terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Revista Super Interessante



O que diz a Super Interessante?

A Maçonaria já foi acusada de tudo: fazer rituais sinistros, promover orgias, querer dominar o mundo... Até de estar por trás dos assassinatos de Jak, o Estripador. Muita gente acredita que a organização controla governos e que seus integrantes usam cargos públicos para se ajudar mutuamente.


Os maçons, no entanto, garantem que quase tudo isso é besteira. Eles não passariam de um grupo filosófico, filantrópico e progressista. Reconhecem que ajudam uns aos outros, mas que o dever de auxiliar um irmão está sempre sujeito à obrigação maior de cumprir a lei.


Afinal, qual é a verdade sobre essa sociedade secreta?
Para começar, a maçonaria não é tão secreta asim. Em vários países, inclusive no Brasil, todo mundo sabe onde ficam as lojas maçônicas e quem são seus membros. Maçons publicam revistas e divulgam suas idéias em sites da internet. E, se antes mantinham seus templos imersos numa aura de mistério, hoje parmitem visitas. A reportagem da SuperInteressante entrou no templo da Grande Loja da Argentina de Maçons Livres e Aceitos, situada na rua Perón, 1242, em Buenos Aires. Durante 3 horas, conversaram com diversos intergrantes da maçonaria — e muitos entregaram cartões em que se identificavam como membros da ordem.


A julgar por iniciativas desse tipo, parece que a organização nunca foi tão aberta como hoje. Será que o grande segredo da maçonaria é não ter segredo algum, como dizem alguns irmãos? Pode ser. Mas o certo é que eles ainda não mantêm sessões a portas fechadas. Angel Jorge Clavero, grão-mestre da Grande Loja da Argentina, tem uma explicação para isso. "A maçonaria não é secreta, mas discreta. As cerimônias que realizamos aqui só interessam a nós, são reservadas aos iniciados". Para Clavero, é exatamente o que ocorre em qualquer reunião, seja de condomínio ou da diretoria de uma multinacional. "Se você não é dono de um apartamente no prédio ou diretor da empresa, não vão deixá-lo entrar".


Várias Maçonarias


O argumento do grão-mestre faz sentido. Por outro lado, diretores de empresas não costumam se reunir para debater filosofia, vestidos com aventais coloridos e rodeados de objetos simbólicos. Além disso, nem você nem seus vizinhos de apartamento precisam jurar segredo absoluto sobre o que foi discutido na reunião de condomínio. Na maçonaria, é assim que as coisas funcionam. Para entender os porquês disso tudo, o primeiro passo é levar em conta que não existe uma só, mas várias maçonarias.

A organização é uma rede global, hoje composta de cerca de 6 milhões de integrantes espalhados pelos 5 continentes. Os rituais variam muito, de um país para outro. Cada loja tem autonomia, mesmo que pertença a uma federação nacional ou continental. Algumas usam a Bíblia em suas reuniões. Outras, a Torá ou o Alcorão. Essa diversidade permite que os símbolos maçônicos tenham várias interpretações. E foi graças a ela que personalidades extraordinariamente distintas já vestiram o avental da irmandade: de Mozart a dom Pedro I, de Winston Churchill a Hugo Chávez.


Mas as maçonarias também têm muito em comum. Todas elas, indepentendemente do país, defendem os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Veneram o Grande Arquiteto do Universo — como se referem a Deus. E exigem requisitos dos iniciados, que, depois de passar por uma cerimônia de iniciação, vão galgando postos e acumulando mais e mais conhecimentos. Embora proíbam falar de política e religião dentro do templo, os maçons continuam tendo o poder e a influência de sempre. A mesma que eles usaram para orquestrar capítulos decisivos da história, como a independência do Brasil, dos EUA e de quase todos os países da América Latina.

