A Chave de Hiram
Charles Evaldo Boller
Sinopse: Considerações a respeito do livro A Chave de
Hiram; implicações de conhecimento e educação para o maçom; valor do culto e
erudito para a ordem maçônica.
A leitura do livro "A Chave de
Hiram" é visto como leitura prejudicial por pessoas que, em razão de suas
crenças, descartam a possibilidade aventada pelos autores de que Jesus Cristo é
parte de linhagem real diferente da vertida pela Bíblia Judaico-cristã. Sem
entrar no mérito da veracidade e seriedade das pesquisas que culminaram na
proposta das mudanças na história da cristandade, os argumentos são válidos e
consistentes como pensamentos novos. Que cada pessoa, debaixo da luz de seu
próprio discernimento e crenças, com a visão de sua sã racionalidade e
sensibilidade, mude sua forma de pensar. Se isto destruir dogmas absurdos é bom
sinal; liberdade é objetivo central da Maçonaria. Significa progresso do
pensamento e do conhecimento, cauteriza as chagas do obscurantismo que tanto
mal promove ao longo da história. A educação e o conhecimento libertam! Polir a
pedra é tarefa de todo maçom.
Todos carecem de polidez, virtude que
marca a origem de outras virtudes. A polidez é insignificante e ao mesmo tempo
importante; sem ela todas as outras virtudes seriam imperceptíveis. É na
aparente insignificância da polidez que reside sua importância. Não se trata de
refinada educação, tratamento impecável e boas maneiras, mas do acolhimento de
novas ideias e posturas, de mais cultura. É o que significa polir a pedra; é
polidez! O caminho da polidez é o ataque frontal, e com todas as forças mentais
e psicológicas disponíveis, ao estudo pessoal dentro da capacidade individual
e, com isto, progredir em conhecimento, desenvolver em polidez. O maçom alcança
seu objetivo quando discute algo que muda seu modo de pensar. Debates fomentam
o crescimento maçônico; é o brunir da pedra até brilhar, ficar polida.
Ingressa-se na ordem maçônica para beneficiar-se de um sistema de incremento da
polidez, para se autoproduzir, e não apenas para ser membro do
"sindicato". E que não fique apenas em meia dúzia de autores! Que
absorva bibliotecas inteiras na tarefa de busca de polidez. Não se restrinja a
temas exclusivamente maçônicos. Seja eclético! É trabalho, estudo, diversão! E
não fique apenas nisso, coloque-se em uso prático o que se descobrir; dê
exemplos; as enciclopédias estão repletas de conhecimentos, mas não possuem a
capacidade de colocar tal preciosidade em ação.
Os irmãos autores do livro "A
Chave de Hiram" pesquisaram e trabalharam para alicerçar dados aceitáveis.
São corajosos ao exporem seus pensamentos para a cristandade. O objetivo dos
autores não é a de semear discórdia entre maçons, mas apresentar novas ideias,
novos formatos, questionar verdades em novos ciclos de tese, antítese e
síntese. Seriam estultos se suas pesquisas estivessem baseadas em argumentação
sem sustentação histórica e científica. As comunidades acadêmicas e de
pensadores os trucidariam! Foi graças ao seu treinamento maçônico que eles
obtiveram discernimento diferente das comunidades acadêmicas e científicas que
há tanto tempo estudam na mesma linha sem acrescentarem novidade na área,
talvez por receio de enfrentar a ira de religiosos fundamentalistas ou mesmo da
falta de visão; insight.
Independente de o historiador não
usar de "achismos", seja ele técnico e alicerce suas reflexões em
documentação de fonte segura e fidedigna, a história contada em qualquer tipo
de registro histórico contém falhas de interpretação, erros e falsidades; não
por falha do historiador. Mesmo se a fonte estiver registrada e fartamente
documentada, a redação de evento histórico está sujeita aos ventos dos
interesses do historiador, grupos de poder, filosofias, religiões e políticas.
