quinta-feira, 24 de junho de 2010

Surge a Idéia de Justiça

Surge a Idéia de Justiça

Charles Evaldo Boller

Pode-se especular que a intuição de justiça e direito surgiu nas cavernas de nossos ancestrais pré-históricos, quando da descoberta do fogo, o que lhes aumentou o tempo em que ficavam acordados. Ao iluminarem as cavernas obtiveram mais tempo de convivência ativa. Com isto afloraram vantagens estratégicas. Tiveram mais tempo para planejar e trocar experiências, bem como de contar estórias e transmitir informações vitais para a sobrevivência. Dessa dinâmica social a espécie tornou-se poderosa, transformou o homem num ser social por excelência. Da convivência forçada nas horas de escuridão fora das cavernas surgiu a condição ideal para tornar o homem superior aos outros animais que compartilham a biosfera. Descobriu-se nesta época que o amor fraterno, a energia emocional que une fraternalmente os seres vivos, é o único meio das ações humanas interagirem de forma positiva com seus semelhantes, permitindo obter assistência colaboradora de uns para com os outros. E isto grandes pensadores vem repetindo através das eras. Infelizmente, poucos entendem por que devem adaptar-se na adoção deste proceder benéfico e persistem a sugar a energia vital do meio ambiente e de seus semelhantes até a exaustão.

É devido a inteligente dedução efetuada pelo morador das cavernas que o benefício do amor transmitiu-se pelas gerações e cada um já nasce com uma intuição natural de direito e Justiça, denominado propriamente de direito natural. Esta noção, este inatismo, precede todo e qualquer código compilado de leis. Desde que livre e independente, o homem possui direitos inalienáveis: respeito; desenvolvimento da personalidade; igualdade; trabalho; evolução; liberdade; associação; legitima defesa; e outros. É da consciência humana que floresce o direito natural. A Justiça está alicerçada nos deveres e direitos naturais do homem e o auxiliam em seu relacionamento social, fazendo-o manter seu equilíbrio em relação aos outros, impedindo-o de ser uma besta, humanizando-o.

O problema é que sempre que um recurso se restringe, aumenta a concorrência que leva uns a desconfiarem dos outros. Principalmente na escassez de comida, segurança e sexo. A convivência forçou os vetustos homens a conviver em espaços estreitos, já que a noite não lhes era possível sair de sua toca devido à escuridão reinante, o que instigou disputas por melhor espaço, a fêmea melhor dotada ou o melhor pedaço de comida. Mas o verdadeiro fundador da sociedade civil certamente foi aquele ancestral que, cercando um pedaço de terra, àquela área associou o pensamente de posse: "isso é meu"! Acabou a paz do homem nativo, que vivia em equilíbrio com a natureza, que desfrutava do direito natural, que descansava sua cabeça em qualquer lugar, ao abrigo de qualquer arbusto, sem problemas de impacto ambiental, sem necessidade de correr, salvo para defender-se de algum predador. Um dia era como o outro e o tempo transcorria sem maiores situações de estresse. A tendência de reservar um espaço de chão para fixar morada é explorada ao extremo em nossa sociedade moderna; são edificados "caixotes", uns sobre os outros, amontoados. Isto gera problemas de relacionamento entre pessoas, violência, porque sempre existe aquele que, por uma razão ou outra, não paga as taxas de condomínio, ou então perturba a paz de seus vizinhos com ruídos ou provocações. E num país como o Brasil - que é só terra - existe uma espécie de invasor de terras que se denomina um "sem terra". No transito de automóveis é possível perceber a violência como resultado da concorrência: é só aumentar o número de veículos que transitam numa mesma via para imediatamente surgirem situações onde um "apressadinho" ou um mais ansioso colocar em risco a vida de outros motoristas, a sua própria, de pedestres ou causa dano ao patrimônio público. Mas a grande campeã de disseminação de violência de hoje é a falta de oportunidades e a desigual distribuição das riquezas. Quando não há disputa ou concorrência, a vida em grupo é suave, tranqüila, e nesta forma natural de convivência quase não há necessidade de a sociedade punir pela coerção social. Quando a distribuição dos recursos e oportunidades é igualitária não ocorrem eventos "sociopáticos" significativos, salvo nos casos de insanidade.

