O Orgulho, a
Vaidade e a Ira no "Meio Maçônico"
O PECADO é uma atitude humana contrária às leis
divinas tendo sido definido pela Igreja Católica no final do século VI, durante
o papado de Gregório Magno que anunciou para o mundo profano, os sete pecados
capitais provenientes da natureza humana: avareza, gula, ira, luxúria,
preguiça, soberba e vaidade.
Posteriormente, no século XIII, foram
definitivamente incorporados e firmados pelo teólogo São Thomás de Aquino. Por
questões práticas, no sentido de alcançar o nosso objetivo relativamente ao
tema destacado, trataremos apenas dos três pecados capitais que permeiam com
maior realce no nosso meio.
Neste sentido, necessário se faz que definamos cada
pecado ou pelo menos identifiquemos suas principais características. Usamos o
termo meio maçônico, entre aspas, no título deste artigo para destacar o
antagonismo existente entre a postura que deve ser adotada nesse meio e os
pecados capitais ou vícios de conduta citados, os quais, infelizmente, os
percebemos.
Um dos sete pecados capitais que se manifesta nas
pessoas na forma de ORGULHO e ARROGÂNCIA é a SOBERBA, termo que provém do latim
- superbia, é um sentimento negativo caracterizado pela pretensão de
superioridade sobre as demais pessoas, levando à manifestações ostensivas de
arrogância, por vezes sem fundamento algum em fatos ou variáveis reais.
As manifestações de soberba podem ser demonstradas
de forma individual ou em grupo. Nos casos de grupos, escolhidos ou eleitos, se
firma na crença de que é superior.
A manipulação da soberba, do orgulho e da pretensão
de superioridade de um grupo pode mobilizar conflitos sociais, onde os
sentimentos de uma massa humana pouco crítica servem aos interesses políticos,
econômicos, ideológicos de seu lider.
O soberbo quer superar sempre os outros, mas quando
é superado, logo se deixa dominar pela inveja. Quando se sente ameaçado,
atingido, procura depreciar os outros e vangloriar-se, sem que para isso se
estruture para se superar ou até fazer uma avaliação da vida, dando-se em
determinado momento por satisfeito.
O soberbo produz desarmonia na sociedade como
estratégia para manter a soberba e se colocar sempre em evidência. A sociedade
se tornando harmônica, com todos os indivíduos sendo e vivendo de maneira
igual, liberta e fraterna, não propíciará espaço para a soberba.
Agindo com humildade se consegue combater a soberba
nas suas mais diversas formas, evitando a ostentação, contendo as vaidades e
fazendo com que o soberbo olhe o mundo não apenas a partir de si, mas
principalmente ao redor de si.
O orgulho como uma das formas de manifestação da
soberba se traduz pela satisfação incondicional do soberbo ou quando seus
próprios valores são superestimados, acreditando ser melhor ou mais importante
do que os outros, demostrando vaidade e ostentação que em limite extremo transforma-se
em arrogância.
A arrogância é uma outra forma de manifestação da
soberba. É o sentimento que caracteriza a falta de humildade. É comum conotar a
pessoa que apresenta este sentimento como alguém que não deseja ouvir os
outros, aprender algo de que não saiba ou sentir-se ao mesmo nível do seu
próximo.
O orgulho excessivo e a vaidade sem limites que se
traduz na arrogância, se mostra na forma de luta pelo poder econômico,
pela posição social e pela perpetuação no poder.
Quando chega a ocupar cargo eletivo ou de nomeação
busca impressionar os incautos, realçando o depotismo que trata os
súditos como escravos.
Diferentemente da ditadura ou da tirania, o
depotismo não depende de o governante ter condições de se sobrepor ao povo, mas
sim de o povo não ter condições de se expressar e auto-governar, deixando o
poder nas mãos de apenas um, por medo e/ou por não saber o que fazer.
No Despotismo, segundo Montesquieu, apenas um só
governa. É como não houvesse leis e regras, arrebata tudo sob a sua
vontade e seu capricho.
A VAIDADE humana, como um dos sete pecados
capitais, se manifesta nas pessoas pela preocupação excessiva com o aspecto
físico para conquistar a admiração dos outros, pela posição social que busca
ocupar na sociedade ou através de ocupação de cargos.
Uma pessoa vaidosa pode ser gananciosa, por querer
obter algo valioso, mas é só para promover ostentação perante os outros.
Um ser humano invejoso, por sua vez, identifica com
bastante facilidade um ser humano vaidoso, pois os dois vicios se complementam,
um é objeto do outro.