Muito do que lemos e interpretamos em documentos que o tempo preservou
intactos, estão recheados de mentiras; já falsos em sua origem. A boa técnica
exige do historiador métodos e procedimentos de correlação de fatos passados, e
por ser parte especulativa e parte assertiva, a verdade histórica absoluta é
quase impossível; resta duvidar sempre; na dúvida e na certeza, duvide! Segundo
o pensamento grego, a verdade absoluta e eterna deve presidir o pensamento
filosófico, mas até este deve ser permanentemente questionado. O pensamento
deve ser reavaliado em base permanente pelos eternos ciclos de tese, antítese e
síntese. Para evadir-se da possibilidade de gerar obscurantismo é recomendada
ampla abertura para o lançamento de novas ideias, sempre as submetendo aos
filtros que cada um dispõe. Com o livro "A Chave de Hiram" não é
diferente. Mesmo com o risco de a obra ser construída em resultado de promoção
comercial, visando lucros, em hipótese alguma aceitar o preconceito
fundamentado em crenças, dogmas, fantasias e absurdos de alguns para censurar,
refutar ou invalidar o pensamento. A liberdade de pensamento é a coluna mestra
de sustentação da Maçonaria. A pesquisa de novas ideias não divide a Maçonaria,
tal procedimento a justifica. Divisão é natural em todas as organizações
humanas, a Maçonaria não é exceção. A proposta da Maçonaria é a de promover a
tolerância para fomentar a livre investigação da verdade, caso contrário ela é
apenas mais uma simples organização filosófica.
A Maçonaria simbólica de 1871 era
vista assim por Albert Pike: "Se você ficou desapontado nos primeiros três
graus da forma como os recebeu, e se pareceu a você que o desempenho não
atingiu o prometido, que as lições de moralidade não são novas, a instrução
científica é rudimentar e os símbolos foram explicados deficientemente, lembra
de que as cerimônias e lições desses graus foram se acomodando cada vez mais no
tempo, reduzindo-se e afundando na trivialidade da memória e capacidade
limitada do mestre e instrutor para o intelecto e necessidades do iniciado; que
eles vieram a nós de tempos onde os símbolos eram usados, não para revelar, mas
para esconder, quando o aprendizado simples foi limitado a uns poucos seletos e
os princípios mais simples de moralidade pareciam verdades recentemente
descobertas; e que estes antigos e simples graus estão agora como as colunas
quebradas de um abandonado templo druida, na sua rude e mutilada grandeza; e em
muitas partes, também, corrompidas no tempo, desfiguradas por adições modernas
e interpretações absurdas. Estes graus iniciais são a entrada para o grande
templo maçônico, as colunas triplas do pórtico". - Estas "colunas
triplas do pórtico" são os três graus simbólicos, a base, o sustentáculo
de toda a estrutura do sistema de polidez da Maçonaria. Se a Maçonaria
simbólica cai na trivialidade, as colunas de sustentação quebram e a Maçonaria
Universal caminha para a aparência de "um abandonado templo druida".
A aventura continua nos graus
filosóficos nos ritos que possuem tal extensão. Não são graus superiores; é
falácia! Não distingue ninguém! Antes, espreme o maçom debaixo de grande
responsabilidade: o de tornar-se mestre servidor. Os graus filosóficos
caracterizam-se apenas pela continuação do que deveria acontecer no terceiro
grau simbólico. Nada mais! O maçom que alcança ao mais alto grau de seu rito
deve abandonar insígnias, comendas e enfeites dourados, que só serviram como
demarcação visível do caminho e passagem pelos degraus da escada de Jacó, para
voltar a portar apenas a mais humilde e significativa das insígnias maçônicas:
o avental do aprendiz maçom; assim continua e faz da arte de pensar, debater,
estudar, o hábito permanente de sua vida; chegado ao topo, volta aos graus
simbólicos e filosóficos inferiores para dar sustentação à base; sem alicerce a
estrutura da edificação vem abaixo.
A Maçonaria cresceu vertiginosamente
até a década de 1950, quando inicia sua corrosão e aumenta a evasão; é fenômeno
universal! A evasão acentuada é em virtude da falta de desafios, de renovação
do pensamento, de acomodação, sem interesse intenso em pesquisar, ler e abrir a
mente para novos pensamentos. Quando a divisão em novos ritos e obediências
promove novas linhas de pensamentos ela é correta, se a razão for dividir para
conquistar poder, então a instituição segue o caminho da estagnação, mesmice,
trivialidade; basta avaliar em qual destes caminhos cada loja segue, para
determinar a capacidade de sobrevivência de seus obreiros na ordem maçônica.
A Maçonaria universal oferece amplas
possibilidades ao crescimento de polidez de seus membros, mas eles devem
trabalhar arduamente a pedra. Reportando-se a isso, certo ritual do Rito
Escocês Antigo e Aceito verte o seguinte: "Um sistema de numerosos graus,
onde o ensino é permanente, não pela palavra do presidente ou do orador, mas
principalmente pelo trabalho do adepto". Quem trabalha é o obreiro, o
adepto - não existe a figura do professor; não existe cardápio pronto, receita
de bolo ou varinha mágica! Quem desenvolve polidez com auxílio de seus irmãos é
o obreiro, e isto só ocorre na convivência, em debates e produção de material
intelectual escrito. Aponta-se principalmente para a importância em manter a
mente aberta para novos ou inusitados pensamentos; abrir portas diferentes ou
novas. A sociedade muda pela força do pensamento e da consciência; e isto
demanda trabalho!
