Sabedoria
do Silêncio.
recebido de Gabriel Campos de Oliveira
(*)
Durante o período de seu aprendizado, deve o neófito
praticar a Lei do Silêncio e exercitar-se na Meditação. No entanto, em
época nenhuma, no mundo profano a mente humana foi tão bombardeada por tantos,
tão veementes, tão variadas e contraditórias sugestões como a propaganda,
cinemas, televisões, discursos, palestras, aulas, jornais que constituem
verdadeiros exércitos à invadir-nos a mente a cada instante onde nos
encontramos.
Todos esses meios objetivam tomar de assalto
as mentes e injetar em seu interior milhões de mensagens, vibrações e
tendências com interesse de nos dirigir ao destino, de profanar nossos
Templos mentais.
Isso fortalece no homem o seu ego. O ego vive
do barulho e no barulho – morre o silêncio. Acostumado a esse mundo da
obrigação de expressar suas opiniões, da obediência ao lema do “ter que
comunicar-se”, sob pena de ficar ultrapassado, é ferida de morte nossa maior
riqueza: O Silêncio como poderoso catalisador espiritual e da purificação das
impurezas de nosso ego.
Diante de tantos estímulos esquecemos que “A principal missão do homem em sua vida é
dar a luz a si mesmo, é tornar-se aquilo que ele é potencialmente” (Erich
Fromm - Análise do Homem).
Mesmo no mundo profano muito se criou e mudou
a partir da intuição silenciosa. Compreendemos então porque Einstein andava
quase sempre silencioso. Chaplin acreditou tanto na comunicação isenta de
palavras, não obstante, nosso mundo atual prestar verdadeiro culto às
comunicações não silenciosas. Huberto Rodhen dizia:
“
Quem muito fala pouco pensa. Falar é a melhor forma de não ter pensamentos. É
como se alguém passasse constantemente a enxada pelo chão, raspando, raspando e
cortando qualquer plantinha que, por ventura, quisesse brotar. Nada terá tempo
de britar e crescer”.
Só quem não fala pode pensar em quem consegue
levar a mente a um estado de calma, sem pensamentos, mas se conserva plenamente
vígil, esse receberá a Intuição, Inspiração e a Revelação.
Quando o homem de habitua ao silêncio
auscultativo, entra ele na “Comunhão dos Santos”.
Perguntaram ao grande Heráclito de Éfeso, o
que ele aprendera em tantos decênios de filosofia. Respondeu: “Aprendi a falar
comigo mesmo. Isto é, a falar sem palavras, em espírito e em verdade”.
Quando o
homem fala, Deus se cala. Quando o homem se cala, Deus fala.
Huberto Rodhen, numa metáfora nos ensina: Sabes o que é o calado de um navio? O calado
de um navio é a medida do seu afundamento na água; quanto mais carregado está o
navio, mais calado tem, mais afunda na água. Só quando o homem está assim,
afundado em Deus, é que ele está realmente calado. E para que o homem tenha
esse calado de profundeza, deve ele estar devidamente carregado de
espiritualidade.
O homem não espiritual é superficial, sem
calado suficiente, flutuando e boiando na superfície das coisas ilusórias do
ego. Tais ensinamentos estão exibidos nos livros sacros quando dizem: “Cala-te e saberás que eu sou Deus…”.
A Bíblia Sagrada, no livro dos Reis, capítulo
6, versículo 7, à respeito da Construção do Templo de Salomão, diz: “Quando se edificou o edifício do Templo,
isso se fez com pedras perfeitamente ajustáveis desde a pedreira, de modo que
ao construir o Templo não se ouvia barulho de martelo nem picareta, nem de
nenhum instrumento de ferro”.
Acostumado aos estímulos do mundo profano, a
expressar nossas opiniões sem entraves, esta regra iniciática encerra para nós,
sem dúvida, uma das maiores dificuldades. Limitar-se a somente ver, ouvir e
calar parece-nos quase insuportável. Esse exercício severo, obriga-nos, no
entanto, a disciplinar as ideias de trabalhar a Pedra Bruta com sutileza e
silêncio. Não estando mais levado a pular de uma para outra ideia, haverá
de se surpreender um dia, quando verificar que uma mesma ideia, vista e
analisada por ângulos diferentes, encerra um conteúdo até então insuspeitado
que adquire dimensões incomuns.
Isto justifica plenamente o Preceito Maçônico de
que a Maçonaria não se propõe a transformar-se em um estabelecimento de ensino
mas afirma que: “ Cada um se inicia por
si mesmo”.
A Lei do Silêncio nada mais é, portanto, que um
perpétuo exercício do Pensamento. Calar não consiste somente em nada dizer, mas
também em deixar de fazer qualquer reflexão dentro de si, quando se escuta
alguém falar. O silêncio que nós mesmos nos impomos, terá como resultado de não
podermos nos encontrar em estado de contradição com quem fala.
Por essa disciplina livremente consentida, quando
fazemos abstração total de nossas próprias concepções, a fim de
melhor assimilar as do orador, compreendê-lo e podermos distinguir pela
reflexão e pelo raciocínio, que então intervém em nós mesmos, conseguiremos
encontrar a verdade em nossas próprias conclusões.
Tudo isso há de se manifestar por uma calma
absoluta, posto que a calma é filha da Meditação.
Todavia, não se deve confundir com silêncio o
mutismo e enquanto o primeiro é um “prelúdio” de abertura a revelação, o
segundo é um encerramento da mesma. O silêncio envolve os grandes
acontecimentos, o mutismo esconde. Um assinala um progresso, o outro uma
regressão.
Dizem as regras monásticas que o silêncio é uma
grande cerimônia, pois o Grande Arquiteto do Universo chega na alma que nela
faz reinar o silêncio, mas torna mudo quem se distrai em tagarelices.
O mundo profano reverencia mortes ilustres com um
minuto de silêncio. Kahlil Gibran afirma que o silêncio se assenta no
contentamento, mas que a recusa, a rebelião e a desobediência habitam no
silêncio e esta parece ter sido também a visão de Gandhi quando consagrou toda
a sua vida a missão de restituir a independência à Índia e aos Hindus.
A disciplina do silêncio ensina ao Aprendiz
permitir o indispensável “recuo sobre ele mesmo”, que o libertará
definitivamente da perniciosa influência de sua existência anterior e o fará
descobrir ao mesmo tempo que a lua que veio procurar no Templo, já habitava
dentro dele.
O preceito fundamental de que só o silêncio pode
permitir-nos ouvir a voz sutil das essências também é completado pelo
ensinamento ao Aprendiz d que é indubitável que a Lei do Silêncio também tem
como base o Segredo Maçônico e os costumes que a Loja impõe ao Aprendiz para
habitua-lo a exercer uma severa disciplina sobre si mesmo, disciplina cujo
vinco indelével permanecerá por toda a sua vida Maçônica ou profana.
Só um homem capaz de guardar silêncio, quando necessário, pode ser seu
próprio Senhor. Devemos entender plenamente este preceito Maçônico, onde se
privilegiam o amadurecimento das idéias e se esclarecem a Verdadeira Palavra,
comunicada no segredo da alma a cada ser, pois não somos seres humanos
vivenciando experiências espirituais, mas sim, seres espirituais vivenciando
experiência humanas (Brian Weiss,
escritor) .
A sabedoria do silêncio é, pois, uma arte complexa,
que não consiste somente a calar a palavra exterior, mas que se torna realmente
completo com o silêncio interior do pensamento para que a Verdade possa
intimamente revelar-se e manifestar-se em nossa consciência.
(*) Gabriel Campos de Oliveira - M M
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