segunda-feira, 21 de agosto de 2017


Manuscrito “The Cologne Charter” (1535)

Introdução

É a primeira metade do século XVI. A Europa estava se recuperando da notícia histórica da descoberta de um novo continente, por Cristóvão Colombo (1451-1506), na redondeza da terra demonstrada por Ferdinand Magellan (1480-1521), grande parte da Alemanha foi convertida ao protestantismo pelo monge reformista Martinho Lutero (1483-1546) e Francisco I da França (1494-1547) se revelou um determinado construtor de castelos e um opositor ferrenho ao imperador Charles V (1500-1558).

E, em 1535, os mestres eleitos da Fraternidade dedicada a São João, membros da Maçonaria, se reuniram na cidade de Colônia (Koln em alemão), a maior cidade do estado da Renânia do Norte-Vestfália, para elaborar um novo documento (Estatuto), que se preocupava mais com a Maçonaria dos Aceitos do que com a prática manual do Ofício.

Com 19 assinaturas na carta, foram feitas dezenove cópias do documento (1), entre elas estão as de Philippus Melanchthon, grande amigo de Lutero, Herman de Viec, Arcebispo eleito de Colônia, Jacobus de Antuérpia, Reitor dos Agostinianos da cidade, e o de Gaspard de Coligny, o líder do partido Calvinista na França. Isso não é surpreendente, afinal, como é hoje universalmente admitido, a “Carta de Colônia” não é genuína e os nomes desses líderes e poderosos europeus estavam lá para dar ao documento um falso status.

A farsa

Embora o próprio documento seja datado de 24 de junho de 1535, não está claro quando o documento realmente foi criado. O consenso é que provavelmente foi escrito na França durante a segunda metade do século XVIII, talvez na década de 1780. É provável que tenha sido escrito para contrariar as últimas Bulas Papais e outras declarações religiosas ou políticas da época, que criticavam a Maçonaria.

Onde e por quem? Ninguém sabe.

A carta recebeu, por muito tempo, apoio massivo dos maçons e não-maçons, que defendiam sua autenticidade. Entretanto, ela contém uma longa lista de declarações e informações curiosas, se não fantasiosas: a personalidade dos signatários, a existência de uma desconhecida Irmandade de altos graus maçônicos, a evocação de ligações entre maçons e templários, as atividades maçônicas em Edimburgo, Hamburgo, Rotterdam e Veneza. Além disso, a carta, embora destinada a ser amplamente distribuída, é escrita em latim medieval e apresentada em uma substituição cifrada de caracteres “maçônicos”, que foi inventada durante o século 18.

O texto (2)

Para maior glorificação do Deus Todo-Poderoso

Nós, os Mestres escolhidos da honorável e distinta Fraternidade de São João, ou membros da Ordem dos Maçons, chefes das Lojas que foram estabelecidas em Londres, Edimburgo, Viena, Amsterdam, Paris, Lyon, Frankfurt, Hamburgo, Antuérpia, Rotterdam, Madrid, Veneza, Ghent, Konigsberg, Bruxelas, Danzig, Middleburg, Bremen e Colônia,

Temos na cidade de Colônia, no ano, mês e dia mencionados abaixo, montado um capítulo sob a presidência do Mestre da Loja deste lugar: um irmão adorado, instruído, sábio e discreto, que em consequência de nosso pedido unânime, aceitou conduzir este relatório, e fazer para as Lojas nos lugares acima mencionados, e para os Irmãos que atualmente pertencem ou posam aderir à Ordem, a seguinte declaração.

Levando em consideração que, em tempos difíceis, cheios de discórdia civil e outros conflitos, nós e as Fraternidades acima mencionadas, e todos os irmãos pertencentes à Maçonaria ou Ordem de São João, foram acusados publicamente ou em segredo, de realizar certos projetos e opiniões, que são igualmente contrários aos nossos sentimentos, isolada ou coletivamente e completamente oposto ao espírito, objetivo e preceitos desta Irmandade.