A sociedade não deve punir para vingar, sua obrigação é a de ensinar o homem a melhorar cada vez mais. O que se deduz da vida em sociedade real de hoje, é que ela não ama seus componentes, embrutecida e insensibilizada pela ganância e o poder, tornou-se subserviente à economia e espreme a todos até sobrar apenas bagaço.

O conhecimento de como surge e se aplica justiça com equidade é uma noção muito importante que o maçom desenvolve para melhorar a si mesmo e a coletividade. Da correta interpretação do que é justiça, diferenciando-a de vingança, ele extrai as diretrizes básicas de seu relacionamento com irmãos e visinhos. Cada maçom é conduzido a desenvolver seu conhecimento para utilizar intuitivamente do direito natural, sem a necessidade de lei escrita. Em se tratando de um ser fraterno, o pedreiro especulador sonda todas as possibilidades de buscar o equilíbrio da justiça, desaparecendo a necessidade de um juiz que lhe dite o que é direito. Ele usa do direito natural que reside em seu intelecto, voltado para o amor. É a lei do amor que define o direito natural. Esta suprema lei conduz a tomar para si apenas o que é de seu direito e estrita necessidade, sem invadir o direito do outro. Não há necessidade de justiça aplicada por um terceiro porque não chega nem a surgir evento que lhe dê razão de existir. Esta noção é muito simples se vista com o coração. Existe um ditado que diz: se todos varrerem a frente de suas casas a cidade fica limpa num instante. De forma parecida é com o direito natural; se cada um apenas utilizar o que precisa para sua subsistência há recursos para todos na cidade.

Entretanto, a sociedade não vive assim. Infelizmente o homem insiste teimosa e estultamente em avançar sobre o que é de direito do outro. É um animal que tem uma inclinação instintiva em demarcar território, dominar seus iguais em busca do poder e possuir muito mais coisas do que realmente precisa. Daí a necessidade da instituição das leis para acalmar a fera. Na aplicação da Justiça, as leis tornam-se tanto ou mais cruéis que a ações que lhe deram causa. Isto porque normalmente é o mais rico que dispõe mais de aplicação e desfruta de suas benesses; o ladrão de galinhas vai preso enquanto o ladrão de "colarinho branco" anda solto. Uma Justiça que tarda não é justiça. Uma justiça corrupta é pior que a selvageria de uma terra sem leis. E como o jogo de interesses cresce em graus de complexidade proporcional ao número de cidadãos que formam uma sociedade, as leis vão se complicando e embaralhando cada vez mais até ficar impossível aplicar a justiça com equidade e a comunidade explode atos de vinganças e guerras.

É nisto que a Maçonaria trabalha usando de simbologia simples como o mosaico, a corda de oitenta e um nós, a trolha, o esquadro, o nível, o compasso, e outros; tudo para transmitir o direito natural e levar seus adeptos a intuírem que sem igualdade de direitos a sociedade humana desaparece. A Maçonaria ensina a todos a serem prudentes, haja vista que sob certos aspectos a prudência é sinônimo de sabedoria. O exercício começa dentro dos templos, onde cada irmão é induzido a tratar o outro com respeito e igualdade. Onde o direito natural falha, o problema judicativo é tratado em câmara do meio, não sem antes se haverem esgotado todos os recursos de conciliação e dado todo o tempo possível para firmar acordo pelas diretivas do amor fraterno. De lá a experiência é levada para fora dos templos; ao escritório, em casa e todos os lugares por onde uma pessoa assim formada passa. A intenção é transformar cada maçom num multiplicador do amor fraterno, uma idéia simples de entender, mas difícil de aplicar. Existem pensadores que ensinam a amar até ao inimigo, o maior estágio que um maçom pode alcançar ao se submeter aos ensinamentos da ordem. A idéia de Justiça ocorre neste último estágio da escalada do amor fraterno. O sol brilha sobre bons e maus, da mesma forma que a justiça. Os vetustos homens das cavernas deduziram pela necessidade de sobrevivência de se ter a disposição mental de considerar os outros como iguais é a única saída para viver em paz e aumenta as chances de sobrevivência do grupo. De forma semelhante os maçons de hoje, pelo amor fraterno fazem surgir a idéia de justiça perfeita e equilibrada, treinam suas capacidades de desenvolver esta única forma de resolver todos os problemas da humanidade pelo amor e à glória do Grande Arquiteto do Universo.
Foto do autor do inspirado texto Charles Evaldo Boller

Copiado do http://segredomaçonico.blospot.com

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