Onde Começou
a Maçonaria, foi no Egito?
Charles Evaldo Boller
Sinopse: Especulações e assertivas
a respeito do berço da Maçonaria.
Existem registros que
existiram organizações de pedreiros desde tempos imemoriais, inclusive
especulações que tenha existido uma no Jardim do Éden, mas associar isto com
Maçonaria não passa de fantasia de escritores de ficção bem criativos.
Sem fatos e dados
documentais não se valida a história do homem, mesmo que esta sempre sofra um
pouco da influência do historiador, por mais técnico que seja. Por conta de
historiadores, técnicos sérios, chegaram até nossos dias informações e fatos,
devidamente comprovados, que a ordem maçônica vem se desenvolvendo a partir de
grupos profissionais que trabalhavam com a pedra, pedreiros, organizados em
entidades semelhantes aos atuais sindicatos. Estes grupos de trabalhadores da
pedra constituíram sociedades fechadas e ligadas a construção de grandes obras
em pedra lavrada que existiram na Europa, confrarias de ofícios, depois
denominadas comunidades de ofício e por último, corporações de ofício. Temos
notícia deste tipo de organização profissional advindo da Inglaterra na idade
média, onde era denominada Gild, traduzido para guilda. Estas se transformaram
depois em company, e posteriormente em fraternity. Assim como nas atuais
agremiações e agrupamentos de profissionais, aqueles compartilhavam os segredos
da profissão, à semelhança de todo grupo profissional que tem segredos
guardados mediante um linguajar próprio e até esotérico. Para entrar numa
agremiação profissional é necessário obter treinamento, estar devidamente
regulamentado e registrado no órgão representativo da classe. Aqueles
profissionais da idade média, com o objetivo de manter o segredo dos métodos de
trabalho exigiam segredo de todas as técnicas da construção e as velavam por
promessas, juramentos, senhas, palavras de passe para acessar o canteiro de
obras e outros artifícios. A guilda foi consequência de antigos canteiros de
obras administrados pela Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Católica
Apostólica Romana, mediante a atuação de monges arquitetos na construção de
igrejas e palácios. Quando os profissionais desta área se afastaram da
liderança dos monges, seus antigos mestres e arquitetos surgiram as guildas. Os
monges, de sua parte, obtiveram o conhecimento da antiga civilização grega, as
adaptaram e aplicaram na construção de sua época. As guildas eram formadas de
aprendizes e companheiros, submetidos a rígida disciplina, funcionando os
monges como mestres de obra.
Desde o século quatorze
existe na Inglaterra registro público de companhias de pedreiros ou maçons e
maçons livres. Inglaterra e França são berços da Maçonaria especulativa
hodierna. Seus criadores aproveitaram-se da estrutura de funcionamento
disciplinada, ordeira e fechada das antigas guildas para estabelecer o ambiente
próprio ao debate de temas profundos das ciências e da sociedade. Foi no século
das luzes que grandes pensadores reuniram-se para planejar a transição ao mundo
moderno, sendo-lhes creditada a filosofia e a construção da modernidade. Eram
homens, em sua maioria radicais e corajosos, opunham-se a mesmice liderada por
ignorantes e extremistas religiosos que vedavam e dificultavam o
desenvolvimento das ciências e do livre comércio. Estes grandes pensadores
extirparam as raízes da cultura europeia principalmente com relação ao que na
época era considerado sagrado, mágico. Aqueles cientistas e filósofos criaram a
Maçonaria para obter um fórum de debate para suas ideias e as foram registrando
numa grande obra literária, por isso ficaram conhecidos como os
enciclopedistas. Seus escritos foram distribuídos pela Europa e Américas,
muitos adquiriram assinatura para receber estas publicações as quais eram
devoradas avidamente e influenciaram a sociedade, dando-lhe o contorno que hoje
se vê. Absolutismo, monarquia e hierarquia foram secularizados, aflorou uma
sociedade laica. Com os debates protegidos da perseguição religiosa e velados
por juramentos, seus registros cifrados em linguagem simbólica e outros métodos
de criptografia, os fóruns de debate da sociedade foram se desenvolvendo até
adquirir sua forma na Maçonaria especulativa que herdamos.