Sabendo-se que nós, os membros desta Ordem (principalmente porque estamos unidos por um vínculo indissolúvel de sigilo), ficamos mais expostos às revelações de não-iniciados, profanos e a calúnia pública em geral, temos, portanto, o seguinte delito, dito ser de nossa responsabilidade, que “Nós temos o desejo de reviver a Ordem dos Cavaleiros Templários” e que, por esta razão, fomos acusados ​​publicamente diante do mundo:

“Que nós tivéssemos sido obrigados a jurar como membros daquela Ordem, para recuperar suas propriedades e posses, e para vingar a morte violenta do último Grão-Mestre sobre os descendentes daqueles Reis e Príncipes que foram culpados de seu assassinato, e foram os autores da ruína da Ordem. ”

Por este motivo, tivemos divisões excitadas na Igreja, motim e rebelião nos impérios e reinos do mundo. Fomos inflamados com ódio e inveja contra o Papa, como chefe do clero e contra o Imperador e todos os governantes. Que não reconhecemos a autoridade de outros chefes, senão consagrados, e mestres eleitos de nossa Fraternidade, espalhados por todo o globo terrestre, e que executamos seus mandamentos secretos, comunicados por misteriosos mensageiros em letras cifradas, e que não admitimos ninguém em nossos mistérios, exceto aqueles que tenham sido atormentados, experimentados e aprovados, e obrigados a jurar um abominável compromisso de sigilo.

Por isso, e em consideração a tudo o que aqui foi citado, consideramos muito necessário e oportuno, mostrar claramente, a verdadeira condição e origem de nossa Ordem e o objetivo desta instituição benevolente na forma como foi reconhecida e confirmada por seus mais distintos membros, tanto individual, quanto coletivamente, os Mestres mais experientes da Ordem, iluminados pelas verdades genuínas que sua arte imprime no espírito, e depois distribuir este documento composto, elaborado, subscrito e ratificado por nós, entre os diferentes Capítulos e Lojas da nossa confederação. Que um testemunho perpétuo possa estar à mão da renovação de nossa aliança e da pureza imaculada de nossas intenções.

E por causa da crescente suscetibilidade diária, dos cidadãos e das nações, para o ódio, a inveja, a intolerância e as lutas, é muito mais difícil para os Irmãos manterem sua Constituição e forma original de governo, pura e incorrupta, para se propagar em diferentes partes do mundo, e para manter a sua integridade inviolável, quando melhores tempos surgirem, se não todas as cópias, mas pelo menos exista uma cópia ou outra, desta epístola circular, que a Sociedade possa adotar como um guia e regra de conduta e pela qual, quando abalada a seus próprios alicerces, possa remodelar-se e, se estiver em perigo de degenerar ou se afastar de seu objetivo e propósitos originais, ela possa ser levada de volta ao verdadeiro espírito que deve guiá-la e dirigi-la.

Por esta epístola, dirigida a todos os verdadeiros cristãos, tirada das mais antigas escrituras e das memórias existentes, de opiniões, costumes e hábitos da nossa Ordem secreta, pelas razões acima referidas, nós escolhemos os Mestres das nossas Ordens, e todos com um objetivo a saber, a obtenção da luz verdadeira, nós carregamos todos aqueles nossos companheiros no trabalho, em cujas mãos esta carta possa cair, pelo seu voto mais sagrado, que eles nunca renunciariam a este testemunho da verdade confiada a eles.

De igual modo, certificamos e damos a conhecer ao mundo iluminado e não iluminado, cujo bem-estar está próximo do nosso coração, estimulando-os a continuar o nosso trabalho, ativamente e zelosamente, o que segue:

A – Que a Fraternidade, ou a Ordem dos Maçons, unida pelos votos sagrados de São João, não tem sua origem na Ordem dos Cavaleiros Templários, nem de qualquer outra Ordem Espiritual ou Secular de Cavalaria, nem de uma única ou de várias unidas. Ela não tem a mais remota associação com nenhum deles, direta ou indiretamente, mas é mais antiga do que qualquer Ordem desse tipo, pois existia na Palestina e na Grécia, bem como em uma porção ou outra do Império Romano, antes mesmo das Cruzadas, e antes do tempo em que os cavaleiros que acabamos de mencionar foram para a Palestina. Isso tem sido provado para nós em diferentes documentos e notoriamente bem autenticados nos registros antigos.

Nossa Fraternidade existia naquela época, quando um grande corpo de pessoas consagradas se separava da ética contraditória da doutrina cristã, porque lhes tinha confiado o verdadeiro ensinamento moral e a mais legítima interpretação dos mistérios religiosos. Pois, naquele período de sua separação, acreditava-se por aqueles indivíduos eruditos e iluminados, que eram cristãos inteiramente livres da heresia pagã,

“Que uma religião poluída com heresia, só poderia causar e disseminar divisões religiosas e guerras abomináveis, em vez de promover a paz, a tolerância e o amor. ”

Eles, portanto, são obrigados por um juramento sagrado, a preservar com maior pureza, as doutrinas fundamentais desta religião, promovendo grandemente esse amor, à virtude inerente à raça humana, dedicando-se inteiramente à boa obra, que a luz possa surgir no meio das trevas, dispersar as névoas da superstição e estabelecer entre os homens, todas as virtudes da humanidade, da paz e da prosperidade geral.