Nos Ensaios de Montaigne há um capítulo sobre
vaidade. Um escritor brasileiro, Flávio Gikovate, tem se dedicado a analisar a
influência da vaidade na vida das pessoas e seus impactos na sociedade.
Uma das abordagens da vaidade na literatura é feita
por Oscar Wilde no livro “O Retrato de Dorian Gray”, onde o principal tema é a
vaidade do personagem Dorian, onde o jovem é ao mesmo tempo velho, e o velho é
ao mesmo tempo novo.
Por fim, trataremos da IRA como pecado capital.
A ira é uma atitude que às pessoas manifestam pelo
sentimento de vingança, de ódio, de raiva contra seus semelhantes ou às vezes
até contra objetos.
É uma emoção negativa que aniquila a capacidade de
pensar e de resolver os problemas que a originam.
Sempre que projetamos a ira a outro ser humano,
produz-se a derrubada de nossa própria imagem e isto nunca é conveniente no
mundo das inter-relações.
A ira combina-se com o orgulho, com a presunção e
até com a auto-suficiência. A frustração, o medo, a dúvida e a culpa originam os
processos da ira. A ira humana facilmente se torna pecaminosa.
Quando começamos a defender nosso Ego, quando
atacamos alguém ao invés de atacar o erro dele, quando a chama da ira é
alimentada, ela se torna um fogo que destrói.
Feitas as devidas considerações sobre o conjunto de
alguns vícios da conduta humana ou pecados capitais, vamos nos transportar para
o meio maçônico e estabelecer uma relação de homomorfismo para que possamos
fazer uma reflexão sobre algumas práticas que constatamos no nosso cotidiano.
O comportamento de um maçom, segundo os ditames da
nossa Sublime Ordem, deve ser irreparável.
Não se deve, nem se pode, adotar ação alguma que
realce soberba, vaidade e ira, sobretudo quando essa ação é praticada por irmão
que é autoridade maçônica, que ocupa cargo maçônico eletivo ou de nomeação.
Em caso de comportamento ou ação que comprometem a
imagem da nossa ordem e atentam contra os postulados universais da Maçonaria.
Deve seu autor ser alertado por qualquer irmão que
perceba o desvirtuamento no sentido de que o mesmo possa proceder a correção do
seu comportamento ou ação.
O Irmão alertado deve receber a observação de forma
natural entendendo que o irmão que o alertou o fez no sentido de promover a sua
melhoria, o seu crescimento.
Nunca deve reagir com ira.
A excelência da Maçonaria se ergue sobre o suporte
da Fraternidade e não do Ódio.
O irmão deve ter humildade suficiente para
compreender o reparo. Não deve ser soberbo nem vaidoso e receber a crítica como
construtiva, principalmente pelo fato de ocupar cargo maçônico.
Não há demerito para a autoridade maçõnica quando é
alertada por um irmão hierarquicamente inferior. Em primeiro lugar está o irmão
maçom não a autoridade maçônica.
O Maçom tem por dever cavar masmorras aos vícios em
todas as suas formas, inclusive aos vicios de conduta aqui anunciados, pois
assim, estará levantando templos às virtudes e, por conseguinte, fazendo novos
progressos.
As atitudes que expressam, com clareza, esses
pecados capitais, esses sentimentos pífios e inconseqüentes, que levam ao
desânimo àqueles maçons que podem afirmar com toda propriedade “MEUS IRMÃOS
COMO TAL ME RECONHECEM”, devem ser banidas do nosso meio.
As autoridades Maçônicas constituídas têm que
asseverar a hierarquia sim, mas não cometer excessos.
Tem que conhecer, e conhecer bem a disciplina.
A disciplina e a hierarquia são sustentáculos da
Maçonaria, logo, o verdadeiro Maçom deve ser um homem disciplinado e que
respeita a hierarquia.
O Maçom disciplinado é instruído, não é propenso
a soberba, nem a vaidade e nem a ira.
O Maçom não tem orgulho, tem honra. O Maçom não tem
vaidade, tem felicidade. O Maçom não tem ira, tem irresignação.
A disciplina se constitue de um cojunto de ações
planejadas e coordenadas que obedecem regras, leis.
Portanto, para execitar a dsiciplina precisamos nos
deter aos ensinamentos maçônicos contidos na Prancheta de Traçar, na régua de
24 polegadas, no esquadro e no compasso.
Não podemos agir de forma desordenada,
indiciplinada e exigirmos que os outros façam de forma diferente. Os nossos
atos falam mais do que as nossas próprias palavras.
