A
FÉ RELIGIOSA
Em
todos os tempos, o homem sonha com a pátria celestial.
As
ideias do céu e inferno jazem no pensamento de todos os povos.
Os
indígenas da América admitem o paraíso de caça abundante e danças permanentes, com
reservas inesgotáveis de fumo.
Os
esquimós localizavam o éden nas cavernas adornadas.
As
tribos maori, que cultivam a guerra, por estado natural de felicidade, esperam
que o céu lhes seja uma rinha eterna, em que se digladiem, indefinidamente.
Entre
os hindus, as noções de responsabilidade e justiça estão fortemente associados
à idéia da sobrevivência. De conformidade com a crença por eles esposadas, nas
eras mais remotas, os desencarnados eram submetidos às apreciações do Juiz dos
Mortos.
Os
bons seriam destinados ao paraíso, a fim de se deliciarem, ante os coros
celestes, e os maus desceriam para os despenhadeiros do império de Varuna, o
deus das água, onde se instalariam em câmaras infernais, algemados uns aos
outros, por laços vivos de serpentes. Situados, porém, na sementeira da
verdade, sempre admitiram que do palácio celeste ou do abismo tormentoso, as
almas regressariam à esfera carnal, de modo a se adiantarem na ciência da
perfeição.
Os
assírios-caldeus supunham que os mortos viviam sonolentos em regiões subterrâneas,
sob amplo domínio das sombras.
Na
Grécia, a partir dos mistérios de Orfeu, as concepções de justiça póstuma
alcançam grau mais alto. No Hades terrificante de Homero, os Espíritos são
julgados por Minos, filho de Zeus.
Os
gauleses aceitavam a doutrina da transmigração das almas e eram depositários de
avançadas revelações da Espiritualidade Superior.
Os
hebreus localizavam os desencarnados no "scheol", que Job classifica
como sendo "terra de miséria e trevas, onde habitam o pavor e a
morte".
Com
Virgílio, encontramos princípios mais seguros no que se refere às leis de
retribuição.
Na
entrada do Orco, há divindades infernais para os trabalhos punitivos, quais a
Guerra, o Luto, as Doenças, a Velhice, o Medo, a Fome, os Monstros, os
Centauros e as Harpias, as Fúrias e a Hidra de Lerna, simbolizando os terríveis
suplícios mentais das almas que se fazem presas da ilusão, durante a vida
física. Entre esses deuses do abismo, ergue-se o velho ulmeiro, em cujos galhos
se dependuram os sonhos, aí principiando a senda que desemboca no Aqueronte,
enlameado e lodoso, com largos redemoinhos de água fervente.
Os
egípcios atravessavam a existência, consagrando-se aos estudos da morte,
inspirados pelo ideal da justiça e da felicidade, além-túmulo.
Mais
recentemente, Maomet estabelece novas linhas à vida espiritual, situando o Céu
em sete andares e o inferno em sete sub divisões. Os eleitos respiram em
deliciosos jardins, com regatos de água cristalina, leite e mel, e os
condenados vivem no território do suplício, onde corre ventania cruel,
alimentando estranho fogo que tudo consome, e Dante, o vidente florentino,
apresenta quadros expressivos do Inferno, do Purgatório e do Céu.
As
realidades da sobrevivência acompanham a alma humana que a vida não se encontra
circunscrita às estreitas atividades da Terra.
O
corpo é uma casa temporária a que se recolhe nossa alma em aprendizado. Por
isso mesmo, quando atingido pelas farpas da desilusão e do cansaço, o espírito
humano recorda instintivamente algo intangível que se lhe afigura ao pensamento
angustiado como sendo o paraíso perdido.
Desajustado
na Terra, pede ao Além a mensagem de reconforto e harmonia. Semelhante momento,
porém, é profundamente expressivo no destino de cada alma, porque, se o coração
que pede é portador da boa vontade, a resposta da vida superior não se faz esperar
e um novo caminho se desdobra à frente da alma opressa e fatigada que se volta para
o Além, cheia de amor, sofrimento e esperança.
Emmanuel
Nenhum comentário:
Postar um comentário