Os mestres desta Confederação foram chamados de Irmãos de São João, pois escolheram João Batista, o precursor da Luz do Mundo, o primeiro dos mártires que sofreram espalhando esta luz, como sua origem e exemplo. Com o passar dos tempos, aqueles homens que se distinguiram por seu conhecimento superior em seus escritos, foram chamados de Mestres. Estes eram escolhidos entre os mais experientes eruditos, companheiros em seus trabalhos, de onde surgiu o nome de Companheiro. O restante daqueles, mas não especialmente escolhidos, estando de acordo com a moda entre os filósofos hebreus, gregos e romanos, eram distinguidos pelo nome de erudito ou Aprendiz.

B – Nossa confederação como era antes, e agora ainda é, se constituí por esses três graus, Aprendiz, Companheiro e Mestre, este último, igualmente chamado de Eleito ou Mestre Eleito. Todas as outras associações e fraternidades que admitem outras denominações e divisões de seus graus, ou atribuem-se a outra origem, interferindo em intrigas políticas e eclesiásticas, e juram solenemente odiar qualquer um, quer assumam os nomes de maçons ou irmãos, que afirmam estar cumprindo os princípios sagrados de São João ou de qualquer outra pessoa, todos eles não pertencem à nossa Ordem, mas são negados e repudiados por nós como cismáticos.

C – Entre os professores e mestres desta Ordem, que estudaram matemática, astronomia e outras ciências, um intercâmbio de seu avanço no conhecimento ocorreu quando eles foram espalhados por toda a Terra. Isso levou à seleção de um, do corpo de Mestres Eleitos, que deveria assumir a autoridade sobre o resto e ser honrado como o Mais Nobre e Sublime Mestre ou Patriarca, mas conhecido apenas como tal, pelos Mestres Eleitos, de modo que este escolhido, possa ser considerado o guia visível e invisível da nossa Ordem.

Em conformidade com esta condição, mesmo em nossos dias, um Mestre Superior e Patriarca realmente existe, embora conhecido por poucos.

Depois de ter demonstrado estes fatos, que recolhemos da rica coleção de antigos pergaminhos e documentos da nossa Ordem, decretamos e ordenamos, com a permissão, aprovação e sanção do nosso Patriarca, seguindo os textos dos documentos sagrados, que no futuro permanecerá sob a tutela fiel de nosso Superior e seu sucessor.

D – A conduta de nossa Confederação e a maneira e método pelo qual os raios da estrela flamejante serão trazidos para casa e dispersos entre os iluminados Irmãos e a porção não iniciada da humanidade, são conferidos aos Mestres Eleitos e Escolhidos.

Eles devem guardar e vigiar isso, para que os Irmãos, qualquer que seja sua posição, não possam empreender nada contrário aos princípios fundamentais de nossa confederação.

Esses diretores têm igualmente que defender a associação e preservar e assegurar sua continuidade. Se for necessário, devem mesmo proteger a instituição pelo sacrifício de seus bens mundanos e pelo perigo de suas vidas, contra todos os assaltos e ataques de fora.

E – Não temos nenhum testemunho convincente de que esta Fraternidade, tenha tido outro nome que o dos Irmãos de São João, antes de 1450, mas, conforme os documentos que reunimos, começou a ser chamada de Fraternidade de Maçons em Valenciennes Flandres, no período em que em alguns distritos do Hainaut, Hospitais e Enfermarias começaram a ser erguidos às custas dos Irmãos, para os pobres que sofriam do fogo de Santo Antônio. (3)

F – Embora, ao exercitar nossa benevolência, não estejamos acostumados a considerar nenhuma religião ou qualquer país, mas julgamos aconselhável e mais seguro não admitir nenhum em nossa Ordem, aquele que em sua vida profana e no mundo dos não-iluminados fizeram uma profissão de cristianismo.

Não recorrer a torturas corporais ao examinar os Candidatos para a iniciação ao primeiro grau, mas recorrer-se-á a provas que demonstrem mais claramente quais são os poderes, as inclinações e a característica principal dos iniciados.

