Manchete
E,
atravessando a rua, amedrontada, ouvia
As manchetes
do dia.
Alguém
comunicava: os assaltantes
Depredaram a
casa,
Em rápidos
instantes;
Depois,
deixaram tudo em brasa.
Os moradores
de regresso
Revoltaram-se,
em vão...
Mais adiante,
um amigo,
Sem disfarçar
a própria irritação,
Dizia para
outro: O meu bairro é um perigo...
Ontem,
presenciamos três assassinatos,
Com agressões,
injúrias, desacatos...
Um passo
acima, e uma senhora ao lado,
Informava num
grupo: O horrível acidente
Que arrasou e
feriu a tanta gente
Foi
simplesmente provocado.
A polícia está
certa...
A pesquisa
mais ampla foi aberta
Para que se
conheça os responsáveis.
Além, um moço,
por sinal,
Exibia uma
folha de jornal
A expressar-se
com voz cansada e constrangida:
- Minha noiva
foi morta
Pelas balas de
alguém que a deixaram sem vida!...
O meu sonho
ruiu, falta-me a confiança,
Não sei se
penso em ódio ou se penso em vingança...
Mais adiante
ainda, um jovem comentava:
- É um destino
cruel que se grava na Terra,
Tudo indica no
mundo o início de outra guerra,
Tão destrutiva
quanto as que tivemos...
Duras
tribulações nos últimos extremos,
Dolorosas
visões, de batalha em batalha,
Orfandade e
viuvez, ao fragor da metralha!...
Logo após,
concluía em alta voz:
- Que
informações terríveis sobre nós!...
Dominada de
estranha sensação,
Busquei, num
parque amigo, a bênção da oração...
Depois, fitei
o sol do entardecer
E o pranto de
emoção
Jorrou-me do
mais íntimo do ser...
Em meio de
sublime encantamento,
Notei num
quadro magistral
Que os
pintores do Além
Haviam
desenhado em Plano Azul
A face do
Senhor no firmamento...
E sob aquele
olhar magnânimo e profundo,
Detido a
contemplar os conflitos do mundo,
Escreveram, em
luz de etérea purpurina,
A palavra do
Cristo, em manchete divina:
- Amados meus,
por quê?
Por que tanta
discórdia e tanto sofrimento?
Eu apenas vos
disse:
Eis que vos
dou um novo mandamento,
No resumo
integral de toda a Lei:
- “Amai-vos
uns aos outros,
Tal qual eu
vos amei”.
Maria Dolores
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