Aparências
Não julgues,
nem recrimines
Irmãos que vês
em festança,
Às vezes, quem
grita e dança,
No auge da
exaltação,
Tem no peito
atormentado
Um vaso de
fogo lento,
Argila de
sofrimento
Em forma de
coração.
Esse homem que
se agita,
Em gestos de
embriagado,
É um amigo
abandonado
Pela esposa
que o não quer...
Possui
filhinhos chorosos,
Rogando a
materna estima,
É um palhaço
que lastima
A deserção da
mulher.
Aquela jovem
que passa,
Gingando,
descontraída,
É quase pobre
suicida
Pelas
angústias que traz,
Quis ser livre
sem trabalho,
Mas correu e
caiu fundo,
Nos
desencantos do mundo,
Entre os quais
sofre sem paz.
Outro
transporta consigo
Amarga doença
oculta;
Em outro, o
que mais avulta
É a roupagem
de esplendor;
No entanto, o
que mais sente
Nas explosões
de alegria,
É a solidão
que irradia
A triste fome
de amor.
Nunca
reproves. Respeita.
Eu também nos
tempos idos,
Cantei,
guardando gemidos,
Lamentando os
erros meus!...
Às vezes, quem
grita e ginga,
Tangendo guizos
por fora,
Por dentro é
alguém que chora
Buscando a
bênção de Deus.
MARIA DOLORES
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