G – Entre os deveres estritamente enunciados e que devem ser acompanhados de um juramento solene, estão a fidelidade e a obediência às autoridades seculares legalmente instituídas, que têm domínio sobre nós.

H – As leis introdutórias que orientam nossas ações, e todos os nossos esforços, em qualquer canal que possam ser dirigidos, são expressas nos dois preceitos seguintes:

“Amem e valorizem a todos os homens como fazem a seu irmão, e suas relações de sangue. – Apresenta a Deus as coisas que são de Deus, e a César as que são de César. ”

I – Os segredos e mistérios, que escondem nossos propósitos, são apenas com este único ponto de vista: fazer o bem sem ostentação e cumprir nossas resoluções até os mínimos detalhes.

J – Todos os anos celebramos uma festa em honra de São João, o mensageiro de Cristo, e o protetor de nossa Ordem.

K – Estas e outras cerimônias semelhantes, que dizem respeito à nossa Ordem, são representadas por certos sinais ou palavras ou alguns símbolos ou outros conhecidos pelos Irmãos, mas diferindo inteiramente das cerimônias eclesiásticas.

L – Somente é reconhecido como um Irmão de São João ou Maçom, aquele que, segundo a lei, sob a orientação e supervisão de um Mestre Eleito, assistido por pelo menos sete Irmãos, seja iniciado em nossos segredos e seja capaz de provar sua Iniciação pelo uso desses sinais e palavras de reconhecimento, praticados pelos Irmãos.

Com estes estão incluídos os sinais e palavras habituais de Edimburgo e nas Lojas e “Bauhütten” filiados a ela, também em Hamburgo, Roterdã e Veneza. Cujas funções e negócios, na verdade, são realizados no ritual escocês, mas cuja origem, objetivo e arranjo fundamental não diferem dos que prevalecem em nossa comunidade.

M – Nossa Ordem como um todo é governada por um único Superior universal, mas as assembleias dos Mestres, que compõem essencialmente esta confederação, devem ser reunidas de muitos países e estados diferentes, portanto nada é mais necessário do que um certo grau de conformidade, que deve prevalecer nas Lojas espalhadas sobre a face de toda a terra, como membros únicos de um grande todo, e isso pode ser efetuado por meio de uma troca animada de correspondência e de emissários, que em todos os lugares terão uma só mente, ensinando uma doutrina. Por isso, essa escrita, que registra o caráter e a forma de nossa associação, será transmitida a todos os Mestres, e colégios de nossa Ordem, tantos quanto existem.

Por estas razões, esta epístola circular, da qual 19 cópias foram literalmente feitas, foi emitida, confirmada e ratificada por nossos nomes e assinaturas.

Em Colônia, no Reno, no ano de mil e quinhentos e trinta e cinco, no vigésimo quarto dia do mês de junho, calculado de acordo com o cálculo do tempo, denominado a era cristã.

Assinaram o texto: (4)

Harmanus – Carlton – Jo.Bruce – Fr.V. Upna – Cornelis Banning – de Colligni – Virieux – Jean Schroder – Hoffman – Icobus Prepositus – A.Nobel – Ignatius della Torre – Doria, J.Utti­nhove – Falck – Nicolas van Noot – Philippe Melanthon – Huys­sen – Wormer Abel.

Notas

1 – Dezenove cópias para dezenove signatários. Uma delas está preservada nos arquivos do Grande Oriente da França, em Paris.

2 – O texto latino da Carta de Colônia foi publicado pela primeira vez nos Anais Literários e Históricos da Maçonaria dos Países Baixos, no ano de 1818, em duas versões, uma em latim “literal” (contendo muitos erros, devido a criptografia), e outra em latim “usual” (ou seja, corrigido pelo tradutor), ambas as versões sendo acompanhadas por uma tradução francesa.

3 – Fogo de Santo Antônio, ou ergotismo – Envenenamento, às vezes fatal, devido à ingestão de ergot, um fungo encontrado no centeio e outros grãos.

4 – É curioso notar que os redatores da Carta, cuidaram de esconder os termos de seu texto usando um alfabeto de cifra maçônico, desconhecido no século XVI, mas afixaram abertamente sua assinatura habitual no final do documento.

Fonte:

Tradução livre por Luciano R. Rodrigues, do manuscrito Cologne Charter, encontrado em: http://www.anciensdevoirs.com/page-09.html

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