A ASEMBLÉIA CONSTITUINTE

 

Prosseguiu desenvolvendo-se, intensamente, o movimento da emancipação política, sempre com a iniciativa dos maçons. Mário Melo, em seu livro “A Maçonaria no Brasil”, anota que ninguém era iniciado nas Lojas Maçônicas sem que fosse conhecida sua opinião sobre a Independência do Brasil e os candidatos assinavam um termo de compromisso de defendê-la.

 

No dizer do historiador Assis Cintra, “a independência era fatal, era um fruto maduro pendente da árvore, prestes a ser colhido. Em todos os recantos fervilhava o ardor patriótico. Nas Lojas Maçônicas, generais, doutores, juizes, almirantes, funcionários públicos, capitalistas, fazendeiros, artífices e até padres dos mais ilustres desse tempo, conspiravam” (v. “Na Margem da História”).

 

Em abril de 1822. estava D.Pedro tão enfeitiçado pelo Brasil que escreve a Antônio Carlos, deputado paulista às Cortes de Lisboa, havendo na carta o seguinte trecho: “Eu o conheço como o mais digno deputado americano; conheça-me a mim como o maior brasileiro, e que pelo Brasil dará a última gota de sangue”.

 

Domingos Alves Branco Muniz Barreto, em sessão da loja “Comércio e Artes”, propôs que se desse ao Príncipe um título conferido pelo povo, de “Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil”. A idéia foi aprovada por todos e marcaram a data de 13 de maio, dia do Aniversário de D. João VI. D. Pedro disse que aceitava o Título, mas sem o “Protetor”, apenas como “Defensor”.

 

Avançava, desse modo, a evolução política para o 7 de setembro de 1822, tudo temperado e argamassado nas disposições cada vez mais fortes das Lojas Maçônicas.

 

Gonçalves Ledo, Januário Barbosa e Clemente Pereira lançam a idéia da convocação de uma Constituinte e solicitam uma audiência a D. Pedro, por intermédio de seu ministro José Bonifácio. Inteirado do objetivo da audiência, D. Pedro escreve a D. João VI expressiva carta, mostrando-se francamente favorável à idéia dos maçons. Diz D. Pedro ao Rei: “É necessário que o Brasil tenha Cortes suas: esta opinião generaliza-se cada dia mais. O povo desta capital prepara uma representação que me será entregue para suplicar-me que as convoque, e eu não posso a isso recusar-me, porque o povo tem razão, é muito constitucional, honra-me sobremaneira e também a Vossa Majestade, e merece toda sorte de atenções e felicidade. Sem Cortes, o Brasil não pode ser feliz. As leis feitas tão longe de nós por homens que não são brasileiros e que não conhecem as necessidades do Brasil, não poderão ser boas. O Brasil é um adolescente que diariamente adquire forças, deve ter em si tudo quanto é necessário (...), é absurdo retê-lo debaixo da dependência do velho hemisfério”.

 

Gonçalves Ledo e Januário Barbosa redigiram o projeto e, no dia 3 de junho, publicou-se o Decreto firmado pelo Príncipe Regente e José Bonifácio, “convocando a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, composta de deputados das Províncias do Brasil, novamente eleitos na forma das instruções que em Conselho de acordarem e expedidas com a maior brevidade”.

 

 

 

 

 

 
 

IV  - O IMPERADOR MAÇOM – “INDEPENDÊNCIA O MORTE”

 

 


 

 

 

Era preciso, ainda, fazer maçom o Príncipe D. Pedro. José Bonifácio já lhe falara da Maçonaria, da ação de Gonçalves Ledo e outros líderes maçônicos.

 

Não seria ele o primeiro Príncipe a conhecer os preceitos da Ordem. Reis e Imperadores, na Europa, haviam sido maçons. Assim, a 13 de julho de 1822, foi aprovada sua proposta de admissão, endossada por José Bonifácio. A 2 de agosto, D. Pedro era iniciado na Loja “Comércio e Artes”, “ardendo em curiosidade, a fantasia despertada pelo mistério de um rito perfumado de magia oriental” – como escreve Pedro Calmon, em “A Vida de D. Pedro I”.

Recebeu o nome histórico de “Guatimozim”. Mas, por que “Guatimozim” e o que significava isso? Trata-se do último imperador Asteca morto em 1522, conforme conta-nos, parabolicamente, o historiador Rocha Martins, em sua obra “A Independência do Brasil”:

 

“Era uma vez, nos tempos recuados de 1697, um imperador azteca, de Anahuac, México... Vieram de longe, de 1522, os conquistadores e ele, de armas em punho diante do Cortez audaz que lhe queria tesouros. Ele, o filho do Rei Ahintzot, sucessor do Irmão de Montezuma II, deixara reclinar o seu corpo em brasas, preferira ser chagado sobre as grelhas rubras, que os soldados conduziam como se fossem inquisidores; ser martirizado, sofrer as mordeduras do lume nas suas reais carnes antes que dizer aos bárbaros onde ocultava as opulências, as riquezas e as magnificências do seu império”. “E D. Pedro, regente, devia meditar muito no simbolismo, na realeza, nos carvões candentes”.

 

Da iniciação ao Grão-Mestrado, o certo é que o ingresso de D. Pedro na Maçonaria resultou de sua mais íntima ligação com a causa de independência.

 

Foram os maçons que o proclamaram Imperador e, em conseqüência, a própria libertação política do Brasil, em sessão de 20 de agosto do Grande Oriente do Brasil, quando D. Pedro se encontrava em viagem para São Paulo.