A Pior coisa que existe é o Maçom dar um bom
conselho e em seguida um mal exemplo.
Valendo-me das sábias palavras do meu pranteado
pai, que dizia: “meu filho se você quizer saber quem é a pessoa, não preste
atenção o que ela diz, preste atenção o que ela faz”, pelo direito hereditário
que me assite, vou plagiar a maxima do meu velho e dizer: “meus irmãos se
quizeres saber quem é o maçom, não preste atenção ao que ele diz e escreve,
preste atenção ao que ele faz”.
O verdadeiro maçom se faz ser reconhecido, não
pelas suas palavras, mas sim, pelos seus atos.
A maior autoridade é o exemplo. Quando recebemos
críticas, sobretudo críticas construtivas, precisamos ser disciplinados para
ouví-las, processá-las, fazer uma auto-avaliação e uma reflexão para melhorar
nossos procedimentos, adequando-os as regras do bom convivio.
Precisamos dar bons exemplos, principalmente, para
Aprendizes e Companheiros, eles precisam de bons ensinamentos, eles precisam
serem bem instruidos, eles precisam de referência para defederem a nossa
Sublime Instituição.
Um Maçom disciplinado, instruído, é um maçom
humilde, dedicado, útil, competente nos Augustos Mistérios.
Não é soberbo, não tem vaidade e não tem ira.
Nunca oportunista e inconsequente, nunca com
comportamento de desrespeito aos Irmãos e aos nossos Templos Sagrados. Temos
que fazer de nossos Templos, além do natural relicário da Fraternidade, centros
operativos de Cultura e Civismo, na sustentação dos supremos fins de Liberdade,
Justiça e Paz.
Um Maçom disciplinado, instruído, dificilmente será
manipulado para se tornar massa de manobra e se deixar levar por ofertas de
medalhas, títulos, cargos e elogios.
Um Maçom disciplinado e instruído ao ocupar cargos
maçônicos jamais se transformará em um déspota.
Um Maçom disciplinado respeita às autoridades
constituídas e os seus irmãos outros por entender, na essência, o estado
democrático de direito, a importância administrativa e política desses cargos e
o papel de cada um desses irmãos no processo de democratização da sociedade.
O maçom disciplinado entende que a livre expressão
do pensamento como direito fundamental do homem em qualquer seguimento da
sociedade moderna, sobretudo em uma sociedade maçônica, deve ser exercido na
sua plenitude para transformação da sociedade na busca de melhores dias.
Um maçom disciplinado e instruído ver na autoridade
maçônica, primeiro um irmão, não um superior hierárquico, e por este fato,
exige comportamento maçônico deste.
As autoridades constituídas, mais que os demais
irmãos maçons que não ocupam cargos, tem por obrigação dar bons exemplos.
A hierarquia e a disciplina, sobretudo a
disciplina, têm levado a nossa Sublime Ordem a obter a confiança e o respeito
da sociedade em todo orbi terrestre, contudo, é necessário que se saiba que de
quando em vez nos deparamos com alguns irmãos que atropelam os limites e passam
a claudicar no exercício do seu desiderato, promovendo a desarmonia, provocando
a discórdia e, conseqüentemente, gerando a indisciplina.
O maçom pode e deve discordar de uma autoridade
maçônica constiuida quando esta não desempenha o seu cargo com dignidade,
probidade, humildade e competência.
Logicamente, é ´preciso que seja feito dentro dos
padrões de civilidade e de urbanidade, sem ira, com contestações fundamentadas
e nunca levianas, uma contestação responsável que exija dessa autoridade o fiel
cumprimento dos encargos que o cargo lhe impõe por estrita obrigação do dever.
O respeito à hierarquia deve acontecer visando
servir à instituição e não à pessoas.
A nossa capacidade de opinar sobre a vida política
e administrativa da nossa Obediência obtém maior expressividade no ato do voto,
que é secreto, quando elegemos nossos representantes, quando elegemos um irmão
para um cargo maçônico.
Lamentamos que os membros dos tribunais maçônicos,
ainda, não sejam eleitos pelo povo maçônico.
ORGULHO, VAIDADE e IRA, essa trilogia não é nossa.
Precisamos bani-la do nosso meio. Só depende de você, só depende de nós.
Ir. Otacílio Batista de Almeida Filho* (33) – M.I
*Membro da ARLS Obreiros da Justiça n.º 3209,
Oriente de Campina Grande - PB
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