O ANJO DA SAÚDE
Angustiado, o
Homem enfermo invocou a Proteção do Cristo e clamou em lágrimas copiosas:
– Senhor,
ampara-me o coração desalentado no círculo das provas! Esgotaram-se-me os recursos
para a resistência... Não posso mais! Minhas noites são prolongadas vigílias,
repletas de dor,
e meus dias constituem longas horas de aflição permanente! A dor lacera-me as
carnes e desarticula-me os ossos... Compadece-te, Senhor meu! Desce um raio de tua divina luz
que me restaure a força física, e me reerga o coração humilhado! Desiludido de todos
os processos de cura, mobilizados na Terra, volto-me para o Céu, esperando-te a
inesgotável misericórdia! ajuda-me, Pastor do Bem!
Vê os meus
sofrimentos e auxilia-me!...
De joelhos e
braços abertos, o peregrino soluçava, contemplando o firmamento.
Ouviu Jesus a
oração e enviou-lhe o Anjo da Saúde, que desceu, bondoso e prestativo, surgindo
aos olhos deslumbrados do infeliz enfermo.
Em êxtase, o
doente fitou o mensageiro e suplicou:
– Emissário do
Médico Divino, lava-me as feridas dolorosas, levanta-me o espírito abatido!
Há muitos anos
sou um miserável sofredor, embora a minha confiança no Pai de Infinita Bondade!
De corpo chagado e apodrecido, sinto que a esperança e a crença desertaram de minhalma!
socorre-me, por piedade, caridoso emissário do Céu!
O gênio tutelar
afagou-lhe a fronte, compassivo, e exclamou:
– Meu amigo, põe
a consciência nos lábios em oração e responde-me! Tens vivido de acordo com a
Vontade de Deus, fugindo aos caprichos do coração? Viveste, até agora, amando o Senhor Supremo,
acima de todas as coisas, e querendo ao próximo como a ti mesmo?
Dedicaste teu
corpo e tuas faculdades à execução das divinas leis?
Presa do antigo
hábito de fugir à verdade, o Homem quis proferir qualquer frase tendente a desculpar-se;
entretanto, a presença do emissário sublime empolgava-lhe o ser e não conseguia
furtar-se ao império absoluto da consciência. Dominado pela realidade,
respondeu em soluços :
– Não!... ainda
não servi às leis do Senhor como deveria... Contudo, Anjo Bom, compadece-te de
mim, a enfermidade consome os meus dias, o sofrimento devora-me!
O enviado pousou
a destra na fronte do mísero, como se intentasse arrancar-lhe a verdade do
fundo do coração, e interrogou:
– Estarás,
porém, disposto a esquecer, de imediato, o pretérito criminoso? Desculparás, fraternalmente,
sem qualquer sombra de hesitação, a todos aqueles que te desejam o mal?
auxiliarás o
inimigo?
O enfermo
dirigiu ao preposto celeste um olhar de terrível angústia, e porque nada respondesse,
o mensageiro continuou interrogando:
– Perdoarás sempre,
esquecendo ingratidões, injúrias e pedradas? Recomendarás os teus adversários à
bênção do Todo Poderoso, reconhecendo que eles são mais infelizes que tu mesmo, pela
ignorância coque testemunham?
Exercerás a
piedade, beneficiando as mãos que te ferem e olvidarás, sem esforço, a boca que
calunia?
Compelido pelas
forças insofreáveis da consciência, o enfermo respondeu, sem trair a verdade:
– Infelizmente,
ainda não posso...
– Não emitirás
Pensamentos desarmônicos, ante a felicidade do próximo? – indagou o emissário,
afável e benevolente – partilharás a alegria do vizinho e a prosperidade do
amigo,
como se te
pertencessem também? Ajudarás ao irmão mais feliz, na consolidação da ventura que
lhe coroa a existência?
O mendigo da
saúde recordou suas lutas interiores, junto daqueles que lhe pareciam mais venturosos,
e respondeu, sincero:
– Não posso
ainda...
– Terás bastante
disposição – prosseguiu afetuosamente o interlocutor – para manter viva a própria
esperança? compreendendo a paciência de Deus, que nos aguarda a iluminação, há milênios
incontáveis, decidir-te-ás a esperar, sem revolta, o entendimento dos teus
irmãos de luta, por alguns anos? Saberás calar a desesperação, a fim de
auxiliar em nome do Pai Altíssimo, mobilizando as forcas que te foram confiadas?
O desventurado
suspirou e disse com tristeza:
– Ainda não me é
possível proceder assim...
Após intervalo
mais longo, o Anjo voltou a interrogar:
– Cultivaras o
silêncio, quando a leviandade e a calúnia espalharem palavras loucas em torno
de teu corarão? Defenderás a saúde, evitando as reações invisíveis de pessoas
que
poderias ofender
com as falsas e delituosas apreciações verbais?
– Ainda não sigo
semelhante caminho! – exclamou o infortunado,
– Poderás viver –
continuava o mensageiro – no legítimo respeito à Natureza, conservando o
teu vaso carnal de manifestações na sublime posição de equilíbrio,
através da temperança, e cumprindo com
fidelidade o programa de serviço, em beneficio de ti mesmo e dos
semelhantes? Experimentas o prazer de ser útil, sinceramente
despreocupado das atitudes alheias de
gratidão ou recompensa?
– Ainda não! –
murmurou o interpelado em tom angustioso.
O emissário
envolveu o infeliz num olhar de compaixão infinita e acrescentou:
– Oh! meu amigo,
ainda é cedo para deprecares o socorro dos mensageiros da saúde! Se ainda não
sabes viver, perdoar, esperar, compreender, ajudar e servir, de acordo com a Vontade do
Altíssimo, ainda lutarás com a enfermidade, por muito tempo. Por enquanto, não peças
vantagens que não saberias receber!
Roga ao Senhor
te conceda a energia necessária para que te afeiçoes à lei do equilíbrio e às exigências
da reflexão!
Em seguida, o
emissário endereçou-lhe carinhoso gesto de adeus. O infeliz, entretanto, buscando
retê-la, exclamou em soluços:
– Oh! enviado do
Céu, confiarei em Jesus!
O Anjo
contemplou-o, bondoso, e respondeu ternamente:
– Sim, eu sei.
Isto, porém, não basta.
É necessário que
Jesus também possa confiar em ti...
E afastou-se,
para dar conta de sua missão, nas esferas mais altas.
LÁZARO REDIVIVO,
do Irmão X
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