Os senadores
Esta é uma denominação ou classificação que não existe em Maçonaria.
Coloquialmente, é uma expressão que, na nossa Loja, é usada para referir os
elementos mais antigos dela. Dir-se-ia que é uma expressão desnecessária, que
pode muito bem referir-se o mesmo grupo simplesmente como Mestres Instalados.
Mas, em bom rigor, nem todos os Mestre Instalados são senadores da Loja e pode
muito bem haver senadores da Loja que não são Mestres Instalados.
Mestres Instalados são os Mestres da Loja que exerceram o ofício de
Venerável Mestre e é aquele que, no momento, tem a responsabilidade de dirigir
a Loja. A designação resulta de a tomada de posse, digamos assim, do ofício de
Venerável Mestre se realizar através de uma cerimónia em que o eleito para
exercer a função é instalado no assento onde toma lugar o Venerável Mestre,
designado por Cadeira de Salomão.
Mestres Instalados são, portanto, elementos experientes da Loja, que exerceram
vários ofícios da Loja antes de serem eleitos para o de Venerável Mestre e, em
consequência, terem sido instalados na Cadeira de Salomão. Mas o conceito
coloquial de senadores que é usado na nossa Loja é ligeiramente diferente.
Para nós, um senador da Loja é um elemento que, pela sua antiguidade e
pela sua assiduidade adquiriu uma noção de como é a Loja, como ela funciona,
como ela reage, das suas virtudes e dos seus defeitos, que é reconhecida pelos
demais, que, por isso mesmo, dão especial atenção aos seus conselhos e
propostas para resolução de qualquer problema ou definição do rumo da Loja.
Nem todos os Mestres Instalados são reconhecidos pelos demais como
senadores da Loja, porque, por vicissitudes várias, reduziram ou interromperam,
durante algum tempo, a sua assiduidade na Loja, com inevitável reflexo na
diminuição do seu profundo conhecimento dela e da sua evolução.
Mas também haverá senadores da Loja que vão sendo reconhecidos como tal,
apesar de não terem (ainda) exercido o ofício de Venerável Mestre. São
assíduos, são participativos, conhecem a Loja a fundo. Só não exerceram (ainda)
o ofício de Venerável Mestre porque tal anda não se proporcionou. E repare-se
que tive o cuidado de não utilizar o conceito de Mestre... É que, por exemplo,
na nossa Loja existe um Aprendiz que, por vontade própria, permanece nesse grau
há vários anos, não aceitando passar ao grau seguinte... Como na nossa Loja (e
deve suceder em todas as Lojas) o respeito pela individualidade dos seus
obreiros é total, não há nenhum problema nisso. Periodicamente, pergunta-se a
esse Irmão se é tempo de seguir adiante. Ele tem vindo sempre a responder que
não. Respeita-se a sua opção e decisão. Claro que, ao fim de significativo
tempo, já se brinca um pouco com isso, mas não deixa de se respeitar a opção
deste nosso Aprendiz. Um dia destes, ainda criamos, só para ele, a figura de
Aprendiz-Mor...! E suspeito que tempo virá em que, mesmo Aprendiz - se
persistir em nesse grau permanecer - outro dia destes este
"Aprendiz-Mor" adquire, por direito próprio, o estatuto de senador da
Loja...
Os senadores da Loja, por tão bem a conhecerem, podem fazer-lhe muito
bem, mas também podem causar-lhe grave dano.
Serão benéficos para a Loja se derem o seu conselho, formularem a sua
opinião, mas resistirem à tentação de procurarem impor os seus pontos de vista.
Ao contrário do que sucede na vida militar, a antiguidade não é posto. E também
não constitui garantia de se estar certo, de se ter razão. E, mesmo quando está
certo, o senador deve sempre ter presente que os mais novos têm direito ao
erro, que porventura até necessitarão de cometer erros, de suportar as
consequências deles e de os superar. Tal como sucedeu com o senador, que seguramente
não foi infalível e evidentemente que cometeu a sua quota-parte de erros.
Serão perniciosos para a Loja os senadores que, por convencimento ou
falta de cautela, se derem demasiada importância a si próprios, à sua
experiência, ao seu conhecimento da Loja, e insistirem em tentar impor os seus
pontos de vista, as suas ideias, e busquem conduzir a Loja pelos caminhos que
lhes suscitem os seus amores e os seus temores. Porque isso é arrogar-se ser
dono da Loja e isso a Loja não lho permite. Com ou sem experiência. Mesmo
conhecendo e respeitando toda a assiduidade e dedicação.
No fundo, a questão é sempre a mesma: o principal princípio que impera
na Loja é a essencial Igualdade entre todos. Podem uns iguais atentar com
especial atenção em iguais mais antigos e mais experientes. Nunca - e fazem
muito bem! - aceitarão anular-se ou prestar injustificada vassalagem ao senador
só porque o é. Tal como um maçom só o é porque é reconhecido como tal pelos
seus Irmãos, a influência do senador na Loja é apenas aquela que os seus Irmãos
lhe reconheçam.
É assim que deve ser. E, senador ou não, se porventura algum dia alguém
se esquecer disto, corre o risco de falar, falar, falar, convencido de que
convencerá os demais a seguirem o caminho que as suas palavras iluminam e,
quando se der conta, verificar que está, afinal a falar sozinho...
Rui Bandeira
FONTE: A PARTIR PEDRA
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