O resultado certo é a produção
duradoura de felicidade e paz para a humanidade pela evolução do conhecimento
bem utilizado. O Grande Arquiteto do Universo ilumina os caminhos do homem que
obtém sabedoria em resultado do uso do livre-arbítrio no esforço de obter
polidez e discernimento de aplicação prática.
Bibliografia:
1. BRASIL, Supremo Conselho do Grau
33 do Rito Escocês Antigo e Aceito para a República Federativa do, Ritual do
Grau 15 do Rito Escocês Antigo e Aceito, Cavaleiros do Oriente, da Espada e da
Águia, Segunda Série de Graus Históricos e Capitulares, primeira edição,
Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito para a República
Federativa do Brasil, 64 páginas, Rio de Janeiro, 1925;
2. COMTE-SPONVILLE, André, Pequeno
Tratado das Grandes Virtudes, tradução: Eduardo Brandão, ISBN 85-336-0444-0,
primeira edição, Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 392 páginas, São Paulo,
1995;
3. CURY, Augusto Jorge, O Código da
Inteligência, a Formação de Mentes Brilhantes e a Busca pela Excelência
Emocional e Profissional, ISBN 978-85-6030-398-4, primeira edição, Ediouro
Publicações S. A., 236 páginas, Rio de Janeiro, 2008;
4. CURY, Augusto Jorge, Pais
Brilhantes, Professores Fascinantes, A Educação de Nossos Sonhos: Formando
Jovens Felizes e Inteligentes, ISBN 85-7542-085-2, sétima edição, Editora
Sextante, 172 páginas, Rio de Janeiro, 2003;
5. GOLEMAN, Daniel, Inteligência
Emocional, A Teoria Revolucionária que Redefine o que é Ser Inteligente, título
original: Emotional Intelligence, tradução: Marcos Santarrita, ISBN
85-7302-080-6, 14ª edição, Editora Objetiva Ltda., 376 páginas, Rio de Janeiro,
1995;
6. HUNTER, James C., Como se Tornar
um Líder Servidor, Os Princípios de Liderança de o Monge e o Executivo, título
original: The World's Most Powerful Leadership Principle, tradução: A. B.
Pinheiro de Lemos, ISBN 85-7542-210-3, primeira edição, Editora Sextante, 136
páginas, Rio de Janeiro, 2004;
7. HUNTER, James C., O Monge e o
Executivo, Uma História Sobre a Essência da Liderança, título original: The
Servant, tradução: Maria da Conceição Fornos de Magalhães, ISBN 85-7542-102-6,
primeira edição, Editora Sextante, 140 páginas, Rio de Janeiro, 2004;
8. KNIGHT, Christopher; LOMAS,
Robert, A Chave de Hiram, Faraós, Franco-maçons e a Descoberta dos Manuscritos
Secretos de Jesus, título original: The Hiram Key: Pharaohs, Freemasons and the
Discovery of the Secret Scrolls of Jesus, tradução: José Rodrigues Trindade,
ISBN 85-88781-085, primeira edição, Editora Landemarque, 378 páginas, São
Paulo, 2002;
9. PIKE, Albert, Morals and Dogma of the Ancient
and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, Prepared for the Supreme Council of
the Thirty Third Degree for the Southern Jurisdiction of the United States,
Charleston, 1871.
Biografia:
1. Albert Pike, advogado, autor,
escritor, historiador, maçom e poeta de nacionalidade norte-americana. Nasceu
em Boston, Massachusetts em 29 de dezembro de 1809. Faleceu em Washington, em 2
de abril de 1891, com 81 anos de idade. Reorganizador de todos os rituais do
Rito Escocês Antigo e Aceito, do grau quarto ao trinta e três;
2. Christopher Knight, autor de
nacionalidade inglesa. Nasceu em Cidade de Nova Iorque, Nova Iorque, Estados
Unidos da América em 7 de novembro de 1957. Com 53 anos de idade;
3. Robert Lomas, engenheiro
eletricista, escritor e maçom de nacionalidade inglesa. Ensina Sistemas de
Informação na Escola de Administração da Universidade de Bradford.
Data do texto: 30/12/2010
Sinopse do autor: Charles Evaldo
Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4
de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja
do Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Cultura, Educação, Maçonaria
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