Os graus da maçonaria


Rito Escocês Rito de York
33º grau - Soberano grão-inspetor geral Ordem dos Cavaleiros Templários
32º grau - Sublime príncipe do real segredo
31º grau - Grãos inspetor inquisidor comendador
30º grau - Cavaleiro kadosh
29º grau - Cavaleiro de Santo André Ordem dos Cavaleiros de Malta
28º grau - Cavaleiro do sol
27º grau - Comendador do templo
26º grau - Príncipe da mercê
25º grau - Cavaleiro da serpente de bronze Ordem da Cruz Vermelha:
• Mestre superexcelente
• Mestre eleito
• Mestre real
24º grau - Príncipe do tabernáculo
23º grau - Chefe do tabernáculo
22º grau - Príncipe do Líbano
21º grau - Patriarca noaquita
20º grau - Mestre ad Vitam
19º grau - Grão-pontífice
18º grau - Cavaleiro Rosacruz
17º grau - Cavaleiro do Oriente e do Ocidente Maçom do real arco
16º grau - Príncipe de Jerusalém
15º grau - Cavaleiro do Oriente
14º grau - Grão-eleito perfeito e sublime
13º grau - Mestre do 9º arco Mui excelente mestre
12º grau - Grão-mestre arquiteto
11º grau - Cavaleiro eleito dos 12
10º grau - Mestre eleito dos 15
9º grau - Mestre eleitos dos 9 Past master (Virtual)
8º grau - Intendente dos edifícios
7º grau - Preboste e juiz
6º grau - Secretário íntimo
5º grau - Mestre perfeito Mestre de Marca
4º grau - Mestre secreto
3º grau - Mestre maçom Mestre maçom
2º grau - Companheiro de ofício Companheiro de ofício
1º grau - Aprendiz iniciado Aprendiz iniciado


A origem da maçonaria é um mistério até para os maçons.
Uma das teorias diz que ela surgiu há cerca de 3 mil anos, durante a construção do Templo de Salomão, em Jerusalém. O rei israelita teria recrutado o arquiteto Hiram Abif, mestre na arte de talhar pedras, que ensinava os mistérios do ofício apenas a pedreiros escolhidos a dedo. No fim da obra, 3 artesãos exigiram que ele lhes contasse os segredos. Abif recusou-se e acabou sendo assassinado por isso.
O martírio do arquiteto jamais foi comprovado. Mesmo assim, significa muito para os maçons. Em The Meaning os Masonry ("O Significado da Maçonaria", inédito no Brasil), o maçom britânico W.L. Wilmshurst interpreta a morte do mestre como um desastre moral para a humanidade — como se a chama do conhecimento tivesse sido apagada. "Agora, neste mundo escuro, ainda temos 5 sentidos e a razão, que vão nos proporcionar os segredos substitutos", escreve Wilmshurst. A maçonaria, portanto, seria um sistema filosófico que discute o Universo e nosso lugar dentro dele. Quanto mais o maçom sobe os degraus da confraria, mais perto ele chega da Luz — ou seja, o pensamento racional.


Outra tese afirma que os maçons são herdeiros dos templários, os cavaleiros que viajaram à Terra Santa no século 12 para defender os cristãos, mas acabaram perseguidos pela Igreja. E existe também quem defenda uma origem ainda mais remota, no Egito dos farós ou na Grécia antiga. Para a maior parte dos historiadores, contudo, foi na Europa medieval que a maçonaria assentou suas bases. Ela teria começado na forma de sindicatos de pedreiros (masons, em inglês), que construíam monumentos para religiosos e monarcas — entre eles a Ponte de Londres e a Catedral de Westminster, também na capital da Inglaterra.

"Os pedreiros ingleses almoçavam e deixavam suas ferramentas em pequenas casas chamadas lodges [lojas]", explica o jornalista americano H. Paul Jeffers no livro Freemasons ("Maçons", sem tradução para o português). Assim como Abif, eles mantinham em segredo seus métodos de construção, pois eram a garantia de melhores salários.