O século das luzes,
1650-1750, foi o berço da Maçonaria - o resto é lenda, meras conjecturas ou
considerações românticas. O Egito possuía cabedal na construção da pedra, haja
vista as grandes obras que chegaram até nossos dias, mas de forma alguma é
origem da Maçonaria. Outras civilizações antigas também nos apresentam os
resultados de suas técnicas do trabalho na pedra e tijolo e igualmente nada
contribuíram para a formação das agremiações de pedreiros. Nada tem que as
relacione com a Maçonaria, seja ela operativa ou especulativa. A ordem maçônica
é resultado da ansiedade de evolução que era tolhida em seu desenvolvimento
pelos radicais religiosos e baseadas exclusivamente nas guildas da idade média.
lojas especulativas foram se organizando desde 1600, na Escócia, e atingiram o
auge no final daquele século. No início do século dezoito a fase especulativa
da Maçonaria aumentou, foram estabelecidas lojas em York, mas foi em Londres
que o movimento explodiu, surgindo diversas lojas. Naquela ocasião, Anderson e
Payne, apresentaram estudos sobre a primeira constituição que constitui o ponto
de partida do direito maçônico moderno, em uso até hoje. Existe evidência que
são alicerce dos fundamentos filosóficos da Maçonaria especulativa:
Bíblia judaico-cristã;
Registros egípcios dos
mortos; e
Rudimentos filosóficos
creditados aos vetustos essênios.
O Rito Escocês Antigo e
Aceito usa como principal referência os livros da bíblia judaico-cristã.
O principal movimento
filosófico que fez surgir a Maçonaria ficou registrado na história como
Iluminismo, mas em sua existência a ordem maçônica, como entidade moral e
evolutiva, vem se alimentando de todas as linhas de pensamento moralmente
aceitáveis e que proporcionem o progresso, união e igualdade dos homens. É a
razão de existência do imenso número de ritos e obediências. Não poderia ser
diferente e vai continuar se fragmentando enquanto houver futuro para a
espécie. Felizmente é devido a esta diversificação que a Maçonaria ainda cumpre
com seu papel de desenvolver o homem, alicerçada em forte moralidade e voltada
sempre para a evolução e melhoria humana quando combate absolutismo e
obscurantismo.
Luz é o que se busca na
Maçonaria, luz é o que se recebe quando se caminha na direção definida pela
ordem. É a luz do conhecimento, da verdade. - Sapere aude! - Bradou Horácio, -
ouse saber! - Diz a Maçonaria. A iluminação já está latente dentro do maçom
quando este é escolhido e retirado como pedra bruta da pedreira da sociedade. A
Maçonaria apenas revela o caminho para a luz, mostra caminhos.
O maçom é provocado em
deixar de lado a indolência e passa a ser motivado em caminhar com o esforço de
suas próprias pernas, discernimento, razão, emoção e espiritualidade. Não
existe varinha de condão ou mágica! É muito suor, persistência e trabalho em si
mesmo. O primeiro exemplo é dado por ocasião da iniciação, aonde o cidadão
precisa de quem o guie, é introdução para muitas experiências, lendas e
exemplos do sistema maçônico de educação natural. Apontam-se apenas direções e
rompem-se os grilhões dos pensamentos e emoções, sempre alicerçadas em sólida
espiritualidade. O desenvolvimento é racional, mas o uso da razão está sempre
acompanhado da crença que existe uma mente orientadora por detrás de toda a
maravilhosa natureza de que cada ser vivente é parte. A suprema liberdade
aflora quando o maçom deduz que:
Todo aquele que se submete
ao pensamento de outros, por preguiça de pensar, é escravo;
Um homem domina o outro
através da força do pensamento, da capacidade de realização do pensamento;
Todo desenvolvimento
humano surgiu primeiro na mente.
A caminhada é realizada
individualmente pelas sendas da autoeducação natural, do conhece-te a ti mesmo
socrático, pedra angular da filosofia da Maçonaria. Este conhecimento dos rumos
para a iluminação é a responsável por mudar o homem, e este, por sua ação
modificadora, influi na sociedade. E assim, caminhando para o futuro, em
direção a luz, apoiado em forte espiritualidade e vontade evolutiva, com amor,
o maçom dá honra e glória ao Grande Arquiteto do Universo.
Bibliografia:
1. ISRAEL, Jonathan I., Iluminismo
Radical a Filosofia e a Construção da Modernidade 1650-1750, Radical
Enlighttenment; Philosofy, Making of Modernity, 1650-1750, tradução: Cláudio
Blanc, ISBN 978-85-370-0432-6, primeira edição, Madras Editora Ltda., 878
páginas, São Paulo, 2009;
2. MONDIN, B., Introdução
à Filosofia, Problemas, Sistemas, Autores e Obras, título original:
Introdizione Alla Filosofia, Problemi, Sistemi, Autori, Opere, tradução: J.
Renard, ISBN 85-349-0631-9, segunda edição, Paulus, 392 páginas, São Paulo,
1974;
3. PORTO, A. Campos, A
Igreja Católica e a Maçonaria, terceira edição, Editora Aurora Ltda., 320
páginas, Rio de Janeiro;
4. Revista Filosofia
Especial, Ciência&Vida, Editora Escala, Ano i, número 5.
Data do texto: 30/01/2011
Sinopse do autor: Charles
Evaldo Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira.
Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de
idade.
Loja Apóstolo da Caridade
21 Grande loja do Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Filosofia,
História, Maçonaria, Pensamento
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