Caridade, Prática do Amor ao Próximo
Charles Evaldo Boller
O maçom está obrigado a praticar a Caridade como
parte de sua formação moral, porque pratica-la não lhe é livre. Neste mundo
cheio de maldade, tirania e opressão a Caridade não é facultativa ao
franco-maçom, semelhante à Justiça, ela é obrigatória. Principalmente depois
que ele se dispôs por juramento a pratica-la. Enquanto Justiça é aplicada pela
força, porque justiça sem força não existe, a Caridade deve emanar das fibras
mais íntimas do coração, de um fogo aceso lá por característica de projeto,
idealizado pelo Grande Arquiteto do Universo.
Dicotomizando sobre o tema a partir da Caridade
como a predisposição da alma em distribuir o bem sem olhar a quem nem buscar
recompensa, esta deve ser praticada com o coração sem constranger ao
beneficiário, senão, ao invés de ser considerado ato de amor o mesmo não passa
de mera expressão da vaidade e uma espécie de massagem no ego. Caridade não
pode destruir a liberdade do outro, convertendo-o em dependente ficando o autor
da Caridade com uma espécie de tutela sobre o beneficiado. Caridade tem grande
possibilidade de gerar ódio no coração do beneficiado se feita de forma a
constranger. Por isso é melhor que o receptor da Caridade ignore de onde vem o
benefício. Se a Caridade for objeto de projeção pessoal do doador, o
beneficiado, ao invés de gratidão desenvolverá ódio, ficando o ato da Caridade
como simples obrigação moral ou dever de consciência do doador. Para a maioria
dos que recebem Caridade composta de bens materiais diversos, até de dinheiro,
o ato de Caridade não passa de mera obrigação do doador, isto porque para o
mesquinho, o doador o faz por obrigação, porque tem demais e o pouco que cai de
sua mesa não lhe faz falta.
Então é habitual os receptores contumazes
desenvolverem, além de apatia e preguiça para irem à luta pela sobrevivência,
um sentimento de ódio
pelo doador, o que fazem surgir ideologias políticas como o Comunismo e
Anarquia. No mínimo o doador é presenteado de volta com indiferença: o que
constitui o contrário do amor. De onde se pode deduzir que a Caridade pode
desenvolver sentimentos e vícios se não for aplicada com sabedoria.
Lendo a Caridade como objeto
filosófico da Maçonaria, ela sustenta a loja como base de três colunas
herméticas junto à fé e esperança. Caridade é a que mais robustece a prática
maçônica porque sua prática humaniza o francomaçom e lhe possibilita o
desenvolvimento e manutenção da esperança e fé. Por isso Caridade é algo
imposto ao obreiro diligente com sua construção e desconstrução, onde fé e esperança
lhe fornecem a força motriz e perseverança para continuar na jornada. É
primeiro e último dever do francomaçom.
A Caridade pode ser praticada sem
que se empenhem valores financeiros, pois Caridade material sempre acaba no dia
seguinte. O melhor da Caridade é ensinar aos outros os meios para que suas
necessidades básicas de subsistência sejam sempre atendidas de modo que não se
torne submisso aos poderosos.
Outra forma de Caridade é
conviver: simplesmente ouvir ao que os aflitos têm a dizer é uma forma de
Caridade superior.
A Caridade moral é outra forma de
prática que não prejudica ao beneficiado e tem como resultado o amor do Grande
Arquiteto do Universo, pois expressa apenas aquilo que já existe dentro de cada
um: o amor ao próximo. Dizem que o homem é o único animal que desenvolve
compaixão e que esta vem da inclinação natural de praticar a Caridade. É o que
distingue o homem e lhe oferece a possibilidade de evoluir como ser consciente
e racional. Inclusive sua fé deve ser raciocinada para não enveredar ao
fundamentalismo e fanatismo de modo que possa persistir em praticar a Caridade
alimentada pelo coração. Caridade é o doar-se para os outros sem que os
beneficiados o peçam e independente do fato de os oportunistas dela se valham
para tirar vantagens do doador. Doar-se, ouvir, estar presente não exige aporte
de valor monetário algum, é apenas deixar fluir o companheirismo, a fraternidade
que conduzem a bons pastos e paz duradoura.
Fazer
aplicação da Caridade, em virtude de sua diversificação é uma arte, uma ciência
do bom viver. Ela pavimenta o caminho do homem em permanente evolução no conhecimento
de si mesmo. Caridade é característica desenvolvida que humaniza, a mais
pujante demonstração de amor ao próximo que existe latente em cada coração.
O píncaro da glória para o
praticante da Caridade vem da possibilidade dada a cada ser humano de velar
por sua família em todas as situações. Esta é o suprassumo das Caridades! A
Francomaçonaria mostra isso ao declarar que apenas através da fraternidade é
possível construir uma sociedade sadia onde se colocam diversas pessoas das
mais variadas origens debaixo de um mesmo teto vivendo em paz. Isto serve de
modelo para o francomaçom levar em sua mochila para casa onde coloca a Caridade
em prática para com os seus mais chegados: avós, pais, filhos, esposa. Todos
podem ser objeto de Caridade, mesmo que não lhes falte o essencial das necessidades
básicas de vida esquematizadas por Maslow. O homem que pratica a Caridade
dentro da própria casa já está de bom tamanho para atingir o objetivo escrito
de forma indelével no coração pelo Grande Arquiteto do Universo.
A virtude teologal da Caridade
não carece de miseráveis e pobres para ser praticada. Ouvir ao pai ou à mãe
quando estes se queixam é uma forma de Caridade e não custa nada. Ouvir as
queixas do irmão na loja é Caridade igualmente. Ouvir a esposa, filhos,
barbeiro, faxineira, ou qualquer um é uma forma de Caridade. Agora, se o ato de
ouvir vier acompanhado de conselhos proativos e até de ações que demandem
desembolsos que impliquem em sacrifícios, então o efeito é multiplicado.
Não há necessidade de afirmar que
a Caridade é uma predisposição da alma para o bem: isto já está lá dentro de
cada um. E o homem é uma alma vivente, que possui vibrando dentro de si
energias que desconhece e que o identificam e assemelham ao gerador da vida
que é o Criador. Caridade não é apenas para dar esmolas aos miseráveis,
trata-se de um tesouro que é acumulado para si mesmo e esta riqueza o ladrão
não leva. É parte daqueles tesouros guardados na alma, torna-se parte
intrínseca do ser como valores eternos gravados na alma. É a perfeição das
virtudes do homem que lustra sua pedra para honra e à glória do Grande
Arquiteto do Universo.
Biblioteca Charles Evaldo Boller
Caridade, Prática do Amor ao Próximo.
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