Esses sindicatos floresceram até o século 16, quando os pedreiros tiveram uma surpresa. Abalada pela Reforma Protestante e pela rixa com o rei Henrique 8º, a Igreja parou de construir catedrais. Resultado: contratos para novas obras minguaram. "A maçonaria entrou em crise e sofreu uma grande mudança. Tudo que era ligado à prática do ofício na pedra passou a ser alegórico, e as ferramentas viraram símbolos na contemplação dos mistérios da vida", diz Jeffers. A ordem deixou de ser "operativa" para ser "especulativa". E as lojas maçônicas passaram a interpretas esses símbolos por meio de conceitos morais, éticos e filosóficos. A sociedade foi aberta a outros profissionais, como os cientistas, e deixou-se influenciar até pela alquimia.


Em 1717, 4 lojas de Londres se uniram na Grande Loja Unida da Inglaterra, que marcou o início da maçonaria atual.

Em 1723, o maçom James Anderson compilou a tradição oral da irmandade numa constituição, cujos lemas eram ciência, justiça e trabalho. Quem não gostou de nada disso foi a Igreja, sentindo seu poder ameaçado por um grupo que rejeitava dogmas, aceitava seguidores de outras crenças e era contra a influência da religião na vida pública. Pior: discutia seus assuntos em segredo, o que só aumentava a desconfiança da Santa Sé.


Em 1738, o papa Clemente 12 emitiu uma bula em que excomungava a maçonaria — ratificada em 1983 pelo cardeal Joseph Ratzinger, atual papa Bento 16.

O tiro saiu pela culatra. Quando mais a maçonaria era difamada, mais ela atraía revolucionários — entre eles, o libertador sul-americano Simon Bolívar e o herói da independência americana Benjamin Franklin. A Revolução Francesa também assumiu os valores maçônicos, mas não com a intensidade que muitos imaginavam "Do mesmo jeito que alguns revolucionários franceses eram maçons, como Jean-Paul Marat, alguns opositores da revolução também eram", diz o historiador inglês Jasper Ridley no livro The Freemasons. No século 20, a Igreja continuaria no encalço da maçonaria.

Códigos Secretos...


A história de perseguição explica por que os maçons desenvolveram códigos para se reconhecer no meio de outras pessoas. No aperto de mão, por exemplo, um tocaria com o indicador no pulso do outro. Ao se abraçar, eles colocariam um braço por cima, outro por baixo, em X, e bateriam 3 vezes nas costas. Mais uma forma de comunicação em lugares públicos seria ficar em posição ereta e com os pés em forma de esquadro.


Em seus textos, os maçons abreviam as palavras usando 3 pontos em forma de delta. Exemplos: "Ir" é irmão, "Loj" é loja. Hoje, boa parte desses segredos já virou de domínio público. Tanto que o termo usado pelos maçons para se referir a Deus — Jahbulon, resultado da união dos nomes Javé, Baal e Osíris — aparece em quase 30 mil páginas na internet.


Para ingressar na maçonaria, é necessário ter ficha limpa, ser maior de idade e acreditar em um deus, seja ele qual for.


O candidato precisa ser convidado por um maçom e só se torna aprendiz após ser aceito numa cerimônia de iniciação no templo, onde se compromete a não revelar o que escutar ali dentro.


"Nossa meta é formar homens melhores, ensiná-los a se libertar dos dogmas e a pensar por si mesmos", diz o grão-mestre argentino Jorge Clavero. "A maçonaria não é como um partido político, que fixa posições. Ela atua na sociedade por meio de seus homens, silenciosamente. O iniciado faz sua obra entre a família, os amigos e em seu local de trabalho".


Revista Super Interessante
Por Dentro das Sociedades Secretas
páginas 10 a 15.

Um comentário:

  1. Obrigado pelo compilação do texto. Pelo interesse do livro de W. L. Wilmshurst, gostaria de esclarecer que está publicado com o título "Maçonaria Raízes e Segredos da Sua História".
    TAF

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