 

Na verdade, como afirmam em uníssono os historiadores, maçônicos e profanos, no 20 de agosto de 1822, Gonçalves Ledo propôs e se aprovou por unanimidade “que fosse inabalavelmente firmada a proclamação de nossa independência e da realeza constitucional na pessoa do augusto príncipe”.

 

Aliás, o próprio Ledo, em vibrante artigo no “Revérbero”, já o concitara antes: “Príncipe! Não desprezes a Glória de ser o fundador de um novo império”.

Em nota à margem do livro “História da Independência do Brasil”, de Adolfo Varnagem, escreve o Barão do Rio Branco. “No dia 23, em outra sessão, ainda presidida por Gonçalves Ledo, continuou-se a discussão. Por proposta sua, foram nomeados os emissários, que deviam ir tratar a aclamação nas diferentes províncias, entre eles, Januário Barbosa, designado para ir a Minas. João Mendes Viana, para Pernambuco, e José Gordilho de Barbuda, para a Bahia. Vários maçons ofereceram as somas necessárias para as despesas de viagem”.

 

Assim, na tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, D. Pedro limitou-se com seu gesto a promulgar o que já fora resolvido a 20 de agosto no Grande Oriente do Brasil.

 

Perguntam-se, entretanto, os escritores da história: Que papéis foram aqueles recebidos por D. Pedro, de que foram portadores Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro? Nenhum documento esclarece quais os papéis que, “... pouco mais ou menos às 4 e meia da tarde”, D. Pedro recebera das mãos do Major Cordeiro e do Correio Bregaro. Por que tantos documentos secretos foram divulgados e só aqueles que impeliam D. Pedro a proferir o brado histórico não se publicaram. Que segredos, que assuntos tão misteriosos continham eles? Se a própria correspondência confidencial entre D. Pedro e D. João tornou-se do conhecimento público, o que impediria que outras pessoas se inteirassem dos papéis entregues a D. Pedro e que, depois, os divulgassem?

Gustavo Barroso, com sagacidade, alvitra que deve ter sido entregue a D. Pedro alguma prancha do Grande Oriente do Brasil, aconselhando-o a assumir aquela atitude. D. Pedro, indócil e voluntarioso, atendeu às recomendações da Maçonaria.

 

Nem quanto ao grito teria ávido originalidade. Segundo Adelino de Figueiredo Lima, em “Nos Bastidores do Mistério”, “INDEPENDÊNCIA OU MORTE” era a denominação de uma das “palestras” da sociedade secreta “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”, conhecida por “Apostolado”. Sabe-se, hoje, que essa sociedade foi fundada por José Bonifácio. D. Pedro era, com o título de Archonte-Rei, o presidente, sendo José Bonifácio, já então Grão-Mestre da Maçonaria, seu lugar-tenente. O “Apostolado”, a que também pertenciam outros maçons ilustres, possuía rituais próprios, liturgia bastante severa e sinais e palavras de reconhecimento, exprimindo motivos patrióticos, o que evidenciava os fins políticos da sociedade.

 

A organização se assentava sobre três colunas fundamentais (“Palestras”), que por sua vez orientavam e dirigiam as pequenas assembléias locais (“Decúrias”). As “Palestras” constituíam três poderes distintos, correspondendo a primeira (“Independência ou Morte”), à “Alta Venda” do sistema carbonário; a segunda (“Firmeza e Lealdade”), à Cabana”, e a terceira (“Pátria Redimida”), ao que a antiga nomenclatura revolucionária européia chamava “Barraca”.José Bonifácio, que viajou por todos os países onde a “Carbonária” lançara seus tentáculos, deixara-se empolgar pelo sistema de organização da poderosa sociedade, mas procurou simplifica-la de acordo com a viabilidade nacionais.

 

Indiscutível, afinal, é que a independência política de nossa terra foi, certamente, assinalada com o FICO, em 9 de janeiro, declarada pela Maçonaria em 20 de agosto e consagrada em 7 de setembro, com o brado do Maçom D. Pedro.

 

Disse-o bem Gustavo Barroso, em sua obra “História Secreta do Brasil”: “A Independência do Brasil foi realizada à sombra da Acácia, cujas raízes prepararam o terreno para isso”.

 

Uma dezena de tomos e ainda menos o tempo desta sessão seriam insuficientes para registrar todos os fatos que vieram a culminar com a emancipação política do Brasil, em 1822.  Desse marco da História, contenta-nos a possibilidade de rememorar, hoje, a breves toques de buril, emocionantes feitos de uma plêiade de homens admiráveis, maçons como nós, mas intérpretes sagrados dos ideais da liberdade, magníficos patriotas, como já, infelizmente, não se vêm mais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(*) Palestra proferida pelo Ir\ JOSÉ ROBSON GOUVEIA FREIRE, M\I\ e Servidor da Ordem, da Pátria e da Humanidade, 33\, na A\R\L\S\ Pioneiros de Brasília nº 2288, em  05/09/2006.

BIBLIOGRAFIA

 

 

 

A Independência do Brasil

Rocha Martins

 

A Maçonaria no Brasil

Mário Melo

 

A Maçonaria e as Forças Secretas da Revolução

Morivalde Calvet Fagundes

 

A Maçonaria e a Independência Brasileira

Tito L. Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira

 

A Maçonaria na Independência do Brasil

Teixeira Pinto

 

História do Grande Oriente do Brasil

José Castellani

 

História da Independência do Brasil

Adolfo Varnagem

 

História Secreta do Brasil

Gustavo Barroso

 

Na Margem da História

Assis Cintra

 

Os Maçons na Independência do Brasil

José Castellani

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